segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Resenhas especiais


É apenas o fim do mundo

Ausente há 12 anos, Louis (Gaspard Ulliel) retorna para a casa da família para comunicar que está morrendo de uma doença incurável.

Dois anos atrás assisti no cinema a esse penúltimo trabalho de Xavier Dolan, para mim o melhor de sua carreira ao lado de “Amores imaginários” (2010) e “Mommy” (2014). Saí da sala com a voz embargada, emocionado como todos os presentes na sessão. E recentemente comprei o DVD, lançado pela California Filmes, para uma revisão, que ficou ainda melhor. Que filme sublime!
Apontado como o cineasta mais promissor do Canadá da geração atual, o jovem Xavier Dolan, que é ator, tem apenas 29 anos (ele nasceu no mesmo dia e mês que eu, 20 de março) e realizou sete filmes até agora - seu novo trabalho, intitulado “The death and life of John F. Donovan”, foi exibido no Festival de Toronto em setembro, ainda sem previsão de estreia no Brasil. Dolan é um criador de imagens fortes e provocativas, escolhe as próprias músicas da trilha sonora, dá espaço para todos em cena. Os coadjuvantes têm uma força brutal até maior que os protagonistas em suas histórias (sempre envolvendo conflitos na família), com destaque para o papel das mães, recorrentes em suas produções – são mulheres de meia idade, com roupas extravagantes, à beira da explosão, e aqui, nesse filme fora do comum, Dolan volta a adentrar o seio das relações familiares.
“É apenas o fim do mundo” têm personagens de muitas camadas em uma história dura, de uma família em colapso. Primeiramente é mostrado o jovem Louis, que volta para casa para um comunicado derradeiro: que sofre de uma doença terrível (nunca sabemos qual é ela), e tem pouco tempo de vida. Ele chega para uma visita, e ninguém imagina o motivo de ele estar ali. A família demonstra surpresa. Porém Louis não consegue dar a trágica notícia, ele tem dificuldade em se expressar e ao mesmo tempo na família só há gente brigando, discutindo, falando alto sobre outros assuntos fúteis.
O rapaz apresenta um grau moderado de nostalgia, identifica-se imediatamente com a esposa do irmão (Marion Cotillard), única que o entende, e os dois são os mais lúcidos de uma família à beira do caos. O irmão, mais velho (Vincent Cassel), é um sujeito irritado e grosseiro, que alfineta um a um. Tem ainda uma irmã passiva (Léa Seydoux) e, claro, a mãe (Nathalie Baye), sustentáculo da casa, meio desmiolada, também explosiva. Nessa volta para casa, a identidade de Loius se revela, assim como partes do passado, em flashbacks, luzes e apagões - ele é um dramaturgo que tentou a vida na arte, vive em outro país, agora ficou doente.
O tema do filme é a falta do diálogo na família, algo recorrente nos dias de hoje. Ninguém da casa dá ouvidos para o que o jovem (que está morrendo) tem a dizer, ao mesmo tempo em que ele sofre com um medo duplo medo: o de contar sobre a doença fatal e de como os familiares vão reagir. Obra máxima de Dolan, muito necessária para o tempo atual, que nos comove e provoca lágrimas. 
Baseado numa peça biográfica de Jean-Luc Lagarce, recebeu indicação à Palma de Ouro em Cannes, e no mesmo festival ganhou o Grande Prêmio do Júri e o Prêmio Ecumênico.

É apenas o fim do mundo (Juste la fin du monde). Canadá/França, 2016, 97 min. Drama. Colorido. Dirigido por Xavier Dolan. Distribuição: California Filmes


A vilã

Depois de presenciar o assassinato do pai, a pequena Sook-hee (Ok-bin Kim) é treinada para matar. Os anos passam, e ela, já jovem, comete um ato de vingança eliminando um grupo de bandidos. Mas é presa e obrigada a trabalhar numa agência de assassinos, com a promessa de ser libertada para a sociedade em 10 anos.

Um filmão sul-coreano de arrepiar, segundo longa-metragem de ficção do diretor Byung-gil Jung, de “Confissão de assassinato” (2012). Eletrizante desde a abertura, quando a personagem Sook-hee mata dezenas de homens com vários tipos de armas, deixando uma pilha de corpos e um rio de sangue pelo caminho. A cena, de oito minutos, tem um visual fortíssimo, a câmera, em primeira pessoa, capta o furor do crime, e a partir daí a história se desenrola, sobre uma mulher programada para matar para poder ter a liberdade de volta. É narrado em primeira pessoa, pelo ponto de vista da protagonista, Sook-hee, da infância à juventude.
A estética é brilhante, um trabalho genial, de tirar o fôlego, cheio de cortes malucos, correria entre corredores estreitos, perseguições em alta velocidade e sequências brutais de assassinato. Por ter uma garota sanguinária liderando lembra a fita francesa do mesmo gênero “Nikita – Criada para matar” (1990), mas com ingredientes do cinema asiático, tão incomum nas produções dos outros países.
Sou fã do cinema policial da Coreia do Sul desde “Oldboy” (2003), que reformulou o gênero, influenciando cineastas de outras partes do mundo, e este “A vilã” é um filho mais novo de Oldboy, que faz justiça às suas origens. Prepara-se para essa fita explosiva, dinâmica, bem realizada, que estreou em Cannes em maio de 2017, onde integrou a mostra fora da competição, ganhando destaque em festivais internacionais. Em DVD.

A vilã (Aknyeo/ The villainess). Coreia do Sul, 2017, 123 min. Ação. Colorido. Dirigido por Byung-gil Jung. Distribuição: Paris Filmes

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