Sexa
A
atriz global Gloria Pires marca sua estreia na direção em um filme de comédia
dramática que é um livro aberto para as mulheres de 60 anos, faixa de idade dela.
Gloria protagoniza o filme, no papel de Barbara, uma sexagenária descontente
com o envelhecimento. O tempo passou, e ela sente que não curtiu a vida como
gostaria. Trabalha com revisão de textos, tem forte vínculo com a vizinha e
amiga Cristina (Isabel Fillardis) e há tempos que não se apaixona. Seus últimos
casos foram um fiasco. Um encontro inesperado com Davi (Thiago Martins), um rapaz
viúvo 25 anos mais jovem, acende uma ponta de esperança para Barbara. Ela passa
a ser notada por ele, e juntos investem em um relacionamento, mesmo que a idade
possa ser um empecilho na sociedade. Gloria está divina esbanjando charme no
papel dessa mulher pra frente, que incorpora a posição da mulher na sociedade
atual, que vem conquistando seus espaços com independência, mas que ainda é
alvo de certos preconceitos – ainda mais quando se envolve com homens bem mais
novos. Ela realizou como diretora um filme que desperta interesse entre as
mulheres, que tem boa conexão do roteiro com o elenco, e por cima é alegre e
divertido, indo direto para a alma feminina. O longa teve a première no
Festival do Rio desse ano e conta com participações especiais de Eri Johnson, Déa
Lúcia e Rosamaria Murtinho. Produção
da Giros Filmes e Audaz, com coprodução da Paramount Pictures Brasil e
distribuição nos cinemas pela Elo Studios.
Munch: Amor, Fantasmas e Vampiras
Uma
extensa análise sobre a vida e a obra do pintor norueguês Edvard Munch (1863-1944)
é o tema deste novo documentário das produtoras italianas 3D Produzioni e Nexo
Digital, que tem boa parte de seus trabalhos lançados no Brasil pela Autoral
Filmes. O longa integra um ciclo de docs dessas produtoras sobre artistas
plásticos, todos lançados aqui pela Autoral – só neste ano foram três, ‘Maldito
Modigliani’ (2020), ‘Picasso – Um rebelde em Paris’ (2023) e ‘Andy Warhol – Um
sonho americano’ (2023), e ‘Munch’ acaba de estrear nas principais salas do
país. Com um título rebuscado e uma narrativa didática, porém para inseridos no
mundo das artes, o filme é composto por uma série de entrevistas de
historiadores escandinavos, artistas e curadores de arte europeus que tratam das
raízes do pintor Munch, as características predominantes do seu trabalho e como
se deu sua influência nos anos após a morte. Munch era um homem solitário, autor
de duas obras emblemáticas – ‘O grito’ e ‘Angústia’, e que deixou um vastíssimo
acervo de quase 30 mil obras, como pintura, gravura, desenhos, manuscritos, fotografias
e experimentações de cinema. Ele era profundamente pensativo em torno de questões
temporais e de um certo mal estar social, focando na condição humana; temas
como melancolia, angústia, morte e desespero apareciam com frequência em seus
retratos e paisagens, muitos com a figura do ‘duplo’. Oslo, capital da Noruega,
inaugurou, no auge da pandemia, em 2021, um museu em formato de edifício para
lembrar a carreira do artista, o Museu Munch, buscando desvendar seu trabalho
reunindo 28 mil obras dele, de diversos estilos e técnicas. Ao mesmo tempo que
é documentário, é ficção, com atores encenando breves passagens de Munch. Narração
da atriz Ingrid Bolsø Berdal, de ‘A espiã’ (2019).
Abre
alas
Documentário
brasileiro da Sanar Produções, distribuído pela Embaúba Filmes, sobre sete
mulheres entre 50 e 85 anos que contam histórias relacionadas a suas
trajetórias. Walkiria, Dora, Silvana, Sheila, Regina, Lorena e Heloísa falam
abertamente do passado, das escolhas que a tornaram quem são, das dificuldades,
violências e preconceitos sofridos dentro e fora da família. São mulheres cis e
trans de condições sociais diferentes, muitas deles invisibilizadas, e agora
dispostas a enfrentar com coragem esses fantasmas que a atormentaram – contando
para a câmera sobre essas passagens de suas vidas. A cineasta Ursula Rösele
estreia num filme feminino, experimental e super autoral, com forte inspiração
no cinema documental de Eduardo Coutinho – utilizando cenários comuns e
minimalistas, e narrações longas sem cortes ou montagem, em que a voz do
personagem é o filme em si, sem interferências do diretor ou entrevistador. O enquadramento
do filme se transforma num espaço fechado, como uma sala de terapia, num lugar
de escuta e reflexões, e o público é convidado a confidenciar aquelas histórias
dramáticas sem críticas ou julgamentos. Uma a uma, as sete mulheres falam e ressignificam
suas dores como uma espécie de cura de um passado marcado por silenciamento e
traumas, passando pela solidão, o abandono do marido, a homofobia/transfobia, abusos
na infância, luto e doença terminal. Gostei muito do filme e recomendo – está nos
cinemas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário