sábado, 27 de dezembro de 2025

Estreias da semana – Nos cinemas e no streaming – Parte 2

  
Milonga
 
Com dois prêmios no Cine Ceará de 2024, a coprodução Uruguai/Argentina da estreante cineasta uruguaia Laura González chegou ao circuito de cinema brasileiro com pouca repercussão do público, infelizmente. É um bom filme, um delicado drama bem construído e bem interpretado, que passou despercebido aos olhos das pessoas – e incluo aqui a crítica. Os dois países sul-americanos produtores sabem contar histórias de traumas, superação e memória, e ‘Milonga’ segue nesse escopo. O drama acompanha Rosa (Paulina García, chilena premiada como melhor atriz no Festival de Berlim por ‘Glória’, a versão original de 2013), uma senhora que ficou viúva há poucos meses, após longa dedicação ao marido. Ela sofreu nas mãos dele, um cidadão violento. Sozinha, afasta-se da única pessoa da família, o filho. Um dia descobre na milonga, um ritmo derivado do tango, uma forma de superação dos traumas passados. Ela passa a frequentar um salão de dança para pessoas idosas. Lá conhece Juan (o uruguaio Cesar Troncoso, que fez diversos filmes no Brasil), e os dois iniciam uma amizade que extravasará para fora do salão de dança. Um filme feminino em que a protagonista é encorajada a resolver seus problemas por meio da arte e assim seguir a vida com outros olhares. Também toca em feridas das mulheres agredidas e abusadas por seus companheiros, mostrando as marcas psicológicas duradoras da violência doméstica. Um bom exemplar da nova safra do cinema latino-americano contemporâneo. Nos cinemas pela Kajá Filmes.
 

 
Nosso natal em família
 
Exibido na Quinzena dos Diretores do Festival de Cannes e depois no Brasil pela Mostra Internacional de Cinema de São Paulo de 2024 com o título de ‘Véspera de Natal em Miller’s Point’, a comédia superpessoal do jovem cineasta Tyler Taormina é uma homenagem aos natais de sua família, na época da infância do diretor. Ali observamos uma família cheia de vícios e situações burlescas. É um ‘Parente é serpente’ menos dark, mas tão afetivo quanto. A história se passa na véspera de natal, e uma típica família americana se reúne para o evento de fim de ano. Na casa da matriarca vem filhos e filhas, primos distantes, numa noite regada a comida, conversas aleatórias e trocas de presente. Mas como em toda família haverá conflitos e desencontros. Participam ali três gerações, e aquela noite poderá ser o último encontro natalino no antigo lar dos avós, que estão bem idosos. O filme tem drama e um fino humor, sem nada escrachado, com momentos humanos e piadas sutis. Há muitos diálogos, e nós, o público, somos convidados a acompanhar os acontecimentos pelos cômodos da casa. Há um tom envelhecido na imagem, tudo se passa dentro da residência numa noite inteira, e, apesar de não citar, parece que o filme é na década de 90 – ninguém tem celular e há uma TV de tubo onde as crianças jogam videogame, particularidades daquela época. Gostei do longa porque nele recordei dos finais de ano na casa da minha avó, e assim me transportei no tempo. O elenco é interessante, com gente desconhecida e estreantes, mas alguns nomes curiosos, como Sawyer Spielberg, Francesca Scorsese e Laura Robards, respectivamente filhos de Steven Spielberg e Martin Scorsese, e neta de Jason Robards, além de participações de Maria Dizzia, Ben Shenkman, Michael Cera e Elsie Fisher. Estreou anteontem, no dia do Natal, com exclusividade na plataforma de streaming do Filmelier+.
 

 
Selena y Los Dinos: Legado de família
 
Documentário norte-americano da Netflix sobre a cantora nascido no Texas, mas de origem mexicana, Selena Quintanilla (1971-1993), que virou um ícone pop nos anos 90, mas que infelizmente teve a trajetória encerrada de forma prematura. Selena foi assassinada com um tiro por uma ex-funcionária e presidente do fã-clube, aos 23 anos, no auge da carreira, enquanto se preparava para um show em Houston, no Texas. Ela deixou marcas profundas na música tejana, um estilo que ela inovou, e uma legião de adoradores ao redor do mundo, a maioria na América. O filme, premiado no Festival de Sundance deste ano, reúne os membros da família Quintanilla, que compunham a banda dela, Los Dinos: o irmão, a irmã, o namorado e o pai, que era o empresário. A mãe de Selena, que acompanhava as turnês e auxiliava no camarim, também fala no filme, bem como donos de gravadoras e músicos que passaram pelo grupo. Los Dinos era uma banda dos anos 50 fundada pelo pai de Selena, Abraham, que reunia amigos dele. A banda perambulou tanto no México quanto nos Estados Unidos. Uma década e meia mais tarde, Abraham abriu no Texas um restaurante com a família e lá, nos anos 70, reinventou Los Dinos trocando os amigos pelos familiares – a filha mais velha na bateria, o filho da guitarra e Selena, com seis anos, no vocal. A banda cresceu, ganhou destaque nas rádios mexicanas e americanas, e Selena foi aos poucos vendo o sucesso se tornar realidade. Ao longo da carreira, Selena manteve a família na banda, ganhou um Grammy, participou do filme ‘Don Juan de Marco’ e fez centenas de shows pelo mundo levando o dançante ritmo tejano para os quatro cantos. Quando gravou o primeiro disco com letras em inglês, foi assassinada. No documentário, além das entrevistas atuais com os familiares, há clipes, shows, entrevistas antigas e bastidores dos shows de Selena. Eu gostei muito e pude conhecer mais sobre a cantora – há sobre ela um filme biográfico com Jennifer Lopez indicada ao Globo de Ouro pelo papel, ‘Selena’ (1997), e também as duas temporadas de ‘Selena: A série’ (2020-2021), um trabalho ficcional da Netflix. Agora vem esse bom doc em formato de filme, ‘Selena y Los Dinos: Legado de família’, já disponível na Netflix.
 

Nenhum comentário:

Estreias da semana – Nos cinemas e no streaming – Parte 2

    Milonga   Com dois prêmios no Cine Ceará de 2024, a coprodução Uruguai/Argentina da estreante cineasta uruguaia Laura González chegou ao...