Seymour Hersh – Em
busca da verdade
Exibido na Mostra Internacional
de Cinema de SP deste ano com o título original, ‘Cover-up’, o documentário que
está na shortlist do Oscar de 2026 é um thriller político sobre o trabalho do
jornalista investigativo americano Seymour Hersh, prêmio Pulitzer. Apelidado de
Sy, hoje aos 88 anos, especializou-se em geopolítica e assuntos militares. Judeu,
descendente de lituanos, investigou o Pentágono, as atividades ilegais da CIA, a
Guerra do Vietnã – denunciando as bombas químicas mortais usadas pelos
americanos lá, além de Nixon e da Guerra do Iraque. Atuou como assessor de
imprensa do Partido Democrata e escreveu artigos sobre as torturas na prisão
iraquiana de Abu Ghraib, cometida por militares americanos, chegando ainda a
denunciar a caçada forjada a Osama Bin Laden. Parte dessa trajetória de Hersh
são analisadas por ele mesmo, num documentário sério e vívido. Ele relutou em
participar, mas acabou cedendo, abrindo sua casa para contar momentos ruidosos
da carreira jornalística. Em momentos mais ousados, denuncia certa perseguição à
imprensa e a autocensura dos jornais americanos. Conta com amplo material da
época, como fotos e reportagens televisivas, e arquivos pessoais de Hersh, como
anotações em cadernos e arquivos sigilosos guardados a sete-chaves. É também um
filme de denúncia sobre as atrocidades do imperialismo dos Estados Unidos. Exibido
nos festivais de Veneza, Toronto e Nova York, é uma produção da Netflix que
acaba de estrear na plataforma. Quem dirige é Laura Poitras, jornalista e
cineasta especializada em cinema político, que ganhou o Oscar de melhor
documentário por ‘Cidadãoquatro’ (2015) e que tem outros dois docs indicados ao
Oscar, ao lado do diretor cinco vezes ganhador do Emmy Mark Obenhaus.
Vizinhos bárbaros
Muitos conhecem a
francesa Julie Delpy como atriz, de filmes europeus como ‘A igualdade é branca’
(1994) e da trilogia americana ‘Antes do amanhecer’ (Before Trilogy). Mas ela é
também uma exímia diretora e roteirista, realizadora de oito longas-metragens, cujo
último trabalho acaba de estrear nos cinemas brasileiros, ‘Vizinhos bárbaros’ (2024).
É uma comédia dramática humanista, sobre imigração e xenofobia. Na história, os
moradores de uma comuna francesa aceitam acolher imigrantes refugiados da Ucrânia,
em troca de subsídios do governo. A Ucrânia tinha acabado de entrar em guerra com
a Rússia em 2022, e o grupo se prepara para recebê-los após um plebiscito na
cidade. No entanto, descobrem algo inusitado: os refugiados são na verdade sírios,
que fugiram de outra guerra – a da guerra civil, o que desencadeia uma série de
conflitos étnico-culturais. O filme tem belas paisagens da região onde se passa
a história, Paimpont, uma vila medieval cercada por castelos e lagos, tem crítica
social – sobre o preconceito aos árabes e palestinos, onde passam a ser
atacados pelos franceses, e no final fica a pergunta: “quem são os bárbaros
neste caso”? Julie Delpy lidera o elenco, que conta com Sandrine Kiberlain,
Laurent Lafitte e do pai de Julie, o ator Albert Delpy. Exibido no Festival de
Toronto, o filme estreia nos cinemas brasileiros com selo de distribuição da Synapse
Distribution. Um bom filme alternativo para o público fugir dos lançamentos comerciais.
Volveréis
Outro longa alternativo
entra em cartaz nos cinemas brasileiros, desta vez uma produção espanhola
coproduzida na França, assinada por Jonás Trueba, filho de um dos maiores
diretores vivos da Espanha, Fernando Trueba, do ganhador do Oscar de filme
estrangeiro ‘Sedução’ (1992). É o 12º longa que Jonás dirige, que costuma fazer
comédias dramáticas sobre intensas relações de amor e amizade – lembro que em
Buenos Aires, ao participar do Festival Internacional de Cine Independente de
Buenos Aires (Bafici) de 2015, assisti a um dos primeiros trabalhos dele, que
me marcou muito, ‘Los exilados románticos’ (2015), nunca exibido no Brasil. ‘Volveréis’
segue a temática abordada por ele anteriormente, uma comédia dramática que
circula um relacionamento em crise, de uma diretora de cinema e um ator, respectivamente
Ale (Itsaso Arana) e Álex (Vito Sanz). Eles viveram 15 anos juntos, mas agora
decidem se separar. O pai de Álex (papel rápido do próprio Fernando Trueba) diz
que tudo é motivo para festa, seja casamento, separação ou funeral. Então Ale e
Álex organizam uma festa de separação para reunir amigos e familiares – uma forma
de comunicar o divórcio e de reforçar que não estarão mais juntos, por mais
impossível que aquilo possa parecer. Daquelas comédias cujas ações se repetem e
soam absurdas – quem em plena consciência faz uma festa para se separar?, que
se desdobra em situações inusitadas. No fim das contas o casal nunca se separa,
até porque trabalham no cinema e poderão se trombar em outras produções. A estética
do cinema de Jonás foge do padrão, recorrendo a ambientes internos, com uma
fotografia que reluz, ele divide a tela em dois para mostrar o que andam
fazendo cada personagem, com transições e metalinguagens. É dele também o
roteiro, que o escreveu ao lado dos dois atores centrais, o casal, que vale
destacar está muito bem em cena. Um filme particular para público interessado em
cinema com novas linguagens. Nos cinemas pela Zeta Filmes.
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