terça-feira, 2 de setembro de 2025

Estreias da semana – Nos cinemas e no streaming



Magic Farm
 
Uma equipe de documentaristas norte-americanos que produz reportagens jornalísticas organiza uma viagem para uma cidade do interior da Argentina para encontrar pistas que leve o grupo a um músico realizador de músicas diferenciadas. A rota os leva para outra cidade argentina, ocasionando uma série de conflitos entre os membros. Esta é a trama desse filme de arte bacana que estreou recentemente na Mubi. Um pequeno road movie com um núcleo enérgico de personagens fortes, envolvidos numa história inusitada, de uma viagem que se torna um desafio para o grupo. Com momentos de puro humor e ironia, aborda temas relevantes como conflitos culturais, o papel do jornalismo como formador de opinião e as mídias sociais como estrutura de poder. É o segundo filme da atriz, diretora e redatora argentina Amalia Ullman – o anterior é ‘El planeta’ (2021), uma coprodução independente Espanha/EUA, exibida em Sundance e indicada ao Teddy Bear no Festival de Berlim. Destaque para o elenco louvável, como Chloë Sevigny, indicada ao Oscar de atriz coadjuvante por ‘Meninos não choram’ (1999), e agora voltando em projetos independentes, a dupla que está um barato em cena, Joe Apollonio e Alex Wolff, e participações menores de Simon Rex e da própria diretora Amalia.
 

 
Rabia – As esposas do Estado Islâmico
 
Outra grande estreia nos cinemas da Pandora Filmes, distribuidora especializada em filmes independentes, muitos deles europeus e asiáticos, que está há 35 anos revolucionando o mercado audiovisual distribuindo obras ímpares. Agora é a vez de ‘Rabia – As esposas do Estado Islâmico’ (2024), filme de arte exibido no Festival de Roma e indicado ao prêmio de atriz revelação para Megan Northam no César, o Oscar francês. Coprodução França/Bélgica/Alemanha, é um dos primeiros que trata da participação de mulheres no Estado Islâmico, organização jihadista que surgiu no Oriente Médio em 2003 após a primeira invasão ao Iraque que culminaria na Guerra do Iraque. Acompanha, por dentro da organização, os ritos da chegada das ‘noivas do Daesh’, algumas ludibriadas, outras por vontade própria, até a preparação dos ataques terroristas. Mostra o aliciamento, a doutrinação e o controle das mulheres nesse braço do sistema de governo islâmico de monarquia chamado de califado. A personagem central dessa curiosa história é Jessica (Megan Northam), uma garota francesa de 19 anos que sai de sua terra natal, uma cidadezinha da Síria, para uma nova vida na cidade grande, Raqqa, capital do califado, criada pelo Estado Islâmico. Ela vai morar em uma madafa, espaço em que mulheres solteiras e viúvas esperam o casamento com soldados vindos da guerra. Apelidada de ‘Rabia’, Jessica é moldada com rigor por uma mulher chamada apenas de Madame (Lubna Azabal), uma líder jihadista. Aos poucos ela e um grupo de mulheres são recrutadas para atuar no temido Estado Islâmico, grupo extremista que atua no Oriente Médio, controla regiões da Síria e Iraque e chegou a ter mais de 100 mil membros. Parte do filme transcorre dentro das madafas, também conhecidas como ‘Casa das Noivas do Daesh’, nunca antes registrada em um filme, por ser um lugar secreto. Filmado dentro de interiores, traz diálogos intensos, que procuram com fidelidade retratar a persuasão do movimento e focar no adestramento dessas mulheres vulnerabilizadas, que aos poucos perdem sua identidade e são convencidas a acreditar num modelo de sociedade que acaba sendo inatingível. A violência retratada no drama é simbólica, nunca há representação gráfica, e sim ela aparece nas cenas silenciosas, nos olhares e sons – o foco do filme, muito bem planejado, é na violência psicológica das personagens nesse ambiente hostil. O drama marca a estreia da alemã Mareike Engelhardt na direção – e foi ela quem escreveu o roteiro, ao lado de outras três roteiristas, a partir de relatos reais de mulheres que estiveram no movimento jihadista, recrutadas pelo Estado Islâmico.
 

 
A noite sempre chega
 
Boa novidade na Netflix é o lançamento desse filme angustiante de suspense, coprodução Estados Unidos e Reino unido, uma fita classe A bem conduzida, sobre uma mulher à beira do colapso, prestes a perder sua casa devido a dívidas. Ela é Lynette (papel da ótima atriz inglesa Vanessa Kirby, cada vez mais interessante em cena, já indicada ao Oscar pelo doloroso drama ‘Pedaços de mulher’, de 2020), uma mulher madura, que cuida de um irmão com deficiência intelectual chamado Kenny (Zack Gottsagen, de ‘O falcão manteiga de amendoim’, de 2019) e tem uma mãe descontrolada com gastos, que acaba se afastando dela, Doreen – papel de Jennifer Jason Leigh, indicada ao Oscar por ‘Os oito odiados’ (2015). Pressionada, ela tem 12 horas, até a manhã seguinte, para obter 25 mil dólares para pagar o proprietário do imóvel onde reside. No ápice do desespero, ela se joga de cabeça numa noite sem fim, apelando a práticas nada ortodoxas para pagar aquela conta. Ela roda por bares, vaga pelas ruas, reencontra pessoas que não via e conhece outras – ela se prostitui, rouba um carro, é perseguida por bandidos e pela polícia, e o caos escala em sua vida. Um filme de suspense, mas também bem dramático, sobre um ciclo de autodestruição na vida de uma mulher tendo de lutar sozinha com todas as forças para superar barreiras, dentre elas os problemas financeiros. Do diretor do engenhoso suspense policial ‘Sharper – Uma vida de trapaças’ (2023) e de episódios das séries ‘The Crown’ e ‘Andor’, Benjamin Caron. O roteiro é uma adaptação do livro homônimo de Willy Vlautin, assinado por Sarah Conradt – a mesma que adaptou ‘Instinto materno’ para o cinema em 2024.
 

 
Bambi – Uma aventura na floresta
 
Todos se lembram do clássico da Disney ‘Bambi’, não? Lançado em 1942, foi a primeira de muitas versões para o cinema de uma história infantil publicada originalmente como livro, do escritor húngaro Felix Salten – a primeira vez que sai em livro foi em 1923. Agora, em homenagem aos 100 anos da obra literária, um dos roteiristas de ‘A marcha dos pinguins’ (2005 – ganhador do Oscar de documentário), Michel Fessler, escreveu e adaptou com um grupo de roteiristas franceses uma nova versão de Bambi, nos moldes de ‘A marcha’, mas, infelizmente, de conteúdo bem lento e arrastado. A história basicamente é a mesma, agora filmando animais reais na floresta e com uma narração contando a jornada do jovem cervo e seus desafios na mata. São as aventuras e peripécias de Bambi, após perder a mãe por caçadores violentos e ter de se virar sozinho, perdido na floresta. Órfão, ele enfrenta os medos, percorre os segredos da mata e aos poucos se entrosa com novos amigos, como um corvo, um coelho e um guaxinim, até trombar com uma amiga de infância. Um filme infanto-juvenil que é uma alegoria ao amadurecimento e ao enfrentamento dos medos, aqui numa espécie de National Geographic para quem gosta de animais em diversos planos e ângulos – para mim o filme é cansativo e sonolento, além de muito estático e sem ênfases. Nos cinemas pela A2 Filmes e Alpha Filmes.
 

 
Frevo Michiles
 
Na série ‘Cinema em casa com Sesc’, na plataforma Ssc Digital, mais uma legal descoberta para quem gosta de documentários musicais brasileiros. Disponível gratuitamente lá até amanhã, dia 03, o documentário ‘Frevo Michiles’ (2023), de Helder Lopes, biografa um compositor pernambucano que escreveu sucessos do frevo tornando-se uma lenda em divulgar o estilo musical, chamado Jota Michiles. Aos 82 anos, na ativa, Michiles recebe a equipe do filme e de maneira despojada relembra fatos da cena cultural do Recife e do Brasil, inserindo o frevo como patrimônio cultural do nosso país. As canções de Michiles tem ritmo, liberdade poética, alegria e harmonia que seduzem, e o filme registra a dinâmica desse seu trabalho autoral. Alceu Valença, que cantou frevos de Michiles, fala sobre o amigo em diversos momentos do doc, e no final se reencontram para um bate-papo. Antes do frevo, nos anos 60 Michiles músicas que foram cantadas por nomes conhecidos, como o grupo Golden Boys e o cantor Orlando Dias. Tudo isto aparece nesse doc simpático, bem realizado, que teve exibição dois anos atrás no Festival In-edit. Gostei e recomendo.



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