quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Estreias da semana – Nos cinemas e no streaming - Parte 2

  
Picasso - Um rebelde em Paris
 
Nos cinemas das principais capitais brasileiras, como RJ, SP e BH, um documentário inédito, com informações exclusivas em torno da vida e obra do artista plástico espanhol Pablo Picasso (1881-1973), o maior representante do movimento cubista. O filme mergulha na alma do pintor, trazendo uma série de imagens reais de sua carreira nas artes, dentro do ateliê, em reuniões com outros artistas e trechos de entrevistas. Intelectual, de orientação anarquista, apaixonado pelas mulheres, cheio de contradições e criador de traços únicos, foi um revolucionário na forma, influenciando gerações de pintores. Aqui o enfoque é na trajetória que o moldou, quando se fixou na capital francesa, uma cidade, na época em plena transformação cultural e social, mas também intolerante com estrangeiros. Em Paris, cercado por intelectuais no bairro artístico e boêmio de Montmartre, Picasso viu o amadurecer de suas produções. Com depoimentos de historiadores da arte, escritores e curadores de museu, e conduzido pela atriz iraniana Mina Kavani (de "No bears"), o filme é uma aula sobre Picasso e o Cubismo e foi realizado no 50º aniversário da morte do artista, em 2023. Nos cinemas pela Autoral Filmes.
 

 
Suçuarana
 
Dirigido pela dupla Clarissa Campolina e Sérgio Borges, o longa brasileiro venceu cinco prêmios Candango no Festival de Brasília de 2024. Após passar em festivais nacionais e internacionais, dentre eles Rotterdam, chega aos cinemas pela Embaúba Filmes. Uma mulher de nome Dora (Sinara Teles) procura uma terra isolada e perdida no interiorzão de Minas Gerais, conhecida por ‘Vale da Suçuarana’. Sua mãe falava muito sobre o local. Dora acredita que lá irá se encontrar com o verdadeiro eu, e vai em busca desse lugar mítico. Com ares de road movie, o drama, em tom existencial, é a procura aguerrida de uma mulher solitária para se reencontrar metaforicamente com a própria mãe, que sempre sonhou em voltar para a tal terra de Suçuarana, um lugar fora dos mapas. No caminho, entre uma carona e outra em caminhões de desconhecidos, Dora terá a companhia de um cachorro, apelidado por ela de Encrenca, e de mulheres trabalhadoras de um vilarejo. Sempre com a foto da mãe na mão, ela percorre extensas áreas tomadas pela mineração, refletindo um modelo de Brasil ultrapassado, um capitalismo que destrói terras, ameaça ecossistemas e empobrece a classe de trabalhadores. E Dora retrata a figura do migrante, sem lugar no mundo, que percorre as estradas do país afora para um sentido na vida – uma figura feminina forte, com grande interpretação de Sinara Teles, vencedora do prêmio de atriz no Festival de Brasília.
 

 
Seu Cavalcanti
 
Com roteiro e direção assinados pelo cineasta recifense Leonardo Lacca, diretor assistente de ‘Bacurau’ (2019) e ‘O agente secreto’ (2025), preparador de elenco de outros filmes de Kleber Mendonça Filho, como ‘O som ao redor’ (2012) e ‘Aquarius’ (2016), o filme é uma irreverente homenagem ao personagem-título, que é seu avô, um idoso de 90 anos que busca reverter um problema do passado, que o intriga. O filme, um docuficção, alternando cenas reais do Sr. Cavalcanti em casa com a família e amigos e seus afazeres, com encenações, demorou quase 20 anos para ser realizado. Lacca começou a gravar o avô em 2003, em câmeras digitais emprestadas da universidade onde estudava. O idoso é registrado sem ser percebido em muitos momentos, com naturalidade nas cenas, e também em momentos posados para a câmera, sabendo o que fazia. A montagem, utilizando dublagens e efeitos especiais antigos, dá o tom desse filme que nos engana – nunca sabemos se é realidade ou ficção o que está na tela, o que cria uma narrativa diferente, de pura imaginação, altamente criativa e gostosa de se ver. Será que Seu Cavalcanti está interpretando um papel ou é ele mesmo ali? O idoso faleceu em 2016 e não viu o filme sair.
No final, uma cena reveladora, ao mesmo tempo emocionante e bem humorada, conduzida pela atriz Tânia Maria – que vem sendo elogiada em sua participação como coadjuvante em ‘O agente secreto’. Vemos até participação da atriz Maeve Jinkings, que contracena com Cavalcanti numa antiga gravação de 2013. Inicialmente foi produzido pela Trincheira Filmes, empresa de Lacca; mas durante o processo de gravação ganhou dois fortes aliados - Emilie Lesclaux e Kleber Mendonça Filho, da Cinemascópio Produções, que se uniram na produção final. Fotografia assinada pelo premiado Pedro Sotero, dos filmes de Mendonça Filho.
O doc foi exibido na Mostra de Cinema de Tiradentes do ano passado e está agora nos principais cinemas do país, com distribuição da Cajuína Audiovisual. Adorei o longa e me familiarizei com esse avô cheio de graça.
 

 
Deuses da peste
 
Em formato de teatro épico com musical moderno e dança, e grandioso apelo cenográfico com cores e símbolos, ‘Deuses da peste’, dirigido pelos cineastas Gabriela Luiza e Tiago Mata Machado, chega aos cinemas pela Zeta Filmes depois de uma curta carreira em festivais – venceu, por exemplo, na categoria de melhor longa da Mostra Olhos Livres na Mostra de Tiradentes de 2025. Original, com diálogos que jogam entre o humor e o drama, o filme, de difícil classificação se pensarmos em gênero, transcorre num velho casarão no centro velho de São Paulo. Em ruínas, o lugar abriga um ator exilado, apreciador de William Shakespeare. Ao seu redor perambulam fantasmas, num espaço que lembra um antigo palco de teatro, com cortinas e alguns objetos cênicos. As ideias do ancião beiram o caos – ele vislumbra tragédias envolvendo pragas e fogo. Até que entram em cena membros de uma trupe de teatro mambembe, músicos e bailarinos, que aprofundam uma discussão em torno do Brasil do passado e de agora. Com metalinguagem pura, com forte comentário político, o filme, rodado no fim da pandemia, em 2022, é uma discussão sobre a arte e a cultura no Brasil em tempos do bolsonarismo, tratando de elementos pontuais como o fascismo e as formas autoritárias de poder. A obra, de essência shakespeariana, simboliza a resistência das artes numa era tomada por desvarios, ameaças e perseguição à classe artística, como ocorreu no governo passado. Um filme para poucos, feito de maneira independente e cheio de referências – gostei muito e recomendo aos apreciadores de um cinema engajado e simbólico.
 
 
Blitz – O filme
 
Documentário brasileiro pouco falado, que teve seu lançamento no Festival do Rio, em dezembro de 2019, quando lá assisti, e distribuído nos cinemas em março de 2020, mês exato do início da pandemia mundial da covid, o que impossibilitou a trajetória dele no circuito (já que os cinemas fecharam as portas rapidamente). Agora ele entra de graça no streaming do Sesc Digital, disponível até o dia 18/10. Corram conferir, pois é um barato, um filme que relembra a trajetória de uma banda que agitou os brasileiros nos anos 80, a Blitz. A primeira formação do grupo se reúne para lembrar o início da banda, no Rio de Janeiro de 1981, contando histórias de bastidores, as turnês malucas pelo Brasil afora e as letras inusitadas, como os sucessos ‘Você não soube me amar’, ‘A dois passos do paraíso’,     ‘Weekend’ e ‘Betty Frígida’ - esta quase censurada pela Ditadura, que vivia seus dias finais. Aparecem com grande entusiasmo no doc o vocalista e idealizador da Blitz, Evandro Mesquita, ex-integrantes como Lobão e Fernanda Abreu, e ainda a atriz Patrycia Travassos (na época compositora e diretora das turnês, que foi casada com Mesquita). Fã da banda e divulgadora dos trabalhos dos músicos, a atriz Fernanda Torres lembra casos engraçados e de como a Blitz estampou uma época. Um dos grandes filmes de Paulo Fontenelle, escrito e dirigido por ele, que soube resgatar bem cenas de antigos shows da Blitz – apesar de algumas com imagem ruim, e trazer um paralelo com depoimentos atuais. Blitz marcou o ouvido dos brasileiros, separou-se em menos de cinco anos de existência, depois voltou em duas ocasiões, com novos músicos e instrumentistas; em 2017, no terceiro reencontro do grupo, a banda recebeu indicação ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock Brasileiro, com o disco ‘Aventuras II’. Assistam no Sesc Digital – disponível gratuitamente em https://sesc.digital/home


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