Picasso - Um rebelde
em Paris
Nos cinemas das
principais capitais brasileiras, como RJ, SP e BH, um documentário inédito, com
informações exclusivas em torno da vida e obra do artista plástico espanhol
Pablo Picasso (1881-1973), o maior representante do movimento cubista. O filme
mergulha na alma do pintor, trazendo uma série de imagens reais de sua carreira
nas artes, dentro do ateliê, em reuniões com outros artistas e trechos de
entrevistas. Intelectual, de orientação anarquista, apaixonado pelas mulheres,
cheio de contradições e criador de traços únicos, foi um revolucionário na
forma, influenciando gerações de pintores. Aqui o enfoque é na trajetória que o
moldou, quando se fixou na capital francesa, uma cidade, na época em plena
transformação cultural e social, mas também intolerante com estrangeiros. Em
Paris, cercado por intelectuais no bairro artístico e boêmio de Montmartre, Picasso
viu o amadurecer de suas produções. Com depoimentos de historiadores da arte,
escritores e curadores de museu, e conduzido pela atriz iraniana Mina Kavani (de
"No bears"), o filme é uma aula sobre Picasso e o Cubismo e foi
realizado no 50º aniversário da morte do artista, em 2023. Nos cinemas pela
Autoral Filmes.
Suçuarana
Dirigido pela dupla Clarissa
Campolina e Sérgio Borges, o longa brasileiro venceu cinco prêmios Candango no
Festival de Brasília de 2024. Após passar em festivais nacionais e
internacionais, dentre eles Rotterdam, chega aos cinemas pela Embaúba Filmes.
Uma mulher de nome Dora (Sinara Teles) procura uma
terra isolada e perdida no interiorzão de Minas Gerais, conhecida por ‘Vale da
Suçuarana’. Sua mãe falava muito sobre o local. Dora acredita que lá irá se
encontrar com o verdadeiro eu, e vai em busca desse lugar mítico. Com ares de
road movie, o drama, em tom existencial, é a procura aguerrida de uma mulher solitária
para se reencontrar metaforicamente com a própria mãe, que sempre sonhou em voltar
para a tal terra de Suçuarana, um lugar fora dos mapas. No caminho, entre uma
carona e outra em caminhões de desconhecidos, Dora terá a companhia de um
cachorro, apelidado por ela de Encrenca, e de mulheres trabalhadoras de um
vilarejo. Sempre com a foto da mãe na mão, ela percorre extensas áreas tomadas
pela mineração, refletindo um modelo de Brasil ultrapassado, um capitalismo que
destrói terras, ameaça ecossistemas e empobrece a classe de trabalhadores. E
Dora retrata a figura do migrante, sem lugar no mundo, que percorre as estradas
do país afora para um sentido na vida – uma figura feminina forte, com grande
interpretação de Sinara Teles, vencedora do prêmio de atriz no Festival de
Brasília.
Seu Cavalcanti
Com roteiro e direção
assinados pelo cineasta recifense Leonardo Lacca, diretor assistente de ‘Bacurau’
(2019) e ‘O agente secreto’ (2025), preparador de elenco de outros filmes de
Kleber Mendonça Filho, como ‘O som ao redor’ (2012) e ‘Aquarius’ (2016), o
filme é uma irreverente homenagem ao personagem-título, que é seu avô, um idoso
de 90 anos que busca reverter um problema do passado, que o intriga. O filme,
um docuficção, alternando cenas reais do Sr. Cavalcanti em casa com a família e
amigos e seus afazeres, com encenações, demorou quase 20 anos para ser
realizado. Lacca começou a gravar o avô em 2003, em câmeras digitais emprestadas
da universidade onde estudava. O idoso é registrado sem ser percebido em muitos
momentos, com naturalidade nas cenas, e também em momentos posados para a
câmera, sabendo o que fazia. A montagem, utilizando dublagens e efeitos
especiais antigos, dá o tom desse filme que nos engana – nunca sabemos se é
realidade ou ficção o que está na tela, o que cria uma narrativa diferente, de
pura imaginação, altamente criativa e gostosa de se ver. Será que Seu
Cavalcanti está interpretando um papel ou é ele mesmo ali? O idoso faleceu em
2016 e não viu o filme sair.
No final, uma cena
reveladora, ao mesmo tempo emocionante e bem humorada, conduzida pela atriz Tânia
Maria – que vem sendo elogiada em sua participação como coadjuvante em ‘O
agente secreto’. Vemos até participação da atriz Maeve Jinkings, que contracena
com Cavalcanti numa antiga gravação de 2013. Inicialmente foi produzido pela
Trincheira Filmes, empresa de Lacca; mas durante o processo de gravação ganhou
dois fortes aliados - Emilie Lesclaux e Kleber Mendonça Filho, da Cinemascópio
Produções, que se uniram na produção final. Fotografia assinada pelo premiado Pedro
Sotero, dos filmes de Mendonça Filho.
O doc foi exibido na Mostra
de Cinema de Tiradentes do ano passado e está agora nos principais cinemas do
país, com distribuição da Cajuína Audiovisual. Adorei o longa e me familiarizei
com esse avô cheio de graça.
Deuses da peste
Em formato de teatro
épico com musical moderno e dança, e grandioso apelo cenográfico com cores e
símbolos, ‘Deuses da peste’, dirigido pelos cineastas Gabriela Luiza e Tiago
Mata Machado, chega aos cinemas pela Zeta Filmes depois de uma curta carreira
em festivais – venceu, por exemplo, na categoria de melhor longa da Mostra
Olhos Livres na Mostra de Tiradentes de 2025. Original, com diálogos que jogam
entre o humor e o drama, o filme, de difícil classificação se pensarmos em
gênero, transcorre num velho casarão no centro velho de São Paulo. Em ruínas, o
lugar abriga um ator exilado, apreciador de William Shakespeare. Ao seu redor perambulam
fantasmas, num espaço que lembra um antigo palco de teatro, com cortinas e alguns
objetos cênicos. As ideias do ancião beiram o caos – ele vislumbra tragédias
envolvendo pragas e fogo. Até que entram em cena membros de uma trupe de teatro
mambembe, músicos e bailarinos, que aprofundam uma discussão em torno do Brasil
do passado e de agora. Com metalinguagem pura, com forte comentário político, o
filme, rodado no fim da pandemia, em 2022, é uma discussão sobre a arte e a
cultura no Brasil em tempos do bolsonarismo, tratando de elementos pontuais
como o fascismo e as formas autoritárias de poder. A obra, de essência
shakespeariana, simboliza a resistência das artes numa era tomada por
desvarios, ameaças e perseguição à classe artística, como ocorreu no governo passado.
Um filme para poucos, feito de maneira independente e cheio de referências –
gostei muito e recomendo aos apreciadores de um cinema engajado e simbólico.
Blitz – O filme
Documentário brasileiro
pouco falado, que teve seu lançamento no Festival do Rio, em dezembro de 2019,
quando lá assisti, e distribuído nos cinemas em março de 2020, mês exato do início
da pandemia mundial da covid, o que impossibilitou a trajetória dele no
circuito (já que os cinemas fecharam as portas rapidamente). Agora ele entra de
graça no streaming do Sesc Digital, disponível até o dia 18/10. Corram
conferir, pois é um barato, um filme que relembra a trajetória de uma banda que
agitou os brasileiros nos anos 80, a Blitz. A primeira formação do grupo se
reúne para lembrar o início da banda, no Rio de Janeiro de 1981, contando histórias
de bastidores, as turnês malucas pelo Brasil afora e as letras inusitadas, como
os sucessos ‘Você não soube me amar’, ‘A dois passos do paraíso’, ‘Weekend’ e ‘Betty Frígida’ - esta quase censurada
pela Ditadura, que vivia seus dias finais. Aparecem com grande entusiasmo no doc
o vocalista e idealizador da Blitz, Evandro Mesquita, ex-integrantes como Lobão
e Fernanda Abreu, e ainda a atriz Patrycia Travassos (na época compositora e
diretora das turnês, que foi casada com Mesquita). Fã da banda e divulgadora
dos trabalhos dos músicos, a atriz Fernanda Torres lembra casos engraçados e de
como a Blitz estampou uma época. Um dos grandes filmes de Paulo Fontenelle,
escrito e dirigido por ele, que soube resgatar bem cenas de antigos shows da
Blitz – apesar de algumas com imagem ruim, e trazer um paralelo com depoimentos
atuais. Blitz marcou o ouvido dos brasileiros, separou-se em menos de cinco
anos de existência, depois voltou em duas ocasiões, com novos músicos e
instrumentistas; em 2017, no terceiro reencontro do grupo, a banda recebeu
indicação ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock Brasileiro, com o disco ‘Aventuras
II’. Assistam no Sesc Digital – disponível gratuitamente em https://sesc.digital/home
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