segunda-feira, 9 de junho de 2025

Estreias da semana – Nos cinemas e no streaming (05/06) – Parte 2


Ainda não é amanhã
 
Produção independente, o drama brasileiro que estreou nos cinemas no último final de semana é um duro retrato da criminalização do aborto. No filme, a jovem Janaína, de 18 anos, estudante bolsista do primeiro ano de Direito, é a única pessoa da sua humilde família a entrar na universidade. Moradora da periferia de Recife, no Pernambuco, é abalada com a notícia de que está grávida, o que colocará seus sonhos e estudos à prova. Toca em um assunto delicado ao universo feminino, a gravidez não desejada, e os desdobramentos desse tema, como a tentativa de aborto, a criminalização, o julgamento e a falta de políticas públicas sobretudo para mães solo e periféricas. Hoje o aborto é proibido no Brasil – somente aceito em casos de estupro, risco de vida da gestante ou má-formação encefálica do feto, e o debate reacende vez ou outra no país, sem nunca obter avanços significativos. Nos últimos anos foram registrados mais de 500 mil abortos clandestinos, sendo que muitas dessas mulheres morrem ou adquirem doenças graves. ‘Ainda não é amanhã’ fala disso de maneira humana e jovial, numa linguagem para todos os públicos. É o primeiro longa da diretora Milena Times, que faz uma estreia firme e brilhante, sabendo manusear o elenco de nomes pouco conhecidos, mas que prezam os papeis, como a protagonista Mayara Santos – que mergulha numa personagem difícil e angustiante, Clau Barros, Cláudia Conceição, Bárbara Vitória, Mário Victor, Guta Menelau e Lalá Vieira. Vencedor do prêmio de melhor atriz no Festival do Rio, o drama tem produção assinada pela Espreita Filmes, Ponte Produtoras e Ventana Filmes, com distribuição nas salas pela Embaúba Filmes.
 

 
Os três reis
 
Outro filme independente brasileiro, mas aqui uma tentativa fracassada de se fazer um road movie no interior de São Paulo. É uma comédia com toques de ação, dirigida por Steven Phil, rodada na pequena Santa Branca, cidade paulista no Vale do Paraíba, com 14 mil habitantes. O elenco é desconhecido, de jovens atores como Giovani Venturini, Murilo Meola e Rodrigo Dorado, participações dos veteranos Lucélia Machiavelli e Vicentini Gomez e da dupla sertaneja Maurício & Mauri e aparição, no finalzinho, do cantor e compositor Eduardo Araújo, ex-Jovem Guarda. É a história de uma busca sem fim: três irmãos - um ex-presidiário, um mecânico e um enfermeiro saem, de carro, para procurar pelo pai, desaparecido há 20 anos. O objetivo é entregar a ele uma carta da mãe, que fez tal pedido antes de morrer. Tem a metáfora dos três reis magos – inclusive os irmãos se chamam Baltazar, Belchior e Gaspar, um humor imperceptível, tenta tocar em temas sérios como homofobia e abandono familiar, mas sem profundidade em uma trama que pouco se sustenta. Rodado em 2023, produzido pela Operahaus Features, tem distribuição da Pixys Produções e codistribuição da Lira Filmes e SPcine. Está em cartaz em 35 salas de cinema, incluindo cinemas do interior, como Ribeirão Preto, São Carlos, Sorocaba e São José do Rio Preto.
 

 
Entre dois mundos
 
Adoro demais a atriz Juliette Binoche, que aparece em tudo quanto é filme ultimamente, já vencedora do Oscar, Bafta, Berlim, Cannes e Veneza. ‘Entre dois mundos’, de 2021, estreia com certo atraso nos cinemas brasileiros, mas não deixem de ver, pois a estrela francesa irradia em cada aparição em cena – ela aqui foi indicada como melhor atriz ao César, o Oscar francês, e o drama foi exibido em Cannes e premiado em San Sebastián. É uma livre adaptação do livro autobiográfico da jornalista francesa Florence Aubenas, ‘Le quai de Ouistreham’ (literalmente ‘Os cais de Ouistreham’, comuna francesa onde se passa a história, mas publicado no Brasil como ‘A faxineira’), em que a autora se infiltrou no mundo das faxineiras para narrar a dura e humilhante jornada delas. No filme Juliette interpreta a jornalista parisiense que, para escrever um ensaio sobre essas mulheres, disfarça-se como empregada e busca trabalho de limpeza nas luxuosas balsas da Normandia. Ela é contratada e passar a encenar uma vida dupla, sem ninguém saber da ‘clandestinidade’ adotada. Ela trabalha dia e noite como faxineira, recebendo parco salário, e nos momentos de folga ou no descanso em casa faz anotações em cadernos e no laptop para o livro. Aos poucos, ela fica próxima de duas colegas de trabalho, faxineiras que enfrentam sérios problemas familiares, e juntas compartilham suas angústias - mas nunca ela revela a verdadeira identidade. Juliette está desglamourizada, sem maquiagem, num papel duplo convincente, digno de aplausos, que abre discussões em torno da uberização/precarização dos trabalhos, a exploração do trabalho feminino e o alto índice de desemprego na França desde 2010, período em que transcorre a trama. O filme marcou o retorno do diretor Emmanuel Carrère, 13 anos depois do único longa feito até então, ‘Amor suspeito’ (2008) – ele escreveu o roteiro, adaptando-o do livro de Florence, e é mais visto trabalhando como escritor e roteirista do que como diretor. Em exibição nos cinemas pela Pandora Filmes.

Nenhum comentário:

Estreias da semana - Nos cinemas e no streaming - Parte 2

  Na teia da aranha   Exibido no Festival de Cannes (fora da competição) e depois no Festival do Rio, chega agora aos cinemas brasileiros pe...