Memórias
de um caracol
Uma
animação para adultos das melhores já feitas, triste e emocionante, que entrou
na lista dos indicados na categoria ao Oscar de 2025. Do mesmo diretor de ‘Mary
e Max – Uma amizade diferente’ (2009), o australiano Adam Elliot. Seu novo
filme remete aos personagens desiludidos de ‘Mary e Max’; agora conhecemos uma
garota solitária que sofre bullying devido ao lábio leporino. Coleciona
caracóis de decoração e ama livros. Ela conta sobre sua vida, marcada por
perdas, e de caracóis reais que andam pela sua horta; quando criança viu a mãe
morrer, em seguida o pai doente também falece, e depois é separada do único
irmão, gêmeo, levados para lares adotivos diferentes. Tomada por ansiedade e
tristeza, não consegue contato com ninguém, até uma velhinha bem humorada surgir
em sua vida; já o irmão está a milhares de quilômetros, do outro lado da
Austrália, criado em uma família maníaca, extremamente devotos de uma religião
que inventaram. Os dois, por meio de cartas, tentam se reencontrar. Com boas
doses de humor, a animação é um autêntico e sofrido drama sobre tragédias
familiares, esperança e reencontros, produzido em um incrível stop-motion. Assisti
numa sessão lotada da Mostra Internacional de Cinema de SP de 2024, onde ganhou
o prêmio do Júri de melhor direção - saí emocionadíssimo da sala. O filme
venceu o prêmio de melhor animação no festival mais importante da categoria, o
Annecy. Vozes originais de Jacki Weaver, Eric Bana e Sarah Snook, e o próprio
diretor faz a narração. Entra hoje em 50 salas brasileiras de cinema, com
distribuição da Mares Filmes.
Libertação
Um clássico do cinema de
guerra soviética está de volta ao canal da CPC-Umes Filmes no Youtube,
streaming do Centro Popular de Cultura da União Municipal dos Estudantes
Secundaristas de São Paulo (CPC-UMES), na sessão ‘Cinema Soviético e Russo em
Casa’. E em uma belíssima cópia restaurada em 4K pela Mosfilm, principal estúdio
de cinema da Rússia, que resistiu ao tempo. O épico do cineasta Yuriy Ozerov (1921-2001)
demorou cinco anos para ser produzido (de 1967 a 1971) e foi lançado tanto na
época nos cinemas russos quanto agora no streaming em cinco partes, que
retratam fielmente os momentos mais importantes da União Soviética na Segunda
Guerra Mundial, como a batalha de Kursk (um embate direto com os alemães, entre
julho e agosto de 1943), a travessia do Dnieper (uma longa campanha militar do
Exército Vermelho que envolveu quatro milhões de soldados pelo rio Dnipro em 1943,
novamente lutando contra a ocupação nazista, que resultou em outra operação
mostrada no filme, a Segunda Libertação de Kiev, em 1943), a Conferência de
Teerã (uma série de acordos entre os Aliados, como a abertura da frente
ocidental, em 1943), a Operação Bagration (ocorrida entre julho e agosto de 1944,
que resultou na libertação da Bielorrússia das tropas nazistas e a derrota do Exército
Alemão da Wehrmacht), e o cerco a Berlim e a consequente tomada do Reichstag (entre
abril e maio de 1945, culminando com a rendição da Alemanha nazista e a vitória
soviética). Os filmes que compõem essa pentalogia são: ‘Libertação – Parte 1: O
arco de fogo’ (de 88 minutos), ‘Libertação – Parte 2: Ruptura’ (de 88 minutos),
‘Libertação – Parte 3: A direção do ataque principal’ (de 128 minutos), ‘Libertação
– Parte 4: Batalha de Berlim’ (de 82 minutos) e ‘Libertação – Parte 5: O último
ataque’ (de 74 minutos). ‘Libertação’ reconstitui a participação da URSS nos
três anos finais da Segunda Guerra, com grandeza de detalhes e performances
impressionantes – os atores que interpretam Josef Stalin, Winston Churchill e
Franklin Delano Roosevelt parecem cópia real dos verdadeiros personagens. É um
docudrama, que mistura cenas de arquivo da guerra com encenação, uma narração
sóbria, trazendo cores vivas da guerra e um rústico PB – a imagem da nova cópia
em 4K está deslumbrante, potente, nítida, com recuperação dos diálogos. Roteiro
de Yuri Ozerov junto de Yuri Bondarev e Oscar Kurganov. As partes 4 e 5 de ‘Libertação’
estão disponíveis entre hoje, dia 06, e segunda-feira, dia 09/06, no canal da
CPC-Umes no Youtube, em https://www.youtube.com/@cpc-umesfilmes23.
Vencer ou morrer
Está em cartaz nos
cinemas brasileiros pela Kolbe Arte, distribuidora especializada em filmes católicos,
esse drama histórico francês produzido em 2022 e escrito e dirigido pela dupla Vincent
Mottez e Paul Mignot. É uma obra religiosa, que aposta em um nicho específico
de público (católicos), inspirada em uma história verdadeira ocorrida na
Revolução Francesa. O militar François de Charette (1763-1796) se junta ao povo
da Vendéia para uma contrarrevolução que culminou em uma guerra civil que durou
dois anos, entre 1793 e 1795. O motivo foi um embate entre católicos e
realistas contra republicanos. Nessa jornada de coragem e bravura, resistiram à
perseguição religiosa durante a Primeira República da França defendendo a fé
católica e a liberdade de consciência. Com figurinos adequados, certa didática e
filmado nos próprios locais onde a história se sucedeu, o longa se alinha a
questões simbólicas para os católicos, tratando do poder da fé e da luta pelos
direitos de exercer sua religião, recorrendo a um fato da História pouco conhecido.
Por outro lado, o roteiro exagera no discurso religioso – lembrando que é um
filme católico, feito para esse grupo, deixando de buscar dados mais
factuais/historiográficos, que poderiam melhorar a trama. Teve boa repercussão na
França, com 300 mil espectadores nas salas de cinema na época da estreia, anos
atrás, e traz no elenco nomes como Hugo Becker, Rod Paradot, Gilles Cohen e
Constance Gay.
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