A
luta da estilista brasileira Zuzu Angel (Patricia Pillar) contra a ditadura no
Brasil dos anos 70, em busca de seu filho desaparecido, Stuart Angel (Daniel de
Oliveira), um jovem estudante que integrou a luta armada.
Na
época do lançamento (2006) elegi “Zuzu Angel” um dos melhores dramas
biográficos da temporada, um filme engajado e emocionante, realizado no ápice das
grandes produções brasileiras dos anos 2000. Anteontem pude rever o filme, em
DVD, e ele continua bom e de certa maneira, atual.
A
cinebiografia de Zuleika de Souza Netto, a Zuzu Angel (1921-1976), acompanha a dura
jornada da estilista mineira em busca do filho desaparecido, abrindo “fogo” contra
a ditadura militar na década de 70. Ela era uma mulher à frente de seu tempo, arejou
o pensamento da moda brasileira contemporânea com suas formas e cores fora do
comum, e ficou conhecida internacionalmente, chegando a ter como cliente
estrelas de Hollywood, por exemplo, Liza Minnelli e Kim Novak. Seu lado social emergiu
como um grito de alerta, na incansável busca por respostas quanto à morte do
filho, Stuart Angel, torturado e morto em 1971, aos 25 anos – ele era
estudante, integrou o movimento MR-8, que combatia a ditadura, e foi dado como “desaparecido
político”.
Patrícia
Pillar dá o tom vívido para a personagem angustiada, ao mesmo tempo uma mulher de
fibra enfrentando os militares em pleno Anos de Chumbo. E morreu por isso
(vítima de um suspeito acidente de carro na Gávea, no RJ, na madrugada de 14 de
abril de 1976). Em 2014, a Comissão Nacional da Verdade
confirmou a morte de Zuzu e Stuart por agentes da repressão da ditadura, a
partir da confissão de um dos acusados que atuou como delegado do Departamento
de Ordem Política e Social (DOPS). No ano passado, a jornalista Hildegard Angel,
filha de Zuzu, obteve finalmente as novas certidões de óbito da mãe e do irmão,
onde alteraram a causa das mortes como “morte não-natural, violenta, causada
pelo Estado brasileiro, no contexto da perseguição sistêmica e generalizada à
população identificada como opositora política ao regime ditatorial de 1964 a
1985”.
Um
filmaço que mostra os abusos da ditadura militar, que foi um dos períodos mais sombrios
e tensos da História do Brasil – segundo a Comissão da Verdade, 191 brasileiros
morreram na ditadura, 210 permanecem desaparecidos, foram localizados 33
corpos, num total de 434 pessoas entre desaparecidos e mortos - e cerca de 337
agentes de órgãos de repressão foram identificados. Ditadura nunca mais!
Premiado
em festivais no Brasil e pelo mundo, tem direção de Sergio Rezende, que criou uma
série de biografias para o cinema (“O homem da capa preta”, “Lamarca”, “Guerra
de Canudos”, “O paciente: O caso Tancredo Neves”), e escreveu o bom roteiro com
Marcos Bernstein (co-roteirista de “Terra estrangeira”, “Central do Brasil” e “O
xangô de Baker Street”).
Zuzu
Angel
(Idem). Brasil, 2006, 104 minutos. Drama. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por
Sergio Rezende. Distribuição: Warner Bros
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