domingo, 18 de outubro de 2020

Cine Cult



Amor, drogas e Nova York

Harley (Arielle Holmes) é uma garota viciada em heroína que mora nas ruas de Nova York. Tem um relacionamento abusivo com o namorado Ilya (Caleb Landry Jones), e por mais que tente, não consegue sair das drogas.

Todo filmado nas ruas de Nova York com uma câmera incômoda, que se fixa no rosto dos personagens, esse drama cult, bem pra baixo, indicado em Veneza no Venice Horizons (ganhou prêmio especial lá), mostra com dissabor uma realidade ameaçadora das cidades grandes, a dos usuários de drogas que moram (e morrem) às margens da sociedade. O assunto não é especialmente novo, a obra lembra pelo menos dois cults impactantes, “Os viciados” (1971), aquele de início de carreira de Al Pacino, que também se passava em Nova York, e, claro, o indigesto “Eu, Christiane F. - 13 anos, drogada e prostituída” (1981), que marcou uma geração inteira pelas imagens fortes e abriu os olhos dos jovens da década de 80. Aqui as situações se repetem, há uma adolescente fragilizada, usuária de drogas, que tem um relacionamento abusivo com o namorado e ambos vão morar nas ruas. São alguns dias na vida dessa garota perdida, e os terríveis desdobramentos que nortearão a trajetória dela para sempre.
Olhe que interessante, o filme é baseado no livro de memórias da própria atriz, Arielle Holmes, chamado “Mad love in New York City”, que usava drogas na época das gravações e estava em processo de reabilitação – o namorado, o verdadeiro Ilya, morreu de overdose quase no final do filme (tanto que é dedicado a ele). Outro ponto de menção é o roteiro adaptado, dos irmãos Benny e Josh Safdie, com ajuda do parceiro Ronald Bronstein, que voltariam a escrever juntos os filmes “Bom comportamento” (2017) e “Joias brutas” (2019), duas fitas imperdíveis, duras e violentas! A dupla dirige também. É característica do cinema dos Safdie a câmera inquieta, andando de lá pra cá, temas difíceis que envolvem delinquência, e personagens anti-heróis, com atitudes nocivas e degradantes. Aliás, eles são uma das grandes duplas de diretores do cinema independente atual (americanos, descendem de sírios e russos, ambos judeus).


Um filme triste e real, que agoniza em nossa frente. Para público específico!

Amor, drogas e Nova York (Heaven knows what). EUA, 2014, 94 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Benny Safdie e Josh Safdie. Distribuição: Imovision

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