segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Cine Lançamento

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Poucas cinzas – Salvador Dalí

Madrid, 1922. Três jovens intelectuais, questionadores e de espírito libertário, criam fortes laços de amizade. São eles Salvador Dalí (Robert Pattinson), Federico García Lorca (Javier Beltrán) e Luís Buñuel (Matthew McNulty), que marcariam seus nomes para sempre como ícones da Literatura, das artes plásticas e do cinema, respectivamente.

Inédito em diversos países, chega diretamente em home video no Brasil uma curiosa fita de arte européia, independente, de investimento injetado por pequenas emissoras de TV, sobre a juventude do pintor surrealista Salvador Dalí e sua relação amorosa com o dramaturgo García Lorca, fato então ocultado pelo artista plástico por dezenas de décadas. Produzido em 2008 na Inglaterra e na Espanha, “Poucas cinzas” (nome de uma das primeiras obras de Dalí, que aparece no início do filme) reconstitui a vida íntima do artista espanhol de traços bizarros (o próprio aspecto físico dele vinha com embrulho excêntrico: olhos arregalados, magérrimo, branco igual cera e com o famoso bigode fino formando um caracol nas pontas). Traz à tona seus primeiros contatos com a arte (influenciado pelo Cubismo), os laços com intelectuais da época, as bebedeiras infernais com o amigo Lorca e a aproximação com o jovem cineasta Luís Buñuel. Com o Manifesto Surrealista em 1924, formalizou parceria com Buñuel no cinema – são deles os curtas “O cão andaluz” (título em homenagem a Lorca) e “A idade do Ouro”, pioneiros pelos recursos de vanguarda tanto no tratamento do roteiro quanto na técnica de cortes – a cena do olho cortado com uma navalha ficou célebre, sequência inicial de “Andaluz”.
“Poucas cinzas”, analogia dos restos que sobram dos artistas, margeia mais a estreita relação entre Dalí e Lorca, sem se aprofundar na trajetória do pintor. O pano de fundo remete a um período de intensa transformação cultura, política e social, em que a Psicanálise revirava a sociedade e as correntes de vanguarda européia disseminavam novos ares; sem contar a Guerra Civil Espanhola que exprimia os primeiros sinais de violência nos anos 20, culminando com atrocidades e assassinatos a mando do general Francisco Franco – Lorca foi um dos fuzilados, em 1936, aos 37 anos de idade.
O drama saiu um ano antes de Robert Pattinson se tornar queridinho das meninas com a saga “Crepúsculo” (o que não deu a ele muitos rumos fora da cinessérie, talvez pela horrenda composição vampiresca sem textura, sem sabor, passível de tudo). Mas como Dalí o ator não compromete, numa interpretação digna e por vezes humana – outro do elenco que está bem é o ator espanhol Javier Beltrán, na pele de Lorca (cujo rosto é bem semelhante ao do dramaturgo).
Uma boa biografia, que deve ser descoberta, em especial para quem curte artes, dirigida por um prestigiado cineasta londrino, que veio da TV e teve um de seus poucos longas indicado ao Oscar de filme estrangeiro - “Solomon e Gaenor” (1999). Por Felipe Brida

Poucas cinzas – Salvador Dalí (Little ashes). Inglaterra/Espanha, 2008, 112 min. Drama. Dirigido por Paul Morrison. Distribuição: Warner Bros.

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