quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Cine Lançamento

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Dúvida

Em 1964, em uma escola católica do Bronx, a conservadora freira Aloysius Beauvier (Meryl Streep) passa a desconfiar das atitudes do recém-chegado padre Brendan Flynn (Phillip Seymour Hoffman), professor carismático e atencioso com os alunos. Por meio de fofocas, ela acredita piamente que o pároco esteja abusando de um estudante negro de 12 anos dentro do colégio. Com o auxílio da Irmã James (Amy Adams), Aloysius irá investigar por conta própria a situação.

Baseado na aclamada peça de John Patrick Shanley vencedora do Pullitzer, escrita em 2004, esta “ganhou” a crítica, que a apontou como um dos melhores textos dramatúrgicos da década passada. Quatro anos mais tarde, o próprio Shanley adaptou seu trabalho literário como roteiro para cinema e resolveu dirigir com todos os pormenores, recorrendo à Disney para produzir o filme e lançá-lo nos cinemas. É a melhor obra do cineasta, que só havia dirigido o fraco “Joe contra o vulcão” (1990) e havia se dado melhor como roteirista – é dele o drama “Vivos” (1990) e a premiada comédia “Feitiço da lua” (1987).
“Dúvida” é, para mim, uma fita marcante, digna dos créditos iniciais ao letreiro do desfecho, de roteiro consistente, que denuncia e critica sem pudor o sistema conservador da igreja (não a religião católica, e sim a instituição nos Estados Unidos, que é arcaica).
Com texto forte, o drama mexe com polêmicas atuais (a pedofilia cometida por padres) apontando a espada para o sistema tradicional de ensino em escolas religiosas. E o grande lance está no duro embate entre a freira (Meryl Streep, sempre de preto, num papel estonteante, que caminha entre o lado bom e maldoso do ser humano) e o padre acusado de abusar de um menino (Hoffman, igualmente genuíno e sincero). As discussões acaloradas de ambos, com certeza, são o ponto alto desse ótimo filme, indicado a cinco Oscar – melhor atriz (Streep), ator coadjuvante (Hoffman), atrizes coadjuvantes (Amy Adams, sempre perfeita, e Viola Davis) e roteiro adaptado. Concorreu ainda a Globos de Ouro e diversos Bafta. Vale destacar que Viola aparece poucos minutos como a mãe do garoto supostamente abusado, num show de interpretação (em que solta revelações aterrorizadoras).
Os conflitos todos surgem por causa de um boato, e justamente o filme discorre sobre o poder da fofoca em destruir a reputação de pessoas (tem até uma ótima analogia da maledicência, dita pelo padre, com penas soltas ao vento).
Uma obra cinematográfica obrigatória, com final instigante e ambíguo, cheio de referências e baseado em histórias reais vividas pelo autor quando estudou em escola do Bronx mantida pelas Irmãs de Caridade de Saint Anthony. Por Felipe Brida

Dúvida (Doubt). EUA, 2008, 104 min. Drama. Dirigido por John Patrick Shanley. Distribuição: Walt Disney

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