quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Cine Lançamento

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Um novo despertar

Casado e pai de dois filhos, o executivo Walter Black (Mel Gibson) tem um emprego estável e salário digno. Com o passar dos dias, Meredith (Jodie Foster), a esposa, suspeita dos estranhos comportamentos do marido, que tem oscilações de humor demonstrando clara tendência ao suicídio. Até que Black encontra, por acaso, abandonado no lixo do vizinho, o fantoche de um castor, boneco de pelúcia que promete ser a grande salvação de sua vida.

Chega nas locadoras um bom filme independente dirigido pela ótima atriz Jodie Foster, que assinou apenas dois trabalhos como cineasta, “Mentes que brilham” (1991) e “Feriados em família” (1995). Jodie e Mel Gibson estrelam essa história com tom bizarro, sobre um pai de família descontente que adota um castor de pelúcia (Beaver, em inglês, como no título) como guia espiritual. O boneco na verdade é um fantoche de mão, que se torna o fiel conselheiro (e de pulso firme) desse cidadão que precisa urgentemente organizar a vida pessoal, consertar falhas, antes que cometa suicídio, já tentado antes. O animal inanimado cria vida quando passa a ser manipulado pelo executivo em todos os lugares que vai e, assim, vira da noite para o dia o alter-ego desse sujeito descontente. Black dorme com o animal, faz sexo na presença dele, almoçam e tomam banhos juntos. A família o considera louco, os amigos o rejeitam, e cada vez mais ele fica desamparado, na tentativa de entender os reais motivos da angústia que sofre. E aos poucos o mundo dá sinal de querer dar voltas.
A fita explora esse atenuante quê de existencialismo do personagem central, vivido pelo premiado ator e diretor Mel Gibson. Os comentários do castor são extensões do pensamento daquele homem, formulados por este. Em um trecho o executivo faz o resumo da ópera quando descreve que está sob cuidados do boneco para criar uma distância psicológica entre si mesmo e aspectos negativos da sua personalidade. E assim poder mudar o necessário.
Infelizmente fracassou nas bilheterias americanas e mal ficou conhecido no Brasil. A razão: na época do lançamento Gibson envolveu-se em confusões familiares, agrediu a ex-mulher e ameaçou os filhos. O fato caiu na mídia, que divulgou amplamente o caso desse popular ator. Os norte-americanos, em represália, rejeitaram as atitudes desequilibradas do quase veterano Gibson. Mas isto tudo serve apenas como curiosidade para explicar o irreversível naufrágio do filme nas salas de cinema (custou U$ 21 milhões e rendeu 20 vezes menos!).
Se analisarmos, esse trabalho autoral de Jodie reflete a vida de Gibson, que, incrivelmente, está em um momento particular, num de seus melhores papéis dramáticos recentes.
Exibido em Cannes, foi todo rodado no Bronx, em NY, e traz ainda no elenco a competente Jodie (na pele da esposa em dúvida com o casamento) e o jovem ator Anton Yelchin (o filho mais velho). Uma interessante obra autoral que deve ser descoberta. Por Felipe Brida

Um novo despertar (The beaver). EUA/Emirados Árabes, 2011, 91 min. Drama. Dirigido por Jodie Foster. Distribuição: Paris Filmes

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