domingo, 30 de outubro de 2011

Resenha

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Antes só do que mal acompanhado

Às pressas, o publicitário Neal Page (Steve Martin) decide regressar de avião de Nova York para Chicago para comemorar o Dia de Ação de Graças com a família. No aeroporto, o vôo atrasa, e sua passagem de primeira classe é transferida por engano para a econômica. Acaba conhecendo Del Griffith (John Candy), um inconveniente vendedor de alças para cortinas de chuveiro. Outros incidentes ocorrem, e a improvável dupla terá de se aturar. Juntos, Page e Griffith viverão um verdadeiro inferno em uma jornada repleta de atrapalhadas e confusões.

Uma das minhas comédias preferidas dos anos 80, dirigida por um especialista no assunto, John Hughes (falecido precocemente de infarto em 2009). No elenco Steve Martin e John Candy criam uma dupla memorável do cinema. Martin vive o publicitário à beira de explodir, perdido no aeroporto em busca do último vôo que o levará para a cidade natal, onde pretende se reunir com a família no feriado de Thanksgiving. Encarna um sujeito patético, sempre de terno cinza e mala na mão. Logo topa com um gordão abobalhado e intruso, de alma vazia e super solitário, interpretado por John Candy (infelizmente morreu cedo, de infarto, em 1993, no auge da carreira). Com uma série de incidentes em vista, “o mundo conspira” para que os dois cidadãos fiquem unidos como unha e carne. E como os temperamentos se contrapõem, haverá muita briga, confusão e xingos entre a dupla.
Há sequências divertidas, com Candy e Martin em seus momentos mais notórios. E também passagens tristes, quando os personagens compartilham experiências de vida; assim um aprende com o outro bonitas lições de tolerância, convivência e aproximação.
Relançado em nova edição em DVD pela Paramount – o filme estava fora de estoque no mercado desde 2006. Famosa comédia com aura alto astral que faz rir e chega a emocionar. Por Felipe Brida

Antes só do que mal acompanhado (Planes, trains & automobiles). EUA, 1987, 93 min. Comédia. Dirigido por John Hughes. Distribuição: Paramount Pictures

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Viva Nostalgia!

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Um lugar ao sol

George Eastman (Montgomery Clift) é um jovem ambicioso que vai para a cidade grande para trabalhar na fábrica do tio rico. Fora da empresa, inicia um relacionamento passageiro com Alice Tripp (Shelley Winters), colega de trabalho, de origem simples. Quando descobre que a garota está grávida, Eastman afasta-se dela e logo começa um namoro com Ângela (Elizabeth Taylor), uma menina rica. Quando Alice passa a ameaçá-lo para reatarem o relacionamento, o jovem bola um desmedido plano de assassinato.

Obra-prima máxima de George Stevens, vencedor de seis prêmios da Academia, merecidos – melhor diretor, roteiro, trilha sonora (do famoso Franz Waxman), figurino, edição e fotografia; ainda recebeu indicações ao Oscar de ator (Clift), atriz (Shelley Winters) e filme, além do cineasta Stevens ter concorrido ao Grande Prêmio de Cannes e ao Globo de Ouro.
O drama divide-se em duas partes: no início, a saga de um rapaz humilde (o galã Clift, que morreu prematuro), ambicioso pelo poder, que chega à cidade grande em busca de um lugar ao sol. Enamora-se com uma garota pobre (Shelley Winters, em papel correto, de moça rejeitada, sofredora), funcionária da fábrica onde ambos trabalham. Ao mesmo tempo apaixona-se por uma jovem de família rica (papel de Liz Taylor, então com 17 anos, no início de carreira – nesse filme firmou o estrelato projetando-se rapidamente no mundo do cinema). Ele abandona a namorada grávida para ficar com a segunda. A partir daí tem início o segundo bloco da história, do rapaz que, para ficar com a pessoa que tanto ama, é movido pelos instintos mais desesperadores a ponto de cometer um crime, que mudará para sempre a sua rotina.
Sob a ótica peculiar do notório George Stevens, criador de clássicos memoráveis como “Assim caminha a humanidade” e “Os brutos também amam”, “Um lugar ao sol” encabeça a lista dos grandes filmes da sétima arte.
Um drama romântico um tanto quanto pesado, trágico, sem desfecho feliz, adaptado do livro “Uma tragédia americana”, de 1925, escrito por Theodore Dreiser, que pelo título podemos entender a essência da obra.
Universaliza temas comuns do cotidiano, como crime passional, ambição e busca pelo poder, e mexe com tabus, como a jovem abandonada grávida, que será mãe solteira, em uma época em que isto era visto com maus olhos pela sociedade.
Distribuído em DVD no mercado somente agora pela Paramount, em excelente cópia limitada, com bons extras, voltada a colecionadores. Obrigatório para os cinéfilos. Por Felipe Brida


Um lugar ao sol (A place in the sun). EUA, 1951, 121 min. Romance/Drama. Dirigido por George Stevens. Distribuição: Paramount Pictures

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Cine Lançamento

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Armadilha do destino

Após um grave acidente, um homem (Adrien Brody) fica preso em seu carro, pendurado em meio a árvores próximo a um penhasco. Bastante ferido, grita por socorro, mas rapidamente percebe que naquele local inóspito não há ninguém que possa ajudá-lo. Sozinho, fará de tudo para sobreviver, sendo que o primeiro passo é sair do carro antes que este caia no precipício.

Em sua estréia na direção, o cineasta canadense Michael Greenspan cria um excelente clima de tensão e medo para acompanhar a jornada de sobrevivência de um rapaz (Adrien Brody, cujo personagem não tem nome, apenas chamado de “homem”) preso no próprio carro depois de um acidente que deixou vários mortos. É um tour-de-force do ator central, solitário dentro dos destroços do automóvel, pendurado em árvores velhas e um penhasco logo abaixo. Praticamente o filme inteiro transcorre dentro dessa “armadilha”, com algumas poucas reviravoltas no decorrer da história.
Com roteiro engenhoso, a fita é bem curta, terminando com uma situação imprevisível e esclarecedora – já que a trama complexa reúne personagens secundários que vão aparecendo aos poucos.
Rodado em apenas um ambiente, com pouquíssimas tomadas. Vale conhecer essa fita experimental de baixo orçamento, bem intrigante e muito curiosa. Por Felipe Brida

Armadilha do destino (Wrecked). EUA/Canadá, 2010, 91 min. Suspense. Dirigido por Michael Greenspan. Distribuição: California Filmes

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Cine Lançamento

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Uma manhã gloriosa

Becky Fuller (Rachel McAdams) é uma jovem produtora de TV recém-demitida de um popular programa de notícias. Ela fica poucos dias desempregada até receber o convite para trabalhar em outra emissora. No entanto sua vida começa a virar um verdadeiro inferno quando terá de lidar com profissionais de comportamentos extremos, dentre eles o sisudo jornalista Mike Pomeroy (Harrison Ford) e a arrogante apresentadora Colleen Peck (Diane Keaton), antiga mulher de Pomeroy e que num passado distante ganhou o concurso de miss Arizona. Becky precisará de nervos de aço para agüentar desaforos, driblar o humor da equipe e principalmente obter altos índices de audiência.

Dos mesmos produtores da aclamada comédia “O diabo veste Prada”, chega em DVD, diretamente em home video no Brasil, essa boa investida sobre os bastidores de uma emissora de televisão. Escolheram um elenco afiado, formado pelo trio Rachel McAdams, Harrison Ford e Diane Keaton. A belíssima atriz principal tem excelente timing que segura a fita mesmo diante dos escorregões e do comportamento altamente caricato de Ford e Diane, estes bem à vontade nos papéis dos veteranos apresentadores, arrogantes ao extremo. Ela fará das tripas coração para suportar o casal ranzinza que, atrás das câmeras, digladiam-se com unhas e dentes (e língua, pois vivem aos xingos).
O gênero da fita é comédia romântica cheia de inside jokes (piadas internas) sobre o mundo do jornalismo, busca pela audiência e a penetração da mídia televisiva. Ou seja, quem desconhece a área não entenderá boa parte dos diálogos e das situações cômicas.
O filme traz ainda participação pequena de Jeff Goldblum, como o produtor-chefe da TV, e do discreto Patrick Wilson, o par romântico de Rachel.
Simpático e divertido, o novo trabalho do diretor de “Um lugar chamado Notting Hill”, “Fora de controle” e “Vênus”, Roger Michell, não compromete o resultado. Vale um aluguel para o fim de semana. Por Felipe Brida

Uma manhã gloriosa
(Morning glory). EUA, 2010, 107 min. Comédia romântica. Dirigido por Roger Michell. Distribuição: Paramount Pictures

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Cine Lançamento

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Transformers – O lado oculto da Lua

Outra guerra devastadora é travada entre os Autobots, comandados pelo robô Optimus Prime ao lado dos humanos, e os Decepticons. Dessa vez os dois grupos rivais procuram no lado oculto da Lua uma espaçonave vinda de Cyberton, que caiu durante a Corrida Espacial nos anos 60. O jovem Sam (Shia LaBeouf) une-se novamente aos Autobots, agora para obter aquele grande artefato espacial. Ao mesmo tempo tentará evitar uma possível catástrofe na Terra.

Uma das maiores bilheterias de todos os tempos, a terceira parte da cinessérie Transformers faturou U$ 1 bilhão ao redor do mundo, chegando ao patamar da franquia mais bem sucedida da história do cinema.
Melhor do que o anterior, que havia recebido sete indicação ao Framboesa de Ouro (os piores do ano!), o ritmo da fita continua muito ágil, com um show de efeitos visuais de tirar o fôlego, todo produzido em computação gráfica. Aliás, o blockbuster mantém ação contínua do começo ao fim, sem dar trégua para o público respirar.
Sério e sem o tom cômico do original, essa sequência acompanha um novo inferno na vida de Sam, um rapaz aliado aos Autobots (robôs infiltrados na Terra, que se camuflam como carros e objetos eletrônicos). Na aventura da vez, ele precisa correr contra o tempo para trazer de volta uma espaçonave perdida na Lua há mais de 40 anos (como sempre, recorrem a panos de fundo reais, aqui a Corrida Espacial entre EUA e URSS, fato marcante da Guerra Fria). Só que o grupo rival, formado pelos gigantescos Decepcticons, querem o mesmo, e para tal travarão uma batalha tanto na Terra quanto no lado oculto (escuro) da Lua. Resta acompanharmos atentos a história para saber o resultado, que reúne breves detalhes.
Ainda mais longo que o segundo, tem a duração de 2h37, excessiva para os padrões – muita gente chiou, e não é por menos, já que grande parte do público, em especial os jovens, procura fita de entretenimento rápído.
Shia LaBeouf, que virou astro com o primeiro “Transformers”, em 2007, está mais maduro, menos caricato que de costume, ou seja, melhor ator. Retorna parte do elenco dos anteriores, como Kevin Dunn e John Turturro, e conta ainda com participações menores de John Malkovich e Frances McDormand.
Sou fã de “Transformers”, acho o primeiro fantástico, talvez um dos blockbusters mais eletrizantes lançados nos últimos anos, enquanto o segundo escorregou e foi detonado pela crítica, mas nem por isso menos interessante. Já essa terceira parte melhora bastante, com cenas barulhentas de destruição em massa (prédios explodindo, ruas virando migalhas etc), um prato cheio para os fãs de ação. Assim como eu os que curtem a franquia encontrarão aqui um cine-pipocão repleto de adrenalina e correria sem fim. Por Felipe Brida

Transformers – O lado oculto da Lua
(Transformers: Dark of the Moon). EUA, 2011, 157 min. Ação/Aventura. Dirigido por Michael Bay. Distribuição: Paramount Pictures

domingo, 16 de outubro de 2011

Resenha

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Quem quer ser um milionário

O jovem indiano Jamal Malik (Dev Patel) é convocado para participar de um programa televisivo de perguntas e respostas. De origem bastante humilde, o rapaz terá a chance de se tornar um milionário. Será que aquele garoto mirrado, sem perspectiva, crescido em meio à miséria social de um dos países mais pobres do mundo, poderá ficar rico da noite para o dia?

Uma das fitas certeiras da década passada, com uma história intrigante que encantou platéias do mundo inteiro. Ganhou oito dos 10 prêmios indicados ao Oscar de 2008 – melhor filme, direção, roteiro adaptado, edição de som, fotografia, edição, trilha sonora e canção original (“Jai Ho”), sendo, portanto, um dos trabalhos mais agraciados pela Academia.
Rodado inteiramente na Índia, com locação, elenco e equipe de lá (menos Danny Boyle, o diretor, que é inglês), o filme divide-se em três momentos da vida do personagem central: a infância sofrida, no meio das favelas (lembram-se de uma cena escatológica, mas famosa, de quando Jamal corre atrás de um astro do cinema indiano e acaba caindo numa fossa?), a juventude alimentada por sonhos e o tempo presente – neste Jamal, de frente para as câmeras, tem de ser hábil para encontrar respostas às perguntas lançadas por um compenetrado apresentador de alma bruta. E nas mãos desse cidadão, nos bastidores, o rapaz sofrerá abusos e todo tipo de preconceito.
Um trabalho único, próximo a uma genuína fita indiana, mesclando fantasia, drama e romance com tratamento de temas bem divergentes, como censura, pedofilia, massificação das mídias e discriminação. Até o final em estilo musical, com dança coreografada do elenco, homenageia os filmes daquele país.
Distribuído pela Europa Filmes, o longa custou U$ 15 milhões arrecadando dez vezes mais nas bilheterias. Aconselhado para todos os públicos. Para ser visto e revisto. Por Felipe Brida

Quem quer ser um milionário
(Slumdog Millionaire). Inglaterra, 2008, 120 min. Drama. Dirigido por Danny Boyle. Distribuição: Europa Filmes

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Resenha

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Fome de viver

Em Manhattan, a vampira Miriam Blaylock (Catherine Deneuve) mantém-se viva e bela através dos séculos com o sangue dos amantes. Vive em uma mansão luxuosa com o atual parceiro, John (David Bowie), que, do dia para a noite, começa a envelhecer rapidamente. Ele descobre ser portador de uma doença grave e precisa correr contra o tempo para não morrer. Para tanto recorre à geriatra Sarah Roberts (Susan Sarandon), que desenvolve estudos pioneiros sobre envelhecimento. Até que Miriam sente-se atraída por esta médica, e ambas iniciam um tórrido relacionamento que trará conseqüências assustadoras.

Cultuado filme de terror com romance, “Fome de viver” reinventa o gênero, criando vampiros sensuais, neogóticos, que moram em mansões de luxo. São criaturas de bom gosto, vanguardistas, colecionadores de arte renascentista e de berloques egípcios, no caso de Miriam, papel interpretado pela atriz francesa Catherine Deneuve, cuja beleza é o grande torpor dessa fita de arte de excepcional fotografia que lembra formato de videoclipes dos anos 80.
Foge das convenções e dos estereótipos. Aqui, em vez da capa preta e dos dentes afiados, eles vestem roupas elegantes, óculos escuros e não mordem pescoço, mas sugam o sangue das vítimas pelo pulso.
A história tem tom macabro, em especial a cruel relação de posse da vampira pós-moderna que encaixota os amantes para viver eternamente com ela na mesma casa.
Baseado no romance de Whitley Strieber, “Fome de viver” sempre esteve na lista dos meus filmes preferidos. Vale destacar ainda a participação do cantor e ator David Bowie, caracterizado por uma maquiagem de arrepiar que mostra o envelhecimento repentino (a doença existe e chama-se ‘progeria’), além de Susan Sarandon, super sexy em início de carreira. Ficou famosa a sequência de lesbianismo (poética e nada abusada) entre ela e Deneuve, ao som da bonita música “Lakmé”, de Delibes.
É a estréia na direção do inglês Tony Scott, irmão de Ridley, responsável por “Top Gun – Ases indomáveis”, “Dias de trovão”, “Inimigo do estado” e o recente “Incontrolável”.
Um primor em todos os sentidos! Procure conhecer, e espero que aprecie. Por Felipe Brida

Fome de viver
(The hunger). Inglaterra, 1983, 96 min. Horror/Romance. Dirigido por Tony Scott. Distribuição: Warner Bros.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Cine Lançamento

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Biutiful

Uxbal (Javier Bardem) coordena negócios ilícitos nas ruas de Catalunha/Espanha, como a imigração ilegal de chineses e a venda de produtos contrabandeados. Infeliz, mantém um relacionamento doloroso com a mãe de seus dois filhos, uma mulher drogada e prostituída. Tem o poder de falar com os mortos usando tal habilidade para ganhar dinheiro. Em meio a inúmeros questionamentos acerca de sua vida pessoal e profissional, Uxbal tenta mudar aquilo que acredita não ter mais jeito. Até que descobre um câncer maligno, o que o fará repensar valores e atitudes.

Indicado a dois Oscars esse ano – melhor filme estrangeiro (México) e ator (Javier Bardem), “Biutiful” é o novo drama autoral feito pelo prestigiado cineasta Alejandro González Iñárritu, o mesmo de “Amores brutos”, “21 gramas” e “Babel”. Diferente dos anteriores, ele abandona as tramas paralelas e quebra a não-linearidade da narrativa, características marcantes em suas obras, mas não deixa de falar sobre crises humanas e se aprofundar em questionamentos psicológicos dos personagens centrais. “Biutiful” acompanha a vida trágica de um homem perdido no mundo, que trabalha com negócios escusos, conversa com mortos e tem de cuidar de dois filhos pequenos. As tentativas frustradas em voltar com a mulher aliadas ao temperamento frio faz de Uxbal uma pessoa amarga. Quando passa mal e numa consulta médica descobre ter poucos meses de vida devido a um câncer, propõe mudanças drásticas em sua vida social.
Diante desse quadro percebe-se todo o clima pesado do filme, um drama denso, que trata morte e vida em concomitância visceral. Iñarritu propõe que não há separação entre os dois pólos, tanto que a fotografia explora cores escuras para um clima de tragédia que se anuncia minuto a minuto.
O diretor propõe chocar o público com cenas fortes, como a de Uxbal no velório das três crianças mortas em um acidente em que ele conversa com o espírito de uma delas, em um ambiente carregado, com velas vermelhas; e a do vazamento de gás na fábrica que resulta em uma catástrofe alarmante. E diversas outras passagens são criadas a partir de metáforas, como o desfecho na neve (que também abre o filme), sobre a história das corujas mortas.
A atuação impecável de Bardem, como Uxbal, provoca impacto pela seriedade da figura central dessa fita difícil, um convite à reflexão sobre comportamentos humanos, morte e vida que procura se reacender.
Rodado em Barcelona, o filme recebeu em Cannes o prêmio de ator – Bardem dividiu a estatueta com Elio Germano, por “La nostra vita”, além da indicação de Iñarritu à Palma de Ouro. Também concorreu ao Bafta e ao Globo de Ouro, ou seja, obteve boa recepção pela crítica especializada em festivais comerciais e nos de circuito de arte.
O título refere-se a “Beautiful”, grafado incorretamente, alusão a uma rápida sequência em que o pai ensina inglês à filha – e o registro da palavra de forma incoerente reafirma a rotina errônea de Uxbal.
Um drama bem árido para público específico. Por Felipe Brida

Biutiful
(Idem). México/Espanha, 2010, 148 min. Drama. Dirigido por Alejandro González Iñárritu. Distribuição: Paris Filmes

domingo, 9 de outubro de 2011

Viva Nostalgia!

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O segundo rosto

Vice-presidente de um importante banco, Arthur Hamilton (John Randolph) é um homem de meia-idade, casado e infeliz com sua vida pessoal e profissional. Certo dia contrata uma empresa especializada em "renascimento" com o intuito de se transformar em outra pessoa. A organização forja sua morte em um incêndio. Hamilton então passa por uma série de cirurgias plásticas, que o faz renascer na figura do pintor Antiochus Wilson (Rock Hudson). Renovado por fora, Hamilton (ou Wilson) é acometido por uma crise de identidade, tendo de lidar com os fantasmas do passado.

A distribuidora brasileira ‘Lume Filmes’ lançou recentemente no mercado esse drama desafiador de 1966, dirigido pelo notório cineasta John Frankenheimer em sua fase de ouro, na mesma década em que realizou os clássicos “O homem de Alcatraz”, “Sob o domínio do mal”, “O homem de Kiev”, “O trem” e “Grand Prix”.
Indicado ao Oscar de melhor fotografia (em preto-e-branco), “O segundo rosto” registra a transformação radical de um homem rico, infeliz com a vida, em um outro aparentemente bem sucedido. Tudo graças a uma misteriosa empresa, responsável em forjar mortes com o objetivo de “apagar” tal pessoa da sociedade. E como conseqüência devolve a mesma pessoa com aspectos físicos modificados por cirurgias (rosto, mãos etc). Hamilton “morre” ressurgindo na pele do pintor Antiochus Wilson que, em pouco tempo, sofrerá as mesmas angústias e tormentos daquele primeiro. Por fora há nova roupagem, mas por dentro o sentimento continua sem alterações.
Misturando drama e ficção científica, “O segundo rosto” permanece original, intenso, auxiliado pela direção de arte que lembra pesadelos, com imagens retorcidas gravadas em grande ocular, que deforma o enquadramento, provocando um ar de tormento em torno dos personagens, sem contar a coerência com o clima sombrio.
A abertura original traz os letreiros inovadores do famoso designer Saul Bass, que criou os famosos créditos de “Psicose” e de outros filmes de Hitchcock, aliado a cenas de um rosto humano retorcido por efeitos de câmera.
Recebeu ainda indicação à Palma de Ouro em Cannes. Assustador, com final indigesto e frio o bastante para incomodar. Conheça. Por Felipe Brida

O segundo rosto
(Seconds). EUA, 1966, 106 min. Ficção científica. Dirigido por John Frankenheimer. Distribuição: Lume Filmes

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Cine Lançamento

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Namorados para sempre

Os namorados Cindy (Michelle Williams) e Dean (Ryan Gosling) estão em crise conjugal. Ambos são bastante temperamentais. Dean não consegue se conter quando seu lado explosivo emerge, enquanto Cindy só se satisfaz sexualmente com outros homens. Próximo do Dia dos Namorados, os dois reservam um final de semana para procurar no passado formas de resgatar o amor que sentem um pelo outro e assim renovar aquele sentimento hoje apagado.

O título (falho) em português induz a uma fita romântica comum sobre namorados que juram amor eterno. Se notarmos o original em inglês, chegamos à conclusão do verdadeiro teor da fita (“Blue Valentine”, ou seja, “Dia dos Namorados triste”). Portanto não se engane: esse é um filme amargo, pra baixo, sobre um casal em crise que questiona a natureza do amor e seus desdobramentos. Eles são Cindy e Dean, que têm uma filha pequena, vivem juntos, mas brigam o tempo todo. A jovem não sente mais atração pelo namorado e desenvolve um contato doentio com outros homens que conhecera, passando a ter relacionamentos sexuais com eles, escondida. Quando o casal se encontra, não tem diálogo e os dois agridem-se com palavras. Quando relembram, cada um no seu canto, o início do namoro, sentem saudade daquele tempo e tentam formas de reconciliação, sempre com resultado infeliz.
O filme explora um retrato intimista de duas pessoas solitárias, cujo relacionamento amoroso dirige-se para o estágio terminal.
A atriz Michelle Williams (ex do falecido Heath Ledger) recebeu indicação ao Oscar esse ano pelo difícil papel da namorada, assim como ao Globo de Ouro (junto com Ryan Gosling) e ao Independent Spirit. Assina a direção o desconhecido cineasta Derek Cianfrance, que concorreu ao Grande Prêmio do Júri em Sundance.
Uma fita séria, trágica, de atmosfera densa, para provocar reflexão. Por Felipe Brida

Namorados para sempre
(Blue Valentine). EUA, 2010, 112 min. Drama. Dirigido por Derek Cianfrance. Distribuição: Paris Filmes

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Cine Lançamento

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Matador em perigo

O solitário assassino de aluguel Victor Maynard (Bill Nighy) dedica-se exclusivamente ao trabalho, sem ter uma vida social. Sua rotina de crimes é interrompida quando poupa uma das vítimas de sua lista, a golpista Rose (Emily Blunt), iniciando uma amizade com ela. Enquanto Maynard revê os conceitos de seu trabalho sujo, aceita treinar um aprendiz de atirador, Tony (Rupert Grint), ao lado de Rose, que também aprende a manejar armas.

Curiosa comédia inglesa co-produzida na França que fracassou nas bilheterias dos poucos países que a exibiram nos cinemas. São três personagens envolvidos em uma estranha amizade de erros, perseguição, tiros e loucas escapadas. Tudo isso por causa da figura principal do filme, um assassino profissional todo fino, interpretado pelo sempre interessante Bill Nighy. Ele quebra o protocolo ao salvar uma vítima (Emily Blunt, uma das boas atrizes do momento) e logo se sente atraído por ela. Ao mesmo tempo se aproxima de um rapaz (Rupert Grint, da cinessérie ‘Harry Potter’) que pede orientação sobre como ser um bom atirador. É assim que o trio se une para se auto-descobrir e, claro, enfrentar um problemão: a chegada de um grupo de bandidos que querem a cabeça de Maynard.
O personagem de Maynard, meio afeminado (isto é sutilmente levado em consideração em alguns trechos) torna-se a grande atração cômica, graças às mil e uma peripécias que apronta.
Rodado na Inglaterra e com elenco britânico, participam ainda do filme Rupert Everett e a veterana Eileen Atkins.
O diretor responsável, Jonathan Lynn, produziu comédias divertidas como “Os sete suspeitos”, “Meu primo Vinny” e “Meu vizinho mafioso” e novamente acerta com esse seu mais novo filme independente. Por Felipe Brida

Matador em perigo
(Wild target). Inglaterra/França, 2010, 98 min. Ação. Dirigido por Jonathan Lynn. Distribuição: Paramount Pictures