domingo, 8 de agosto de 2010

Cine Lançamento

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Um olhar do paraíso

Em 1973, em um subúrbio na Pensilvânia, um crime brutal interrompe a trajetória da sonhadora Susie Salmon (Saoirse Ronan), assassinada pelo próprio vizinho, o jardineiro George Harvey (Stanley Tucci). No limbo, transitando entre a terra e o céu, o espírito da menina busca resposta para solucionar o caso. Ao mesmo tempo tenta confortar a família e seus amigos.

Baseado no best seller de Alice Sebold, “Um olhar do paraíso” é das produções mais estranhas e disformes do ano. Tem um quê de fantasia, drama, lirismo, surrealismo, suspense, romance, tudo em desarmonia, numa fita onde fica difícil definirmos gênero, tema e proposta. Diante desse quadro considerado falho por muitos, ouso dizer que pra mim foi uma experiência impactante, original, por isso nadei contra a corrente e, ao contrário de vários críticos, não achei aquela decepção do ano. É sim uma fita de altos e baixos, com momentos angustiantes, outros extremamente líricos, só que o resultado me pegou pela genuína criatividade.
Inicialmente o roteiro tem um foco desagradável – é a história de uma menina brutalmente assassinada (esquartejada e aparentemente estuprada pelo vizinho, um homem de meia idade), cujo espírito vaga em busca de respostas para o crime. De um paraíso todo estilizado com cores e formas inusitadas (na verdade ela está no limbo juntamente com outras jovens assassinadas, com quem desfruta amizade), sua alma fica perdida numa turbulência de dúvidas e sonhos desfeitos, inclusive tenta se vingar de seu algoz. Nesse mundo paralelo, Susie faz reflexões sobre a vida terrena e tenta voltar para sua família, claro que sem possibilidades.
Com forte inclinação espiritual, o filme é alegórico, visualmente onírico, com certos apelos emotivos. Resultado óbvio: não deverá agradar a todos. O próprio romance original é marcado pela amargura e tristeza, temas próprios da autora Alice Sebold, que em todos os seus livros relata o estupro sofrido na vida real. Ou seja, tem algo de autobiográfico em sua literatura.
No elenco vemos a sempre ótima atriz mirim Saoirse Ronan, aqui no personagem central da garota morta, Mark Wahlberg (menos ruim que de costume, como o pai), Rachel Weisz (centrada, como a mãe sofrida), uma ponta de Susan Sarandon (em papel medíocre, o pior da fita) e, sem esquecer, Stanley Tucci, nesse filme indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante como o frio assassino; ele compõe um tipo caricato, com tudo postiço (bigode, peruca – o ator é careca – e dentes pra frente), só que bastante sinistro, calculista, monstruoso. Subentende-se que ele seja pedófilo (no livro a pedofilia é mais explícita do que no filme, além do mais logo nas primeiras páginas do romance, que chegou no Brasil com o titulo sensacionalista “Uma vida interrompida – Memórias de um anjo assassinado”, a jovem é estuprada e morta, e no filme isto demora a acontecer). Mais destoante é o título original tanto do livro quanto do filme, “The lovely bones” (“Os restos angelicais” ou “Os adoráveis restos”, como são mencionados).
Agora fica para o público aceitar ou não esse novo projeto do diretor Peter Jackson, o mesmo da trilogia “O senhor dos anéis”. Para tanto, dêem-se a chance de conhecer essa fita tão dividida pela crítica. Por Felipe Brida

Título original: The lovely bones
País/Ano: EUA/ Inglaterra/ Nova Zelândia, 2009
Elenco: Saoirse Ronan, Mark Wahlberg, Rachel Weisz, Stanley Tucci, Susan Sarandon, Michael Imperiolli, Rose McIver, Christian T. Ashdale
Direção: Peter Jackson
Gênero: Drama
Duração: 135 min
Distribuição: Paramount Pictures

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