O Céu de Suely
A jovem Hermila (Hermila Guedes) retorna à cidade natal, Iguatu, localizada no interior do Ceará, para morar com a mãe e o filho pequeno. Sem emprego fixo, ganha trocados vendendo rifas de whisky. Em contato com uma prostituta, Hermila resolve investir em uma idéia inusitada: ganhar dinheiro rifando o próprio corpo.
Elogiado nos quatro cantos do país, onde recebeu 11 indicações ao Grande Prêmio de Cinema Brasileiro, o filme, que também participou de festivais estrangeiros, como Havana, Salônica e Punta del Este, não é para tanto. Superestimado demais. Um “alarme falso”. O primeiro problema: um drama que não emociona, não é sensível e é conduzido por uma narrativa lenta, sem impacto. O segundo erro está justamente na falta de sustentação da história. A discussão sobre prostituição não passa de meras conversas e algumas cenas eróticas. A idéia de a personagem central vender o corpo por meio de rifa, algo diferente e até bizarro, não é aprofundada. O superficial mata o enredo.
Estão aí os dois maiores defeitos da fita. Agora vamos aos pontos interessantes. O que admiro em certos diretores brasileiros é a sutileza em valorizar o ambiente natural e de reunir elenco amador ou pouco conhecido, métodos recorrentes em filmes de arte europeus, asiáticos e, claro, iranianos. É o que chamamos de “primitivismo cinematográfico”. Neste aspecto, “O Céu de Suely” é digno. Tudo é filmado no Nordeste brasileiro, cheio de locações naturais (bares, casas, ruas). Há naturalidade nas interpretações, e a produção, bastante modesta. Foram sete semanas para rodar o drama. No entanto, nada disto substitui as falhas enumeradas anteriormente.
Sobre o elenco, fica visível alguns altos e baixos. A novata Hermila Guedes (note que os nomes dos personagens são os próprios nomes dos artistas), em seu filme de estréia, sai-se bem como a personagem principal, uma garota “vazia de espírito”, solitária e pobre, porém com muitos sonhos. Quanto a João Miguel, bom ator e revelação do cinema brasileiro, senti que está desfalcado na pele do motoqueiro, personagem mal utilizado na fita. E o que falar das pontas desprezíveis dos ótimos Flávio Bauraqui e Marcélia Cartaxo?
Como resultado, “O Céu de Suely”, do diretor cearense Karim Ainouz, responsável por “Madame Satã”, fica num meio termo. Peca pela falta de sensibilidade, e não arma a proposta de emocionar. Corre o risco de ser esquecido em pouco tempo. Por Felipe Brida
Título original: O Céu de Suely
País/Ano: Brasil/Portugal/Alemanha/França, 2006
Elenco: Hermila Guedes, João Miguel, Maria Menezes, Zezita Barros, Flávio Bauraqui, Marcélia Cartaxo, Georgina Castro, Cláudio Jaborandy.
Direção: Karim Ainouz
Gênero: Drama
Duração: 88 min.
Muito Gelo e Dois Dedos D’água
Quando crianças, as irmãs Roberta (Mariana Ximenes) e Suzana (Paloma Duarte) passavam sufoco nas mãos da avó Judite (Laura Cardoso), mulher durona que ensinava a ferro e fogo as garotas a terem boa postura e educação. Por causa da maneira rígida com que eram tratadas, cresceram com trauma. Hoje, já trintonas, as irmãs planejam seqüestrar a idosa, como forma de se vingarem. Numa tarde, amordaçam a velha, colocam-na no porta-malas de um carro e partem rumo à casa de praia da família. Levam, de gaiato, um advogado, Renato (Ângelo Paes Leme). Só que no caminho muita confusão irá acontecer.
Até os bons diretores perdem o rumo e cometem erros graves. É o caso de Daniel Filho com este “Muito Gelo e Dois Dedos D’água”, comédia infeliz e nem um pouco cômica. Falando francamente, é uma besteira infundada, sem nexo. A história é maluca, repleta de situações próximas ao ridículo. Para completar conta com interpretações exageradas e fatigantes. Parece vindo de esquetes do programa “Zorra Total”. Os atores Ângelo Paes Leme e Thiago Lacerda são fracos e deixam dúvidas. Até a coitada da Laura Cardoso está caricata (as cenas em que ela é dopada, com aqueles efeitos psicodélicos, são verdadeiras pérolas do mau gosto) e acaba virando um fantoche nas mãos dos personagens desmiolados. Irritou-me o comportamento imbecilóide das irmãs vingativas.
O estranho título é explicado em uma seqüência no bar, onde a personagem da irmã alcoólatra (Ximenes) encontra-se com Renato (Paes Leme). Vai entender o que se passou na mente nada inspirada de Daniel Filho, um diretor que soube conduzir boas fitas, como “A Partilha” e “A Dona da História”, mas que já mostrava traços sem firmeza em “Se Eu Fosse Você”. Filho esqueceu de puxar os freios na condução desta comédia louca e incrivelmente chata.
Talvez o primeiro besteirol moderno do cinema brasileiro, embalado com sucessos musicais dos anos 80, como Sandra Rosa Madalena – A Cigana (por Sidney Magal), O Amor e o Poder (por Rosana) e Lindo Balão Azul (por Guilherme Arantes).
Os diálogos são de uma estupidez sem fim. E no final, uma cena em homenagem ao “O Silêncio dos Inocentes"! É mole ou quer mais um pouco? Por Felipe Brida
Título original: Muito Gelo e Dois Dedos D’água
País/Ano: Brasil, 2006
Elenco: Mariana Ximenes, Paloma Duarte, Ângelo Paes Leme, Thiago Lacerda, Laura Cardoso, Aílton Graça, Carla Daniel, Matheus Costa, Georgiana Góes.
Direção: Daniel Filho
Gênero: Comédia
Duração: 108 min.
A jovem Hermila (Hermila Guedes) retorna à cidade natal, Iguatu, localizada no interior do Ceará, para morar com a mãe e o filho pequeno. Sem emprego fixo, ganha trocados vendendo rifas de whisky. Em contato com uma prostituta, Hermila resolve investir em uma idéia inusitada: ganhar dinheiro rifando o próprio corpo.
Elogiado nos quatro cantos do país, onde recebeu 11 indicações ao Grande Prêmio de Cinema Brasileiro, o filme, que também participou de festivais estrangeiros, como Havana, Salônica e Punta del Este, não é para tanto. Superestimado demais. Um “alarme falso”. O primeiro problema: um drama que não emociona, não é sensível e é conduzido por uma narrativa lenta, sem impacto. O segundo erro está justamente na falta de sustentação da história. A discussão sobre prostituição não passa de meras conversas e algumas cenas eróticas. A idéia de a personagem central vender o corpo por meio de rifa, algo diferente e até bizarro, não é aprofundada. O superficial mata o enredo.
Estão aí os dois maiores defeitos da fita. Agora vamos aos pontos interessantes. O que admiro em certos diretores brasileiros é a sutileza em valorizar o ambiente natural e de reunir elenco amador ou pouco conhecido, métodos recorrentes em filmes de arte europeus, asiáticos e, claro, iranianos. É o que chamamos de “primitivismo cinematográfico”. Neste aspecto, “O Céu de Suely” é digno. Tudo é filmado no Nordeste brasileiro, cheio de locações naturais (bares, casas, ruas). Há naturalidade nas interpretações, e a produção, bastante modesta. Foram sete semanas para rodar o drama. No entanto, nada disto substitui as falhas enumeradas anteriormente.
Sobre o elenco, fica visível alguns altos e baixos. A novata Hermila Guedes (note que os nomes dos personagens são os próprios nomes dos artistas), em seu filme de estréia, sai-se bem como a personagem principal, uma garota “vazia de espírito”, solitária e pobre, porém com muitos sonhos. Quanto a João Miguel, bom ator e revelação do cinema brasileiro, senti que está desfalcado na pele do motoqueiro, personagem mal utilizado na fita. E o que falar das pontas desprezíveis dos ótimos Flávio Bauraqui e Marcélia Cartaxo?
Como resultado, “O Céu de Suely”, do diretor cearense Karim Ainouz, responsável por “Madame Satã”, fica num meio termo. Peca pela falta de sensibilidade, e não arma a proposta de emocionar. Corre o risco de ser esquecido em pouco tempo. Por Felipe Brida
Título original: O Céu de Suely
País/Ano: Brasil/Portugal/Alemanha/França, 2006
Elenco: Hermila Guedes, João Miguel, Maria Menezes, Zezita Barros, Flávio Bauraqui, Marcélia Cartaxo, Georgina Castro, Cláudio Jaborandy.
Direção: Karim Ainouz
Gênero: Drama
Duração: 88 min.
Muito Gelo e Dois Dedos D’água
Quando crianças, as irmãs Roberta (Mariana Ximenes) e Suzana (Paloma Duarte) passavam sufoco nas mãos da avó Judite (Laura Cardoso), mulher durona que ensinava a ferro e fogo as garotas a terem boa postura e educação. Por causa da maneira rígida com que eram tratadas, cresceram com trauma. Hoje, já trintonas, as irmãs planejam seqüestrar a idosa, como forma de se vingarem. Numa tarde, amordaçam a velha, colocam-na no porta-malas de um carro e partem rumo à casa de praia da família. Levam, de gaiato, um advogado, Renato (Ângelo Paes Leme). Só que no caminho muita confusão irá acontecer.
Até os bons diretores perdem o rumo e cometem erros graves. É o caso de Daniel Filho com este “Muito Gelo e Dois Dedos D’água”, comédia infeliz e nem um pouco cômica. Falando francamente, é uma besteira infundada, sem nexo. A história é maluca, repleta de situações próximas ao ridículo. Para completar conta com interpretações exageradas e fatigantes. Parece vindo de esquetes do programa “Zorra Total”. Os atores Ângelo Paes Leme e Thiago Lacerda são fracos e deixam dúvidas. Até a coitada da Laura Cardoso está caricata (as cenas em que ela é dopada, com aqueles efeitos psicodélicos, são verdadeiras pérolas do mau gosto) e acaba virando um fantoche nas mãos dos personagens desmiolados. Irritou-me o comportamento imbecilóide das irmãs vingativas.
O estranho título é explicado em uma seqüência no bar, onde a personagem da irmã alcoólatra (Ximenes) encontra-se com Renato (Paes Leme). Vai entender o que se passou na mente nada inspirada de Daniel Filho, um diretor que soube conduzir boas fitas, como “A Partilha” e “A Dona da História”, mas que já mostrava traços sem firmeza em “Se Eu Fosse Você”. Filho esqueceu de puxar os freios na condução desta comédia louca e incrivelmente chata.
Talvez o primeiro besteirol moderno do cinema brasileiro, embalado com sucessos musicais dos anos 80, como Sandra Rosa Madalena – A Cigana (por Sidney Magal), O Amor e o Poder (por Rosana) e Lindo Balão Azul (por Guilherme Arantes).
Os diálogos são de uma estupidez sem fim. E no final, uma cena em homenagem ao “O Silêncio dos Inocentes"! É mole ou quer mais um pouco? Por Felipe Brida
Título original: Muito Gelo e Dois Dedos D’água
País/Ano: Brasil, 2006
Elenco: Mariana Ximenes, Paloma Duarte, Ângelo Paes Leme, Thiago Lacerda, Laura Cardoso, Aílton Graça, Carla Daniel, Matheus Costa, Georgiana Góes.
Direção: Daniel Filho
Gênero: Comédia
Duração: 108 min.
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