sábado, 19 de julho de 2025

Resenhas especiais

 
Especial 3ª Mostra ‘Amor ao Cinema’
 
O roteiro da minha vida – François Truffaut
 
Exibido no Festival de Cannes de 2024, onde concorreu ao Golden Eye, seção dedicada a documentários, o filme entrou no Brasil via programação da 3ª. Mostra ‘Amor ao Cinema’, do Sesc SP, que esteve em exibição no Cinesesc e no Sesc Digital. Este ano a mostra reuniu 38 filmes clássicos e lançamentos, como é o caso de ‘O roteiro da minha vida – François Truffaut’ (2024), uma belíssima homenagem ao diretor francês François Truffaut (1932-1984), figura central por trás da Nouvelle Vague. E uma justa lembrança dos 40 anos da morte dele. A partir de cenas de filmes dirigidos por Truffaut, como ‘Os incompreendidos’ (1959), ‘Fahrenheit 451’ (1966) e ‘A mulher do lado’ (1981), nos aprofundamos no processo de criação de um notável pensador do cinema moderno, com sua linguagem expressiva e eficaz, que trouxe novos olhares para a Sétima Arte. Explora-se ainda o Truffaut ator, como em sua participação no longa scifi de Steven Spielberg ‘Contatos imediatos de terceiro grau’ (1977). A narração do documentário é feita por astros e estrelas do cinema francês, como Isabelle Huppert, André Dussollier e Louis Garrel (ele interpreta, em voz, o próprio Truffaut, refletindo sobre sua arte e lendo trechos de anotações do cineasta, até agora inéditas ao público). Truffaut aparece em entrevistas e sets de filmagem. Tudo isso faz o público entender, de maneira íntima, o modo de o diretor ver o mundo. Ele teve breve carreira, mas deixando grandes obras cinematográficas – Truffaut faleceu cedo, aos 52 anos, de câncer cerebral.
 
 
O cangaceiro da moviola
 
Documentário independente que homenageia uma figura desconhecida do grande público, mas uma figura de destaque na montagem de cinema no Brasil, Severino Dadá, pernambucano nascido em 1941, que editou longas de cineastas de peso, como Nelson Pereira dos Santos, Neville D'Almeida, Octávio Bezerra e Rogério Sganzerla. A equipe do filme acompanha as andanças de Dadá por sua terra natal, uma cidadezinha no interior do Pernambuco chamada Pedra, onde ele se encontra com amigos e percorre a região onde cresceu. Saiu de lá no fim da década de 60 chegando ao Rio, onde trabalhou na Cinelândia carioca; na década seguinte foi para São Paulo, atuando na Boca do Lixo e depois em produções premiadas. A carreira de Dadá consta 40 trabalhos entre longas e curtas, dentre eles os filmes ‘O amuleto de Ogum’ (1975), ‘Tenda dos milagres’ (1977 – aqui também atuou), ‘Nem tudo é verdade’ (1986), ‘Matou a família e foi ao cinema’ (1991) e ‘Corisco & Dadá’ (1996). Cineastas que trabalharam com ele falam sobre a a figura de Dadá, como Nelson Pereira dos Santos, Rosemberg Cariry e o filho Petrus Cariry, Wolney Oliveira, Roque Araújo, Katia Mesel, Adélia Sampaio, Fernando Spencer e Ramon Alvarado. O apelido ‘Cangaceiro da moviola’ é devido a ele dizer que, por ser do cangaço, fazia os cortes dos filmes, em película, com facão. Produzido em 2022, o documentário de Luís Alberto Rocha Melo integrou a programação da 3ª. Mostra ‘Amor ao Cinema’, do Sesc SP, que este ano trouxe 38 filmes novos e antigos no Cinesesc e na plataforma Sesc Digital.


 
Cinema é uma droga pesada
 
Novo trabalho do diretor francês, que é ator e roteirista também, Cédric Kahn, o mesmo de ‘Vida selvagem’ (2014) e ‘A prece’ (2018). Exibido no Festival de Veneza, a inteligente comédia dramática francesa, voltada para o público mais cinéfilo, integra a programação da 3ª. Mostra ‘Amor ao Cinema’, do Sesc SP, e pode ser assistida gratuitamente no Sesc Digital. Criativo, com pura metalinguagem, o filme narra as adversidades de uma equipe de filmagem no set de gravação. Um diretor experiente, porém estressado e com problemas familiares, tenta terminar de rodar um filme sobre a luta de trabalhadores para evitar com que a empresa feche as portas. Problemas técnicos, desentendimento dos atores – que resolvem fazer uma greve no meio das gravações, e mudanças no roteiro por parte dos produtores adiam o término... O prazo é curto, e o diretor enlouquece. Até que entra em cena um jovem cineasta que se prontifica a criar o making of daquele filme. Com seu olhar clínico, capta aquela agitação toda que está acontecendo ao redor, que nunca permite a finalização das gravações. O grupo percebe então que o making of está se saindo melhor que o filme original. Com um elenco afiado – Denis Podalydès, Souheila Yacoub, Emmanuelle Bercot, Xavier Beauvois e Valérie Donzelli são alguns, o filme é uma celebração ao modo de se fazer cinema, que serve como sátira e com resultado extremamente curioso. Mais um filme de Kahn (que já veio ao Brasil, e na oportunidade, anos atrás, o entrevistei) que gostei e recomendo.


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