segunda-feira, 28 de julho de 2025

Estreias da semana – Nos cinemas e no streaming

 
 
O brilho do diamante secreto
 
Uma deliciosa homenagem ao cinema vibrante de espionagem e filmes B de assalto dos anos 60, principalmente aqueles feitos na Itália e na França, com clara semelhança a ‘Perigo: Diabolik’ (1968), de Mario Bava. Sensual, engraçado, todo em cortes enérgicos repletos de closes e uma fotografia estonteante, o estilizado filme estreou na semana passado nos cinemas pela Pandora Filmes, após ser exibido esse ano no Festival de Berlim, onde concorreu ao Urso de Ouro. Ambientado na elegante Riviera Francesa (Côte d’Azur), traz a história de um espião aposentado que está em um hotel de luxo aguardando seus últimos dias. Sempre de costas para a câmera, bebendo e fumando, rapidamente entra em cena para investigar o desaparecimento de uma vizinha. Tomado por lembranças, algumas reais, outras puro delírio, ele enfrentará perigosos assassinos, numa busca incessante que envolve até roubo de diamantes. Com todos os clichês propositais do gênero para construir esse universo explosivo, colorido e agitado do cinema Eurospy, tem uma narrativa nada convencional, uma estética ousada em cores, com mistura de flashbacks e flashforwards a todo momento. São pouquíssimos diálogos, uma abundância de cortes abruptos e uma trilha sonora que remetem a esse cinemão popular. No elenco, o veterano ator italiano Fabio Testi, de 83 anos, nome forte do western spaghetti, como ‘Os quatro do apocalipse’, como o protagonista na fase adulta, e participação da atriz portuguesa Maria de Medeiros. Dirigido pela dupla Hélène Cattet e Bruno Forzani, de ‘A estranha cor das lágrimas do seu corpo’ (2013), é um dos lançamentos mais diferenciados deste ano nos cinemas.
 

 
Ponto oculto
 
Depois da estreia adiada por um mês, chega aos cinemas do Brasil o drama com suspense alemão falado em quatro línguas (alemão, turco, curdo e inglês), rodado na Turquia em 2021, durante a pandemia, e só lançado em festivais e no circuito em 2023. Com roteiro e direção da premiada cineasta Ayşe Polat, o longa venceu 15 prêmios internacionais e foi exibido na seção Encounters do Festival de Berlim. É uma história trágica, de tensão psicológica crescente, sobre um grupo de indivíduos levado ao extremo em uma conspiração no nordeste da Turquia. A trama é fragmentada em capítulos, com vários personagens em destaque, como uma equipe de cinegrafistas alemães gravando um documentário numa vila de curdos, povo que é constantemente alvo de massacres lá, uma tradutora que também é babá, um agente policial amargurado que trabalha numa organização misteriosa, e a filha dele, uma menina que tem um olhar clínico diferenciado da realidade. Cercados pela paranoia, todos são acometidos por algo que está por vir, refletindo num passado não resolvido. A diretora, nascida na Turquia e radicada na Alemanha, de ‘En Garde’ (2004), trata aqui de questões que sempre a preocuparam, como repressão política e os conflitos étnicos numa região de instabilidade social da Turquia. Os personagens que ela cria são figuras fortes, que incomodam e nos faz refletir. Não é uma obra de linguagem fácil, os capítulos aos poucos se conectam, culminando em um desfecho amargo e imprevisível. Distribuído nos cinemas pela Pandora Filmes.
 

 
Os sinos da noite
 
Lançamento da semana no canal do Youtube do CPC-Umes Filmes, gratuito até dia 28, o longa soviético ganhador de três prêmios no Festival de Berlim está disponível numa boa cópia restaurada pela Mosfilm. Foi o último trabalho do diretor Vasiliy Shukshin (1929-1974), que morreu aos 45 anos de problemas cardíacos, meses depois do lançamento, em 1974. Roteirista de mais de 30 filmes, ele dirigiu apenas cinco, e esse é o mais conhecido da sua rápida carreira – ele também é ator, e aqui interpreta o protagonista. É uma comédia dramática em estilo teatral, com atores em poucos ambientes – quase tudo ocorre numa casinha antiga de um vilarejo. A história acompanha um homem de origem pobre que acaba de sair da cadeia após cumprir pena. Yegor Prokudin (Vasiliy Shukshin) tenta se estabilizar na sociedade, é um cidadão gentil e preocupado com os outros. Decide viajar até uma vila remota onde se aproxima da camponesa Lyuba (Lidiya Fedoseeva-Shukshina, que era esposa de Vasiliy), com quem trocava cartas na cadeia. É bem recebido pela numerosa família da mulher, muitos deles anciãos, que o abrigam com zelo e carinho. Yegor inicia um relacionamento com Lyuba e sente prazer em morar na área rural. Até que decide resolver velhas questões que sempre o assombraram, como rever a mãe, hoje idosa, com quem não fala desde criança e reencontrar antigos amigos. Filme popular na antiga União Soviética, vale ver agora no canal da CPC-Umes, que mantém vivo esse projeto de exibição de clássicos restaurados - semanalmente eles lançam um título raro no canal Youtube, de forma gratuita, em https://www.youtube.com/@cpc-umesfilmes23

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