Jovens amantes
Drama romântico
nostálgico, a fita de arte franco-italiana é uma homenagem ao cinema da
pós-Nouvelle Vague, movimento que trouxe nova estética ao cinema francês nos
anos 60 e 70. A história de amizade e amadurecimento é inspirada na juventude
da atriz e diretora italiana Valeria Bruni Tedeschi, que dirige o filme com
delicadeza e criatividade nos enquadramentos e câmera que lembra um estilo de
gravação antiga. Tudo gira em torno de um grupo de amigos, de 20 anos de idade,
recém-admitidos em uma importante escola de teatro perto de Paris. É década de
80, período de transformações culturais na França e no mundo. Enquanto estudam
arte dramática, apaixonam-se, envolvem-se em romances fugazes, descobrem o
mundo e enfrentam perdas. É uma obra íntima, com muitos closes, que mostra a
preparação para a vida adulta. O olhar celebrativo da diretora diz muito nesse
filme potente e belamente fotografado – reparem no uso fenomenal da luz
natural. É ainda uma homenagem de Valeria para as amigas atrizes Agnès Jaoui e Noémie
Lvovsky, que auxiliaram no roteiro, são retratadas nas personagens e estudaram
com ela na real escola de artes Les Amandiers, comandada nos anos 80 pelo
diretor Patrice Chéreau (no filme Patrice é interpretado pelo sempre correto
Louis Garrel). Indicado à Palma de Ouro e ao Queer Palm em Cannes, ao Cesar e ao
Festival de Sevilla, está nos cinemas pela Pandora Filmes.
Hot milk
Uma das boas estreias do
ano, o poderoso drama ‘Hot milk’, recém-saído do Festival de Berlim, onde
concorreu ao prêmio principal esse ano, o Urso de Ouro, é um retrato complexo
da relação de mãe e filha. A trama se passa no verão espanhol, na paradisíaca
cidade costeira de Almería, focando em Sofia (Emma Mackey) e sua mãe que enfrenta
um doença não-detectada, que a colocou em uma cadeira de rodas, Rose (Fiona
Shaw). O calor é intenso, o lugar está calmo, e lá para lá elas viajam para
buscar um tratamento para Rose na clínica do Dr. Gómez (Vincent Perez), um
médico com práticas misteriosas. Fechadas sozinhas num hotel, mãe e filha
trazem do âmago lembranças dolorosas e profundas, enquanto a mãe tenta
controlar a todo instante a frágil garota. Sofia então conhece à beira-mar uma
mulher despojada e libertária, Ingrid (Vicky Krieps), com quem tem uma estranha
e misteriosa relação. Aos poucos segredos vem à tona culminando em uma crise
entre as três personagens. É um trabalho visceral, de peso, do elenco, e uma
atuação estupenda da veterana atriz irlandesa indicada ao Emmy e ao Bafta Fiona
Shaw. Não é um filme de fácil digestão ou solução, traz um desfecho aberto, que
para mim foi uma paulada. Baseado no romance homônimo de Deborah Levy, é o longa
de estreia na direção da roteirista Rebecca Lenkiewicz, dos excelentes ‘Ida’ (2013),
‘Desobediência’ (2017) e ‘Ela disse’ (2022). Está nos cinemas, distribuído pela
Mubi e a O2 Play, distribuidora da O2 Filmes.
Pedaço de mim
Outra boa estreia nos
cinemas brasileiros de um filme de drama, também uma fita de arte com mulheres
fortes e dirigida por uma cineasta. Exibido no Festival de Veneza de 2024, na
Mostra Orizzonti, é o primeiro longa da diretora francesa Anne-Sophie Bailly;
aqui ela retrata os dias angustiantes de Mona (Laure Calamy), uma mulher de
quase 50 anos, separada do marido, que vive com o filho Joel (Charles Peccia),
um jovem neurodivergente. Eles têm uma relação de forte proteção e cuidado um
com o outro, compartilhando sentimentos e a mesma rotina. Até que uma notícia
abala aquela pequena família – Joel engravidou a namorada, Océane (Julie Froger),
uma garota que acabou de conhecer e que também é neurodivergente. Com trama
conduzida corretamente com momentos de afeto e tensão, traz um trabalho exímio
dos atores centrais, com destaque para o trio, Laure Calamy (dos filmes ‘Contratempos’
e ‘Minhas férias com Patrick’), Charles Peccia e Julie Froger. Traz uma
discussão atual, sobre as novas relações de pais com seus filhos com autismo e
outros transtornos do neurodesenvolvimento. Um filme delicado, pessoal e muito
bonito, que poderá tocar fundo nas pessoas. Nos cinemas brasileiros pela Filmes
do Estação.
Crypto – A aposta
final
A plataforma de
streaming Filmelier+, da Sofa Dgtl, recebe hoje no catálogo o intrigante
thriller de caçada ‘Crypto – A aposta final’ (‘Cold wallet’), produção
independente norte-americana de 2024 exibida no festival SXSW. O longa acompanha
três indivíduos que, após perderam todo o dinheiro em um esquema fraudulento de
criptomoedas, elaboram um plano para sequestrar o influenciador financeiro que
está por trás do crime. Juntos, invadem a mansão do criminoso e o amarram numa
cadeira, fazendo um jogo de intimidações. Tudo muda com a chegada de um idoso,
que está em busca do vizinho, o acusado. De thriller/suspense vira uma fita de
ação de caçada ininterrupta, com mortes e perseguições. Daqueles filmes de
anti-heróis em que ninguém é bonzinho tampouco consegue se salvar. No elenco, Raúl
Castillo, de ‘Cassandro’ (2023), Melonie Diaz, de ‘Fruitvale Station – A última
parada’ (2013) e Josh Brener, promissor ator que está em tudo, de séries como ‘The
last of us’ (2023-) a longas como ‘Bagagem de risco’ (2024) e ‘Saturday Night –
A noite que mudou a comédia’ (2024). Roteiro e direção de Cutter Hodierne.
Acesso ao Filmelier+ em https://www.filmelier.com/br

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