Deixa que eu falo –
Um filme sobre Leon Hirszman
Excelente documentário
que reconstrói, a partir de fragmentos de curtas e longas-metragens, a carreira
do falecido cineasta brasileiro Leon Hirszman (1938-1987), uma das mentes
idealizadoras do movimento Cinema Novo. Leon deixou um legado de poucos, mas
importantes trabalhos, como ‘A falecida’ (1965), ‘São Bernardo’ (1972) e ‘Eles
não usam black-tie’ (1981). O diretor, e amigo pessoal dele Eduardo Escorel,
irmão do diretor de fotografia Lauro Escorel, conta essa história intensa de
amor de Leon pelo cinema a partir de raras entrevistas do cineasta, fotos de
bastidores de seus filmes, vídeos de premiações – ‘Eles não usam black tie’,
por exemplo, ganhou três prêmios no Festival de Veneza. Com uma carreira de 25
anos, entre 1962 e 1986, Leon marcou profundamente a cultura cinematográfica
brasileira com seus filmes densos e originais – nascido no Rio, faleceu
prematuramente aos 49 anos, de complicações da Aids. Feito em 2007, o filme
integra a programação da III Mostra ‘Amor ao Cinema’, do Sesc SP, disponível
gratuitamente na plataforma Sesc Digital até o dia 08/07 e com sessões no
Cinesesc – a mostra desse ano reúne 38 títulos, de clássicos restaurados a
filmes novos, como ‘Close-up’ (1990, de Abbas Kiarostami), em cópia 35mm, ‘Os sonhadores’
(2003, de Bernardo Bertolucci), remasterizado em 4K, ‘Fedora’ (1978, de Billy
Wilder), além de ‘Jeanne Dielman’ (1975) e ‘Festa de família’ (1998), e docs
brasileiros como ‘Ozualdo Candeias e o cinema’ (2013) e ‘O cangaceiro da
moviola’ (2022).
1992
O cineasta israelense
radicado nos Estados Unidos Ariel Vromen rodou até agora sete filmes policiais,
alguns deles thrillers/suspenses muito bons baseados em histórias reais, como
‘O homem de gelo’ (2012) e ‘O Anjo do Mossad’ (2018, da Netflix). ‘1992’ (2022)
é seu último trabalho, que não teve estreia no Brasil e acaba de entrar no catálogo
da Max (que em breve se fundirá com a HBO e será chamada HBO Max). É um heist
movie (filme de assalto), ágil para quem gosta do assunto. A trama segue um ex-presidiário
(Tyrese Gibson) que hoje trabalha em uma loja de bebidas. Ludibriado por um
grupo de criminosos, envolve-se em um assalto a barras de ouro de um banco. No
meio da ação criminosa, descobre que o filho adolescente está aprisionado, em
segurança, em um local fechado durante onda de violência que toma conta das
ruas de Los Angeles (o contexto do filme é o evento conhecido como ‘Distúrbios
de Los Angeles’, quando, em 1992, a cidade foi palco de tumultos nas ruas,
devido à absolvição de policiais acusados de espancar um homem negro, que
culminou em mais de 50 mortos e milhares de feridos). O homem tenta convencer o
grupo a salvar o filho. Produzido pelo rapper e ator Snoop Dogg, é um filme com
clichês do gênero, porém de boa condução, com momentos eletrizantes. É um dos
últimos trabalhos de Ray Liotta, falecido naquele ano de 2022 – o filme é
dedicado a ele, e tem, além de Tyrese Gibson, o ator Scott Eastwood, filho de
Clint. Apesar de ser de 2022, teve apenas uma première em Los Angeles, e nem
passou no circuito, chegando ao streaming em muitos países.

Encantadora de
tubarões
Lançado essa semana, o
novo documentário da Netflix retrata o incansável trabalho da conservacionista
marinha e ativista Ocean Ramsey. Nascida no Havaí, a ex-modelo desde a metade
dos anos 2000 trabalha com oceanografia. Ficou mundialmente famosa por nadar
com tubarões e ter encontros casuais com grandes espécies, como o tubarão
branco, que chega a seis metros de comprimento. De um arriscado hobby, que é
viajar ao redor do mundo para encontrá-los e nadar com eles, tornou-se ativista
na proteção desses animais e também dos cuidados ambientais nos mares. No
filme, muito bem gravado, com cenas hipnóticas no azul intenso do fundo dos
oceanos, vemos Ocean acariciar os tubarões que se depara nos mergulhos – algo
tido como proibido e perigoso, o que reflete no filme um enigma que tentam
desvendar: por que esses animais ferozes, que costumam atacar humanos, afeiçoam-se
tanto por Ocean? O doc foi escrito por ela e dirigido pelo noivo, Juan
Oliphant. Depois de ‘Professor Polvo’ (2020), documentário da Netflix que
ganhou o Oscar, sobre a amizade incomum de um homem com um polvo na África do
Sul, agora temos a relação afável de uma pessoa com enormes tubarões predadores.

Chefes de Estado
Novo filme do Prime
Video, produzido pela Amazon Studios e a MGM, uma divertida comédia policial de
história ágil e por vezes inusitada, sobre dois chefes de Estado encalacrados
numa enrascada. Eles são o presidente dos Estados Unidos (John Cena) e o
primeiro-ministro britânico (Idris Elba), dois rivais políticos, que durante
uma reunião com outros países, viram alvos fáceis de um perigoso grupo que quer
eliminá-los. A dupla é caçada em todo canto e terá de colocar as rixas de lado
para sobreviver. Eles fogem de avião e de carros em alta velocidade,
esquivam-se de tiros e explosões, até saltam de paraquedas. Quem auxilia os
líderes mundiais nas fugas mirabolantes a la James Bond é uma agente do MI6 (Priyanka
Chopra Jonas), o serviço secreto britânico. Para piorar, descobrem uma ameaça
global no caminho. É filme de buddy cop passatempo, para se entregar na frente
da TV e rir à beça. Tem ali e acolá críticas ao atual cenário político com
Trump no poder e o novo modelo de mundo multipolar. Gosto do desajuste da dupla
principal, os atores John Cena e Idris Elba se jogam sem medo nos papeis, e com
uma mulher para juntar os dois (papel bem legal da atriz indiana Priyanka
Chopra Jonas, agora fazendo carreira nos Estados Unidos). Participação ainda de
Paddy Considine, Carla Gugino e Jack Quaid, filho de Dennis Quaid, que aparece
em tudo quanto é filme atualmente. Direção do russo Ilya Naishuller, jovem
cineasta de filmes que arrebentam em ação, ‘Hardcore: Missão extrema’ (2015) e
‘Anônimo’ (2021).

O último respiro
História real de um pequeno
grupo de mergulhadores numa corrida contra o tempo para resgatar um colega de
trabalho preso a quase 100 metros no fundo do oceano. O filme, de drama com
suspense, conta a tragédia na vida do mergulhador escocês Chris Lemons, que
escapou da morte em 2012; na ocasião, ele e dois companheiros de mergulho, para
consertar tubulações de um campo de extração de petróleo na costa escocesa do
Mar do Norte, descem nas águas. As condições de descida eram ruins, com ventos
fortes e ondas. Lemons ficou preso após o navio ser arrastado pelas ondas, os
dois amigos conseguiram subir, e ele ficou preso, sem suprimento de oxigênio. Perdeu
os sentidos e ficou desmaiado no fundo do mar por 30 minutos, enquanto, do
navio, o grupo corria contra o tempo para a expedição de salvamento. Daqueles filmes
tensos, bem realizados ao modo americano de cinema, Woody Harrelson no papel de
um dos colegas de Lemons (quem faz o mergulhador aprisionado no fundo do mar é Finn
Cole). Edição e fotografia são primorosas, em especial nas cenas no fundo do
mar, da descida da equipe nas tubulações até o salvamento. O longa é uma adaptação
do documentário britânico de mesmo título, ‘Último respiro’ (2019), e do mesmo
diretor, Alex Parkinson, realizador dos docs ‘Lucy, o chimpanzé humano’ (2021 –
da HBO Max) e ‘A vida dos leopardos’ (2024 – da Netflix). Ou seja, Parkinson
fez o doc e agora a adaptação em filme ficcional. Rodado na Escócia, a produção
da Focus Features não passou nos cinemas brasileiros e entrou diretamente no
Prime Video.
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