domingo, 6 de julho de 2025

Estreias da semana – Nos cinemas e no streaming - Parte 1


Deixa que eu falo – Um filme sobre Leon Hirszman
 
Excelente documentário que reconstrói, a partir de fragmentos de curtas e longas-metragens, a carreira do falecido cineasta brasileiro Leon Hirszman (1938-1987), uma das mentes idealizadoras do movimento Cinema Novo. Leon deixou um legado de poucos, mas importantes trabalhos, como ‘A falecida’ (1965), ‘São Bernardo’ (1972) e ‘Eles não usam black-tie’ (1981). O diretor, e amigo pessoal dele Eduardo Escorel, irmão do diretor de fotografia Lauro Escorel, conta essa história intensa de amor de Leon pelo cinema a partir de raras entrevistas do cineasta, fotos de bastidores de seus filmes, vídeos de premiações – ‘Eles não usam black tie’, por exemplo, ganhou três prêmios no Festival de Veneza. Com uma carreira de 25 anos, entre 1962 e 1986, Leon marcou profundamente a cultura cinematográfica brasileira com seus filmes densos e originais – nascido no Rio, faleceu prematuramente aos 49 anos, de complicações da Aids. Feito em 2007, o filme integra a programação da III Mostra ‘Amor ao Cinema’, do Sesc SP, disponível gratuitamente na plataforma Sesc Digital até o dia 08/07 e com sessões no Cinesesc – a mostra desse ano reúne 38 títulos, de clássicos restaurados a filmes novos, como ‘Close-up’ (1990, de Abbas Kiarostami), em cópia 35mm, ‘Os sonhadores’ (2003, de Bernardo Bertolucci), remasterizado em 4K, ‘Fedora’ (1978, de Billy Wilder), além de ‘Jeanne Dielman’ (1975) e ‘Festa de família’ (1998), e docs brasileiros como ‘Ozualdo Candeias e o cinema’ (2013) e ‘O cangaceiro da moviola’ (2022).
 

 
1992
 
O cineasta israelense radicado nos Estados Unidos Ariel Vromen rodou até agora sete filmes policiais, alguns deles thrillers/suspenses muito bons baseados em histórias reais, como ‘O homem de gelo’ (2012) e ‘O Anjo do Mossad’ (2018, da Netflix). ‘1992’ (2022) é seu último trabalho, que não teve estreia no Brasil e acaba de entrar no catálogo da Max (que em breve se fundirá com a HBO e será chamada HBO Max). É um heist movie (filme de assalto), ágil para quem gosta do assunto. A trama segue um ex-presidiário (Tyrese Gibson) que hoje trabalha em uma loja de bebidas. Ludibriado por um grupo de criminosos, envolve-se em um assalto a barras de ouro de um banco. No meio da ação criminosa, descobre que o filho adolescente está aprisionado, em segurança, em um local fechado durante onda de violência que toma conta das ruas de Los Angeles (o contexto do filme é o evento conhecido como ‘Distúrbios de Los Angeles’, quando, em 1992, a cidade foi palco de tumultos nas ruas, devido à absolvição de policiais acusados de espancar um homem negro, que culminou em mais de 50 mortos e milhares de feridos). O homem tenta convencer o grupo a salvar o filho. Produzido pelo rapper e ator Snoop Dogg, é um filme com clichês do gênero, porém de boa condução, com momentos eletrizantes. É um dos últimos trabalhos de Ray Liotta, falecido naquele ano de 2022 – o filme é dedicado a ele, e tem, além de Tyrese Gibson, o ator Scott Eastwood, filho de Clint. Apesar de ser de 2022, teve apenas uma première em Los Angeles, e nem passou no circuito, chegando ao streaming em muitos países.


 
Encantadora de tubarões
 
Lançado essa semana, o novo documentário da Netflix retrata o incansável trabalho da conservacionista marinha e ativista Ocean Ramsey. Nascida no Havaí, a ex-modelo desde a metade dos anos 2000 trabalha com oceanografia. Ficou mundialmente famosa por nadar com tubarões e ter encontros casuais com grandes espécies, como o tubarão branco, que chega a seis metros de comprimento. De um arriscado hobby, que é viajar ao redor do mundo para encontrá-los e nadar com eles, tornou-se ativista na proteção desses animais e também dos cuidados ambientais nos mares. No filme, muito bem gravado, com cenas hipnóticas no azul intenso do fundo dos oceanos, vemos Ocean acariciar os tubarões que se depara nos mergulhos – algo tido como proibido e perigoso, o que reflete no filme um enigma que tentam desvendar: por que esses animais ferozes, que costumam atacar humanos, afeiçoam-se tanto por Ocean? O doc foi escrito por ela e dirigido pelo noivo, Juan Oliphant. Depois de ‘Professor Polvo’ (2020), documentário da Netflix que ganhou o Oscar, sobre a amizade incomum de um homem com um polvo na África do Sul, agora temos a relação afável de uma pessoa com enormes tubarões predadores.


 
Chefes de Estado
 
Novo filme do Prime Video, produzido pela Amazon Studios e a MGM, uma divertida comédia policial de história ágil e por vezes inusitada, sobre dois chefes de Estado encalacrados numa enrascada. Eles são o presidente dos Estados Unidos (John Cena) e o primeiro-ministro britânico (Idris Elba), dois rivais políticos, que durante uma reunião com outros países, viram alvos fáceis de um perigoso grupo que quer eliminá-los. A dupla é caçada em todo canto e terá de colocar as rixas de lado para sobreviver. Eles fogem de avião e de carros em alta velocidade, esquivam-se de tiros e explosões, até saltam de paraquedas. Quem auxilia os líderes mundiais nas fugas mirabolantes a la James Bond é uma agente do MI6 (Priyanka Chopra Jonas), o serviço secreto britânico. Para piorar, descobrem uma ameaça global no caminho. É filme de buddy cop passatempo, para se entregar na frente da TV e rir à beça. Tem ali e acolá críticas ao atual cenário político com Trump no poder e o novo modelo de mundo multipolar. Gosto do desajuste da dupla principal, os atores John Cena e Idris Elba se jogam sem medo nos papeis, e com uma mulher para juntar os dois (papel bem legal da atriz indiana Priyanka Chopra Jonas, agora fazendo carreira nos Estados Unidos). Participação ainda de Paddy Considine, Carla Gugino e Jack Quaid, filho de Dennis Quaid, que aparece em tudo quanto é filme atualmente. Direção do russo Ilya Naishuller, jovem cineasta de filmes que arrebentam em ação, ‘Hardcore: Missão extrema’ (2015) e ‘Anônimo’ (2021).


 
O último respiro
 
História real de um pequeno grupo de mergulhadores numa corrida contra o tempo para resgatar um colega de trabalho preso a quase 100 metros no fundo do oceano. O filme, de drama com suspense, conta a tragédia na vida do mergulhador escocês Chris Lemons, que escapou da morte em 2012; na ocasião, ele e dois companheiros de mergulho, para consertar tubulações de um campo de extração de petróleo na costa escocesa do Mar do Norte, descem nas águas. As condições de descida eram ruins, com ventos fortes e ondas. Lemons ficou preso após o navio ser arrastado pelas ondas, os dois amigos conseguiram subir, e ele ficou preso, sem suprimento de oxigênio. Perdeu os sentidos e ficou desmaiado no fundo do mar por 30 minutos, enquanto, do navio, o grupo corria contra o tempo para a expedição de salvamento. Daqueles filmes tensos, bem realizados ao modo americano de cinema, Woody Harrelson no papel de um dos colegas de Lemons (quem faz o mergulhador aprisionado no fundo do mar é Finn Cole). Edição e fotografia são primorosas, em especial nas cenas no fundo do mar, da descida da equipe nas tubulações até o salvamento. O longa é uma adaptação do documentário britânico de mesmo título, ‘Último respiro’ (2019), e do mesmo diretor, Alex Parkinson, realizador dos docs ‘Lucy, o chimpanzé humano’ (2021 – da HBO Max) e ‘A vida dos leopardos’ (2024 – da Netflix). Ou seja, Parkinson fez o doc e agora a adaptação em filme ficcional. Rodado na Escócia, a produção da Focus Features não passou nos cinemas brasileiros e entrou diretamente no Prime Video.

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