domingo, 11 de maio de 2025

Estreias da semana – Nos cinemas e no streaming - Parte 1


Lispectorante
 
A atriz Marcélia Cartaxo retorna ao mundo de Clarice Lispector quatro décadas depois de sua consagração com ‘A hora da estrela’ (1985), filme que deu a ela o prêmio de atriz no Festival de Berlim. Ela interpreta uma artista plástica que volta a Recife, sua terra natal, após turbulências pessoais. Num passeio pela cidade, para em frente à casa onde morou Clarice, e uma fenda na estrutura do prédio a transporta para um mundo todo modificado, onde cruzará com personagens que mudarão sua vida. É uma comédia dramática agradável, com realismo mágico e uma interpretação fabulosa de Marcélia, num filme que fala de memória, recomeços e que presta uma singela homenagem a uma das maiores escritoras brasileiras de todos os tempos. Tem participação de Grace Passô. Exibido no Festival do Rio, onde assisti no ano passado, e na Mostra Intl. Cinema de São Paulo, entrou em cartaz nos cinemas brasileiros, com distribuição da Embaúba Filmes.
 


 
Santino
 
Em 2023, o documentarista mineiro Cao Guimaraes lançou dois filmes, ‘Amizade’, exibido nos cinemas esse ano, e ‘Santino’, que está disponível no Sesc Digital até dia 13 de maio, de forma gratuita. Nesse doc de 88 minutos, ele registra os momentos íntimos e de trabalho de um homem simples chamado Santino, que vive com a família num casebre na bacia do Rio São Francisco, em Minas Gerais. Ele é um veredeiro, cultiva uma pequena propriedade de terra e também abre covas no minúsculo cemitério local. Intelectual, discorre sobre vários assuntos, é um conhecedor das propriedades das plantas e das tradições orais. Também é um defensor das nascentes e matas. Cao Guimaraes, interferindo pouco nas cenas, deixa o entrevistado contar passagens curiosas e causos, nos brindando com o conhecimento de Santino. Faz um filme digno sobre um homem do campo e sua luta diária – a paisagem desse interior de MG é uma pintura, inspirou o escritor Guimarães Rosa em seus livros. Vale conhecer.
 


 
Hachiko - Para sempre
 
Terceira versão para cinema de um caso real japonês que faz parte da cultura do país, a dramática e emocionante trajetória de um cão leal, da raça Akita, que esperou pelo retorno de seu dono por quase dez anos, em frente a uma estação de trem, mesmo após a morte dele. O homem era um professor da Universidade de Tóquio, Hidesaburo Ueno, que sempre caminhava com seu cão, juntos iam até a estação, e ao embarcar, o cão ficava na praça, a sua espera no fim do dia. Ueno morreu em 1925 e todos os dias, até 1935, Hachiko ficava prostrado perto dos vagões de trem aguardando o dono. O caso se tornou célebre no Japão, a morte de Hachiko naquele ano de 1935 causou comoção e até foi dia de luto oficial no país. A trajetória de Ueno e Hachiko virou livros, séries, filmes, algo intrínseco na cultura japonesa. Anteriormente houve o longa-metragem feito no Japão ‘A História de Hachiko’ (1987), depois a coprodução Estados Unidos/Reino Unido com Richard Gere, ‘Sempre ao seu lado’ (2009), de Lasse Hallström, e agora essa chinesa de 2023, que não fica para trás. Todas as versões são bonitas, bem realizadas, e essa feita na China é um primor de fotografia, diálogos, roteiro. A relação do professor com o cão é de uma delicadeza sem tamanho, o que brilha os olhos e nos emociona, sem contar o triste desfecho – que atua no filme são os veteranos Xiaogang Feng, que também é diretor e roteirista, e a premiada atriz Joan Chen, que atuou em muitos filmes nos Estados Unidos, como ‘O último imperador’ (1987). Aficionados por cachorros irão se entregar a esse drama contundente. Lançado na China em 2023, veio para os cinemas brasileiros pela Paris Filmes em julho de 2024 e agora foi distribuído pela A2 Filmes nas plataformas para aluguel, como Youtube Filmes e Apple TV. Gostei e recomendo.



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