Lispectorante
A
atriz Marcélia Cartaxo retorna ao mundo de Clarice Lispector quatro décadas
depois de sua consagração com ‘A hora da estrela’ (1985), filme que deu a ela o
prêmio de atriz no Festival de Berlim. Ela interpreta uma artista plástica que
volta a Recife, sua terra natal, após turbulências pessoais. Num passeio pela
cidade, para em frente à casa onde morou Clarice, e uma fenda na estrutura do
prédio a transporta para um mundo todo modificado, onde cruzará com personagens
que mudarão sua vida. É uma comédia dramática agradável, com realismo mágico e
uma interpretação fabulosa de Marcélia, num filme que fala de memória,
recomeços e que presta uma singela homenagem a uma das maiores escritoras
brasileiras de todos os tempos. Tem participação de Grace Passô. Exibido no
Festival do Rio, onde assisti no ano passado, e na Mostra Intl. Cinema de São
Paulo, entrou em cartaz nos cinemas brasileiros, com distribuição da Embaúba
Filmes.
Santino
Em 2023, o
documentarista mineiro Cao Guimaraes lançou dois filmes, ‘Amizade’, exibido nos
cinemas esse ano, e ‘Santino’, que está disponível no Sesc Digital até dia 13
de maio, de forma gratuita. Nesse doc de 88 minutos, ele registra os momentos
íntimos e de trabalho de um homem simples chamado Santino, que vive com a
família num casebre na bacia do Rio São Francisco, em Minas Gerais. Ele é um
veredeiro, cultiva uma pequena propriedade de terra e também abre covas no minúsculo
cemitério local. Intelectual, discorre sobre vários assuntos, é um conhecedor
das propriedades das plantas e das tradições orais. Também é um defensor das
nascentes e matas. Cao Guimaraes, interferindo pouco nas cenas, deixa o
entrevistado contar passagens curiosas e causos, nos brindando com o conhecimento
de Santino. Faz um filme digno sobre um homem do campo e sua luta diária – a paisagem
desse interior de MG é uma pintura, inspirou o escritor Guimarães Rosa em seus
livros. Vale conhecer.
Hachiko - Para sempre
Terceira versão para
cinema de um caso real japonês que faz parte da cultura do país, a dramática e
emocionante trajetória de um cão leal, da raça Akita, que esperou pelo retorno
de seu dono por quase dez anos, em frente a uma estação de trem, mesmo após a
morte dele. O homem era um professor da Universidade de Tóquio, Hidesaburo Ueno,
que sempre caminhava com seu cão, juntos iam até a estação, e ao embarcar, o
cão ficava na praça, a sua espera no fim do dia. Ueno morreu em 1925 e todos os
dias, até 1935, Hachiko ficava prostrado perto dos vagões de trem aguardando o
dono. O caso se tornou célebre no Japão, a morte de Hachiko naquele ano de 1935
causou comoção e até foi dia de luto oficial no país. A trajetória de Ueno e
Hachiko virou livros, séries, filmes, algo intrínseco na cultura japonesa. Anteriormente
houve o longa-metragem feito no Japão ‘A História de Hachiko’ (1987), depois a coprodução
Estados Unidos/Reino Unido com Richard Gere, ‘Sempre ao seu lado’ (2009), de
Lasse Hallström, e agora essa chinesa de 2023, que não fica para trás. Todas as
versões são bonitas, bem realizadas, e essa feita na China é um primor de
fotografia, diálogos, roteiro. A relação do professor com o cão é de uma
delicadeza sem tamanho, o que brilha os olhos e nos emociona, sem contar o
triste desfecho – que atua no filme são os veteranos Xiaogang Feng, que também
é diretor e roteirista, e a premiada atriz Joan Chen, que atuou em muitos
filmes nos Estados Unidos, como ‘O último imperador’ (1987). Aficionados por
cachorros irão se entregar a esse drama contundente. Lançado na China em 2023,
veio para os cinemas brasileiros pela Paris Filmes em julho de 2024 e agora foi
distribuído pela A2 Filmes nas plataformas para aluguel, como Youtube Filmes e
Apple TV. Gostei e recomendo.
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