terça-feira, 7 de outubro de 2025

Especial de cinema

 
Mostra de Cinema de SP anuncia programação 2025
 
A 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo será realizada na capital paulista entre os dias 16 e 30 de outubro. Na edição de 2025 serão exibidos 373 títulos de 80 países em 52 salas de cinema, espaços culturais e CEUs de São Paulo. Haverá ainda programação gratuita da Mostra em streamings parceiros.
A abertura do evento será no dia 15/10, na Sala São Paulo, para convidados. Lá haverá a exibição do curta-metragem ‘Como fotografar um fantasma’, do diretor e roteirista ganhador do Oscar Charlie Kaufman, que estará no evento – o cineasta ministrará, na Mostra, uma masterclass. Em seguida será exibido o longa ‘Sirât’, de Oliver Laxe, vencedor do prêmio do júri do Festival de Cannes – duas atrizes do filme, Stefania Gadda e Jade Oukid, estarão na sessão. Na cerimônia, a cineasta martinicana Euzhan Palcy receberá, em mãos, o Prêmio Humanidade – e uma retrospectiva de sua obra será realizada ao longo da Mostra. O quadrinista Mauricio de Sousa subirá também ao palco para receber o Prêmio Leon Cakoff – na Mostra será exibido o longa ‘Mauricio de Sousa, o filme’, uma biografia dele.
O cineasta iraniano Jafar Panahi virá a São Paulo para apresentar o seu filme mais recente, ‘Foi apenas um acidente’, vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes deste ano. Ele também receberá o Prêmio Humanidade e fará uma conversa com o público. A diretora e atriz Rebecca Miller também virá para a Mostra onde fará uma masterclass, além de exibir o seu primeiro longa, ‘Angela: Nas asas da imaginação’ (1995).
O longa ‘Jay Kelly’, produção da Netflix do diretor Noah Baumbach, será o filme de encerramento da 49ª Mostra, que será exibido após a cerimônia de premiação da edição, em 30/10.
As vendas de permanentes e dos pacotes terão início a partir das 9h do dia 11/10, pelo aplicativo do festival, disponível para download no dia 10, e também pelo site da Velox Tickets.
 


Filmes de destaque
 
Novos trabalhos de diretores premiados e mundialmente conhecidos estarão na Mostra, como Guillerme Del Toro, Hafsia Herzi, Cristiano Burlan, Kirill Serebrennikov, Kleber Mendonça Filho, Scarlett Johansson, Joachim Lafosse, Radu Jude, Yorgos Lanthimos, Michel Gondry, Richard Linklater, Irmãos Dardenne, Park Chan-wook e Jim Jarmusch. Alguns títulos de destaque para esta edição são ‘A história do som’, ‘Pai, mãe, irmã, irmão’, ‘O beijo da mulher aranha’, ‘Eleanor the great’, ‘Bugonia’, ‘Blue moon’, ‘Nouvelle Vague’, ‘Frankenstein’, ‘O agente secreto’, ‘The choral’, ‘Jovens mães’, ‘Mirrors n. 3’, ‘Sem outra chance’, ‘Urchin’, ‘O dia de Peter Hujar’, ‘Springsteen: Salve-me do desconhecido’, ‘Seis dias naquela primavera’, ‘Paul’, ‘O filho de mil homens’, ‘O homem de ouro’, ‘Nosferatu’, ‘O desaparecimento de Josef Mengele’, ‘Maya, me dê um título’, ‘Dracula’, ‘Kontinental 25’, ‘Enzo’, ‘Diário do diretor’, ‘De volta para casa’, ‘De lugar nenhum’, ‘California schemin’, ‘Ato noturno’, ‘Ruas da Glória’, ‘Almas mortas’, ‘Ainda é noite em Caracas’, ‘Abaixo das nuvens’ e ‘Ange’.
 



Mostrinha
 
Haverá este ano a 2ª Mostrinha, programação dedicada a filmes infantis que objetiva aproximar as crianças do cinema para a formação de público. Serão exibidos 14 longas e sete curtas entre os dias 17 e 30 de outubro, com sessões gratuitas e pagas. A produção brasileira inédita ‘O diário de Pilar na Amazônia’, de Eduardo Vaisman e Rodrigo Van Der Put, abrirá a seção voltada ao público infantojuvenil, com exibição especial na Sala São Paulo em 16 de outubro. Entre os longas internacionais estão o francês ‘Maya, Me dê um título’, que o cineasta Michel Gondry fez para a filha, ‘Olá Frida!’, de André Kadi e Karine Vezini, obra franco-canadense sobre a infância de Frida Kahlo, e ‘O segredo do canto dos pássaros’, de Antoine Lanciaux, filme franco-belga que acompanha as aventuras de uma menina de nove anos em Bectoile.
Mais informações sobre a Mostra de SP 2025 em https://mostra.org/



 

sábado, 4 de outubro de 2025

Estreias da semana – Nos cinemas - Parte 1

 
Aprender a sonhar
 
Documentário brasileiro em narrativa de manifesto acaba de entrar nas principais salas de cinema neste fim de semana. Rodado na Bahia entre 2016 e 2022 pelo cineasta Vitor Rocha, o reflexivo filme expõe um tema amplamente discutido nos últimos anos: a política de cotas para pessoas pretas e indígenas em universidades públicas. A partir de relatos de diferentes jovens, eles comentam as dificuldades para entrar na universidade e principalmente se manter lá até a formação no ensino superior. Desde a implantação da Lei de Cotas (Lei 12.711/2012), mais de um milhão de brasileiros puderam ter formação universitária. Esta ação afirmativa traz impacto incalculável em nossa sociedade. No filme, acompanhamos relatos sobre a luta persistente e diária dos personagens, desde a dificuldade com trajetos e alimentação ao enfrentamento de racismo e a exclusiva dedicação aos estudos – os personagens têm em comum a ancestralidade, são quilombolas, indígenas e pessoas pretas que conseguiram se formar em universidades federais em cursos como Medicina, Direito e Sociologia. As histórias de vida são marcantes, com depoimentos contundentes. Um filme didático, esclarecedor, muito indicado para educadores e professores. Produção da Caranguejeira Filmes e distribuição pela Abará Filmes.
 

 
Muito além do lucro
 
Outro bom documentário brasileiro está nos principais cinemas do país, o novo trabalho da cineasta Mara Mourão, da comédia ‘Avassaladoras’ (2002) e dos docs ‘Doutores da Alegria – O filme’ (2004) e ‘Quem se importa’ (2013). Reunindo 30 líderes do empresariado mundial, economistas e pensadores, eles discutem um novo modelo de capitalismo, que seja sustentável, justo e inclusivo. Os entrevistados comentam sobre práticas já utilizadas em alguns países que diminuem o impacto ambiental e reduz as desigualdades sociais, já que o capitalismo é o modelo econômico vigente entre os mais de 190 países do mundo e necessita hoje de uma urgente revisão. Atualmente muitas empresas e indústrias são forçadas a redefinir suas formas de produção para reduzir danos e auxiliar na recuperação do planeta em quesitos como poluição e participação social - lemas preconizados pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Organizações das Nações Unidas (ONU). O filme traça uma linha do tempo, do capitalismo ortodoxo ligado à economia neoclássica do fim do século XIX até os novos sistemas de economias, como a economia verde. Dentre os entrevistados estão o economista Eduardo Moreira, o Primeiro Ministro do Butão, Tshering Tobgay, e Jéssica Silva, co-fundadora da plataforma BlackWin, que auxilia mulheres negras no ramo de investimentos. O filme deu origem ao livro homônimo de James Marins, autor de ‘A era do impacto’ e fundador do Instituto Legado. Esclarecedor e bem narrado, o filme está nos cinemas pela Autoral Filmes.

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Dica de filmes - Nos cinemas e no streaming

 
 
Animais perigosos
 
Um serial killer ataca jovens no cais: ele aprisiona as vítimas em seu barco, leva-as até o meio do mar e lá faz um jogo insano de vida e morte com tubarões.
 
Nos cinemas brasileiros um bom filme de psicopata com cenas impactantes e uma trama de roer as unhas. Um rapaz fortão, que trabalha no cais levando para o alto-mar turistas que querem ver de perto tubarões, guarda um segredo – ele é um serial killer obcecado por tais animais marinhos (papel de Jai Courtney, de ‘Divergente’, que com este papel assustador entra na galeria dos assassinos insanos do cinema). Na verdade, quem sobre em seu barco não volta; as vítimas são aprisionadas num compartimento para servir a sua prática de sadismo – ele as filma com uma antiga câmera VHS, penduradas por cordas no mar enquanto os tubarões as comem. Uma garota aventureira (Hassie Harrison, da série ‘Yellowstone’), está na região para o surfe e se encontra com o psicopata – ele a sequestra na calada da noite e a coloca junto de outra jovem no compartimento de seu barco, à espera do melhor momento da filmagem... Tudo se passa em alto-mar, ou seja, um filme de um único ambiente, que provoca no público essa sensação de loucura e aprisionamento – as personagens femininas ficam trancafiadas num compartimento no andar debaixo do barco, sem comunicação, no meio do oceano. Há cenas violentas dos ataques dos tubarões, sustos e perseguição; a trama lembra um filme antigo de psicopata que gosto muito, ‘Terror a bordo’ (1989), com Nicole Kidman, que também se passa em um barco vagando no mar. Nos cinemas pela Diamond Films.
 
Animais perigosos (Dangerous animals). EUA/Canadá/Austrália, 2025, 98 minutos. Ação/Terror. Colorido. Dirigido por Sean Byrne. Distribuição: Diamond Films
 


 
Kill - O massacre no trem
 
Dois soldados encaram o maior desafio de suas vidas em uma viagem de trem a Nova Delhi: salvar os passageiros de um grupo de perigosos bandidos.
No cinema indiano contemporâneo há de tudo: dramas sentimentais, comédias românticas com números musicais, terror místico e fitas de ação ininterrupta, como é o caso deste longa de 2023 que passou nos cinemas no ano passado, com distribuição da Paris Filmes, e agora está no catálogo do Telecine, para assinantes. Teve até exibição em festivais, como Toronto, Tribeca e Sydney, e chegou a fazer barulho nas salas brasileiras – tem semelhança com ‘Trem bala’ (2022), movimentadíssima fita de ação com trem em movimento. Para quem gosta de filmaços de ação com perseguição e muita porradaria, este é um baita acerto. Em um trem, lotado de passageiros que viajam para a capital da Índia, Nova Délhi, dois jovens soldados lutam, sozinhos, contra uma horda de criminosos que não param de chegar. Eles lutam invadindo vagão por vagão, usam faca e armas improvisadas, e tentam salvar os inocentes ali presentes. Os criminosos estão ali por uma intenção, revelada lá na frente. Apesar de ser uma história só, na mesma batida, em um mesmo ambiente, que é o trem em viagem, ficamos atônitos na TV com essa trama mirabolante, violenta e cheia de truques. Os cortes ágeis e a edição fazem todo sentido para a proposta. Daqueles filmes que eletriza o público.
 
Kill – O massacre do trem (Kill). Índia, 2023, 105 minutos. Ação. Colorido. Dirigido por Nikhil Nagesh Bhat. Distribuição: Paris Filmes


Camponeses
 
Jagna Paczesiówna (Kamila Urzedowska), uma humilde camponesa, forja seu destino ao se casar com um fazendeiro rico, Antek Boryna (Robert Gulaczyk), abalando a tradição da família e do vilarejo onde reside.
 
A dupla de cineastas poloneses DK Welchman e Hugh Welchman, que revolucionou o mundo da animação com o impressionante ‘Com amor, Van Gogh’ (2017 - indicado ao Oscar na categoria), retorna após seis anos com a mesma técnica de pintura a mão, ‘quadro a quadro’, nessa luxuosa coprodução Polônia/Sérvia/Lituânia. Inspirado no livro épico ganhador do Nobel de Literatura em 1924 ‘Os camponeses’, de Wladyslaw Stanislaw Reymont (1867-1925), o filme segue a trajetória de uma camponesa polaca no final do século XIX que abandona tudo para se casar com um fazendeiro rico, abalando a tradição local. Contra os pais e a própria comunidade, ela buscará seu espaço no mundo, enfrentando preconceito e abandono. É uma animação de época, para adultos, com roteiro sólido e narrativa bem lenta, que trata de temas como patriarcado, tradição familiar e liberdade da mulher. Tem um acabamento gráfico estonteante, com traços vivos e cores que saltam na tela, nos moldes de ‘Com amor, Van Gogh’ - o longa foi filmado com atores e depois os mais de 40 mil frames/quadros foram pintados à mão, por cima, por mais de 120 artistas plásticos. Pela técnica detalhista, o filme demorou seis anos para ser concluído. Uma obra única, que entra no seio dos ritos familiares poloneses para criar uma história intensa e marcante. Exibido nos festivais de Toronto, Tallinn, Valladolid e BFI, concorreu ao Annie Awards, considerado o Oscar de animação. Candidato da Polônia para uma vaga ao Oscar de 2024, ficou fora da lista final – uma pena, pois o filme seria um forte concorrente. Disponível na HBO Max e para aluguel na AppleTV, Youtube Filmes e Google Play.
 
Camponeses (Chlopi/ The peasants). Polônia/Sérvia/Lituânia, 2023, 114 minutos. Animação. Colorido. Dirigido por DK Welchman e Hugh Welchman. Distribuição: Sony Pictures Classics

domingo, 28 de setembro de 2025

Estreias da semana – Nos cinemas e no streaming - Parte 1

 
 
Bicho monstro
 
Bom filme brasileiro de festival, que demonstra a força do cinema independente feito em nosso país – e que bom que há cinemas que coloquem longas como este no circuito, mesmo que em poucas salas. Com direção assinada por Germano de Oliveira, em sua estreia como diretor após longa trajetória como montador cinematográfico, o longa foi rodado na encosta da Serra Gaúcha e no Vale dos Sinos, na região da chamada Rota Romântica, trazendo uma bela fotografia do Rio Grande do Sul. Outro ponto alto é o sublime tratamento do realismo fantástico na história contada em dois tempos, que envolve a lenda do Thiltapes, ser imaginário parecido com um pássaro alto, que povoa o folclore dos imigrantes alemães do sul do país. Em um vilarejo rural de descendentes alemães, uma garota assiste a uma peça teatral sobre o tal Thiltapes, que, segundo a tradição, mora na floresta e assusta quem cruza seu caminho. A trama se mistura à outra, ocorrida 200 anos antes, de uma botânica que visita a mesma região gaúcha para registrar achados sobre o tal bicho monstro – e lá, sozinha, essa mulher tenta se achar no mundo enfrentando antigos problemas que a atormentam. Um filme delicado, contemplativo, que exige atenção. Exibido na Mostra de Cinema de São Paulo de 2024, venceu o prêmio de direção de fotografia e direção de arte no Festival de Gramado – merecidos, pois a estética do filme é um primor de detalhes. No elenco, Kamilly Wagner, Décio Worst e participação da veterana atriz porto-alegrense Araci Esteves, então com 84 anos. Produção da Casa de Cinema de Porto Alegre e Vulcana Cinema, em coprodução com a Avante Filmes, com distribuição nos cinemas pela Boulevard Filmes em parceria com a Vitrine Filmes.
 

 
Paraíso em chamas
 
Fita de arte sueca (coprodução Itália, Dinamarca e Finlândia) sobre um tema que poderia ter caído na mesmice, mas é feito com paixão e audácia, escrito e dirigido por uma cineasta da Suécia, Mika Gustafson, em seu segundo filme, sendo o primeiro da linha de ficção (o anterior foi um documentário). A partir de um argumento pessoal da cineasta, ela conta a trajetória de três irmãs que perderam a mãe e vivem juntas em um bairro operário na Suécia. Entre crises e afetos, elas têm de lidar com a ausência materna, o amadurecimento precoce e as responsabilidades da vida adulta – uma irmã é a mais velha, de 16 anos, a do meio é uma adolescente de 12 e a mais nova é uma criança de sete anos. Elas estão a um passo de ser separadas em lares diferentes pelo conselho tutelar. É verão, as irmãs brincam entre elas e entre amigas, com total liberdade, enquanto a mais velha tenta contratar uma mulher para ser a mãe temporária, para despistar o serviço social. As atrizes que interpretam o trio de central, Bianca Delbravo, Dilvin Asaad e Safira Mossberg, são estreantes e entregam o melhor de si, enquanto o roteiro comove e a fotografia em locações é um brilho - com destaque para as bonitas cenas dentro da casa das irmãs e quando elas brincam nos gramados verdes. O filme é uma amostra do novo cinema social da Suécia, com traços de fita ‘coming-of-age’, portanto misturando momentos cômicos com dramáticos. Um retrato fiel do amadurecer de muitas crianças e adolescentes que não tem pais e assim enfrentam desafios a mais da idade. Exibido no Festival de Toronto – TIFF, e no BFI Londres, foi o vencedor do prêmio de melhor direção na mostra Orizzonti do Festival de Veneza e escolhido como o representante oficial da Suécia para o Oscar 2024, ficando fora da lista. Nos cinemas pela Pandora Filmes.
 
 
Missão Pet
 
Diversão garantida para a criançada, ‘Missão Pet’ (2025) é mais uma animação com animais falantes em aventuras estrambólicas. Nos últimos anos houve uma maré de filmes assim, como ‘Zootopia: Essa cidade é um bicho’ – que em novembro ganhará nova continuação, e ‘Os caras malvados’ – que teve a parte 2 lançada recentemente nos cinemas. Se fazem filmes assim é porque tem público. ‘Missão Pet’ acaba de estrear nas principais salas do país pela Paris Filmes, uma coprodução França/EUA dirigida pela dupla Benoît Daffis e Jean-Christian Tassy. Sem novidade nem mesmo marcante, é puro entretenimento de cinema, uma aventura de um grupo de animais de estimação, como um cãozinho e uma gata, em um trem em alta velocidade; eles se aliam a um esperto guaxinim especializado em escaladas para capturar um texugo malvado que tem planos maquiavélicos e está no controle do veículo desgovernado. O tempo é curto para que eles salvem os passageiros. Humor, ação, aventura para uma sessão infantil descompromissada, que irá empolgar as crianças.



sábado, 27 de setembro de 2025

Especial de Cinema

 
Festival do Rio anuncia toda a programação e compra de ingressos
 
Em cinco dias tem início um dos maiores eventos de cinema do Brasil, o Festival do Rio, que neste ano chega em sua 27ª edição. Entre os dias 02 e 12 de outubro, os cinéfilos poderão conferir na capital carioca grandes premières nacionais e internacionais. Anteontem foi anunciada a programação completa dos filmes que compõe a edição 2025 do festival. Dentre os títulos, filmes premiados nos principais festivais, como Cannes, Sundance, Veneza e Berlim, e alguns pré-selecionados ao Oscar de 2026, como ‘Depois da caçada’ (filme de abertura do festival), ‘The mastermind’, ‘Madre’, ‘Sonhos’, ‘Alpha’, ‘Dois procuradores’, ‘Aquilo que você mata’, ‘A voz de Hind Rajab’, ‘A meia-irmã feia’, ‘Morra, amor’, ‘Honey, não’, ‘Balada de um jogador’, ‘Valor sentimental’, ‘Se eu tivesse pernas, eu te chutaria’, ‘La grazia’, ‘Ato noturno’, ‘Três despedidas’, ‘Twinless’, ‘Couture’, ‘O que a natureza te conta’, ‘O estrangeiro’, ‘Dossiê 137’, ‘Hedda’, ‘Minha amiga Eva’, ‘A cronologia da água’, ‘Conselhos de um serial killer aposentado’, ‘O primata’, ‘A onda’, ‘A cerca’, ‘Nossa terra’, ‘Rua do Pescador no. 6’, ‘O olhar misterioso do flamingo’, ‘Elefantes fantasmas’, ‘Dois pianos’, ‘Franz antes de Kafka’ e ‘Hamnet - A vida antes de Hamlet’ (filme de encerramento do festival).
Haverá, na seção ‘Clássicos Restaurados’, fitas premiadas que retornam para a telona, como ‘Eu, tu, ele, ela’ (1974), de Chantal Akerman, ‘Apocalypse now’ (1979), de Francis Ford Coppola, ‘Amores brutos’ (2000), de Alejandro González Iñárritu, e ‘Incêndios’ (2010), de Denis Villeneuve. Também compõe a programação documentários inéditos como ‘One to one: John & Yoko’, ‘Marlee Matlin: Não mais sozinha’, ‘Como Volodymyr se tornou Zelensky’, ‘Elizabeth Bishop: Do Brasil do amor’ e ‘Orwell: 2 + 2 = 5’.





Na última semana, como ‘Esquenta’ do Festival, antecipando o lançamento do filme nos cinemas, houve sessões de ‘Uma batalha após a outra’, novo trabalho de Paul Thomas Anderson. Outra novidade anunciada é a vinda da atriz Juliette Binoche ao festival, que irá apresentar seu primeiro filme como diretora, ‘In-I in Motion’, em que também atua.
Toda a seleção de filmes, nacionais e internacionais, está dividida nas mostras competitivas Competição Principal e Competição Novos Rumos - que concorrem ao Troféu Redentor; e nas seleções especiais Hors Concours, Clássicos Restaurados, Retratos, Programa Geração, Midnight Movies, Especial Séries Brasileiras e O Estado das Coisas (que terá uma edição especial com uma curadoria de filmes com temas relacionados à Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP-30). 
Além das exibições, haverá formação de público com a realização de debates abertos a todos com elenco e equipe dos filmes, bem como ingressos a preços populares e sessões de gala para convidados e público em geral. As sessões populares com debates serão no clássico Cine Odeon - CCLSR, situado na Cinelândia.
 
Ingressos
 
Os pacotes de 4 e 8 ingressos do Festival do Rio estão sendo vendido desde o dia 25/09. A venda de ingressos para sessões avulsas começa a partir do dia 30/09, de forma online, disponível via Ingresso.com ou na bilheteria dos cinemas exibidores. Confira abaixo os valores:
 
Pacotes de ingressos (passaporte), disponíveis apenas via Ingresso.com: com 4 ingressos no valor de R$ 52,00 + taxa (10%), ou com 8 ingressos, no valor de R$ 96,00 + taxa (10%).
Meia entrada: R$ 16,00 + taxa (em compras online)
Inteira: R$ 32,00 + taxa (em compras online)
Os cinemas podem oferecer promoções para tipos específicos de ingressos, como promoções especiais do dia ou benefícios para patrocinadores.






 
Mais sobre o Festival do Rio
 
O Festival do Rio também ocupará diversos espaços da capital, além do tradicional circuito de cinemas comerciais. Os cinemas do circuito Carioca da Prefeitura e Parques Municipais receberão programação especial.
A sede do festival segue no Armazém da Utopia, no Cais do Porto do Rio de Janeiro - um espaço de cinco mil metros quadrados, onde será oferecida uma programação especial de encontros e debates para o público mediante inscrição prévia online. Lá também abrigará o RioMarket - área de mercado e negócios do Festival - reunindo centenas de profissionais do audiovisual brasileiro e internacional.
Vitrine do cinema brasileiro e um dos festivais mais importantes do país, o Festival do Rio, criado em 1999, é apresentado pelo Ministério da Cultura, Shell e Prefeitura do Rio. Tem patrocínio master da Shell através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e apoio especial da Prefeitura do Rio – por meio da RioFilme, órgão que integra a Secretaria Municipal de Cultura. Realização: Cinema do Rio e Ministério da Cultura/Governo Federal.
Confira abaixo a lista dos filmes brasileiros em exibição este ano.
 
Temporada França-Brasil 2025
 
O Festival do Rio participará da Temporada França-Brasil 2025, iniciativa que celebra os 200 anos de relações diplomáticas entre os dois países. Na oportunidade, o festival apresentará programas especiais que abrangem encontro de profissionais, retrospectiva de filmes de três diretoras francesas (Sophie Letourneur, Blandine Lenoir e Romane Bohringer), com debate em seguida, em parceria com a Cinemateca Brasileira e o Forum des Images; uma retrospectiva do cinema de Alberto Cavalcanti, cineasta brasileiro que fez filmes e projetos audiovisuais na França – projeto novamente em parceria com a Cinemateca, com destaque para a exibição da cópia restaurada de ‘Mulher de verdade’ (1954); e um programa de formação para estudantes e comunidade, em colaboração com a Universidade Federal Fluminense (UFF). A Temporada França-Brasil é organizada pelo Institut Français e pelo Instituto Guimarães Rosa, com o apoio das embaixadas e dos ministérios da Cultura e das Relações Exteriores de ambos os países.
Todas as informações com as sessões, horários e locais de exibição no site do festival, em https://www.festivaldorio.com.br/, e nas redes sociais do evento, como Instagram, X/Twitter, TikTok, Facebook e Youtube.

terça-feira, 23 de setembro de 2025

Estreias da semana – Nos cinemas e no streaming


Os malditos
 
Ganhador do prêmio de melhor direção na seção ‘Um Certo Olhar’ do Festival de Cannes, ‘Os malditos’ chega aos cinemas brasileiros, com distribuição da Zeta Filmes. É o sexto longa-metragem do cineasta italiano Roberto Minervini, conhecido por obras que traçam os dias de cidadãos comuns, fortemente influenciado por um olhar documental. Seu novo trabalho se passa no inverno gelado do interior dos Estados Unidos, em 1862, auge da Guerra Civil Americana. Um grupo de jovens idealistas se voluntaria no exército americano e ruma para o oeste com a missão de patrulhar lugares inóspitos, aparentemente sem interferência humana. No percurso, o grupo é forçado a mudar de rota. Nesse filme com poucos diálogos e atores e uma grande fotografia de uma natureza intocada, que também é ameaçadora, o enfoque é na solidão humana, na relação do homem com esse ambiente silencioso, que da secura do chão é tomado pela neve – as mudanças nas estações do ano refletem o estado de espírito dos personagens, soldados que vão mudando de temperamento ao passo que crescem as situações desafiadores, principalmente crises entre eles. A câmera do diretor tem um movimento peculiar, que acompanha as costas dos personagens e as laterais, com planos abertos mostrando os soldados abandonados ao relento. Além de Cannes, foi exibido nos festivais de Toronto e de Nova York.
 

 
Sr. Blake ao seu dispor
 
Indicado a dois Oscars e prestes a completar 72 anos, o ator americano John Malkovich costuma aparecer em filmes europeus independentes, desde dramas a comédias, como é o caso deste charmoso e agradável filme com uma história humana, ‘Sr. Blake ao seu dispor’ – o filme é de 2023, na época ele estava com 70 anos, e só agora chega em cartaz nos principais cinemas brasileiros, pela distribuidora Mares Filmes. Malkovich, de clássicos como ‘Ligações perigosas’ (1988), interpreta nesta comédia romântica francesa o papel-título, Andrew Blake, um viúvo que anda desanimado após a morte da esposa. Ele quer voltar para a França, onde conheceu a falecida, e assim se reencontrar com as lembranças daquela feliz união. Acaba como mordomo em uma mansão em que tudo começou. Lá se torna próximo da milionária e dona do lugar Madame Beauvillier (papel incrível da veterana Fanny Ardant, atriz francesa de ‘8 mulheres’). Entre um serviço e outro, seu astral muda, e ele tem de volta o prazer de estar entre as pessoas – ainda mais ao lado de figuras fortes daquele casarão, como uma cozinheira, um caseiro e uma jovem empregada. É um filme ‘up’, de histórias de vidas arruinadas que recomeçam e se reconectam – não só Sr. Blake como todos os outros personagens daquela casa enfrentam duros problemas, e um se apoia ao outro para enfrentá-los com sensatez. É inspirado no best-seller homônimo de 2012 de Gilles Legardinier, que, vejam só, é o diretor do filme. Uma fita bonita, espirituosa, para todos os públicos.
 

 
Apanhador de almas
 
Lá vem o Brasil em mais uma aposta no cinema de horror. Nos últimos anos, vimos um aumento significativo no número de produções nesse gênero. Um tipo de filme esperado por uma parcela do público, mas que afasta outra metade. Não é um trabalho especialmente bom ou memorável, mas tem lances curiosos este ‘Apanhador de almas’, que estreou nas principais salas do país no último fim de semana. Com praticamente todo o elenco feminino – com destaque para Klara Castanho e Angela Dippe, o filme mostra os desdobramentos de um eclipse solar, que provoca uma série de situações sobrenaturais. Quatro jovens adeptas da bruxaria, após o eclipse, evocam uma criatura de outra dimensão, o que as desafia em um jogo de sobrevivência. A história é inspirada no universo de H.P. Lovecraft, escritor americano que deu vida a monstros macabros em histórias com culto satânico. Tudo se passa numa velha casa com as jovens aprisionadas, uma velha bruxa e um mistério que paira no ar. Dirigido pela dupla Fernando Alonso e Nelson Botter Jr., este filme independente, que trabalha bem com a fotografia e consegue trazer jumpscares maneiros, é produzido pela Iron Chest Films e tem distribuição nos cinemas pela Retrato Filmes.  Quem curte terror, dê uma conferida.
 

 
Segredos do Putumayo
 
Revi recentemente esse documentário brasileiro desafiador, que trata de um tema que vira e mexe nos mobiliza, a questão dos indígenas da Amazônia. Rodado em 2020, o filme é uma longa narração dos diários do cônsul britânico Roger Casement (1864-1916), que no fim da vida esteve em atividade diplomática no Rio de Janeiro. Nesse período ficou incumbido de investigar os crimes cometidos pela Peruvian Amazon Company contra os indígenas da região do Putumayo, no Peru. A corporação, durante 50 anos, escravizou indígenas para a extração da borracha, matando mais de 30 mil pessoas e destruindo aquelas terras originárias – o caso foi registrado como genocídio e acobertado pelas autoridades locais por muito tempo. Com registro de fotos e documentos da época e cenas aéreas da bacia peruana do Putumayo, o chocante filme traça a descoberta aterradora de Casement: um sistema cruel de extrativismo que assassinou e escravizou milhares de indígenas na selva. Seu trabalho de pesquisa e denúncia durou 120 dias, entre 1910 e 1911, quando escreveu os tais manuscritos, intitulados ‘Diários da Amazônia’, que se tornaram célebres pelo teor dramático das observações dele na região. Casement foi uma voz pioneira dos direitos humanos indígenas, e antes de Putumayo já havia denunciado as atrocidades no Congo, cometidas pelo rei Leopoldo II, da Bélgica. Visualmente impactante pelas imagens potentes dos indígenas na tela, o filme foi exibido no Festival ‘É Tudo Verdade’. Quem assina é o diretor Aurélio Michiles, que décadas atrás já havia explorado a Amazônia no cinema, em seu maior trabalho, ‘O cineasta da selva’ (1997), filme que acompanha o fotógrafo que se tornou cineasta engajado e deu voz aos indígenas, Silvino Santos. ‘Segredos do Putumayo’ está disponível gratuitamente na plataforma Sesc Digital até dia 02/11, em https://sesc.digital
 

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Especial de cinema

 
Mostra de Cinema de SP 2025 anuncia mais filmes e circuito de salas
 
A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo está chegando. Nesta semana foi anunciado o filme de abertura da 49ª edição, bem como outros títulos e o circuito que integra as salas de exibição. A Mostra será de 16 a 30 de outubro. Confira abaixo as novidades:
 
- O filme de abertura da Mostra deste ano será do drama/ação ‘Sirât’, de Oliver Laxe, coprodução Espanha e França, rodada em Marrocos, vencedor do prêmio do Júri em Cannes e de outros quatro prêmios especiais no festival. A sessão de abertura será na noite do dia 15 de outubro, na Sala São Paulo, apenas para convidados. O filme entra em seguida com sessões na programação da Mostra.
 

- Outros filmes que compõem a programação são: ‘Eleanor the great’, de Scarlett Johansson, exibido no Festival de Cannes; ‘Bugonia’, de Yorgos Lanthimos, indicado ao Leão de Ouro em Veneza; ‘Mauricio de Sousa – O filme’, de Pedro Vasconcelos; ‘Atropia’ (vencedor do prêmio de melhor filme em Sundance); ‘Dry leaf’ (prêmio da crítica no Festival de Locarno), ‘I would be night in Caracas’ (exibido em Veneza); ‘Palestina 36’ (exibido no Festival de Toronto e representante palestino para o Oscar de 2026); ‘The president’s cake’ (ganhador do Camera D’Or em Cannes) e ‘White snail’ (vencedor do prêmio de melhor performance em Locarno).


 
- O circuito exibidor desta edição inclui novas salas de cinema, pela primeira vez em parceria com o festival. Serão ao todo onze endereços que abrigarão as sessões pagas do evento, num total de 18 salas. São elas: Cine Segall, localizado no Museu Lasar Segall; Cinesesc; Cinesala; Sala Petrobras na Mostra, na Cinemateca, bem como as duas salas da Cinemateca Brasileira; quatro salas do Espaço Petrobras de Cinema, na rua Augusta; duas salas do Multiplex Marabá; duas salas do Reserva Cultural; IMS Paulista; Sato Cinema; Cine Satyros Bijou e a sala do teatro Cultura Artística, recém-reformado. Haverá ainda exibições especiais na Sala São Paulo e no Museu da Língua Portuguesa. Já os locais com sessões a preços populares são: Biblioteca Roberto Santos, duas salas do Centro Cultural São Paulo (CCSP) e Spcine Olido. Entre os espaços gratuitos estão 26 unidades dos Centros Educacionais Unificados, os CEUs, espalhados por vários bairros de São Paulo, além do Centro de Formação Cultural Tiradentes, que exibirão títulos da 2ª Mostrinha.
 
Mais informações sobre a Mostra de SP 2025 em dois textos publicados desde o início do mês, no blog Cinema na Web. Links abaixo -
 
https://cinema-naweb.blogspot.com/2025/08/especial-de-cinema_30.html
 
https://cinema-naweb.blogspot.com/2025/09/nota-de-cinema.html
 

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Estreias da semana – Nos cinemas e no streaming - Parte 2

  
Picasso - Um rebelde em Paris
 
Nos cinemas das principais capitais brasileiras, como RJ, SP e BH, um documentário inédito, com informações exclusivas em torno da vida e obra do artista plástico espanhol Pablo Picasso (1881-1973), o maior representante do movimento cubista. O filme mergulha na alma do pintor, trazendo uma série de imagens reais de sua carreira nas artes, dentro do ateliê, em reuniões com outros artistas e trechos de entrevistas. Intelectual, de orientação anarquista, apaixonado pelas mulheres, cheio de contradições e criador de traços únicos, foi um revolucionário na forma, influenciando gerações de pintores. Aqui o enfoque é na trajetória que o moldou, quando se fixou na capital francesa, uma cidade, na época em plena transformação cultural e social, mas também intolerante com estrangeiros. Em Paris, cercado por intelectuais no bairro artístico e boêmio de Montmartre, Picasso viu o amadurecer de suas produções. Com depoimentos de historiadores da arte, escritores e curadores de museu, e conduzido pela atriz iraniana Mina Kavani (de "No bears"), o filme é uma aula sobre Picasso e o Cubismo e foi realizado no 50º aniversário da morte do artista, em 2023. Nos cinemas pela Autoral Filmes.
 

 
Suçuarana
 
Dirigido pela dupla Clarissa Campolina e Sérgio Borges, o longa brasileiro venceu cinco prêmios Candango no Festival de Brasília de 2024. Após passar em festivais nacionais e internacionais, dentre eles Rotterdam, chega aos cinemas pela Embaúba Filmes. Uma mulher de nome Dora (Sinara Teles) procura uma terra isolada e perdida no interiorzão de Minas Gerais, conhecida por ‘Vale da Suçuarana’. Sua mãe falava muito sobre o local. Dora acredita que lá irá se encontrar com o verdadeiro eu, e vai em busca desse lugar mítico. Com ares de road movie, o drama, em tom existencial, é a procura aguerrida de uma mulher solitária para se reencontrar metaforicamente com a própria mãe, que sempre sonhou em voltar para a tal terra de Suçuarana, um lugar fora dos mapas. No caminho, entre uma carona e outra em caminhões de desconhecidos, Dora terá a companhia de um cachorro, apelidado por ela de Encrenca, e de mulheres trabalhadoras de um vilarejo. Sempre com a foto da mãe na mão, ela percorre extensas áreas tomadas pela mineração, refletindo um modelo de Brasil ultrapassado, um capitalismo que destrói terras, ameaça ecossistemas e empobrece a classe de trabalhadores. E Dora retrata a figura do migrante, sem lugar no mundo, que percorre as estradas do país afora para um sentido na vida – uma figura feminina forte, com grande interpretação de Sinara Teles, vencedora do prêmio de atriz no Festival de Brasília.
 

 
Seu Cavalcanti
 
Com roteiro e direção assinados pelo cineasta recifense Leonardo Lacca, diretor assistente de ‘Bacurau’ (2019) e ‘O agente secreto’ (2025), preparador de elenco de outros filmes de Kleber Mendonça Filho, como ‘O som ao redor’ (2012) e ‘Aquarius’ (2016), o filme é uma irreverente homenagem ao personagem-título, que é seu avô, um idoso de 90 anos que busca reverter um problema do passado, que o intriga. O filme, um docuficção, alternando cenas reais do Sr. Cavalcanti em casa com a família e amigos e seus afazeres, com encenações, demorou quase 20 anos para ser realizado. Lacca começou a gravar o avô em 2003, em câmeras digitais emprestadas da universidade onde estudava. O idoso é registrado sem ser percebido em muitos momentos, com naturalidade nas cenas, e também em momentos posados para a câmera, sabendo o que fazia. A montagem, utilizando dublagens e efeitos especiais antigos, dá o tom desse filme que nos engana – nunca sabemos se é realidade ou ficção o que está na tela, o que cria uma narrativa diferente, de pura imaginação, altamente criativa e gostosa de se ver. Será que Seu Cavalcanti está interpretando um papel ou é ele mesmo ali? O idoso faleceu em 2016 e não viu o filme sair.
No final, uma cena reveladora, ao mesmo tempo emocionante e bem humorada, conduzida pela atriz Tânia Maria – que vem sendo elogiada em sua participação como coadjuvante em ‘O agente secreto’. Vemos até participação da atriz Maeve Jinkings, que contracena com Cavalcanti numa antiga gravação de 2013. Inicialmente foi produzido pela Trincheira Filmes, empresa de Lacca; mas durante o processo de gravação ganhou dois fortes aliados - Emilie Lesclaux e Kleber Mendonça Filho, da Cinemascópio Produções, que se uniram na produção final. Fotografia assinada pelo premiado Pedro Sotero, dos filmes de Mendonça Filho.
O doc foi exibido na Mostra de Cinema de Tiradentes do ano passado e está agora nos principais cinemas do país, com distribuição da Cajuína Audiovisual. Adorei o longa e me familiarizei com esse avô cheio de graça.
 

 
Deuses da peste
 
Em formato de teatro épico com musical moderno e dança, e grandioso apelo cenográfico com cores e símbolos, ‘Deuses da peste’, dirigido pelos cineastas Gabriela Luiza e Tiago Mata Machado, chega aos cinemas pela Zeta Filmes depois de uma curta carreira em festivais – venceu, por exemplo, na categoria de melhor longa da Mostra Olhos Livres na Mostra de Tiradentes de 2025. Original, com diálogos que jogam entre o humor e o drama, o filme, de difícil classificação se pensarmos em gênero, transcorre num velho casarão no centro velho de São Paulo. Em ruínas, o lugar abriga um ator exilado, apreciador de William Shakespeare. Ao seu redor perambulam fantasmas, num espaço que lembra um antigo palco de teatro, com cortinas e alguns objetos cênicos. As ideias do ancião beiram o caos – ele vislumbra tragédias envolvendo pragas e fogo. Até que entram em cena membros de uma trupe de teatro mambembe, músicos e bailarinos, que aprofundam uma discussão em torno do Brasil do passado e de agora. Com metalinguagem pura, com forte comentário político, o filme, rodado no fim da pandemia, em 2022, é uma discussão sobre a arte e a cultura no Brasil em tempos do bolsonarismo, tratando de elementos pontuais como o fascismo e as formas autoritárias de poder. A obra, de essência shakespeariana, simboliza a resistência das artes numa era tomada por desvarios, ameaças e perseguição à classe artística, como ocorreu no governo passado. Um filme para poucos, feito de maneira independente e cheio de referências – gostei muito e recomendo aos apreciadores de um cinema engajado e simbólico.
 
 
Blitz – O filme
 
Documentário brasileiro pouco falado, que teve seu lançamento no Festival do Rio, em dezembro de 2019, quando lá assisti, e distribuído nos cinemas em março de 2020, mês exato do início da pandemia mundial da covid, o que impossibilitou a trajetória dele no circuito (já que os cinemas fecharam as portas rapidamente). Agora ele entra de graça no streaming do Sesc Digital, disponível até o dia 18/10. Corram conferir, pois é um barato, um filme que relembra a trajetória de uma banda que agitou os brasileiros nos anos 80, a Blitz. A primeira formação do grupo se reúne para lembrar o início da banda, no Rio de Janeiro de 1981, contando histórias de bastidores, as turnês malucas pelo Brasil afora e as letras inusitadas, como os sucessos ‘Você não soube me amar’, ‘A dois passos do paraíso’,     ‘Weekend’ e ‘Betty Frígida’ - esta quase censurada pela Ditadura, que vivia seus dias finais. Aparecem com grande entusiasmo no doc o vocalista e idealizador da Blitz, Evandro Mesquita, ex-integrantes como Lobão e Fernanda Abreu, e ainda a atriz Patrycia Travassos (na época compositora e diretora das turnês, que foi casada com Mesquita). Fã da banda e divulgadora dos trabalhos dos músicos, a atriz Fernanda Torres lembra casos engraçados e de como a Blitz estampou uma época. Um dos grandes filmes de Paulo Fontenelle, escrito e dirigido por ele, que soube resgatar bem cenas de antigos shows da Blitz – apesar de algumas com imagem ruim, e trazer um paralelo com depoimentos atuais. Blitz marcou o ouvido dos brasileiros, separou-se em menos de cinco anos de existência, depois voltou em duas ocasiões, com novos músicos e instrumentistas; em 2017, no terceiro reencontro do grupo, a banda recebeu indicação ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock Brasileiro, com o disco ‘Aventuras II’. Assistam no Sesc Digital – disponível gratuitamente em https://sesc.digital/home


domingo, 14 de setembro de 2025

Estreias da semana – Nos cinemas e no streaming

 
Número desconhecido: Catfishing na escola
 
Uma pacata cidadezinha do estado de Michigan chamada Beal City é abalada quando um casal de namorados vira alvo de catfishing (bullying cibernético). O garoto e a garota se tornam presas de um desconhecido, que utiliza o celular para mandar centenas de mensagens diárias com xingamentos, ameaças de morte e outras de cunho sexual. O caso vira investigação policial. Essa é a história do novo documentário da Netflix que trata de crimes na rede, no caso o catfishing e o stalking. Trazendo depoimentos atuais das vítimas, familiares e investigadores, o doc faz uma linha do tempo em torno desse caso assustador – entre o Halloween de 2020 e o ano inteiro de 2022, o casal de namorados enfrentou um pesadelo com a perseguição online, a ponto de não saírem mais de casa. Não só o casal como pessoas próximas receberam mensagens do misterioso número – preparem-se para o final-surpresa, digamos, inimaginável e desumano, quando se revela a identidade do agressor escondido por trás de um phone. O filme examina o uso indiscriminado do celular, a alienação nas redes, o perigo da exposição e os crimes que circundam o mundo virtual – muitos acreditam na falsa ideia de que tudo pode nas redes, já que há o anonimato e a falta de leis mais duras contra infrações na internet. Como o tema do documentário é da minha área de pesquisa e ele é bem realizado, indico ao público, em especialmente aos jovens que passam horas a fio vidrados com o celular nas mãos.
 

 
Vice is broke
 
A Mubi e seus filmes diferentões... Chegou à plataforma esse documentário norte-americano, sem título em português, realizado de maneira independente e que teve première no Festival de Toronto de 2024. Também indicado ao Grande Prêmio do Júri no DOC NYC, um dos maiores festivais de documentários dos Estados Unidos, o filme faz uma ampla análise da Vice, que nasceu como uma revista em Montreal, no Canadá, no fim dos anos 90, fundada por três amigos haitianos, que eram imigrantes. Quando o trio se mudou para Nova York, a Vice, em pouco tempo, ampliou seus negócios virando um império da mídia, com faturamento de bilhões de dólares por ano. A Vice tornou-se um empreendimento do mundo publicitário e jornalístico, depois uma revista digital com três milhões de assinantes, em seguida criadora de conteúdo com um bilhão de visualizações, e por fim agência de publicidade e site de notícias. Só que ela faliu em menos de 20 anos de existência, em 2023, deixando um rombo de milhões de dólares, incluindo o não pagamento de funcionários e custos da empresa. Quem conta essa história de ‘ascensão e queda’ é Eddie Huang, ex-funcionário da Vice – ele escreveu, produziu, dirigiu e é o protagonista do filme. De descendência taiwanesa, Huang é escritor, chef de cozinha, dono de restaurantes, produtor de eventos e apresentador de programa televisivo. Ele entrou na Vice e ajudou a revista a se consolidar no mercado como um produto jornalístico/publicitário descolado, que fugia dos padrões de linguagem da época para noticiar fatos e criar conteúdos ousados nas redes. Huang entrevista os fundadores da Vice e ex-funcionários, para entender o que foi aquele empreendimento e porque quebrou – por isso o título do filme, em tradução literal, é ‘Vice está falida’. Huang deu pitacos na edição e optou por uma montagem delirante, nos moldes do que foi a revista, misturando cortes abruptos das entrevistas, reportagens da Vice com capas notórias, cheias de zoom, matérias noticiando os altos e baixos da Vice e depoimentos atuais com ironia e palavrões. Acho um filme interessante, diferente, mas para público inserido na linguagem de filmes cult de festivais. Teve exibição no Brasil em agosto desse ano no ‘Mubi Fest’, realizado no Rio de Janeiro - festival oferecido pela Mubi em países como Brasil, Itália, França, Argentina e EUA, em que exibe filmes da provedora de catálogo e lançamento de novos títulos.
 
 
Niki
 
Após exibição nos cinemas, chega ao streaming da Reserva Imovision o filme franco-belga que biografa uma pequena parte da vida da artista plástica francesa Niki de Saint Phalle (1930-2002), uma das grandes mentes da arte moderna engajada e feminista do século XX. O drama foca nas crises íntimas e familiares de Niki, numa belíssima interpretação da atriz canadense de descendência francesa Charlotte Le Bon, de ‘A 100 passos de um sonho’ (2014), que tem traços que lembram a verdadeira pintora. Infelizmente não trata de Niki dedicando-se a sua arte, que foi revolucionária na forma e nos temas – numa de suas fases, ela usava uma espingarda para atirar nos quadros, cujas balas estouravam bexigas de tinta, que iam escorrendo cores sobre a tela. A ideia da diretora Céline Sallette, atriz de muitos filmes e que escreveu o roteiro aqui, é mostrar como seus dilemas e sofrimentos impactaram no processo de criação da futura Niki, como a fuga dos Estados Unidos para a França durante o Macarthismo na década de 50 e a crise conjugal que a levou à solidão e ao aprisionamento. Soube-se, bem depois, e o filme apenas insinua isto, que Niki foi vítima de incesto aos 11 anos de idade, pelo pai, um rico banqueiro, o que a tornou rebelde e a distanciou da família. Niki também foi escultura e cineasta, teve um segundo casamento, com o artista plástico e escultor suíço Jean Tinguely e assinou uma série de esculturas femininas coloridas de braços abertos, intitulada de ‘Nanas’. Indicado ao Golden Camera e ao Um certo olhar em Cannes, teve exibição no Festival do Rio do ano passado.


 
No céu da pátria nesse instante
 
Estreou em 14 de agosto, mas ainda está em cartaz em cinemas brasileiros, esse certeiro documentário político que assisti em sessão de imprensa na Mostra Intl. de Cinema de SP do ano passado, há quase um ano. A assinatura do doc é da consagrada diretora e roteirista Sandra Kogut, de ‘Mutum’ (2007), que retorna aqui para as origens da carreira, quando se lançou, no final dos anos 90, ao mundo dos docs. O enfoque, que é pesquisa de trabalho dela, é o atual panorama da política brasileira, num país dividido e tensionado; ela trata do acirramento das discussões políticas e dos discursos de ódio nas redes durante as eleições de 2022, que deu vitória ao presidente Lula, até culminar com o quebra-quebra na sede dos Três Poderes, em Brasília, um dia infame conhecido como ‘8 de Janeiro’, ocorrido em 2023 - o fato, mundialmente noticiado, envolveu milhares de apoiadores de Jair Bolsonaro que invadiram, na segunda semana do governo Lula, os prédios do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e ao Supremo Tribunal Federal, destruindo tudo pela frente. Esse foi o ápice de uma tentativa de Golpe de Estado que começou a ser desenhada em 2022, antes das eleições, pelo então presidente Bolsonaro, em seguida reuniu apoiadores em frente a quartéis militares pedindo intervenção militar até chegar o ‘8 de Janeiro’. O motivo: o grupo perdedor não aceitar a derrota nas urnas.
Sandra Kogut entrevista brasileiros de cinco estados e dos dois espectros políticos – no caso a esquerda e a extrema-direita, desde eleitores a pessoas que trabalham para os partidos panfletando nas ruas durante eleição. Ela, com fidelidade aos fatos, compõe o painel de um país mergulhado em tensões violentas, fake News e ataques diários à democracia, mostrando o que essas pessoas pensam para o futuro e como definem as atuais figuras de destaque do mundo político – com enfoque, logicamente, em Lula e Bolsonaro.
Gosto da forma como Sandra conduz o filme e nos leva a pensar, trazendo imagens inéditas dos bastidores da eleição de 2022 e das manifestações massificadas nas ruas.
Pode ser visto e entendido junto de ‘Apocalipse nos trópicos’ (2024), de Petra Costa, que também passou na Mostra de SP e trata de tema parecido – este trata do crescente movimento evangélico dentro da política brasileira. O filme participou de festivais importantes, como Málaga, Biarritz e Rio e ganhou os troféus de melhor montagem e o Prêmio Especial do Júri no Festival de Brasília do ano passado. Produzido pela Ocean Films, em 
coprodução com Marola Filmes, Kiwi Filmes, GloboNews, Globo Filmes e Canal Brasil, está nos cinemas pela O2 Play e Lira Filmes.


sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Resenhas especiais

 
O presente
 
O casal Simon (Jason Bateman) e Robyn (Rebecca Hall) muda-se para uma nova casa. A rotina tranquila dos dois é ameaçada quando um velho amigo de escola de Simon reaparece após 20 anos. Gordo (Joel Edgerton), depois de um encontro casual com Simon, passa a enviar diariamente presentes misteriosos à casa onde eles moram.
 
Um thriller psicológico de deixar o público tenso, um verdadeiro jogo de obsessão, com um clima ameaçador que aumenta a cada segundo. Assisti na época do lançamento em 2015, depois revi outras ocasiões em mídia física. É escrito e dirigido pelo ator australiano Joel Edgerton, em sua boa estreia na direção – ele também assina a produção, ao lado da equipe da franquia ‘Sobrenatural’, de Jason Blum, e ainda interpreta o papel do vilão, um personagem que dá arrepios. Nem tudo é o que a trama aparenta - aos poucos vamos entendendo as intenções desse antagonista, um homem solitário, apelidado de Gordo, marcado pelo passado sofrido, que tem uma eterna dívida com um antigo amigo de escola com quem se reencontra após 20 anos - papel de Jason Bateman, de ‘Palavrões’ (2013), muito visto em comédias, que aqui mudou de estilo para novas possibilidades, o que deu certo. Rebecca Hall, atriz inglesa que gosto muito, premiada com o Bafta, de ‘Vicky Cristina Barcelona’ (2008), interpreta a esposa dedicada que vê o casamento desmoronar com a chegada de Gordo.



A partir da metade do filme, uma estupenda reviravolta envolvendo temas como bullying nos fará ter outras impressões sobre os personagens centrais, dando sentido à história. Um filmaço de suspense comentadíssimo na época, para quem aprecia o gênero, com cenas tensas de perseguição e um desfecho bem amarrado. Produção independente, custou U$ 5 milhões e rendeu U$ 58 milhões de bilheteria. Disponível em DVD e Bluray pela PlayArte.
 
O presente (The gift). EUA/Austrália/China, 2015, 108 minutos. Suspense. Colorido. Dirigido por Joel Edgerton. Distribuição: PlayArte
 
 
A grande mentira
 
Na metade da década de 60, três agentes do Mossad, o Serviço de Inteligência de Israel, embarcam em uma missão secreta: capturar um médico nazista refugiado no lado oriental de Berlim. A missão falha após a morte do procurado. 30 anos depois surge a informação de que o tal médico não morreu, e está vivendo em um asilo na Ucrânia. O grupo então é reconvocado para prendê-lo.
 
Caprichado thriller de espionagem do jeito que eu gosto, um filme classe A com grande elenco e uma trama reveladora, que nos prende até o desfecho. Indicado ao Oscar de melhor diretor por ‘Shakespeare apaixonado’ (1998), o inglês John Madden realizou uma obra notória, infelizmente pouco conhecida do público. Na verdade, é adaptação de um filme israelense lançado três anos antes, ‘A dívida’ (2007), e ambos tratam a mesma ideia: uma caçada a um médico nazista foragido após a Segunda Guerra. A missão dos agentes do Mossad falha, 30 anos depois o tal médico, apelidado de ‘Cirurgião de Birkenau’, reaparece, e o grupo, agora envelhecido, volta a atuar no caso. Preste atenção na trama complicada, que mistura dois tempos na vida dos três personagens - Helen Mirren e Jessica Chastain são a Rachel do passado e do presente, Ciarán Hinds e Sam Worthington o David de antes e o de depois, e Tom Wilkinson e Marton Csokas os mesmos Stephen – os atores apresentam semelhança nas linhas de expressão e nos trejeitos. E o veterano ator dinamarquês Jesper Christensen, o Mr. White da nova franquia 007 de Daniel Craig, faz o sinistro vilão nazista, inspirado numa figura real assustadora, o médico Josef Mengele, apelidado de ‘Anjo da Morte’.




Direção de arte e fotografia impecáveis, que recriam a Berlim Oriental e a paranoia da Guerra Fria. Filme que vejo e revejo sempre e que está na minha lista de preferidos. Disponível em DVD e bluray pela Universal.
 
A grande mentira (The debt). EUA/Reino Unido/Israel/Hungria, 2010, 113 minutos. Ação/Suspense. Colorido. Dirigido por John Madden. Distribuição: Universal Pictures

Especial de cinema

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