quarta-feira, 5 de março de 2025

Resenhas especiais



Especial ‘Sementes do Nazismo’

O ovo da serpente

Em 1923, durante a República de Weimar, na Alemanha, o trapezista judeu Abel Rosenberg (David Carradine) procura desesperadamente um emprego. Quando fica sabendo do suicídio do irmão, suspeita de algo estranho e resolver investigar o caso ao lado da esposa dele, Manuela (Liv Ullmann), uma dançarina de cabaré. As pistas levam os dois a uma terrível conspiração em Berlim, num período de crise moral, fome e recessão econômica.

O cineasta sueco Ingmar Bergman (1918-2007) rodou todos seus filmes em seu país natal, quase sempre utilizando sua residência na Ilha de Fårö como locação. Suas obras densas, de conflitos intempestivos entre casais em crise, marcaram a História do cinema. Diretor e roteirista longevo, trabalhou até a morte, aos 89 anos, deixando 70 longas feitos durante 60 anos de carreira. Recebeu nove indicações ao Oscar e ganhou prêmios a perder de vista – são dele, por exemplo, ‘O sétimo selo’ (1957), ‘Persona’ (1966), ‘Gritos e sussurros’ (1972) e ‘Fanny e Alexander’ (1982). Nos anos 70 enfrentou sérios problemas financeiros, perseguido inclusive pelo governo sueco por questões do fisco. Então o notório produtor italiano Dino de Laurentiis ofereceu trabalho para ele, no caso ‘O ovo da serpente’. Escrito e dirigido por Bergman, foi feito fora de sua terra, o primeiro em língua inglesa, todo rodado na Alemanha e mais uma vez com seu diretor de fotografia, Sven Nykvist, e com a atriz e esposa Liv Ullmann. É uma obra densa, pesada, suja, que retrata uma Berlim destruída econômica e socialmente no ápice da República de Weimar, logo após o Tratado de Versalhes que depenou o país. O clima é de instabilidade, medo e angústia, e a morte paira no ar. Um trapezista procura respostas do suicídio do irmão, e ao lado da cunhada, investiga o caso, chegando a uma teia de conspiração aterradora envolvendo experiências humanas. Com traços do filme ‘Cabaret’ (1972), conta com uma fotografia escura, de uma cidade noturna, repleta de bêbados, desempregados, prostitutas e assassinos, que traz uma incerteza, uma preparação do mal que viria menos de dez anos depois: a ascensão do Nazismo. O amargor da trama, a sujeira da cidade, as mortes macabras que ocorrem e as figuras que perambulam pelo submundo são símbolos da semente do totalitarismo. É uma obra difícil, indigesta, política e metafórica, até com traços de horror, diferente de tudo que Bergman fez – e, portanto, um filme genuíno, peculiar em todos os aspectos.





Vindo da famosa série ‘Kung Fu’, David Carradine dá vida ao protagonista desalentado - papel que seria de Dustin Hoffman; Liv Ullmann é a dançarina de maquiagem carregada, que tem poucos, mas precisos momentos em cena, e Gert Fröbe, o inspetor que auxilia na investigação. Na época do lançamento dividiu público e crítica e nem foi exibido em festivais ou tampouco concorreu a prêmios, o que acho uma desonra com essa obra original e visceral. Disponível em DVD pela Versátil.

O ovo da serpente (The serpent’s egg). EUA/Alemanha, 1977, 119 minutos. Suspense/Drama. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Ingmar Bergman. Distribuição: Versátil Home Video


A fita branca

Meses antes da Primeira Guerra Mundial, estranhos acontecimentos abalam uma pequena comunidade rural da Alemanha.

Provocador e simbólico, a premiada obra-prima do diretor austríaco Michael Haneke é um torpor de direção, roteiro e fotografia. Um mal estar toma conta de um vilarejo rural no norte da Alemanha nos anos anteriores à Primeira Guerra Mundial. A história se passa entre 1913 e 1914, mostrando um leque de personagens diferentes que vivem nessa pacata comuna. Um professor de música (Christian Friedel) narra fatos inusitados. Tudo começa com um médico da vila que cai do cavalo e fica ferido no hospital – descobrem que no caminho havia uma armadilha com arames para derrubar o cavalo. Dias depois, uma mulher morre nos campos de trabalho de maneira misteriosa. O filho dela se revolta e ataca as plantações de repolho dos patrões. Em seguida, um grupo de crianças começa a desafiar os pais – um deles, um religioso, amarra fitas brancas no braço dos dois filhos, para trazer-lhes de volta a pureza e a ingenuidade, segundo a tradição. Esse mesmo pároco dá golpes de chibata nos filhos, para controlar suas emoções, e como ele é professor, ameaça também os alunos, alegando que estão agitados demais e se desgarrando de Deus. Um celeiro é incendiado, um garoto deficiente é brutalmente torturado, uma aluna desmaia e fica fraca no hospital, um alvoroço toma conta da população... Todos esses pequenos flagras do cotidiano apontam um mal que está por vir na Alemanha pré-nazista. Algo mórbido, estranho, violento espreita aquele pequeno povoado que vive do plantio e da colheita. Parte deles mesmos uma série de punições violentas, como um ritual sinistro para expurgar os demônios – e que deixam todos em pânico.
Aplaudido nos festivais por onde passou, o drama de forte tensão psicológica ganhou a Palma de Ouro e o prêmio da crítica em Cannes, além do Globo de Ouro de filme estrangeiro. Recebeu duas indicações ao Oscar: de fotografia, um trabalho realmente estonteante e chocante, de Christian Berger, que trabalhou com Haneke várias vezes, como em ‘O vídeo de Benny’ (1992), ‘A professora de piano’ (2001) e ‘Caché’ (2005); e filme estrangeiro – representando a Alemanha, pois foi rodado lá e é praticamente todo falado em alemão.






Argumento e roteiro de Haneke, um cineasta inconfundível com suas obras densas e cheia de alegorias – ele é formado em Psicologia, filosofia e teatro e traz em suas obras reflexões profundas sobre perversões humanas e os diferentes graus de violência nos tempos contemporâneos. Em DVD pela Imovision, também disponível na plataforma Reserva Imovision.

A fita branca (Das weiße band - Eine deutsche Kindergeschichte). Alemanha/Áustria/França/Itália/Canadá, 2009, 144 minutos. Drama. Preto-e-branco. Dirigido por Michael Haneke. Distribuição: Imovision

terça-feira, 4 de março de 2025

Estreias da semana - Nos cinemas e no streaming


Último alvo (2024)

Está em exibição nos cinemas brasileiros o novo filme de ação com Liam Neeson, ‘Último alvo’, dirigido pelo norueguês Hans Peter Molland, realizador da cultuada fita de crime com humor ‘O cidadão do ano’ (2014) e do remake com o mesmo Neeson, ‘Vingança a sangue frio’ (2019). Na nova parceria, diretor e ator trabalham com uma história de redenção e reaproximação familiar. Um velho gângster com uma doença terminal procura contato com a família distante; ele quer abandonar a vida de crime, só que, para tanto, precisará corrigir erros do passado. Com 72 anos nas costas, Neeson, nas duas últimas décadas, parece só aceitar os mesmos papéis, de sujeitos enrascados em situações-limite com missões praticamente suicidas – em 2008 ele encarnou aquele agente da CIA disposto a tudo para salvar a filha sequestrada em Paris, ‘Busca implacável’, que fez sucesso, ganhou continuações e de lá para cá o ator repete os mesmos tipos em thrillers movimentados (alguns deles são ‘Desconhecido’, ‘Sem escalas’, ‘Caçada mortal’, ‘Noite sem fim’, ‘O passageiro’, ‘Legado explosivo’ e outros). Com menos cenas de ação e mais drama, ‘Último alvo’ é apenas um pequeno aperitivo sem gosto, uma fitinha corriqueira com trama frágil, sem emoção ou furor, com um Neeson envelhecido e cansado que fica o tempo todo pensando em passar os últimos meses de vida ao lado da família. Custou caro para um projeto desse naipe, U$ 30 milhões, e faturou até agora 10% do orçamento, já demonstrando um fiasco de bilheteria... Neeson tem seus fãs, que capaz de curtirem o trabalho. Nos cinemas pela Imagem Filmes.

 


 

Carcaça (2024)

Estreia nas plataformas de streaming (para aluguel) ‘Carcaça’, um trabalho experimental escrito e dirigido por André Borelli, que acompanha um casal em crise que aos poucos enlouquece enquanto marido e mulher estão isolados em casa durante a pandemia. Alterna momentos amorosos com drama e suspense, com aspectos de filmes de terror psicológico. Tem pontos fortes e alguns duvidosos. Gosto da fotografia em preto-e-branco, um belíssimo trabalho que me atingiu profundamente, bem como os enquadramentos com close nos rostos dos personagens e os plongées que o diretor usa. Parte técnica nota 10. O aspecto de teatro, com apenas dois personagens em cena, também me seduziu. O problema está na entrega do elenco – Paulo Miklos é o marido, um homem bem mais velho, com temperamento de altos e baixos, e que se torna um cara possessivo – segundo o olhar da esposa; o ator, brilhante em filmes como ‘O invasor’ e ‘Estômago’, faz menos, falta uma pitada de excelência na performance, e vejo que o problema está na má direção dele; Carol Bresolin, uma jovem youtuber que fez participação em dois ou três filmes, no papel da jovem esposa, padece de garra e convicção para manter o papel forte e sério que é exigido – ela abusa de trejeitos, com caras e bocas de comercial de TV e vídeos de rede social – também faltou um olhar apurado do diretor para resolver isso. Tenta ser visceral, procura ter um clima de paranoia, até começa bem, só que com o tempo perde o fio. Queria ter gostado, mas não foi dessa vez... Disponível para aluguel no Total Play, Apple, Net Now, Youtube, Vivo, Amazon, Claro Video e Google Play, com distribuição da California Filmes.



segunda-feira, 3 de março de 2025

Especial de Cinema


Oscar 2025: Primeiro Oscar do Brasil vai para ‘Ainda estou aqui’, na categoria de filme internacional; Brasil para para acompanhar cerimônia

Em plena noite de Carnaval, que toma conta das ruas, o Brasil parou para acompanhar, ontem, a transmissão do Oscar 2025. Brasileiros de todas as partes do país aguardavam ansiosos os anúncios dos vencedores - isso porque, de forma inédita, estávamos representados em três categorias com o filme ‘Ainda estou aqui’. A cerimônia no Dolby Theater, em Los Angeles, trouxe poucas novidades e algumas surpresas. Depois de uma campanha histórica e uma recepção calorosa nas salas brasileiras e americanas, ‘Ainda estou aqui’ levou a estatueta de melhor filme internacional, anunciado pela atriz espanhola Penélope Cruz. O filme desbancou ‘Emilia Pérez’, favorito na categoria. O diretor, Walter Salles - foto abaixo, subiu ao palco para agradecer a honraria e o trabalho do elenco. Foi a quinta vez que o Brasil recebeu indicação ao Oscar de filme estrangeiro – antes foram ‘O pagador de promessas’ (1962), ‘O quatrilho’ (1995), ‘O que é isso, companheiro?’ (1997) e ‘Central do Brasil’ (1998), sem nunca ganhar. Pela primeira vez na história, uma fita brasileira concorreu à principal categoria da Academia, o de melhor filme; não foi dessa vez, infelizmente... Quem ganhou foi ‘Anora’, que também levou os prêmios de direção, montagem, roteiro original – os três recebidos pelo diretor Sean Baker, que, por ser um cineasta autoral, realizou todas essas funções, e melhor atriz, para Mikey Madison - foto abaixo. Ela ganhou de Fernanda Torres e de Demi Moore, duas fortes concorrentes.
Novidades zero nas premiações de Adrien Brody como melhor ator por ‘O brutalista’, Zoe Saldaña e Kieran Culkin como coadjuvantes por, respectivamente’, ‘Emilia Pérez’ e ‘A verdadeira dor’, e ‘Conclave’ como melhor roteiro adaptado, já que ganharam quase tudo em premiações anteriores.
Pela primeira vez o Oscar foi apresentado pelo humorista e apresentador de TV americano Conan O’Brien, de 61 anos. A 97ª cerimônia do Oscar, ontem, prestou homenagens especiais aos bombeiros de Los Angeles, pelo esforço no combate aos incêndios que destruíram a cidade meses atrás. Também fizeram um tributo a James Bond, o ‘007’ – na cerimônia, as cantoras Doja Cat, Raye e Lisa apresentaram canções de abertura de alguns dos filmes da franquia. E também houve duras críticas ao governo Trump, com palavras de protesto, à guerra da Ucrania/Rússia e à destruição de Gaza pelo governo de Israel – um dos longas premiados ontem, o documentário ‘Sem chão’, trata desse último tema.
Confira abaixo a lista completa dos vencedores do Oscar 2025 - os vencedores são os primeiros filmes de cada categoria, em negrito:




Melhor Filme

 

“Anora” - foto da equipe do filme recebendo o Oscar, abaixo

“O Brutalista”

“Um Completo Desconhecido”

“Conclave”

“Duna: Parte 2”

“Emilia Pérez”

“Ainda Estou Aqui”

“O Reformatório Nickel”

“A Substância”

“Wicked – Parte 1”

 


Melhor Direção

 

Sean Baker por “Anora”

Brady Corbet por “O Brutalista”

James Mangold por “Um Completo Desconhecido”

Jacques Audiard por “Emilia Pérez”

Coralie Fargeat por “A Substância”

 

Melhor Atriz

 

Mikey Madison, por “Anora”

Fernanda Torres, por “Ainda Estou Aqui”

Demi Moore, por “A Substância”

Cynthia Erivo, de “Wicked – Parte 1”

Karla Sofía Gascón, de Emilia Pérez

 

Melhor Ator

 

Adrien Brody, por “O Brutalista” - foto abaixo

Timothée Chalamet, por “Um Completo Desconhecido”

Colman Domingo, por “Sing Sing”

Ralph Fiennes, por “Conclave”

Sebastian Stan, por “O Aprendiz”

 


Melhor Atriz Coadjuvante

 

Zoe Saldaña, por “Emilia Pérez”

Monica Barbaro, por “Um Completo Desconhecido”

Ariana Grande, por “Wicked – Parte 1”

Felicity Jones, por “O Brutalista”

Isabella Rossellini, por “Conclave”

 

Melhor Ator Coadjuvante

 

Kieran Culkin, “A Verdadeira Dor”

Yura Borisov, por “Anora”

Edward Norton, “Um Completo Desconhecido”

Guy Pearce, de “O Brutalista”

Jeremy Strong, de “O Aprendiz”

 

Melhor Roteiro Original

 

“Anora”

“O Brutalista”

“A Verdadeira Dor”

“A Substância”

“Setembro 5”

 

Melhor Roteiro Adaptado

 

“Conclave”

“Um Completo Desconhecido”

“Emilia Pérez”

“O Reformatório Nickel”

“Sing Sing”

 

Melhor Filme Internacional

 

“Ainda Estou Aqui”

“A Garota da Agulha”

“Emilia Pérez”

“A Semente do Fruto Sagrado”

“Flow”

 

Melhor Animação

 

“Flow” - foto da equipe recebendo o Oscar, abaixo

“Divertida Mente 2”

“Memórias de um Caracol”

“Wallace e Gromit: Avengança”

“Robô Selvagem”

 


Melhor Documentário

 

“Sem chão”

“Quatro paredes”

“Trilha Sonora para um Golpe de Estado”

“Porcelain War”

“Sugarcane”

 

Melhor Figurino

 

“Wicked – Parte 1”

“Um Completo Desconhecido”

“Conclave”

“Gladiador II”

“Nosferatu”

 

Melhor Cabelo e Maquiagem

 

“A Substância”

“Um Homem Diferente”

“Emilia Pérez”

“Nosferatu”

“Wicked – Parte 1”

 

Melhor Trilha Sonora Original

 

“O Brutalista”

“Conclave”

“Emilia Pérez”

“Wicked – Parte 1”

“Robô Selvagem”

 

Melhor Canção Original

 

“El Mal”, de “Emilia Pérez”

“The Journey”, de “Batalhão 6888”

“Like a Bird”, de “Sing Sing”

“Mi Camino”, de “Emilia Pérez”

“Never Too Late”, de “Elton John: Never Too Late”

 

Melhor Design de Produção

 

“Wicked – Parte 1”

“O Brutalista”

“Conclave”

“Duna: Parte 2”

“Nosferatu”

 

Melhor Edição

 

“Anora”

“O Brutalista”

“Conclave”

“Emilia Pérez”

“Wicked – Parte 1”

 

Melhor Som

 

“Duna: Parte 2”

“Um Completo Desconhecido”

“Emilia Pérez”

“Wicked – Parte 1”

“Robô Selvagem”

 

Melhores Efeitos Visuais

 

“Duna: Parte 2”

“Alien: Romulus”

“Better Man: A História de Robbie Williams”

“Planeta dos Macacos: O Reinado”

“Wicked – Parte 1”

 

Melhor Fotografia

 

“O Brutalista”

“Duna: Parte 2”

“Emilia Pérez”

“Maria Callas”

“Nosferatu”

 

Melhor Curta-Metragem em Live-Action

 

“I’m Not a Robot”

“A Lien”

“Anuja”

“The Last Ranger”

“The Man Who Could Not Remain Silent”

 

Melhor Animação em Curta-Metragem

 

“In the Shadow of the Cypress”

“Beautiful Men”

“Magic Candies”

“Wander to Wonder”

“Yuck!”

 

Melhor Documentário de Curta-Metragem

 

“A Única Mulher na Orquestra”

“Estou Pronto, Guarda”

“Death By Numbers”

“Incident”

“Instruments of a Beating Heart”

 

domingo, 2 de março de 2025

Especial de Cinema


Especial ‘Gene Hackman’ – Parte 2

Mais dois filmes para relembrar a carreira do premiado ator Gene Hackman, que faleceu essa semana aos 95 anos. Disponíveis em DVD.



Gerônimo: Uma lenda americana

O líder apache Gerônimo (Wes Studi) enfrenta a cavalaria norte-americana no fim do século XIX para proteger suas terras e seu povo.

Reconstituição em tom heroico (mas sob a perspectiva dos americanos) da trajetória do líder apache Gerônimo (1829-1909), que por duas décadas travou intensa batalha com o exército dos Estados Unidos para proteger seu território no sul do país. Faroeste classe A, foca nos últimos dois anos da caçada a Gerônimo, pela cavalaria, que mobilizou cinco mil homens no Oeste selvagem. Quem liderou a missão para encontrar os apaches foi o comandante Charles Gatewood (Jason Patric), que sob sol escaldante e uma paisagem arenosa de vales e deserto, perseguiu Gerônimo de maneira incessante. Em setembro de 1886, o líder indígena foi rendido com 35 membros do grupo, no Arizona, próximo à fronteira do Mexico. Consta na História que entre Gatewood e Gerônimo nasceu uma admiração mútua e respeito, negociaram bastante até a rendição.
É um típico épico feito com rigor e com pontos técnicos positivos, desde a trilha sonora de Ry Cooder à impressionante fotografia – rodado na região de Utah. O ator Wes Studi está bem no papel central, e no filme outras figuras reais aparecem, como o general Crook, que ordena a missão da cavalaria, interpretado por Gene Hackman; o experiente militar que rastreia foragidos Al Sieber (Robert Duvall), e o jovem soldado Britton Davis (Matt Damon, em início de carreira).
Em tom de crônica, mostra como ocorreu o apagamento do povo indígena nos Estados Unidos, entre o fim do século XVIII e o início do XX, com o exército e seu alto poderio bélico aniquilando apaches, comanches, sioux, navajos e cheyennes, no chamado Velho Oeste.




Indicado ao Oscar de melhor som, tem roteiro de John Milius, de ‘Apocalypse now’ (1979) e ‘Conan, o bárbaro’ (1982 – também o diretor do filme). Custou caro e não foi bem de bilheteria, sendo exibido na TV muitas vezes. Diretor, roteirista e produtor famoso, Walter Hill dirige – ele fez filmes de ação famosos, como ’48 horas’ – partes 1 e 2 (1982 e 1990), e westerns como ‘Cavalgada dos proscritos’ (1980), ‘Wild Bill – Uma lenda do oeste’ (1995) e ‘O último matador’ (1996). Relançado em DVD pela Classicline – em 2002 o filme saiu em DVD nas primeiras edições no Brasil, pela Columbia.

Gerônimo: Uma lenda americana (Geronimo: An american legend). EUA, 1993, 115 minutos. Faroeste/Drama. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Walter Hill. Distribuição: Classicline (em DVD).



Rápida e mortal

Ellen, uma misteriosa pistoleira, apelidada de ‘The lady’ (Sharon Stone), chega à cidadezinha de Redenção, no Velho Oeste, para participar de uma competição anual de tiros. Ela está lá também por outro motivo: encontrar o responsável que acabou com sua família quando era pequena.

Faroeste explosivo com violência nos padrões dos antigos ‘westerns spaghetti’, repleto de personagens carismáticos e um final absurdamente barulhento. Na época do lançamento teve repercussão negativa da crítica, e assistindo hoje, 30 anos depois, o filme merece uma chance – é divertido, bem montado, com enquadramentos frenéticos com zoom e cenas empolgantes de duelo a dois, em que um sempre irá morrer.
Sharon Stone é a pistoleira enigmática que chega a uma pequena cidade do Velho Oeste para uma competição de tiros e também para se vingar da morte do pai. Ela não dará paz para ninguém até encontrar seu alvo.
Tudo é construído com suspense e boas doses de adrenalina. Personagens secundários auxiliam o andar da trama, como Russell Crowe, um pastor forçado a lutar, Leonardo Di Caprio em início de carreira, com 21 anos, como um menino prodígio que sabe atirar, Pat Hingle como o dono do saloon, Lance Henriksen e Tobin Bell como dois pistoleiros maus, Roberts Blossom como um ancião, e claro, Gene Hackman, o sádico vilão, o manda-chuva da cidade, num papel que até no figurino lembra Henry Fonda em ‘Era uma vez no oeste’ (1968) – aliás, há outras referências do clássico de Sergio Leone, como uma cena de enforcamento, sem contar os ângulos e o clima. O veterano Woody Strode, ator do mencionado western, fez sua última aparição no cinema aqui – ele morreu no final das gravações, em 1994.
Há uma intrigante mistura de épocas, perceba, quebrando a diegese do filme, em especial o figurino de Sharon – as roupas e os óculos dela são modernos demais para aquele período, dando uma pitada de originalidade na concepção visual do longa.




Trilha de Alan Silvestri, fotografia e montagem dos italianos premiados Dante Spinotti e Pietro Scalia, respectivamente, e uma direção vibrante de Sam Raimi, mestre do terror, que fez ‘A morte do demônio’ (1981) e depois filmes bem mais comerciais. Os momentos escrachados de tiros varando as pessoas é diversão total – tudo realçado agora em bluray, em alta definição lançado pela Classicline.

Rápida e mortal (The quick and the dead). EUA/Japão, 1995, 108 minutos. Faroeste. Colorido. Dirigido por Sam Raimi. Distribuição: Classicline (em bluray).

sábado, 1 de março de 2025

Especial de Cinema


Especial ‘Gene Hackman’

Filmes para relembrar a carreira do premiado ator Gene Hackman, que faleceu essa semana aos 95 anos. Disponíveis em DVD.




Havaí

No início do século XIX, o missionário Abner Hale (Max Von Sydow) e a esposa Jerusha Bromley (Julie Andrews) viajam ao Havaí para se aproximar dos nativos e cristianizá-los. Com o passar dos dias, enfrentarão resistência daquela comunidade, que não aceita imposições do povo branco. A ida do casal até a ilha terminará em uma tragédia.

Um épico dos anos 60 que custou caro para os padrões de cinema da época e hoje caiu no esquecimento, estrelado pelo sueco Max Von Sydow, que vinha dos filmes de Ingmar Bergman, e aqui seria seu terceiro trabalho nos Estados Unidos – antes ele interpretou Jesus Cristo em ‘A maior História de todos os tempos’ (1965), e Julie Andrews, logo após os sucessos de ‘Mary Poppins’ (1964) e ‘A noviça rebelde’ (1965). É um drama sobre choque cultural, com uma bonita fotografia e longuíssima duração, baseado no livro homônimo de James A. Michener, escritor conhecido pelas sagas em territórios exóticos – é dele outro livro famoso que virou filme oscarizado, ‘Sayonara’ (1957), com Marlon Brando. A história se passa em 1820, no Havaí, um arquipélago isolado do Pacífico, habitado por nativos descentes de polinésios, 140 anos antes de se tornar um estado americano. Chega ao território um missionário religioso com a esposa, para catequizar aquele povo. O casal, distante de sua terra natal e deslumbrado pelos rituais ali praticados, encontrará dificuldades em seguir a missão. Juntos deles estarão um capitão da Marinha, Rafer Hoxworth (Richard Harris), que com o tempo iniciará conflitos com o casal, e um médico bondoso, Dr. John Whipple (Gene Hackman). Apesar das diferenças, o reverendo e a esposa conseguem uma aproximação dos nativos por meio da chefe-maior do reino do Havaí, Malama Kanakoa, chamada de ‘Ali-i Nui’ (Jocelyne LaGarde), uma espécie de rainha, tratada com toda pompa pelos súditos. Com o passar das semanas, uma crise inesperada irrompe entre os nativos e os brancos.
O filme recebeu sete indicações ao Oscar: melhor atriz coadjuvante (para a polinésia Jocelyne LaGarde, que só fez esse filme e nunca mais atuou, e pelo trabalho ganhou o Globo de Ouro), fotografia, figurino, som, efeitos especiais, canção e trilha (muito boa, de Elmer Bernstein, que também ganhou o Globo de Ouro). O missionário, interpretado por Sydow (que concorreu ao Globo de Ouro), foi inspirado no verdadeiro reverendo Hiram Bingham (1789-1869), um protestante norte-americano que liderou expedições ao Havaí para levar o cristianismo para a ilha e lá viveu 20 anos com a esposa.




O roteiro é de Dalton Trumbo, perseguido pelo Macarthismo, que o escreveu ao lado de Daniel Taradash, e a direção é de George Roy Hill, que depois faria dois clássicos contemporâneos, ‘Butch Cassidy’ (1969) e ‘Golpe de mestre’ (1973). Rodado em boa parte no Havaí, o drama teve uma continuação bem inferior em 1970, ‘O senhor das ilhas’, com foco no capitão da Marinha Raper Hoxworth, neste interpretado por Charlton Heston – o ator tinha sido escalado para o anterior, mas foi substituído por Richard Harris.
Curiosidade: Bette Midler, natural da capital do Havaí, Honolulu, estreava aqui, aos 20 anos, como figurante, numa cena de segundos – ela é uma das passageiras que fica enjoada no barco, no início do filme.
Há duas versões de ‘Havaí’: a de cinema, de 189 minutos, e a versão americana com cortes, de 162 minutos, essa disponível no Brasil em DVD pela Obras-primas do Cinema.

Havaí (Hawaii). EUA, 1966, 162 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por George Roy Hill. Distribuição: Obras-primas do Cinema (em DVD)




Sem rumo no espaço

Uma falha no sistema de propulsão de uma nave deixa três astronautas americanos (Gene Hackman, Richard Crenna e James Franciscus) presos no espaço ao retornar para a Terra após meses em órbita. A base espacial na Terra, comandada por um chefe linha dura (Gregory Peck), terá pouco tempo para uma missão de resgate.

Produzido e lançado no ano em que o homem chegou à Lua (1969), ‘Sem rumo no espaço’ é um admirável ‘filme de sobrevivência’, que iria inspirar o cineasta mexicano Alfonso Cuarón em ‘Gravidade’ (2013). Entre os anos cruciais da Corrida Espacial, em plena Guerra Fria, de 1960 a 1973, muitos filmes americanos e soviéticos se debruçavam no tema, com aventuras mirabolantes no espaço sideral. Esse aqui é um exemplar digno do gênero e que reconstitui bem os avanços tecnológicos da época. Na história, três astronautas ficam presos na nave enquanto retornam para a Terra de uma missão espacial. O oxigênio fica rarefeito, eles começam a enlouquecer e entram em conflito. Na base espacial terrestre, um grupo de cientistas corre contra o tempo para uma missão de resgate; resolvem lançar um outro astronauta para buscar o trio perdido (em inglês, o título do filme, ‘Marooned’, significa ‘Abandonados’).
Baseado no livro de Martin Caidin, o longa traz aventura com drama e ficção científica, tudo misturado de uma maneira coerente e empolgante para quem se identifica com histórias como essa. Traz um elencão de premiados do cinema, como Gregory Peck, Richard Crenna, Gene Hackman, Lee Grant, David Janssen, James Franciscus e George Gaynes.
Ganhou o Oscar de melhor efeitos visuais, ainda indicado nas categorias de fotografia e som. Originalmente da Columbia Pictures, o filme foi rodado em grande parte no verdadeiro Cabo Canaveral, na Flórida, onde a Nasa lança seus foguetes. Quem dirige é o nome forte do cinema western e ação John Sturges, de ‘Sem lei e sem alma’ (1957), ‘Sete homens e um destino’ (1960) e ‘Fugindo do inferno’ (1963).




Há duas versões do filme – a original de cinema, de 134 minutos, e uma com cortes, de 128 minutos, essa disponível no Brasil. Saiu em DVD pela Classicline e também em DVD no box da Versátil ‘Clássicos Sci-fi volume 10’, contendo mais cinco filmes, como ‘O dia em que a Terra se incendiou’ (1961) e ‘No assombroso mundo da Lua’ (1967).

Sem rumo no espaço (Marooned). EUA, 1969, 128 minutos. Aventura/Ficção científica. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por John Sturges. Distribuição: Classicline e Versátil Home Vídeo (em DVD)


Tudo em família

George Dupler (Gene Hackman) é um executivo de meia-idade que tem uma crise de estresse no trabalho, agride o chefe, destrói a sala dele e pede as contas. Dias depois, arruma um novo emprego, como gerente de uma loja de departamentos. Novamente estressado, descobre que o filho está se relacionando com uma prima distante, Cheryl Gibbons (Barbra Streisand). Só que George acaba se apaixonando por ela também e inicia um relacionamento escondido do filho. Quando a esposa de George, Helen (Diane Ladd), é informada da traição do marido, uma confusão em família é instalada.

Comédia romântica agridoce, uma típica fita das antigas ‘sessões da tarde’, com Gene Hackman muito à vontade, brilhando em cena como sempre – essa semana o ator foi encontrado morto, aos 95 anos, ao lado da esposa, na mansão do casal no Novo México, e a polícia investiga o caso. É um filme leve, engraçadinho, cheio de confusões em torno de uma família nada normal. O marido estressado trai a esposa com uma prima que estava se relacionando com o filho dele, e quando os fatos vêm à tona, o circo é armado! Na época, Barbra Streisand já tinha dois Oscars e estava parando de fazer filmes para se dedicar à carreira musical – só faria mais dois na década de 80, ‘Yentl’ (1983) e ‘Querem me enlouquecer’ (1987), e cinco nas décadas seguintes. Consta que ela recebeu o maior salário do elenco, exorbitante pra época, de U$4 milhões – ela faz um papel ingênuo e debochado, com cabelos curtos loiros, par romântico de Hackman – e recebeu indicação ao Razzie, os piores do ano...



Com jeito de comédia slapstick e momentos farsescos, o filme é rápido e funcional. Tem uma trilha sonora legal de Ira Newborn em parceria com Richard Hazard, e duas participações notáveis, de Dennis Quaid no início de carreira, com 26 anos, como o filho do protagonista, e Annie Girardot, como uma professora de francês. Foi o único longa americano do francês Jean-Claude Tramont (1930-1996), que fez só mais dois trabalhos em seu país. Do roteirista W.D. Richter, que adaptou o livro ‘Invasores de corpos’ para o cinema, e depois dirigiria a amalucada comédia scifi ‘As aventuras de Buckaroo Banzai’ (1984). Em DVD pela Classicline.

Tudo em família (All night long). EUA, 1981, 87 minutos. Comédia romântica. Colorido. Dirigido por Jean-Claude Tramont. Distribuição: Classicline (em DVD)

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Cine Especial


Halloween – A noite do terror

* Texto especial publicado na coluna 'Middia Magazine', da revista Middia, de Catanduva/SP, edição de outubro/novembro de 2024.

Michael Myers é um psicopata que está num hospital psiquiátrico desde a infância após assassinar a irmã. Na véspera do Halloween, ele foge de lá e retorna para Haddonfield, uma pacata cidade de Illinois, onde morava. No Dia das Bruxas passa a atacar babás com uma faca de cozinha, iniciando uma matança que coloca os moradores em alerta, incluindo seu médico psiquiatra, Dr. Loomis (Donald Pleasence), e o xerife Brackett (Charles Cyphers).

Com um orçamento discreto de U$ 320 mil, ‘Halloween’ virou fenômeno de bilheteria no ano de seu lançamento, em 1978, quando arrecadou mais de U$ 40 milhões, agradando crítica e público e abrindo o caminho para o que seria o slasher movie. Distribuído em poucas salas americanas, ao longo das semanas o filme foi sendo injetado no circuito de cinema, com crescente burburinho, pois o feito era praticamente inédito naquele período – um filme de terror com clima tenso, de um psicopata mascarado que matou a própria irmã a facadas quando criança e agora, 15 anos depois, foge do sanatório para atacar no Dia das Bruxas. Também era algo inédito para uma fita de terror (gênero desprezado pela crítica) e ainda mais de uma produtora independente que acabou fazendo milagre, a Compass.
‘Halloween’ virou um ícone pop do entretenimento e ganhou uma infinidade de continuações e reboot, além de imitações. John Carpenter, o diretor, havia feito apenas dois longas antes, os cultuados ‘Dark star’ (1974), uma paródia de ficção científica no espaço, e o policial com muito tiroteio ‘Assalto a 13ª. DP’ (1976) – ambas fitas autorais que apresentam algo diferenciado na estrutura e na parte técnica. Carpenter foi então convidado pelo diretor da Compass a fazer ‘Halloween’ – ele escreveu com Debra Hill o roteiro, que se passa na cidade natal de Debra, Haddonfield – a verdadeira Haddonfield é em New Jersey, mas no filme se passa em Illinois, ou seja, uma cidade fictícia e bem pacata.
Trouxe para o elenco a novata Jamie Lee Curtis, filha de dois famosos, Tony Curtis e Janet Leigh, que aqui ganhou o apelido de ‘Scream queen’, a ‘Rainha do grito’, pois passou a atuar em diversos filmes de terror em que a plateia vibrava de medo. Ela voltaria outras vezes no papel principal, de Laurie Strode, uma universitária que trabalha como babá e vira alvo de Michael Myers. Também foi um up na carreira do veterano ator inglês Donald Pleasence, conhecido por fitas de ação e guerra nos anos 60 - papel anteriormente cotado para Peter Cushing e Christopher Lee, e Pleasence voltaria nas próximas quatro continuações.
O roteiro tenso da dupla Carpenter/Debra, o bom trabalho de Jamie e Donald e a trilha assustadora e marcante, feita no piano pelo próprio Carpenter (que era músico e arranjador), fizeram do filme um exemplar memorável que atravessaria gerações. Isso tudo aliado a cenas marcantes – o plano-sequência inicial, bem longo, do menino colocando a máscara, em primeira pessoa, e matando a irmã a facadas; a abertura com a sinistra abóbora do Halloween; as aparições repentinas de Myers com máscara branca no canto da tela; a perseguição a Laurie Strode pelos cômodos da antiga casa e dentro do armário; e o desfecho perturbador depois dos tiros contra Myers no piso superior do sobrado.
Sinistra também é a máscara de Myers, que surgiu dois anos antes de outro psicopata mascarado famoso, Jason - a máscara dele é inspirada no rosto do ator William Shatner, o capitão Kirk de ‘Star Trek’, pintada de branco, pálida e sem emoção.





Foi a primeira parceria, de um longo período, de Carpenter com o fotógrafo Dean Cundey – juntos fizeram quatro longas, como ‘A bruma assassina’ (1980) e ‘O enigma de outro mundo’ (1982), e depois Cundey faria sucessos como a trilogia ‘De volta para o futuro’ (1985, 1989 e 1990), ‘Jurassic Park’ (1993) e seria indicado ao Oscar por ‘Uma cilada para Roger Rabbit’ (1989).
Sou fã de ‘Halloween’ e não canso de rever. E quem quiser reassistir, o filme foi lançado em bluray pela Obras-primas do Cinema em 2020 numa caixa especial em três discos, com ótima qualidade de som e imagem; no primeiro disco em BD vem ‘Halloween’; no segundo, também em BD, vem a boa continuação, ‘Halloween II – O pesadelo continua!’ (1981), cuja história se passa na mesma noite do primeiro e tem Jamie Lee Curtis e Donald Pleasence no elenco; e no terceiro disco, um DVD, vem os dois filmes nas versões estendidas para a TV americana, no formato de tela para TV, em fullscreen, tendo ‘Halloween’ 10 minutos a mais (101 minutos), e a continuação, com segundos a menos, onde cortaram as cenas de violência explícita, como a morte do guarda com o martelo na cabeça, que não aparece, e a da mulher na banheira hidroterápica, cujo assassinato demorava quase um minuto. Nos extras da caixa, quatro horas de materiais especiais, tudo em digipack com luva, cards, livreto de 30 páginas e pôsteres de cada filme. Foram produzidos apenas dois mil exemplares do box, devidamente numerados, e hoje esgotado no mercado.



Halloween – A noite do terror (Halloween). EUA, 1978, 91 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por John Carpenter. Distribuição: Obras-primas do Cinema



Halloween II – O pesadelo continua!

O psicopata mascarado Michael Myers continua à solta, mesmo baleado pelo seu médico psiquiatra que estava em seu encalço, Dr. Loomis (Donald Pleasence). Pela madrugada afora, durante o Halloween em Haddonfield, a polícia se mobiliza para encontrar Myers, enquanto Laurie Strode (Jamie Lee Curtis), a única sobrevivente de uma matança horas antes, é internada no hospital local. Myers deixará um rastro de sangue pelo caminho.

Estonteante continuação do clássico inimitável de John Carpenter que fez escola abrindo o subgênero slasher no cinema americano. Desse icônico e assustador filme com o famoso assassino mascarado Michael Myers veio uma franquia que se consolidou e ainda hoje fazem filmes dele – são ao todo 13 filmes, se minha memória não falha. No anterior, Myers foi baleado pelo seu médico psiquiatra na noite de Halloween; só que o assassino escapa e passa a perseguir novas vítimas pela madrugada afora, incluindo Laurie, que está ferida e em estado de choque no hospital – e que nesse capítulo descobrimos que ela é irmã de Myers. Essa parte 2 é tão arrepiante quanto o filme original, ainda com mais violência, sangue e mortes brutais. A história segue a mesma noite e a madrugada do primeiro filme, e aqui, mesmo sem a direção de Carpenter, a tensão cresce e há todo um clima diabólico no ar - Carpenter ajudou o diretor Rick Rosenthal a dirigir, o veterano produtor Dino De Laurentiis assumiu o controle da produção e passou para a Universal distribuir nos cinemas, fazendo certo sucesso nas salas.
Tudo ocorre no hospital, com puro clima de tensão e medo, enquanto o primeiro se passava na antiga casa de Myers. Retornam as figuras centrais do elenco original, Donald Pleasence, como o médico, Jamie Lee Curtis, como a irmã de Myers, e o recém-falecido Charles Cyphers, o policial Brackett – na franquia, os três alternariam os filmes e voltariam em outros capítulos da cinessérie.
Feito no ano-chave dos slasher movies, 1981, quando saíram do forno cerca de 30 filmes de terror e consolidaria o subgênero – alguns deles foram “Sexta-feira 13 - Parte 2” (de Steve Miner), “Chamas da morte” (de Tony Maylam – também conhecido como “A vingança de Cropsy”), “Feliz aniversário para mim” (de J. Lee Thompson), “Noite infernal” (de Tom DeSimone), “Aniversário sangrento” (de Ed Hunt), “A hora das sombras” (de Jimmy Huston), “Pouco antes do amanhecer” (de Jeff Lieberman), “Escola noturna” (de Ken Hughes), “Olhos assassinos” (de Ken Wiederhorn) e “Dia dos Namorados macabro” (de George Mihalka).
Sempre considerei ‘Halloween 2’ uma das melhores continuações de filme de terror, e por mim a franquia poderia ter parado aqui – no ano seguinte veio ‘Halloween III: A noite das bruxas’ (1982), que não tinha nada a ver com a série – um caso estranho e até hoje incompreendido; em seguida Myers voltaria em ‘Halloween 4: O retorno de Michael Myers’ (1988), ainda um filme ok, depois ‘Halloween 5: A vingança de Michael Myers’ (1989) e não pararia mais... Isso porque a série de filmes foi várias vezes ‘restartada’, como em ‘Halloween H20: Vinte Anos Depois’ (1998), quando a proposta foi ‘cancelar todos os anteriores’ e o novo filme seria a continuação direta do original de 1978. Recentemente o diretor norte-americano David Gordon Green fez uma trilogia, que começa bem e vai ficando agressivo, perverso e com extrema violência gratuita, ‘Halloween’ (2018), ‘Halloween Kills: O terror continua’ (2021) e ‘Halloween ends’ (2022), que marcaria o retorno de Jamie Lee Curtis e Charles Cyphers.




A memorável trilha sonora principal escrita por John Carpenter permanece, e na abertura, agora, a abóbora de Halloween racha e dela surge uma sinistra caveira, como na capa original do filme. Por falar em música, no desfecho, nos créditos, tem a canção-tema que muita gente acha que é do primeiro filme, ‘Mr. Sandman’, gravada nos anos 50 pelo quarteto feminino The Chordettes.
Sou fã de ‘Halloween’ e não canso de assistir de novo. E quem quiser reassistir, os filme 1 e 2 foram lançados em bluray pela Obras-primas do Cinema em 2020 numa caixa especial em três discos, com ótima qualidade de som e imagem. Disponível para aluguel em streamings como Prime e AppleTV.

Halloween II – O pesadelo continua! (Halloween II). EUA, 1981, 92 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por Rick Rosenthal. Distribuição: Obras-primas do Cinema

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