Holy Motors
Publicado em 10/06/2013
Publicado em 10/06/2013
Oscar (Denis Lavant) é um milionário que transita solitariamente dentro
de uma limusine pelas ruas de Paris. Ele terá nove encontros com ele mesmo, onde
irá criar personagens como um vagabundo, um músico, um assassino, um mendigo,
um pai, dentre outros tipos. Esse homem está em busca da beleza do movimento,
da força motriz da vida, das mulheres que o cercam e dos fantasmas de sua vida.
Vencedor de prêmios especiais nos festivais de Cannes e de Toronto, o desconcertante “Holy motors”
(2012) é um mergulho bizarra na mente de um homem incompreendido, focando seus
delírios e desejos para uma vida completa em tempos de atrocidade e dinamismo.
Metáforas não faltam para compor esse painel onde circulam estranhos personagens
em uma Paris em constante transformação.
O ator Denis Lavant faz um
grandioso tour-de-forcee para interpretar onze personagens – o principal é o
Monsieur Oscar, um milionário solitário dentro de uma limusine, e dele surgem nos
encontros tipos como o banqueiro, uma velha mendiga, um ator que trabalha num cromaqui,
um pai de família irritado, o tocador de acordeon, o matador, um homem no foyer,
um idoso no leito de morte e o mais memorável, seu Mr. Merde, um andarilho
torto e medonho, que sobe à superfície pelos dutos dos esgotos – Lavant havia
criado esse papel para um dos segmentos do filme “Tokyo!” (2008), também dirigido
por Leos Carax junto de outros diretores. Na limusine em trânsito o
protagonista faz paradas e se transforma nesses personagens desnudando as
verdades da metrópole. Ele é um mestre em disfarces, criando várias histórias
onde sua vida se mistura a de outros.
É um difícil exercício
de maquiagem para o ator e um exercício próprio de identidade e personificação
que poucos se atrevem fazer.
O diretor de “Os amantes
de Pont-Neuf” (1991), “Pola X” (1999) e de um dos segmentos de “Tokyo!” (2008),
Leos Carax, que já havia trabalhando com Lavant em pelo menos três longas, usa
o realismo fantástico beirando o surrealismo com forte potência, recorrendo a elementos
dadaístas, fantasias eróticas e fetichismo para compor essa realidade em
conflito com a ficção - ambas se misturam chegando a um ponto em que o
espectador não sabe mais o que é o que. O diretor é bem técnico, utiliza travellings
impecáveis, como a do mendigo no cemitério comendo flores dos túmulos indo em
direção à sessão de fotografias nos jazigos, e a do acordeonista que, ao
caminhar tocando o instrumento pela noite afora, vê um grupo de instrumentistas
se juntar a ele.
Há simbologias e
alegorias inúmeras, destaco a cena da “Pietà”, de Michelangelo, em que a atriz Eva
Mendes, numa rápida participação como a modelo raptada pelo abominável Mr.
Merde, encarna Maria, enquanto Merde, com ereção, deita-se em seu colo, num
canal de água subterrâneo.
O cultuado filme tem uma
fotografia impressionante, é uma obra complexa e pretende ser uma reflexão em
dois caminhos: em torno do retrato da criação artística e a do mundo em crise, cada
vez mais instável e absurdo.
O desfecho é satírico e
ao mesmo tempo melancólico.
Observe a rápida participação
da cantora pop australiana Kylie Minoque, que havia passado por um temeroso câncer
de mama, em que aparece como atriz – e no filme toca sua música dançante mais
famosa, “Can't get you out of my head”.
É um dos longas mais
originais do ano de 2013, lançado em DVD esse mês pela Imovision.
Holy Motors (Idem). França/Alemanha/Bélgica, 2012,
115 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Leos Carax. Distribuição: Imovision
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