A festa de Babette
Na metade do século XIX,
em uma vila dinamarquesa, duas solitárias irmãs, filhas de um pregador, acolhem
uma refugiada francesa chamada Babette (Stéphane Audran). Para recompensar as
irmãs pela moradia, ela começa a trabalhar como empregada. Um dia ganha um grande
prêmio em dinheiro na loteria, e para agradecer as irmãs por terem fornecido o
abrigo, faz um banquete com comidas requintadas para os moradores do vilarejo.
Um filme inspirador,
simples e delicado, que marcou muitas pessoas, especialmente o público
feminino. Continua um de meus filmes preferidos e também o de minha mãe
(revimos há pouco tempo nessa linda cópia da Classicline, relançada em DVD no
Brasil).
O filme foi inspirado no
conto “A festa de Babette e outros contos do destino”, presente no livro “Anedotas
do destino” (1958), escrito por Isak Dinesen, pseudônimo da escritora
dinamarquesa Karen Blixen – ela é a autora do livro autobiográfico “Uma fazenda
africana”, que virou o clássico romântico dos anos 80 “Entre dois amores”, com
Meryl Streep e Robert Redford.
Ganhou merecidamente o
Oscar de filme estrangeiro em 1988, e o Bafta no ano seguinte na mesma
categoria, além do prêmio de Júri Ecumênico no Festival de Cannes. Na época, conquistou
o coração das pessoas pela simplicidade e singeleza, sem falar da esplendorosa fotografia
no verdadeiro vilarejo de Jutlândia, na Dinamarca, e dos apetitosos pratos de
alta classe que a protagonista cria (dá uma fome lascada!).
Tudo é muito bem conduzido
e narrado, as imagens tornam-se memoráveis, e a direção do veterano dinamarquês
Gabriel Axel é uma aula de
técnica cinematográfica – curioso que só havia feito documentários e telefilmes
em seu país, sendo “A festa de Babette” um dos poucos filmes dele para cinema,
e o mais celebrado de sua longa carreira; depois faria seu último trabalho, que
também se passa em Jutlândia, “Jutland - Reinado de ódio” (1994, com Christian
Bale bem novinho).
O drama trata do
banquete como um ritual pontual de felicidade e celebração, que reúne pessoas
de diferentes idades e pensamentos, e faz uma reflexão irônica e contraditória:
as irmãs isoladas, religiosas, fechadas em um mundo próprio, sem prazer para
nada, versus os prazeres da mesa, da comida refinada, uma espécie de orgia
quando todos estão diante dos pratos saborosos.
Elegante e bonito, é uma
obra-prima para ver muitas vezes. No final dá uma vontade de experimentar as
receitas de Babette, como caviar, babá ao rum (sponge cake) e outras comidas
exóticas, como sopa de tartaruga e codornas assadas na massa folhada.
Babette, feita com sinceridade pela ótima Stéphane Audran (atriz de
diversos filmes, como “O discreto charme da burguesia”, falecida em 2018 aos 85
anos), entrou para a galeria de personagens inesquecíveis da Sétima Arte. No
elenco tem também participação de uma das musas de Ingmar Bergman, Bibi
Andersson (de “Persona”, “O sétimo selo” e “Morangos silvestres”).
A festa de Babette (Babettes gæstebud). Dinamarca, 1987, 103
minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Gabriel Axel. Distribuição: Classicline
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