sábado, 17 de julho de 2021

Cine Cult


A festa de Babette

Na metade do século XIX, em uma vila dinamarquesa, duas solitárias irmãs, filhas de um pregador, acolhem uma refugiada francesa chamada Babette (Stéphane Audran). Para recompensar as irmãs pela moradia, ela começa a trabalhar como empregada. Um dia ganha um grande prêmio em dinheiro na loteria, e para agradecer as irmãs por terem fornecido o abrigo, faz um banquete com comidas requintadas para os moradores do vilarejo.

Um filme inspirador, simples e delicado, que marcou muitas pessoas, especialmente o público feminino. Continua um de meus filmes preferidos e também o de minha mãe (revimos há pouco tempo nessa linda cópia da Classicline, relançada em DVD no Brasil).
O filme foi inspirado no conto “A festa de Babette e outros contos do destino”, presente no livro “Anedotas do destino” (1958), escrito por Isak Dinesen, pseudônimo da escritora dinamarquesa Karen Blixen – ela é a autora do livro autobiográfico “Uma fazenda africana”, que virou o clássico romântico dos anos 80 “Entre dois amores”, com Meryl Streep e Robert Redford.
Ganhou merecidamente o Oscar de filme estrangeiro em 1988, e o Bafta no ano seguinte na mesma categoria, além do prêmio de Júri Ecumênico no Festival de Cannes. Na época, conquistou o coração das pessoas pela simplicidade e singeleza, sem falar da esplendorosa fotografia no verdadeiro vilarejo de Jutlândia, na Dinamarca, e dos apetitosos pratos de alta classe que a protagonista cria (dá uma fome lascada!).


Tudo é muito bem conduzido e narrado, as imagens tornam-se memoráveis, e a direção do veterano dinamarquês Gabriel Axel é uma aula de técnica cinematográfica – curioso que só havia feito documentários e telefilmes em seu país, sendo “A festa de Babette” um dos poucos filmes dele para cinema, e o mais celebrado de sua longa carreira; depois faria seu último trabalho, que também se passa em Jutlândia, “Jutland - Reinado de ódio” (1994, com Christian Bale bem novinho).
O drama trata do banquete como um ritual pontual de felicidade e celebração, que reúne pessoas de diferentes idades e pensamentos, e faz uma reflexão irônica e contraditória: as irmãs isoladas, religiosas, fechadas em um mundo próprio, sem prazer para nada, versus os prazeres da mesa, da comida refinada, uma espécie de orgia quando todos estão diante dos pratos saborosos.
Elegante e bonito, é uma obra-prima para ver muitas vezes. No final dá uma vontade de experimentar as receitas de Babette, como caviar, babá ao rum (sponge cake) e outras comidas exóticas, como sopa de tartaruga e codornas assadas na massa folhada.


Babette, feita com sinceridade pela ótima Stéphane Audran (atriz de diversos filmes, como “O discreto charme da burguesia”, falecida em 2018 aos 85 anos), entrou para a galeria de personagens inesquecíveis da Sétima Arte. No elenco tem também participação de uma das musas de Ingmar Bergman, Bibi Andersson (de “Persona”, “O sétimo selo” e “Morangos silvestres”).

A festa de Babette (Babettes gæstebud). Dinamarca, 1987, 103 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Gabriel Axel. Distribuição: Classicline

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