terça-feira, 6 de julho de 2021

Cine Cult



Crash: Estranhos prazeres

James (James Spader) sofre um acidente de carro e após a recuperação desenvolve uma estranha tara pela desconhecida Helen (Holly Hunter), viúva da vítima fatal daquele desastre. Por meio dela, James entra em um pequeno grupo de fetichistas que tem prazer sexual em pessoas feridas em acidentes automobilísticos.

Na época de seu lançamento, em 1996, o filme foi censurado em alguns países, e em outros passou com um corte final de 10 minutos a menos, devido às cenas de sexo e estranhezas do roteiro maldito de David Cronenberg (que era uma adaptação do livro do escritor de “Império do sol”, J. G. Ballard, um dos fundadores da ‘New Wave’ da scifi britânica). Agora a Versátil acaba de lançar essa indigesta e explosiva história de sexo e fetiches incomuns numa edição caprichada de colecionador, em bluray – é a inédita cópia restaurada, na versão integral de 100 minutos, ou seja, com aqueles 10 minutos cortados. Além do filme em BD, vem um disco extra em DVD com mais de quatro horas de documentários e especiais, incluindo três curtas-metragens de Cronenberg, fora os cards, pôster e livreto.
A produção independente de Cronenberg fracassou nos cinemas virando da noite para o dia um autêntico cult, original, polêmico e, por si só, proibido.


É mais uma obra complexa e bizarra do controverso mundo do cineasta canadense que havia feito filmes sombrios e mórbidos como esse em “Os filhos do medo” (1979), “Scanners: Sua mente pode destruir” (1981), “Videodrome: A síndrome do vídeo” (1983), “Gêmeos: Mórbida semelhança” (1988) e “Existenz” (1999), sem falar do seu longa mais comercial, “A mosca” (1986). Dessa vez mostra pessoas solitárias, vítimas de acidentes de carro, que integram uma estranha rede de prazer e sedução liderada por um homem doentio (um sinistro e perturbado Elias Koteas); eles têm fetiches por ferimentos e deformações causados por acidentes automobilísticos, adoram carros batidos e trocam confidências em reuniões exclusivas às escuras. James Spader, Holly Hunter, Deborah Kara Unger e Rosanna Arquette são os outros bons atores nesses papéis ousados e talvez os mais difíceis de suas carreiras, que se entregam ao obsceno e aos desvarios do processo criativo de Cronenberg em sua mais alta potência.
Não há como negar a originalidade da ideia (difícil até de classificar o gênero, diria que é um drama com suspense), porém, cuidado, pois para muitos poderá ser uma experiência pesada e desesperadora (na época, nos cinemas, muita gente se sentiu mal e achou aquilo tudo uma afronta). Exibido em Cannes, ganhou prêmio especial do Júri, indicado ainda à Palma de Ouro.


Não confundir com dois filmes de títulos próximos, a ação scifi lançada na mesma época, “Estranhos prazeres” (1995), de Kathryn Bigelow, nem com “Crash: No limite”, o drama que inesperadamente ganhou o Oscar de melhor filme em 2006. Conheça e tire suas conclusões.

Crash: Estranhos prazeres (Crash). Reino Unido/Canadá, 1996, 100 minutos. Drama/Suspense. Colorido. Dirigido por David Cronenberg. Distribuição: Versátil

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