Andrei
Rublev
Em 1400,
o artista plástico Andrei Rublev (Anatoliy Solonitsyn) deixa o monastério para auxiliar
na pintura da catedral do Kremlin, em Moscou. Durante a viagem até a capital,
em pleno inverno rigoroso, fica frente a frente com a fome, a violência e um
terrível ataque dos tártaros.
Ganhador
do prêmio da crítica no Festival de Cannes em 1969, o filme é um monumento do
cinema soviético e um dos trabalhos mais significativos (e menos complexos) do
cultuado Andrei Tarkovski, que firmava aqui a parceria com o ator Anatoliy
Solonitsyn – eles voltariam em “Solaris” (1972), “O espelho” (1975) e “Stalker”
(1979). Tarkovski demonstra o virtuosismo com a manipulação da câmera em
movimentos únicos, lentos, captando longos planos, para criar uma biografia própria
do pintor Andrei Rublev, um artista cuja história foi praticamente relegada da
História (pouca coisa se sabia dele). A dimensão psicológica do personagem é uma
execução autoral do cineasta, e no futuro algo se repetiria na forma dos outros
protagonistas de seus filmes. Uma das poucas façanhas notoriamente conhecidas
de Rublev é o trabalho de recuperação que executou na Catedral da Anunciação, símbolo
da igreja ortodoxa de Moscou, erguida na Praça do Kremlin no século XV. Seus afrescos
de passagens bíblicas, imagens de santos, Cristo e Nossa Senhora foram um marco
para a época – ele era um iconografista de primeira, venerado pelos ortodoxos (para
se ter noção de sua importância ao povo russo, Rublev foi canonizado em 1988).
Filmado
na real catedral da Anunciação, também em vilarejos russos, monastérios, florestas,
em paisagens abertas, muitas tomadas na neve, o contundente drama também aponta
traços da Rússia no contexto do final da Idade Média, com a fome se alastrando,
a miséria social e a violência dos tártaros, que invadiam terras, torturavam e
matavam as pessoas com crueldade (uma das grandes sequências do filme é o ataque
na igreja, rodado de maneira soberba).
O
personagem central é magistralmente interpretado pelo ator Anatoliy Solonitsyn
(1934–1982), falecido de maneira prematura, de câncer, aos 47 anos.
Existem
seis versões do mesmo filme, que vai da edição britânica editada de 145 minutos
à mais extensa de todas, de 205 min, esta última exibida apenas no Festival de
Cannes. A CPC-Umes Filmes acaba de lançar a cópia da restauração feita pela Mosfilm
em 2004, de 182 minutos, com uma linda imagem e som – e que realça ainda mais a
fotografia pungente de Vadim Yusov (1929–2013), o mestre de fotografia de várias
fitas de arte de Tarkovski. Não deixe de conferir essa cópia, disponível em DVD
e Bluray!
Andrei
Rublev (Andrey Rublev).
URSS, 1966, 182 minutos. Drama. Preto-e-branco. Dirigido por Andrei Tarkovski.
Distribuição: CPC-Umes Filmes
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