segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Nota do Blogueiro


Filmes em DVD

A distribuidora Classicline acaba de lançar em DVD quatro títulos imperdíveis aos colecionadores. Três deles estavam inéditos em mídia física: "Três dias de vida" (1944 - ação, com Errol Flynn), "A invasão dos discos voadores" (1956, scifi, em disco duplo, contendo a versão original PB e a colorizada), e "Como matar sua esposa" (1965, comédia, com Jack Lemmon e Virna Lisi). O outro é o relançamento em DVD de "Os desajustados" (1961, um drama com western que foi o último trabalho de Marilyn Monroe no cinema, contracenando com duas lendas, Clark Gable e Montgomery Clift). Vale cada centavo! Procure já nas melhores lojas.
Obrigado, pessoal da Classicline, pelo envio dos filmes.





sábado, 29 de agosto de 2020

Cine Cult



O jogador

Produtor executivo de um poderoso estúdio de Hollywood (Tim Robbins) recebe várias cartas com ameaças de morte. Amedrontado, entra em paranoia e acaba assassinando um suspeito, que é roteirista de cinema. A partir daí o caso se complica, e ele tenta atrapalhar as investigações da polícia.

Nos últimos quatro meses o mercado de DVDs e Blurays reaqueceu, muitas distribuidoras estão relançando títulos que estavam fora de catálogo com vistas a atender o público consumidor, e uma delas é a Versátil Home Vídeo. Até agora cerca de 50 filmes de seu domínio voltaram com tudo para as lojas; um deles é “O jogador” (1992), um dos filmes mais aguardados pelos colecionadores. Dirigido brilhantemente pelo gênio Robert Altman, de “M.A.S.H” (1970) e “Assassinato em Gosford Park” (2001), essa sátira ao mundo do cinema conta com um roteiro inteligente de Michael Tolkin, baseado em um romance de sua própria autoria, pelo qual foi indicado ao Oscar (o filme também recebeu indicação nas categorias diretor e edição, e mais, venceu dois Globos de Ouro, de melhor filme – comédia ou musical, e ator para Tim Robbins, que interpreta um de seus melhores papéis. Por falar em troféus, ganhou os de melhor ator e diretor em Cannes, além do Bafta de direção e roteiro).
Metalinguístico, sobre o cinema dentro do cinema, repleto de referências a filmes, é uma brincadeira cínica e divertida para quem conhece os bastidores da produção de um filme – Altman caprichou nas críticas à indústria cinematográfica de Hollywood, aos fascinantes bastidores das gravações permeando os conflitos entre produtor, roteirista e diretor. E com utilização de um ingrediente que gostava, o assassinato!


Altman tinha como costume elencar uma lista de gente conhecida em seus filmes, que desfilavam em papeis menores, e aqui não é diferente, temos Tim Robbins, Greta Scacchi, Fred Ward, Whoopi Goldberg, Peter Gallagher, Brion James, Vincent D’Onofrio, Dean Stockwell, Richard E. Grant, Sydney Polllack (o diretor, que fazia pontas como ator), Dina Merrill, Gina Gershon, Cynthia Stevenson, sem contar outros 60 aparecendo como eles mesmos, Lily Tomlin, Harry Belafonte, Susan Sarandon, Bruce Willis, Cher, Karen Black, Peter Falk, John Cusack, Jeff Goldblum, Jack Lemmon, Nick Nolte, Julia Roberts, Anjelica Huston (vou parar por aqui senão escreverei uma página inteira só deles).
De volta em DVD, “O jogador” está disponível pela Versátil!

O jogador (The player). EUA, 1992, 123 minutos. Comédia. Colorido. Dirigido por Robert Altman. Distribuição: Versatil

Cine Clássico



Os impiedosos

Os detetives Madigan (Richard Widmark) e Bonaro (Harry Guardino) percorrem as ruas de Nova York para capturar um criminoso acusado de homicídio. Eles têm apenas 72 horas para prendê-lo.

Fita policial marcante do final dos anos 60, “Os impiedosos” é uma produção original da Universal, agora disponível em DVD em duas edições: pela Classicline, recém-lançada, e no box “Cinema policial – volume IV”, da Versátil, contendo ainda “A polícia da estrada” (1973), “Mikey e Nicky” (1976) e “Hardcore: No submundo do sexo” (1979). Ambas estão boas, vale assistir a esse filme vigoroso de ação que trazia duas lendas do cinema faroeste, Richard Widmark e Henry Fonda, correndo pelas ruas de Nova York atrás de um assassino.
Saiu na safra da Nova Hollywood, quando a capital do cinema se reinventava com cineastas autorais, reciclando gêneros com uma pegada moderna. Quem dirige é o mestre do mundo policial no cinema Don Siegel, criador da franquia “Dirty Harry”, com Clint Eastwood, mas que também fez terror (é dele a primeira versão de “Invasores de corpos”, intitulada “Vampiro de almas”), dramas de guerra, western e até comédia. Com uma trama enérgica repleta de perseguições, policiais durões e bandidos em fuga, a história se destaca pelo contexto pouco usual, o Harlem espanhol de Nova York. Por falar em história, o filme é uma adaptação de um famoso romance policial nos Estados Unidos, que nunca saiu no Brasil, “The commissioner” (1962), do escritor Richard Dougherty.


Os veteranos Richard Widmark e Henry Fonda mandam brasa com os revolveres em punho, e ao lado da dupla nomes importantes do cinema pintam na tela, como Inger Stevens, Harry Guardino, James Whitemore, Susan Clark e Don Stroud.

Os impiedosos (Madigan). EUA, 1968, 100 minutos. Policial. Colorido. Dirigido por Don Siegel. Distribuição: Classicline (edição de 2020, em DVD) e Versátil Home Video (edição de 2019, em box, em DVD)



Cine Especial



Riocorrente

Um jornalista (Roberto Audio), um ex-ladrão de carros (Lee Taylor) e uma mulher misteriosa (Simone Iliescu) se envolvem em um triângulo amoroso com duras consequências na metrópole de São Paulo.

Original, explosivo e dinâmico, esse filme brasileiro pouco conhecido do grande público é um dos melhores trabalhos do diretor e roteirista Paulo Sacramento, responsável pelo ótimo documentário “O prisioneiro da grade de ferro” (2003) – Sacramento assina ainda como produtor e editor do longa. Condensou em poucos minutos (78, para ser preciso) a vida moderna numa São Paulo controversa, que vai das belezas dos arranha-céus ao caos social, permeada por conflitos amorosos e a criminalidade. Tem um elenco de nomes do cinema independente, a destacar Lee Taylor (uma verdadeira revelação do cinema e da TV brasileira), assim como Simone Iliescu e Roberto Audio (você que é fã da banda Mutantes, repare na arrebatadora participação de Arnaldo Baptista, tocando piano). Como fã do cinema feito em nosso país, recomendo essa produção que passou imperceptível nos cinemas – “Riocorrente” (o título é assim mesmo, grafado junto) recebeu indicação a prêmios em festivais como Bogotá e Rotterdam, ganhou o troféu APCA, o prêmio Abbracine na Mostra Internacional de Cinema de SP, e dois técnicos no Festival de Brasília (melhor fotografia e montagem). Em DVD pela California Filmes.


Riocorrente (Idem). Brasil, 2013, 78 minutos. Drama/Ação. Colorido. Dirigido por Paulo Sacramento. Distribuição: California Filmes

sábado, 22 de agosto de 2020

Cine Cult


Excalibur

O jovem Arthur (Nigel Terry) retira da pedra a espada Excalibur e pelo feito único recebe o título de rei. Guiado pelo mago Merlin (Nicol Williamson) e com ajuda dos cavaleiros da Távola Redonda, inicia uma jornada contra a bruxa Morgana (Helen Mirren), sua meia-irmã, que espalha o medo pelas terras longínquas de Camelot.

A melhor versão das histórias medievais de “Rei Arthur e os cavaleiros da Távola redonda”, graças ao realismo, à violência gráfica e à retumbante direção de arte que impressionam até hoje, num trabalho formidável do visionário diretor John Boorman, cinco vezes indicado ao Oscar - são deles filmes como “À queima roupa” (1967), “Amargo pesadelo” (1972), “Zardoz” (1974) e “Esperança e glória” (1987).
No lançamento no Brasil, em 1981, o filme passou nos cinemas como “Excalibur, a espada do poder”, depois esse subtítulo caiu. Revi essa semana a aventura em DVD, lançada pela Warner Bros, que é a versão de cinema, de 140 minutos, a maior de todas – saiu no mercado muito tempo atrás uma editada, de 119 minutos, autorizada pelo diretor, com menos ação e violência, perdendo o brilho da concepção original de Boorman.
Com cenas rodadas em lindos condados da Irlanda, bem como em castelos reais, o filme é adaptação do famoso livro “A morte de Arthur”, do romancista inglês Thomas Malory, publicado em 1485, com roteiro de Boorman em mais uma parceria com o roteirista Rospo Pallenberg (anteriormente tinham feito o desastroso “Exorcista II: O herege”, que acabou com a carreira do diretor, e quatro depois de “Excalibur” escreveriam “A floresta das esmeraldas”).
Indicado ao Oscar de melhor fotografia, ao Bafta de figurino e à Palma de Ouro em Cannes, onde o diretor ganhou o prêmio especial de contribuição artística, o filme é uma ótima reconstituição da Idade Média e seus elementos, que vão de cavaleiros em suas armaduras explorando territórios a feitiçarias.


Há muitos atores que se destacariam no futuro, como Gabriel Byrne, Liam Neeson, Ciarán Hinds e Cherie Lunghi, sem contar os que já estavam no cinema há algum tempo e criaram aqui papéis memoráveis, a destacar Helen Mirren, Corin Redgrave, Nigel Terry e Nicol Williamson.

Excalibur (Idem). EUA/Reino Unido, 1981, 140 minutos. Aventura. Colorido. Dirigido por John Boorman. Distribuição: Warner Bros.

Cine Clássico


À noite sonhamos

Polônia, 1820. O garoto Frédéric Chopin (Maurice Tauzin), de 10 anos, toca piano como ninguém, graças aos ensinamentos que recebeu do professor Joseph Elsner (Paul Muni). Rapidamente torna-se notório pela Europa, elogiado como um dos maiores compositores de música clássica de todos os tempos.

Glamurosa cinebiografia do pianista polonês Frédéric Chopin (1810-1849), sucesso de público e crítica em seu lançamento, em 1945. Por isso teve seis indicações ao Oscar, de melhor roteiro, trilha sonora, edição, som, fotografia e ator para Cornel Wilde, que interpreta com sutilezas o protagonista. Indicado ainda a prêmios no Festival de Veneza, o filme é um drama romântico que enaltece a figura do maior compositor e pianista da era romântica da Europa, Chopin, narrando passagens fundamentais de sua vida, do garoto prodígio no piano à expulsão de sua terra natal, a Polônia, por ter se recusado tocar para o governo czarista, da chegada a Paris, onde se instalou, ao romance secreto com a escritora Aurore Dupin (que assinava com o pseudônimo masculino George Sand). O lance mais legal, mostrado à exaustão, é a relação de Chopin com o professor de música, que o conhece desde pequeno e o acompanha até o leito de morte – chama-se Joseph Elsner, papel marcante do premiado ator da era muda Paul Muni.
No estilo de “ascensão e queda de um herói”, que era um modelo típico do cinema hollywoodiano dos anos 40, essa produção de luxo e muita música é um colírio aos olhos dos cinéfilos, dirigida por Charles Vidor, dos clássicos “Gilda” (1946) e “Adeus às armas” (1957).


Existem duas versões em DVD no Brasil: uma da Classicline, que saiu em 2005 numa cópia irregular, com ranhuras, e outra mais recente da Versátil (lançada na coleção da Folha ‘Grandes biografias do cinema’), essa sim com imagem excelente.

À noite sonhamos (A song to remember). EUA, 1945, 111 minutos. Drama/Romance. Colorido. Dirigido por Charles Vidor. Distribuição: Classicline (em DVD - edição de 2005) e Versátil (em DVD – edição de 2016)

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Resenhas Especiais


O aventureiro: A maldição da caixa de Midas

Mariah Mundi (Aneurin Barnard), um garoto de 17 anos, tem a vida virada de cabeça pra baixo quando os pais desaparecem e o irmão é raptado. Sozinho, pega uma trilha para encontrar pistas do paradeiro de sua família e chega a um mundo oculto, com segredos mortais e monstros raptores de crianças.
Do diretor britânico Jonathan Newman, de “O menino de ouro” (2011), essa é uma aventura subestimada, pouquíssima conhecida do grande público e que se torna, numa revisão, um entretenimento bem legal para o público teen. Naufragou nas bilheterias mundiais, inclusive no Brasil, saindo em seguida em DVD pela Universal Pictures.
É um “O enigma da pirâmide” com “Harry Potter” e “Percy Jackson”, rodado no Reino Unido, com efeitos visuais dignos, figurino e direção de arte caprichados, e uma escalação interessante de elenco, que vai do protagonista Aneurin Barnard ao veterano Sam Neill, passando por participações de Michael Sheen, Ioan Gruffudd e Lena Headey.
O roteiro é movimentado (baseado na série de livros “Mariah Mundi”, de G.P. Taylor, grande sucesso na Grã-Bretanha), com subtramas corriqueiras de mistério e investigação, e faz alusão à lenda do rei Midas, que tinha o poder de transformar tudo em ouro (a tal caixa do título é um artefato que o personagem terá de encontrar em sua saga). Para ver em família, sem compromisso.

O aventureiro: A maldição da caixa de Midas (The adventurer: The curse of the Midas box). Reino Unido/Espanha/Bélgica, 2013, 99 min. Aventura. Colorido. Dirigido por Jonathan Newman. Distribuição: Universal Pictures


Bem-vindos ao meu mundo


Alice Klieg (Kristen Wiig) é uma mulher de trinta e poucos anos com transtorno emocional, sem muitos amigos ou família por perto. Um dia ganha na loteria e com o dinheiro resolve montar seu próprio talk-show, conquistando um sonho que tinha desde criança.

Kristen Wiig em mais um papel inusitado, numa comédia independente original, mas de humor estranho, longe de ser um filme para todos os públicos. Gosto de filmes diferentes, por isso curti “Bem-vindos ao meu mundo” (2014) quando o vi pela primeira vez em DVD, e essa semana o assisti novamente, onde pude reparar detalhes (esse é o lado positivo das revisões, que podem melhorar ou piorar). Não espere uma comédia para dar gargalhadas, esse é um exemplar do cinema americano independente autoral, mais inteligente, que privilegia roteiros fora do eixo.
Kristen Wiig está à vontade como uma protagonista temperamental, fio condutora de uma sucessão de eventos relacionados aos bastidores de uma produção de TV. Ela é uma mulher trintona emocionalmente instável, que abandona os medicamentos e compra um espaço para seu programa televisivo após ganhar na loteria. Sua vontade é ser uma apresentadora famosa, porém o caminho será espinhoso. Bem curto (com seus 87 minutos), o filme é metalinguístico, com críticas diretas aos talk-shows feitos nos Estados Unidos, e indicado para quem procura algo alternativo diante de um mundaréu de comédias repetitivas. No elenco aparecem de forma especial Jennifer Jason Leigh, Linda Cardellini, Wes Bentley, Joan Cusack, James Marsden e Tim Robbins.

Bem-vindos ao meu mundo (Welcome to me). EUA, 2014, 87 min. Comédia. Colorido. Dirigido por Shira Piven. Distribuição: Universal Pictures


Viva a liberdade

Secretário do partido de oposição na Itália, Enrico Oliveri (Toni Servillo) desaparece quando as pesquisas para as próximas eleições não o favorecem. Os membros do partido o procuram dia e noite pela região. Sem notícias, recorrem ao seu irmão gêmeo, Giovanni (Toni Servillo), um filósofo com transtorno bipolar, e fazem um trato com ele, para assumir o papel de Enrico e assim disputar as eleições.

Se um Toni Servillo engrandece qualquer filme, imagine dois! O astro italiano dos longas de Paolo Sorrentino, com destaque para a obra-prima ganhadora do Oscar “A grande beleza” (2013), reinventa-se com delicadeza esbanjando dignidade nessa comédia dramática política inteligente, escrita e dirigida por Roberto Andò, baseado em um romance de sua autoria. Num papel duplo difícil de ser criado, ele faz irmãos gêmeos de comportamentos opostos para levantar forte diálogo com a política da Itália na era Berlusconi, marcada por intransigência dos mais altos níveis e escândalos inomináveis. Repleto de ironias, questionador, é uma fita de arte brilhante para os fãs do cinema italiano contemporâneo, que, olha, vem ganhando espaço e sem sombra de dúvida é um dos melhores do momento!
Recebeu indicações a prêmios em vários festivais, como o David di Donatello (o Óscar italiano), onde ganhou melhor roteiro.

Viva a liberdade (Viva la libertà). Itália, 2013, 95 minutos. Comédia dramática. Colorido. Dirigido por Roberto Andò. Distribuição: Paramount Pictures

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Cine Especial - No Netflix


Juanita

Mulher de meia-idade e descontente com a vida, Juanita (Alfre Woodward) abandona tudo e parte para uma viagem sem rumo pelos Estados Unidos atrás de novos ares.

Uma graça esse filme original da Netflix com a grande atriz já indicada ao Oscar Alfre Woodward. Aos 67 anos, ela interpreta um papel entusiasmado, de uma mulher de meia-idade cansada da monotonia, do estresse da vida com os filhos que a exploram, e resolve abandonar tudo e colocar o pé na estrada. Seu sonho é ter uma vida mais justa, mais feliz, e quem sabe encontrar um namorado que a ame e seja fiel. Ela viaja até o outro lado do país, onde inicia um relacionamento com um cozinheiro indígena entregue à bebida, algo que fará sentido para ela pelo menos naquele instante. Haverá momentos engraçados, como seus sonhos eróticos com o ator Blair Underwood – ele aparece como ele mesmo, outros dramáticos, sempre com foco nessa mulher em busca de um novo rumo. Nunca é tarde para mudar!
A criativa edição traz cortes originais, dentro de um roteiro bem escrito e de alma feminina, baseado no romance de Sheila Williams, “Dancing on the edge of the roof”.
O filme tem talento, é curtinho, e acima de tudo faz uma reflexão sobre a mulher negra e de meia idade na sociedade atual. Vale ver!

Juanita (Idem). EUA, 2019, 90 min. Comédia dramática. Colorido. Dirigido por Clark Johnson. Distribuição: Netflix


O livro do amor


O arquiteto Henry Herschel (Jason Sudeikis) perde a esposa (Jessica Biel) num trágico acidente de carro. Abalado, lembra a cada minuto dos momentos bons que usufruiu ao lado da mulher. Ele precisa continuar em frente, então dá os primeiros passos para o processo de reconstruir sua vida. Fica amigo de uma adolescente introvertida, Millie (Maisie Williams), que é sua vizinha, e juntos montam uma jangada para fazerem uma viagem pelo oceano Atlântico.
Uma bonita história de amor em flashbacks, sobre um livro antigo que atravessa o mar e várias gerações, tornam essa produção original do Netflix um passatempo regular para fãs do cinema romântico. Fugindo dos filmes debochados de comédia, Jason Sudeikis entra de corpo e alma num papel dramático, como um arquiteto em luto, que chora a morte da esposa, vítima de um acidente. Tudo muda quando se aproxima de uma garota vizinha e bola com ela um plano mirabolante envolvendo uma jornada pelo mar adentro.
A ideia é boa, o elenco manda bem, com destaque para Maisie Williams, a Arya Stark da série ‘Game of thrones”, como a adolescente vizinha do protagonista, que transformará a vida dele para sempre. Além da ponta de Jessica Biel, surge na história muita gente que eu não via no cinema há tempos, como Mary Steenburgen, Paul Reiser e Orlando Jones. Por falar em Jessica Biel, ela produziu o filme, e o marido, o cantor e ator Justin Timberlake, compôs a trilha sonora em sua homenagem.
Reaparece aqui a linda canção “The book of love”, de Stephin Merritt, tema do filme “Dança comigo” (2004), só que numa versão mais moderna.
Está no catálogo da Netflix desde 2016, e só agora tive a felicidade de descobrir.

O livro do amor (The book of love). EUA, 2016, 106 minutos. Romance/Drama. Colorido. Dirigido por Bill Purple. Distribuição: Netflix

domingo, 16 de agosto de 2020

Cine Clássico


A conquista do Oeste

A saga de uma família de rancheiros durante a expansão do oeste americano, entre 1830 e 1880.

Para mim o faroeste mais espetacular do cinema, uma saga incrível pelo oeste americano passando por vários momentos marcantes da História dos Estados Unidos. O filme ficou conhecido por reunir um elenco de astros e estrelas dos mais bem pagos, com participações a se perder de vista; faço questão de apontar aqui, Carrol Baker, Gregory Peck, James Stewart, Karl Malden, George Peppard, John Wayne, Debbie Reynolds, Robert Preston, Richard Widmark, Lee J. Cobb, Henry Fonda, Carolyn Jones, Eli Wallach, Walter Brennan, Agnes Moorehead, Thelma Ritter, Russ Tamblyn, as não-creditadas de Harry Dean Stanton e Lee Van Cleef, e a narração de Spencer Tracy. É mole? É como se reunissem hoje, no mesmo longa-metragem, Julia Roberts, George Clooney, Brad Pitt, Tom Cruise, Morgan Freeman, Jeff Bridges, Robert De Niro etc Por isso custou caríssimo para a época, cerca de U$ 15 milhões, e ninguém esperava ser um fracasso de bilheteria (acarretado por problemas na produção, quatro diretores se dividiram para rodar o filme, algo também inédito, houve mudança de atores no meio do caminho, atrasos no cronograma de gravação e indecisões no marketing/divulgação para os cinemas). As falhas não ecoaram na edição final, o western permanece intacto; o longo filme, com seus 164 minutos de duração, está maravilhoso, ainda mais se assistido na edição em bluray da Warner (que foi a que vi novamente ontem).

É a jornada de várias gerações da família Prescott/Rawlings, pioneiros na chegada ao oeste, em que presenciam a corrida do Ouro, a Guerra Civil, ataques de índios, a vinda das estradas de ferro, a formação das cidades do oeste com seus saloons etc. Tudo recriado corretamente num roteiro ponta firme.
Disse que o filme foi dirigido por quatro mestres, referências do faroeste. São eles: John Ford, que ficou encarregado de rodar as cenas da Guerra Civil, Henry Hathaway (com as das corredeiras, planícies e foras-da-lei), George Marshall (nos segmentos das estradas de ferro) e Richard Thorpe, nas cenas de transição entre as principais (Thorpe não foi creditado). Façanha improvável para a época e quase impossível de ser feita hoje!


As questões técnicas colaboram definitivamente para torná-lo uma obra magnífica, como a trilha de Alfred Newman, ganhador de nove Oscars, o roteiro, original, mas inspirado em artigos da revista Life sobre a conquista do Oeste, os jogos de lentes das câmeras, com uso em larga escala da grande ocular (olho-de-peixe, que capta imagens laterais até 180º, arredondando as bordas), além do processo de gravação em Cinerama, última geração de tecnologia – o processo envolvia também a exibição nos cinemas, com três projetores simultâneos e sincronizados, numa tela gigante e curva, que proporcionava uma visão panorâmica, ampla – o nome vem da junção dos termos cinema + panorama.
Produzido pela MGM, o idílico filme reúne sequências de tirar o fôlego, difíceis de serem filmadas, como a debandada de búfalos, a das corredeiras e o tiroteio final no trem em movimento.
Ganhou três Oscars (roteiro, som e edição), indicado a outros cinco, como melhor filme e fotografia. Saiu recentemente em DVD pela Classicline, e há a cópia restaurada, em bluray, pela Warner, com uma imagem fora de série.

A conquista do Oeste (How the West was won). EUA, 1962, 164 minutos. Faroeste. Colorido. Dirigido por John Ford, Henry Hathaway, George Marshall e Richard Thorpe. Distribuição: Classicline (em DVD - edição de 2019) e Warner Bros. (em bluray – edição de 2008)

sábado, 15 de agosto de 2020

Cine Lançamento


Nós

Família negra americana é aterrorizada por outra família, que na verdade são os mesmos membros, duplicados.

Fez sucesso nos cinemas esse terror moderno do diretor que ganhou o Oscar de roteiro original por “Corra!” (2017), Jordan Peele, que alinha um suspense de entretenimento a um estudo psicológico complexo sobre os duplos, ou seja, os lados bom/generoso e mau/violento das pessoas. Peele, um dos cineastas do mundo do horror mais criativos do momento, não resume o filme apenas à questão da natureza humana e dos monstros que habitam em nós; ele volta a discutir, como bem fez em “Corra!”, a figura do negro na sociedade americana, com as dores, mazelas e tragédias existentes.
Em “Nós” os personagens centrais são uma família de classe média que numa noite assustadora se encontra com estranhas figuras duplicadas de si mesmos, mas com comportamento agressivo, que iniciam um processo de “desacorrentamento”. Do encontro explodirá uma série de tormentos, crimes sanguinários, perseguições pela madrugada afora.
“Nós” propõe uma experiência visual marcante, uma fita dura, séria e sombria, feita com inteligência por um cineasta jovem e visionário, e toda conduzida pela ganhadora do Oscar Lupita Nyong'o (indicada aqui ao SAG – ela perdeu a chance de mais uma indicação ao Oscar, no papel duplicado, que dá arrepios). Por falar em prêmio, o terror ganhou mais de 70 em 80 festivais pelo mundo. Outro papel marcante é de Elizabeth Moss, ganhadora do Globo de Ouro pela série “O conto da aia”, e que estrelou a nova versão de “O homem invisível” (imperdível!).
Para mim é mais instigante que o anterior, “Corra!”, contando com um desfecho de proporções semelhantes, misterioso e aberto.


O filme retorna ao circuito em bluray pela Universal Pictures. Aliás, veja só o poder dos colecionadores de filmes: “Nós” foi lançado em DVD no ano passado, com tiragem reduzida, esgotando rapidamente nas lojas. Agora, com o reaquecimento do mercado de DVDs e BDs, os fãs se reuniram e fizeram um abaixo assinado para a distribuidora relançar o título, o que deu super certo. Ele pode ser adquirido com exclusividade no site da loja The Originals (nos dois últimos meses, a mesma loja, com apoio dos colecionadores, trouxe em bluray “Cemitério maldito”, o já mencionado “Corra!”, “AI – Inteligência artificial”, “Operação Overlord”, e acabaram de anunciar dois filmes, todos em bluray, “Ex-machina” e “O chacal”). Outra loja, a FamDVD, a pedido dos fãs, formalizou também parceria com distribuidoras para lançar com exclusividade em sua loja cinco títulos em bluray, que já se encontram à venda, “O barco”, “Top gun – Ases indomáveis”, “O homem sem sombra!”, “A bruxa” e “Halloween” (2018). Se você se interessou por algum, procure logo, pois a tiragem é limitada.

Nós (Us). EUA/China/Japão, 2019, 116 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por Jordan Peele. Distribuição: Universal Pictures

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

No Netflix


Perfeita pra você

Abbie (Gugu Mbatha-Raw), uma jovem com câncer terminal, sai à procura de uma mulher perfeita para seu namorado, Sam (Michiel Huisman). Ela sabe que tem poucos meses de vida, por isso quer entregar a mão dele para uma pessoa que o mereça.

Cativante, esse drama/romance é uma produção original do Netflix lançada na plataforma em fevereiro de 2018. No fundo, no fundo, o tema é triste, mas a história é contada de forma leve, encantadora, encenada por um bom elenco (com destaque para o casal central) – nos moldes de “A culpa é das estrelas” (2014). E tudo foi feito por mulheres (nota-se o toque feminino): da diretora e produtora Stephanie Laing, que venceu o Emmy pela série “Veep” (aliás, “Perfeita pra você” é o único filme que dirigiu, ela é mais focada em TV series), roteiro da atriz Bess Wohl, e protagonismo da ótima atriz britânica descendente de sul-africanos Gugu Mbatha-Raw, que eu já vinha observando desde “Nos bastidores da fama” (2014), depois apareceu em “Um homem entre gigantes” (2015), “A bela e a fera” (2017) e “Uma dobra no tempo” (2018), alguns de seus trabalhos mais lembrados. Ela interpreta aqui Abigail, uma jovem prestes a se casar, que acredita estar gravida, mas quando vai ao médico descobre um câncer no útero, em estágio avançado. O namorado está sempre por perto, auxiliando-a. Em troca, ela quer encontrar uma futura namorada para o rapaz, pois sabe que morrerá em breve.
Já na cena de abertura sabemos que Abbie morreu, quando o namorado conversa com ela frente ao seu túmulo - o “espírito” da jovem é o narrador dos fatos que veremos a partir daí, ou seja, em tom de flashback. Tem romance, momentos tristes, humor, tudo na medida dosada milimetricamente. Você vai gostar, garanto! E de quebra um time afiado de coadjuvantes, como Steve Coogan, na pele de um terapeuta, além de Christopher Walken, Kate McKinnon e Jackie Weaver.

Perfeita pra você (Irreplaceable you). EUA, 2018, 96 minutos. Drama/Romance. Colorido. Dirigido por Stephanie Laing. Distribuição: Netflix


Catfight

Duas mulheres que eram colegas de escola (Sandra Oh e Anne Heche) tornam-se as piores inimigas. Quando se encontram, faíscas acendem, e a briga torna-se inevitável, com direito a porradas, puxões de cabelo, quedas de escada e vidros estilhaçando.

Pensem num roteiro diferenciado, criativo, com duas atrizes excepcionais interpretando papéis marcantes (e nada caricato, por mais que a sinopse nos leve a crer). Essas são algumas das qualidades de “Catfight” (2016), numa tradução literal, “Briga de gatos”, uma comédia dramática (ou hoje chamada de ‘Dramédia’) original do Netflix. A duas vezes ganhadora do Globo de Ouro Sandra Oh, estrela de séries premiadas, se junta a Anne Heche, sumida das telas, para trocar porradas, de uma forma como você nunca viu. No passado elas eram amigas de escola, tinham certa proximidade, depois tiveram uma desavença. Quando se encontram depois de muito tempo, trocam farpas, tapas, chutes e socos, e se autodenominam arqui-inimigas. O personagem de Sandra é de uma mulher sozinha, saiu de um longo período de coma, perdeu mãe, filho e dinheiro no tempo em que ficou no hospital. Hoje tenta reconstruir com dureza a vida. Já o de Anne é de uma artista plástica temperamental, cujas obras dividem radicalmente a opinião do público. Gay (assim como a atriz é, assumidamente), tem um relacionamento estável com uma mulher mais nova e cheia de manias (Alicia Silvertsone, lembra dela, de “As patricinhas de Beverly Hills”?), e juntas terão um bebê. Um novo encontro entre as duas numa galeria de arte, expostas a um grande público, será marcado, de novo, por baixaria, e assim em outros encontros vindouros.
O filme não foca só em pancadaria, que são várias e todas bem coreografadas, como na sequência da exposição de arte, e sim acompanha o triste lado dessas duas mulheres solitárias, que nutrem certo amargor pelos dessabores da vida. Faz também uma crítica inteligente ao mundo das artes, em especial ao sistema em si e à curadoria das artes plásticas, sem delongas. Em suma, vale apreciar o filme, e que bom saber que existe um exemplar diferente como esse no Netflix! Obra essa de um diretor de origem turca, Onur Tukel, que escreveu o roteiro (ele é ator de formação também).

Catfight (Idem). EUA, 2016, 95 minutos. Drama/Comédia. Colorido. Dirigido por Onur Tukel. Distribuição: Netflix

sábado, 8 de agosto de 2020

Cine Cult


O jogo de emoções

A psicóloga Margaret Ford (Lindsay Crouse) aceita ajudar um paciente endividado, que é um jogador compulsivo. Ela, por conta própria, vai até o submundo do jogo de poker clandestino, onde o rapaz foi ameaçado de morte, para negociar a dívida. Conhece o dono do local, um vigarista, Mike (Joe Mantegna), e faz um trato utilizando partidas de jogo como moeda de troca.

Uma fita policial nota 10, do dramaturgo e roteirista David Mamet, em sua estreia como diretor – no mundo do cinema era conhecido apenas como roteirista, tinha adaptado dois livros para as telas, com resultado caprichado, “O destino bate à sua porta”, a versão de 1981 com Jack Nicholson e Jessica Lange, e no ano seguinte “O veredicto”, com Paul Newman e a mesma Lindsay Crouse. Falando nela, está soberba no papel da psicóloga e escritora especializada em comportamentos compulsivos, que fica fascinada pelo submundo dos jogos de poker. E para ajudar um paciente endividado, envolve-se em trapaças e jogatinas sujas, num lugar clandestino frequentado por mafiosos, vigaristas, gente perigosa. Crouse compõe com exatidão uma personagem forte e controversa, pois muda de rumo na história, dessa mulher que se torna refém daquilo que era objeto de seu estudo (os jogos, até então algo sujo e imoral para seus valores).
Joe Mantegna ganhou destaque nesse filmaço policial, ou seja, foi Mamet quem o empurrou para a fama. E justamente aqui está o maior papel de sua carreira, uma composição sem meio termo entre vigarista, machista e chantageador, que repetiria outras vezes no futuro. Mamet aproveitou Mantegna em pelo menos dois filmes depois, “As coisas mudam” (1988) e em seu poderoso e premiado “Homicídio” (1991).


“O jogo de emoções” ganhou prêmio de roteiro no Festival de Veneza (indicado também lá ao Leão de Ouro), além de nomeação ao Globo de Ouro na mesma categoria. Disponível em DVD numa ótima cópia, restaurada, pela Versátil.

O jogo de emoções (House of games). EUA, 1987, 101 minutos. Policial/Drama. Colorido. Dirigido por David Mamet. Distribuição: Versátil Home Video

Cine Lançamento


Ameaça profunda

Grupo de exploradores parte para uma missão arriscada numa plataforma de mineração no fundo do oceano, a quase 10 mil metros da superfície da terra. Uma falha no sistema os deixa em estado de alerta. Enquanto se agrupam para resolver o problema, eles se deparam com terríveis criaturas marinhas.

Kristen Stewart é uma atriz que melhorou muito com o tempo. Bonita, de jeito meigo, começou novinha no cinema, aos nove anos, até ser definitivamente lançada ao estrelato com a bobeira da saga “Crepúsculo”. Chocha, sem graça, permaneceu nessa franquia teen de relativo sucesso até se encontrar com diretores de peso, que ajudaram a moldar sua carreira para melhor. Analise seus trabalhos a partir de “Na estrada” (2012), em especial em “Marcados pela guerra”, “Acima das nuvens” e “Personal shopper”. É outra atriz! Ah, o mesmo efeito se sucedeu com seu par de “Crepúsculo”, Robert Pattinson, que melhorou, entrou de cabeça em papéis sérios e perdeu pelo menos duas chances de ser indicado ao Oscar (por causa de preconceito da Academia em indicá-lo), me refiro em “Bom comportamento” e “O farol”, que, aliás, acabou de ser lançado em DVD e Bluray.

Mas o assunto aqui é Kristen Stewart, voltemos nela. Kristen lidera o elenco desse filme claustrofóbico, angustiante, que mistura terror e scifi e se passa 100% debaixo da água. Lembra “Alien”, como muita gente criticou, mas no cinema tudo se recicla, e a fórmula deu super certo. O filme trata de uma expedição na Fossa das Marianas, a quase 10 mil metros abaixo da terra, num dos lugares mais profundos do planeta. O terror tomará conta com a terrível aparição de monstros marinhos, que atacam um a um sem dó. E eles têm de correr contra o tempo devido à falta de oxigênio, explosões, vazamentos, e todos os obstáculos para um filme como esse. Agonia total para o público que tem medo de lugares fechados...
A direção de arte compreende a ideia do diretor (o cineasta William Eubank, de “O sinal – Frequência do medo”), a trilha sonora pontua o clima de tensão (do compositor de “Guerra mundial Z”, duas vezes indicado ao Oscar, Marco Beltrami), há bons efeitos visuais, e o elenco colabora – Kristen está bem, divide cena com Vincent Cassel, Mamoudou Athie, T.J. Miller e John Gallagher Jr.

Entretenimento de terror de qualidade, o filme “deu ruim” nas bilheterias por causa da pandemia – ele estreou em cartaz em 18 países entre janeiro e março desse ano, rendendo U$ 40 milhões dos U$ 80 milhões gastos; com o fechamento das salas de cinema ao redor do mundo a partir de março, deixou de estrear em mais de 30 países. Agora pode ser conferido em DVD e Bluray, numa edição cheia de extras, para colecionador.

Ameaça profunda
(Underwater). EUA, 2020, 95 minutos. Terror/Ficção científica. Colorido. Dirigido por William Eubank. Distribuição: 20th Century Fox

Cine Especial


Justa causa

O professor de Direito Paul Armstrong (Sean Connery) reabre um caso de assassinato, envolvendo uma garota, a pedido do condenado, Bobby (Blair Underwood), que está no corredor da morte. Ele afirma não ter cometido o crime e que o confessou a mando de um policial. Armstrong dá início a uma nova investigação, e viaja até o local dos fatos, nos arredores de uma comunidade na Flórida, cercada por pântanos.
Exibida várias vezes na TV, essa empolgante fita policial de investigação com reviravoltas e final surpresa tinha saído em DVD pela Warner há quase duas décadas e estava fora de catálogo. Com a nova onda de retorno das mídias físicas no Brasil, voltou em Bluray, numa cópia excelente (pena não ter extras), que recomendo aos colecionadores (é esta que assisti ontem, aliás revi o filme com prazer depois de muito tempo).
Nascido na Escócia, com uma voz memorável, Sean Connery é um ator fora de série, mesmo longe do papel de James Bond, que o imortalizou. Fez aqui um de seus últimos papéis, na época com 65 anos - uma década depois, em 2004, com problemas de saúde, deixaria o cinema (Connery completa 90 anos no próximo dia 25, mora com um cuidador de idosos, dizem sofrer de Alzheimer e doença renal crônica). Ele é um conceituado professor de Direito em Harvard que reabre um caso brutal e complicado de feminicídio. O condenado que cumpre a pena, um negro, diz não ser o criminoso, e foi forçado pela polícia a confessar o assassinato (na trama discute-se racismo, pena de morte e abuso de autoridade). Para encontrar a verdade dos fatos, viaja até o local do crime, numa comunidade fechada na Flórida, cercada de pântanos, policiais intransigentes, além de mistérios insolúveis no ar.
Prepare-se para um autêntico thriller, engenhoso, bem feito, com participações de muita gente conhecida, tem Kate Capshaw, George Plimpton, Blair Underwood, Ned Beatty, Ed Harris, Ruby Dee, Kevin McCarthy, Hope Lange, Laurence Fishburne e uma que pouca gente vai notar, Scarlett Johansson pequenina (com 10 anos).

O filme foi baseado no romance de John Katzenbach, de mesmo título, e tem direção do músico Arne Glimcher, que como diretor fez apenas quatro trabalhos (“Os reis do Mambo”, “Prenda-me se puder” e o documentário “Picasso e Braque”).

Justa causa (Just cause). EUA, 1995, 102 minutos. Suspense/Policial. Colorido. Dirigido por Arne Glimcher. Distribuição: Warner Bros.

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Dos livros para as telas


"Orlando se encontrava agora no meio do corpo amarelo de um leopardo heráldico. Quando pôs a mão no peitoril para abrir a janela, ela se coloriu no mesmo instante de vermelho, azul e amarelo, como a asa de uma borboleta. Assim, aqueles que gostam de símbolos e têm uma aptidão para decifrá-los, poderiam observar que, embora as formosas pernas, o lindo corpo e os ombros firmes estivessem todos decorados com vários matizes de luz heráldica, o rosto de Orlando, ao abrir a janela, estava iluminado apenas pelo próprio sol".

Trecho de "Orlando - Uma biografia" (1928), romance histórico com traços biográficos, escrito por Virginia Woolf, e considerado uma das obras mais acessíveis da autora britânica. Ganhou há pouco tempo no Brasil uma ótima edição em capa dura, pela editora Martin Claret (2018, 304 páginas).
Personagens e situações trazem fortes aspectos da vida da amante de Virginia, a poetisa e romancista Vita Sackville-West, e trata de uma história inusitada: um jovem inglês acorda no corpo de uma mulher imortal após uma viagem à Turquia. Por 350 anos ele viaja por vários momentos da História, e mesmo diante de contextos e mudanças sociais, seus valores nunca mudam.
Bem-humorado, inteligente, crítico, o livro modernista pré-anunciava temas que viriam a ser explorados muitas décadas depois, como questões de gênero, além de tratar da busca por liberdade, dos rumos da civilização e da própria literatura.
Em 1992 virou uma ótima versão para cinema, "Orlando, a mulher imortal", dirigido por Sally Potter, com Tilda Swinton no papel-chave - o filme recebeu indicações ao Oscar, foi premiado com o Bafta de melhor maquiagem e levou três prêmios especiais no Festival de Veneza.
"Orlando" é indispensável para qualquer leitor! Procure já essa nova edição!
Obrigado, equipe da Martin Claret, pelo envio do exmplar.



quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Lançamento em DVD


Cinefilia

A distribuidora Obras-Primas do Cinema acaba de lançar um filme e um box especial para os colecionadores e amantes da Sétima Arte. Em edição remasterizada, sai o premiado drama baseado em fatos reais "Silkwood: O retrato de uma coragem" (1983), que teve cinco indicações ao Oscar, como melhor diretor para Mike Nichols, atriz para Meryl Streep e atriz coadjuvante para Cher. Também é lançado o box em disco duplo "Lendas do faroeste", com quatro clássicos do cinema western: Caminho fatal (1942), Armado até os dentes (1955), Meu nome é ninguém (1973) e Pat Garrett & Billy the Kid (1973). Todos com cards colecionáveis e extras nos discos. Adquira já o seu!
Obrigado, equipe do OPC, pelo envio dos exemplares!




terça-feira, 4 de agosto de 2020

Dica de Leitura



"Cheguei em casa. E estou olhando para a tela há uns vinte minutos, tentando pensar em alguma coisa animada para dizer. Mas não estou conseguindo. Tá ficando cada vez mais difícil. Não acredito que eu acordei hoje de manhã com a sua cabeça encostada no meu pescoço, sua mão no meu peito. Simon, eu não consigo nem descrever como o meu quarto parece vazio. Quero voltar para a Filadélfia [...]"

Trecho de "Com amor, Creekwood" (2020), novo livro de Becky Albertalli, continuação do best seller "Com amor, Simon", que ganhou tanto versão de cinema quanto em formato de seriado. O romance acaba de ser lançado no Brasil pela editora Intrinseca (2020, 144 páginas, tradução de Ana Guadalupe) e reúne novas histórias com os quatro personagens do livro anterior, Blue, Simon, Abby e Leah. A partir de troca de emails entre eles, acompanhamos o dia a dia do quarteto na universidade, anos após a formatura na escola Creekwood. Leve e romântico, o livro é voltado ao público jovem, trazendo temas que dialogam diretamente com o universo dos adolescentes, como sexualidade, descobertas, autoconhecimento e vida universitária.
Já nas lojas! Obrigado, Intrinseca, pelo envio do exemplar.


segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Resenhas Especiais


Especial Jerry Lewis

Confira resenhas de quatro filmes com o astro da comédia Jerry Lewis, lançados em DVD pela Classicline.

A amiga da onça

Irma (Marie Wilson), com a ajuda do namorado Al (John Lund), tenta interferir na vida amorosa de sua colega de quarto, Jane (Diana Lynn), pensando no bem estar dela. Para que os planos deem certo, Al convida dois ex-atores (Jerry Leis e Dean Martin), que hoje trabalham num restaurante em Nova York, para se hospedar na casa de Irma e Jane. Eles aceitam, e o resultado será uma série de confusões.

Essa foi a fita de estreia da dupla Jerry Lewis e Dean Martin, que fez tremendo sucesso nos anos 50, e juntos atuaram em 18 longas-metragens. É uma adaptação do programa de rádio (ou ‘sitcom radiofônico’) homônimo da CBS, “My friend Irma”, que conquistou os ouvintes dos EUA entre as décadas de 40 e 50, com boa parte do elenco original aparecendo aqui: Marie Wilson, Hans Conried e Gloria Gordon (são eles os principais, Martin e Lewis são meros coadjuvantes).
A comédia, que ganharia continuação no ano seguinte, “Minha amiga maluca” (1950), reúne números musicais com Dean Martin, então com 32 anos, interpretando vários deles - pouco depois se lançaria como cantor, e em 25 anos gravaria 20 álbuns. Jerry Lewis tinha 23 anos, já demonstrava a verve cômica, com improviso de cenas, imitações com caretas únicas e, para seguir Dean Martin nas canções, interferia com a hilariante voz de pato.
Há cenas bem fotografadas pelas ruas de Nova York, em pontos turísticos como Central Park, ou seja, serve como um convite para conhecer a “Grande Maçã”.
O diretor era o já veterano George Marshall, um dos homens que mais dirigiram filmes na História do cinema, com 188 produções no currículo, desde curtas no cinema mudo (foram mais de 90 curtas entre 1916 e 1933), depois faria longas bem avaliados como “Um conde em sinuca” (1950, com Bob Hope e Lucille Ball), “Houdini, o homem miraculoso” (1953, com Tony Curtis), novamente com a dupla Jerry Lewis e Dean Martin em “Morrendo de medo” (1953) e “A barbada do biruta” (1953), vários faroestes, e encerraria a carreira com Jerry Lewis em “De caniço e samburá” (1969).
Para quem se interessou, vale a dica: boa parte dos filmes de Jerry Lewis, e muitos dele na dupla com Dean Martin, saíram em DVD pela Classicline.

A amiga da onça (My friend Irma). EUA, 1949, 102 minutos. Comédia musical. Preto-e-branco. Dirigido por George Marshall. Distribuição: Classicline


Minha amiga maluca

Al (John Lund) consegue um emprego para seus amigos ex-atores (Dean Martin e Jerry Lewis) do outro lado do país, no Oeste americano. Al parte numa viagem com eles, levando junto sua namorada Irma (Marie Wilson) e a melhor amiga dela, Jane (Diana Lynn). A proposta de trabalho se revela uma furada, ficando todos eles na mira de perigosos bandidos.

Continuação de “A amiga da onça” (1949), tão legal quanto o original, feita um ano depois com o mesmo elenco. Acrescentaram um road-movie e uma trama policial com gângsteres, jogatina em Las Vegas, sequestro, com corre-corre e muitos risos no final das contas. Novamente a dupla Jerry Lewis e Dean Martin se supera nesse segundo filmes juntos (eles fariam ainda 16 longas até o final da década de 50, quase todos sucessos imediatos de público nos Estados Unidos).
Vale lembrar que personagens, argumento, história vieram do programa de rádio “My friend Irma”, criado por Cy Howard para a radio CBS, de enorme audiência no país entre os anos 40 e 50.
Alegre, com novos números musicais e mais curto que o anterior, volta a ser um cartão postal de Nova York, com lugares legais para se conhecer – mas também fazia uma crítica à cidade grande, com poluição sonora, falta de acessibilidade etc
Em DVD pela Classicline.

Minha amiga maluca (My friend Irma goes west). EUA, 1950, 90 minutos. Comédia musical. Preto-e-branco. Dirigido por Hal Walker. Distribuição: Classicline


Sofrendo da bola

O jogador de golfe Harvey (Jerry Lewis) herdou do pai a paixão pelo esporte. Só que diante da plateia nas competições, ele fica nervoso e erra as jogadas. Para que se dê bem nos campos, contará com a ajuda de outro jogador, Joe (Dean Martin). A dupla improvável se envolverá em muitas enrascadas...

A dupla Jerry Lewis e Dean Martin estava no auge da popularidade quando fizeram esse 9º filme juntos, uma brincadeira em torno do golfe, que enaltece a modalidade esportiva (vira uma espécie de marketing do jogo). Eles estão bem, em forte sintonia, numa trama cheia de confusões, gags e músicas cantadas pela dupla. É uma fita corriqueira, divertida, que traz um título em português irrisório (o original é ‘The caddy’, que significa ‘O carregador’, ou seja, aquele profissional que carrega as bolas de golfe do jogador).
Tem momentos engraçados nas partidas de golfe, sempre com Jerry Lewis liderando o humor com as caretas e voz de pato, enquanto o charmoso Dean Martin serve de “escada” para as palhaçadas do parceiro. Naquele ano (1953) Martin se lançaria como cantor, e uma das que ele interpreta no filme recebeu indicação ao Oscar de melhor canção, justamente a que o consagraria e viraria temas de tantos outros filmes, “That’s amore” (foi tema também de “Feitiço da lua”).
No elenco há participação especial de Donna Reed, que tinha acabado de gravar o filme que lhe renderia o Oscar de coadjuvante no ano seguinte, um clássico do cinema de guerra e, claro, do cinema romântico, “A um passo da eternidade” (1953). Quem dirige é o veterano Norman Taurog, velho parceiro da dupla Martin/Lewis.
Assista e boa diversão! Em DVD pela Classicline.

Sofrendo da bola (The caddy). EUA, 1953, 95 minutos. Comédia. Preto-e-branco. Dirigido por Norman Taurog. Distribuição: Classicline 


Rabo de foguete
 
Um alienígena atrapalhado, Kreton (Jerry Lewis), viaja para a Terra e causa inúmeras confusões numa cidade.

Última parceria do diretor Norman Taurog com o fenômeno do humor Jerry Lewis, numa fita de despedida após uma década trabalhos juntos. Taurog colaborou para o estrelato tanto de Lewis quanto de seu colega de cena Dean Martin; no ano seguinte, embarcaria numa duradoura investida de filmes com o astro do rock Elvis Presley, como “Feitiço havaiano” (1961), “Garotas e mais garotas” (1962) – Presley e ele fariam mais uns nove ou dez longas de sucesso.
Indicado ao Oscar de direção de arte, “Rabo de foguete” faz uma sátira à exploração espacial, com Lewis no papel de um extraterrestre com traços humanos que pousa, durante as férias, no planeta Terra. Logicamente que haverá piadas aos montes, maluquices, o ET, por exemplo, faz os carros levitarem e até conversa com animais. E poderá até se apaixonar por uma terráquea!
Original e bem movimentado, o filme ganhou recentemente edição em DVD no Brasil pela Classicline (que lançou quase duas dezenas de filmes de Jerry Lewis, para a felicidade dos fãs, como eu). Pouco conhecido do público, vale assistir!
PS: Seis anos depois, em 1966, o ator faria outra comédia scifi de tema parecido (exploração espacial), “Um biruta em órbita”, considerado um de seus piores filmes (vi há muito tempo na TV e acho engraçadinho).

Rabo de foguete (Visit to a small planet). EUA, 1960, 78 minutos. Comédia. Preto-e-branco. Dirigido por Norman Taurog. Distribuição: Classicline