sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Resenhas Especiais



Distribuidoras relançam no mercado brasileiro dois ótimos filmes antigos

* Textos reeditados

Um lugar ao sol

George Eastman (Montgomery Clift) é um jovem ambicioso que vai para a cidade grande para trabalhar na fábrica do tio rico. Fora da empresa, inicia um relacionamento passageiro com Alice Tripp (Shelley Winters), colega de trabalho, de origem simples. Quando descobre que a garota está grávida, Eastman afasta-se dela e logo começa um namoro com Ângela (Elizabeth Taylor), uma menina rica. Quando Alice passa a ameaçá-lo para reatarem o relacionamento, o jovem elabora um desmedido plano de assassinato.

Obra-prima máxima de George Stevens, vencedor de seis prêmios da Academia, merecidos – melhor diretor, roteiro, trilha sonora (do famoso Franz Waxman), figurino, edição e fotografia; ainda recebeu indicações ao Oscar de ator (M. Clift), atriz (Shelley Winters) e filme, além do cineasta Stevens ter concorrido ao Grande Prêmio de Cannes e ao Globo de Ouro.
O drama divide-se em duas partes: no início, a saga de um rapaz humilde (o galã Clift, que morreu prematuro), ambicioso pelo poder, que chega à cidade grande em busca de um lugar ao sol. Enamora-se com uma garota pobre (Shelley Winters, em papel correto, de moça rejeitada, sofredora), funcionária da fábrica onde ambos trabalham. Ao mesmo tempo apaixona-se por uma jovem de família rica (papel de Liz Taylor, então com 17 anos, no início de carreira – nesse filme firmou o estrelato projetando-se rapidamente no mundo do cinema). Ele abandona a namorada grávida para ficar com a segunda. A partir daí tem início o segundo bloco da história, do rapaz que, para ficar com a pessoa que tanto ama, é movido pelos instintos mais desesperadores a ponto de cometer um crime, que mudará para sempre a sua rotina.


Sob a ótica peculiar do notório George Stevens, criador de clássicos memoráveis como “Assim caminha a humanidade” e “Os brutos também amam”, “Um lugar ao sol” encabeça a lista dos grandes filmes da Sétima Arte. Um drama romântico um tanto quanto pesado, trágico, sem desfecho feliz, adaptado do livro “Uma tragédia americana”, de 1925, escrito por Theodore Dreiser, que pelo título podemos entender a essência da obra.
Universaliza temas comuns do cotidiano, como crime passional, ambição e busca pelo poder, e mexe com tabus, como a jovem abandonada grávida, que será mãe solteira, em uma época em que isto era visto com maus olhos pela sociedade.
O filme foi relançado esse mês pela Classicline, em DVD – a primeira vez que saiu em DVD foi em 2011, pela Paramount, numa cópia limitada com bons extras. Obrigatório para os cinéfilos.

Um lugar ao sol (A place in the sun). EUA, 1951, 121 min. Romance/Drama. Dirigido por George Stevens. Distribuição: Classicline (DVD de 2019) e Paramount Pictures (DVD de 2011)


O segundo rosto

Vice-presidente de um importante banco, Arthur Hamilton (John Randolph) é um homem de meia-idade, casado e infeliz com sua vida pessoal e profissional. Certo dia contrata uma empresa especializada em "renascimento" com o intuito de se transformar em outra pessoa. A organização forja sua morte em um incêndio. Hamilton então passa por uma série de cirurgias plásticas, que o faz renascer na figura do pintor Antiochus Wilson (Rock Hudson). Renovado por fora, Hamilton (ou Wilson) é acometido por uma crise de identidade, tendo de lidar com os fantasmas do passado.

A distribuidora brasileira Versátil relançou recentemente no mercado brasileiro esse desafiador drama scifi de 1966, dirigido pelo notório cineasta John Frankenheimer em sua fase de ouro, na mesma década em que realizou os clássicos “O homem de Alcatraz”, “Sob o domínio do mal”, “O homem de Kiev”, “O trem” e “Grand Prix” - o filme encontra-se no box “Clássicos Sci-fi – Volume 6”, com cinco outros: “Vampiros de almas” (1956), “O homem do terno branco” (1951), “Odisseia para além do sol” (1969), “Terra tranquila” (1985) e “Viagem ao fim do universo” (1963), e acompanha cards e muitos extras nos discos.
Indicado ao Oscar de melhor fotografia (em preto-e-branco), “O segundo rosto” registra a transformação radical de um homem rico, infeliz com a vida, em um outro aparentemente bem sucedido. Tudo graças a uma misteriosa empresa, responsável em forjar mortes com o objetivo de “apagar” tal pessoa da sociedade. E como consequência devolve a mesma pessoa com aspectos físicos modificados por cirurgias (rosto, mãos etc). Hamilton “morre” ressurgindo na pele do pintor Antiochus Wilson que, em pouco tempo, sofrerá as mesmas angústias e tormentos daquele primeiro. Por fora há nova roupagem, mas por dentro o sentimento continua sem alterações.


Misturando drama com teor existencial e ficção científica, “O segundo rosto” permanece original, intenso, auxiliado pela direção de arte que lembra pesadelos, com imagens retorcidas gravadas em grande ocular, que deforma o enquadramento, provocando um ar de tormento em torno do protagonista, sem contar a coerência com o clima sombrio.
A abertura traz os letreiros inovadores do famoso designer Saul Bass, que criou os famosos créditos de “Psicose” e de outros filmes de Hitchcock, aliado a cenas de um rosto humano retorcido por efeitos de câmera.
Recebeu ainda indicação à Palma de Ouro em Cannes. Assustador, com final indigesto e frio o bastante para incomodar. Conheça. Também disponível em DVD pela Lume, que o distribuiu no Brasil em 2011.

O segundo rosto (Seconds). EUA, 1966, 107 min. Drama/Ficção científica. Dirigido por John Frankenheimer. Distribuição: Versátil (DVD/Box, de 2019) e Lume Filmes (DVD, em 2011)


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