Distribuidoras relançam no mercado
brasileiro dois ótimos filmes antigos
* Textos reeditados
Um lugar ao sol
George
Eastman (Montgomery Clift) é um jovem ambicioso que vai para a cidade grande
para trabalhar na fábrica do tio rico. Fora da empresa, inicia um
relacionamento passageiro com Alice Tripp (Shelley Winters), colega de
trabalho, de origem simples. Quando descobre que a garota está grávida, Eastman
afasta-se dela e logo começa um namoro com Ângela (Elizabeth Taylor), uma
menina rica. Quando Alice passa a ameaçá-lo para reatarem o relacionamento, o
jovem elabora um desmedido plano de assassinato.
Obra-prima
máxima de George Stevens, vencedor de seis prêmios da Academia, merecidos –
melhor diretor, roteiro, trilha sonora (do famoso Franz Waxman), figurino,
edição e fotografia; ainda recebeu indicações ao Oscar de ator (M. Clift),
atriz (Shelley Winters) e filme, além do cineasta Stevens ter concorrido ao
Grande Prêmio de Cannes e ao Globo de Ouro.
O
drama divide-se em duas partes: no início, a saga de um rapaz humilde (o galã
Clift, que morreu prematuro), ambicioso pelo poder, que chega à cidade grande
em busca de um lugar ao sol. Enamora-se com uma garota pobre (Shelley Winters,
em papel correto, de moça rejeitada, sofredora), funcionária da fábrica onde
ambos trabalham. Ao mesmo tempo apaixona-se por uma jovem de família rica
(papel de Liz Taylor, então com 17 anos, no início de carreira – nesse filme
firmou o estrelato projetando-se rapidamente no mundo do cinema). Ele abandona
a namorada grávida para ficar com a segunda. A partir daí tem início o segundo
bloco da história, do rapaz que, para ficar com a pessoa que tanto ama, é
movido pelos instintos mais desesperadores a ponto de cometer um crime, que
mudará para sempre a sua rotina.
Sob
a ótica peculiar do notório George Stevens, criador de clássicos memoráveis
como “Assim caminha a humanidade” e “Os brutos também amam”, “Um lugar ao sol”
encabeça a lista dos grandes filmes da Sétima Arte. Um drama romântico um tanto
quanto pesado, trágico, sem desfecho feliz, adaptado do livro “Uma tragédia
americana”, de 1925, escrito por Theodore Dreiser, que pelo título podemos
entender a essência da obra.
Universaliza
temas comuns do cotidiano, como crime passional, ambição e busca pelo poder, e
mexe com tabus, como a jovem abandonada grávida, que será mãe solteira, em uma
época em que isto era visto com maus olhos pela sociedade.
O
filme foi relançado esse mês pela Classicline, em DVD – a primeira vez que saiu
em DVD foi em 2011, pela Paramount, numa cópia limitada com bons extras.
Obrigatório para os cinéfilos.
Um lugar ao sol (A place in the sun). EUA, 1951, 121
min. Romance/Drama. Dirigido por George Stevens. Distribuição: Classicline (DVD
de 2019) e Paramount Pictures (DVD de 2011)
O segundo rosto
Vice-presidente
de um importante banco, Arthur Hamilton (John Randolph) é um homem de
meia-idade, casado e infeliz com sua vida pessoal e profissional. Certo dia
contrata uma empresa especializada em "renascimento" com o intuito de
se transformar em outra pessoa. A organização forja sua morte em um incêndio.
Hamilton então passa por uma série de cirurgias plásticas, que o faz renascer
na figura do pintor Antiochus Wilson (Rock Hudson). Renovado por fora, Hamilton
(ou Wilson) é acometido por uma crise de identidade, tendo de lidar com os
fantasmas do passado.
A
distribuidora brasileira Versátil relançou recentemente no mercado brasileiro esse
desafiador drama scifi de 1966, dirigido pelo notório cineasta John
Frankenheimer em sua fase de ouro, na mesma década em que realizou os clássicos
“O homem de Alcatraz”, “Sob o domínio do mal”, “O homem de Kiev”, “O trem” e
“Grand Prix” - o filme encontra-se no box “Clássicos Sci-fi – Volume 6”, com
cinco outros: “Vampiros de almas” (1956), “O homem do terno branco” (1951),
“Odisseia para além do sol” (1969), “Terra tranquila” (1985) e “Viagem ao fim
do universo” (1963), e acompanha cards e muitos extras nos discos.
Indicado
ao Oscar de melhor fotografia (em preto-e-branco), “O segundo rosto” registra a
transformação radical de um homem rico, infeliz com a vida, em um outro
aparentemente bem sucedido. Tudo graças a uma misteriosa empresa, responsável
em forjar mortes com o objetivo de “apagar” tal pessoa da sociedade. E como
consequência devolve a mesma pessoa com aspectos físicos modificados por
cirurgias (rosto, mãos etc). Hamilton “morre” ressurgindo na pele do pintor
Antiochus Wilson que, em pouco tempo, sofrerá as mesmas angústias e tormentos
daquele primeiro. Por fora há nova roupagem, mas por dentro o sentimento
continua sem alterações.
Misturando
drama com teor existencial e ficção científica, “O segundo rosto” permanece
original, intenso, auxiliado pela direção de arte que lembra pesadelos, com
imagens retorcidas gravadas em grande ocular, que deforma o enquadramento,
provocando um ar de tormento em torno do protagonista, sem contar a coerência
com o clima sombrio.
A
abertura traz os letreiros inovadores do famoso designer Saul Bass, que criou
os famosos créditos de “Psicose” e de outros filmes de Hitchcock, aliado a
cenas de um rosto humano retorcido por efeitos de câmera.
Recebeu
ainda indicação à Palma de Ouro em Cannes. Assustador, com final indigesto e
frio o bastante para incomodar. Conheça. Também disponível em DVD pela Lume,
que o distribuiu no Brasil em 2011.
O segundo rosto (Seconds). EUA, 1966, 107 min. Drama/Ficção
científica. Dirigido por John Frankenheimer. Distribuição: Versátil (DVD/Box,
de 2019) e Lume Filmes (DVD, em 2011)
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