sábado, 16 de novembro de 2019

Resenha Especial



A inocente face do terror

Em 1935, no interior dos EUA, os irmãos gêmeos Niles (Chris Udvarnoky) e Holland (Martin Udvarnoky) mantêm uma estranha relação que se complica quando acontecimentos macabros tomam conta da fazenda onde eles moram com a família.

Terror psicológico ímpar no gênero, que influenciou uma leva de filmes nas décadas seguintes, cujo desfecho segue assombroso. Foi o único filme de horror do prestigiado cineasta de fitas românticas Robert Mulligan (1925-2008), de “Verão de 42” (1971), “O preço do prazer” (1963) e, claro, do poderoso drama e obra-prima mundial “O sol é para todos” (1962), em que concorreu ao único Oscar da carreira, de melhor direção.
Criativo e denso, envolve uma série de eventos sinistros numa fazenda em Connecticut, na década de 30, em pleno calor do verão. Lá vivem dois garotos, os gêmeos idênticos Niles e Holland, com a família. O primeiro leva a vida normalmente, brincando, correndo, enquanto o segundo é tímido e sombrio, sempre escondido num galpão. A relação entre os dois meninos de 10 anos entra em colapso quando mortes na comunidade ocorrem de forma misteriosa, colocando sob suspeita Niles e Holland. Será um deles o culpado?
Veja com atenção para não confundir os personagens, pois na vida real eram gêmeos idênticos, e na tela um parece virar o outro - Chris, que interpreta Niles, o que mais aparece em cena, morreu em 2010, aos 49 anos, de doença renal; fez só esse filme, estudou teatro, mas abandonou a carreira para trabalhar em um hospital em Nova Jersey. O irmão, Martin, seguiu o mesmo rumo, apenas participou desse longa, dedicando-se ainda hoje à área de massoterapia. Pela atuação aqui percebe-se que eram bons atores, tinham potencial, infelizmente, pelos rumos que a vida dá, sucumbiram ao mundo da fama, do estrelato, da pressão. Falando em ator, tem uma participação formidável que auxilia nos ganchos da trama, a da excelente atriz alemã Uta Hagen (1919-2004), que rouba as cenas no papel da avó fielmente ligada ao garoto Niles. Não deixem que te contem o final-surpresa, que é de arrebatar!
“A inocente face do terror” é baseado no romance de Tom Tryon, um ator hoje esquecido, que fez séries e filmes, dentre eles “O cardeal” (1963), pelo qual recebeu indicação ao Globo de Ouro, e que ocasionalmente escreveu livros – além desse romance “The other”, escreveu a história de “Fedora” (1978), que virou filme de Billy Wilder, uma espécie de continuação de “Crepúsculo dos deuses”.


Prepare-se para uma experiência única no cinema de horror, que deu super certo graças à direção magistral de Mulligan, ao elenco, a uma fotografia que provoca tensão e à memorável trilha sonora de Jerry Goldsmith.
Existem duas versões em DVD no Brasil: saiu esse mês pela Classicline, e há também uma pela distribuidora Versátil, inclusa no box “Obras-primas do terror – volume 3”. Ambas têm duração de 100 minutos, a única disponível no mercado, com oito minutos a menos que a exibida nos cinemas americanos na época. Mesmo assim vale cada segundo!

A inocente face do terror (The other). EUA, 1972, 100 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por Robert Mulligan. Distribuição: Classicline (2019) e Versátil (em box, 2015)

* Publicado na coluna Middia Cinema (Middia Magazine), edição de novembro/dezembro de 2019.

Nenhum comentário: