sábado, 23 de novembro de 2019

Cine Lançamento



Klaus

Jesper (voz de Jason Schwartzman) é um carteiro enviado para uma cidadezinha congelada numa ilha do Ártico onde todo dia encontra-se com um morador ilustre, Santa Klaus (voz de J.K. Simmons), o Papai Noel.

Em sua primeira investida em animação, o Netflix acerta como nunca e não fica longe de estúdios como Disney, Pixar ou Dreamworks. Também prepara o público para o clima de Natal com esse lindíssimo filme, para todos os públicos, que é o trabalho de estreia do diretor espanhol Sergio Pablos, roteirista de “Meu malvado favorito” (2010), que por muitos anos atuou no departamento de animação da Disney, onde fez, por exemplo, “O corcunda de Notre Dame” (1996), “Planeta do tesouro” (2002) e “Rio” (2011), depois realizando “Um time show de bola” (2013).
Não espere ver mais um filme sobre o Papai Noel tradicional, que veste vermelho e entrega presente para as crianças entrando pela chaminé. O diretor Pablos escreveu o roteiro com uma pegada realista, menos mágica, uma versão que reinventa o mito do Bom Velhinho, agora personificado na figura de um carpinteiro idoso (seria uma alusão a José, pai de Jesus?). O carteiro Jesper chega à fictícia Smeerensburg, no Ártico, e aos poucos se aproxima do ermitão Klaus, um homem aparentemente rude, mas de uma sensibilidade transbordante, que aplica esse sentimento nos brinquedos de madeira que fabrica em casa. Nasce uma amizade entre os dois, enquanto bons personagens secundários entram e saem de cena, para dar o tom cômico e o valor dramático que a história necessita para atingir crianças e adultos. Prepara-se para se emocionar e aquecer o coração!


O desenho de produção é um dos pontos altos, sem falar da história, infalível para o clima dessa temporada de final de ano.
Emprestam suas vozes atores consagrados como Jason Schwartzman (no Brasil foi dublado por Rodrigo Santoro), Joan Cusack, Rashida Jones e o ganhador do Oscar J.K. Simmons. Aposto que em 2020 receberá indicação ao Oscar de animação, um candidato com grandes chances ao prêmio da Academia.

Klaus (Idem). Espanha, 2019, 96 minutos. Animação. Colorido. Dirigido por Sergio Pablos. Distribuição: Netflix

Resenha Especial



Um instante de amor

França, década de 50. Gabrielle (Marion Cottilard) é uma mulher de espírito livre, com fortes impulsos sexuais. A mãe, temendo desvios mentais da filha, a força a se casar com um simples construtor de casas, o viúvo José (Alex Brendemühl). Gabrielle não ama aquele homem, e os dois vivem uma série de desavenças conjugais. Certo dia ela aborta e é diagnosticada com problemas renais, sendo necessário um tratamento em uma clínica isolada na montanha. Ela vai sozinha para lá, onde se apaixona por um tenente gravemente doente, André (Louis Garrel).

Uma esplêndida fotografia de uma França deixada no tempo e um trabalho visceral da sempre competente Marion Cottilard ajudam e muito no andamento desse drama poderoso e sem concessões, sobre uma mulher tentando lidar com seus ímpetos sexuais enquanto vive um casamento arranjado e depois divide-se ao se apaixonar perdidamente por um homem doente, mas casado, que seria o amor de sua vida. É uma história trágica sobre paixão, perdas e reencontros transcorrida em dois tempos, o passado e o presente, com uma forte ligação entre os três personagens (a mulher, o marido e o amante) – Marion tem uma beleza incrível, uma atriz marcante, ganhou o Oscar por “Piaf – Um hino ao amor” (2007) e é sempre bom vê-la bem dirigida numa fita de arte como esta; gosto especialmente dela em “Dois dias, uma noite” (2014, pela qual foi indicada ao Oscar) e no impactante “Ferrugem e osso” (2012); compartilha com ela as cenas Louis Garrel, de “Os sonhadores” (2003), e o espanhol Alex Brendemühl, de “O médico alemão” (2013), em seus melhores papéis no cinema. A atuação primorosa do trio dá-se graças à mão perfeccionista da diretora francesa (e atriz) Nicole Garcia, que dirigiu “O adversário” (2002) e “Um belo domingo” (2013), que costuma lançar em seus filmes um tom incisivo, sem cair em convenções. Nicole também colaborou no roteiro, uma adaptação do romance homônimo da italiana Milena Agus.


Recebeu indicação à Palma de Ouro no Festival de Cannes, além de concorrer a oito prêmios no César, o “Oscar Francês”, como melhor atriz, filme, diretor e roteiro. Assista a esse drama romântico fotogênico e expressivo. Em DVD pela Mares Filmes.

Um instante de amor (Mal de pierres). França/Bélgica/Canadá, 2016, 120 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Nicole Garcia. Distribuição: Mares Filmes

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Resenha Especial



Ondas do pavor

Numa ilha distante, um ex-comandante da Alemanha na Segunda Guerra Mundial (Peter Cushing) mantém escondido soldados nazistas zumbis, que servem para ele como experimento humano. Os mortos escapam pelo mar e passam a atacar turistas da região, criando um verdadeiro caos.

Fita B de terror que ajudou a consolidar o subgênero de “zumbis nazistas” tanto nos Estados Unidos quanto em outros países, como Espanha, Itália e Noruega, intensificado nas décadas seguintes. Com orçamento pequeno, de U$ 200 mil, trazia no casting dois nomes lendários do cinema de horror, Peter Cushing e John Carradine, além da atriz Brooke Adams, fundamentais para o marketing do filme pelos corredores do mundo.
O roteiro garante doses altas de tensão. Ele se repete em situações fora do controle, com soldados zumbis saindo das águas para trucidar as vítimas numa ilha remota – o filme foi escrito e dirigido por Ken Wiederhorn, que depois faria filmes de terror como “Olhos assassinos” (1981), outro de zumbi, com mistura de comédia, muito exibido na TV antigamente, “A volta dos mortos-vivos 2” (1988), e por fim “A torre do crime” (1989, em codireção com o lendário cineasta e diretor de fotografia britânico Freddie Francis). Maquiagem ficou datada, os mortos não dão medo, porém a história prende a atenção pela novidade em mesclar Segunda Guerra, nazismo, experimentos humanos e walking dead.


Acho um dos melhores da linha de “zumbis nazistas”, que influenciou diretores de várias partes do mundo – por exemplo, tivemos depois os trash “O lago dos zumbis” (1981) e “Oásis de zumbis” (1982, de Jesús Franco), algumas de ação com horror como “Missão de risco” (2007) e o explosivo “Operação Overlord” (2018), e o mais assustador e bem acabado de todos, os excelentes cult noruegueses “Zumbis na neve 1 e 2” (de 2009 e 2014, respectivamente).
“Ondas do pavor” é um marco do gênero e merece uma revisãozinha, ainda mais agora que acaba de sair em DVD no Brasil pela Versátil no box “Zumbis no cinema – volume 4” - tem ainda na caixa “Zeder” (1983), “Os mortos-vivos” (1981) e “Zumbis do mal” (1973).
PS: O filme recebeu títulos provisórios dos fãs e até foi modificado quando exibido em TV aberta, passando a ser chamado de “Horror em alto-mar” e “Comando de mortos-vivos”.



Ondas do pavor (Shock waves). EUA, 1977, 85 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por Ken Wiederhorn. Distribuição em DVD: Versatil Home Video

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Resenhas Especiais


Confira abaixo resenha de dois filmes raros de terror disponíveis no Brasil em DVD, "Zeder" e "Zumbis do mal". Ambos lançados esse mês pela Versátil, no box 'Zumbis no cinema - Volume 4'.



Zumbis do mal


A jovem Arletty (Mariana Hill) viaja para uma pequena cidade na Califórnia em busca do pai desaparecido. Logo quando chega percebe um comportamento estranho dos habitantes do local, até descobrir que todos se apresentam como uma raça diferente de zumbis.

Fãs de terror não podem deixar de conhecer essa interessantíssima fita cult de mortos-vivos bem fora dos padrões, feita nos Estados Unidos com baixo orçamento. Não explora aquela sangueira dos filmes do gênero como fomos acostumados, a história é envolta num clima de pesadelo, com uma personagem feminina vagando pela noite entre postos de gasolina à procura do pai, um artista desaparecido. Perdida no meio do nada, cruza com estranhos zumbis (também diferentes do que vemos por aí), na verdade pessoas zumbificadas, que têm um olhar parado, contemplam a lua cheia e atacam somente quando intimidados. Na busca pelo pai ela terá duras surpresas pelo caminho.
Não é um filme ocasional, há uma intensa crítica social nas entrelinhas. Tem poucas, mas boas cenas de perseguição e desespero, e tudo foi rodado em locações, em cidadezinhas do estado da California - figurino e automóveis, por exemplo, eram dos próprios atores eprodutores, o que reforça a produção independente, com custo reduzido.
Dirigido por Willard Huyck, de “Howard, o super-herói (1986), com codireção de sua falecida esposa, Gloria Katz (que nem foi creditada), e roteiro assinado por ambos (o casal concorreu ao Oscar de melhor roteiro por “Loucuras de Verão”, feito no mesmo ano, 1973, assinado em conjunto com George Lucas.
Um terror diferentão, positivamente falando, com cara de anos 70, que serve como uma baita descoberta do gênero. E só agora tivemos acesso agora, graças à Versátil que o lançou esse mês no box “Zumbis no cinema – Vol. 4”, uma caixa com DVD duplo, contendo ainda três ótimos exemplares do gênero: “Os mortos-vivos” (1981), “Zeder” (1980) e “Ondas do pavor” (1977 – também conhecido como “Horror em alto-mar”).

Zumbis do mal (Messiah of evil). EUA, 1973, 90 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por Willard Huyck. Distribuição em DVD: Versatil Home Video


Zeder

Jornalista italiano (Gabriele Lavia) adquire uma máquina de escrever de segunda mão para datilografar seus textos. Ao fuçar no equipamento, depara-se com um terrível manuscrito marcado na fita de tinta da máquina, que fala sobre um lugar místico capaz de trazer os mortos à vida. Ele investiga o caso por conta própria, participando de uma série de terríveis acontecimentos.

Tétrico e obscuro, o terror italiano “Zeder”, também conhecido no Brasil como “A vingança dos mortos”, é um notável aperitivo raro aos cinéfilos adoradores do gênero, que vale pela história assombrada que persegue nossos pensamentos até depois de assisti-lo. O clima é de mistério e procura, com mais suspense do que o horror propriamente dito, com toques de excentricidade do diretor Pupi Avati, do mesmo modo que havia feito anos antes no estranho e profano “A casa das janelas sorridentes” (1976) – o roteiro nota 10 é assinado por ele em parceria com o irmão, Antonio Avati, a partir de um argumento original.
O curioso título, “Zeder”, referencia um velho cientista envolvido na trama macabra, Dr. Zeder, que estudou uma tal de “Zona K”, lugar onde era possível ressuscitar os mortos na cidade de Bologna. Entre flahsbacks, voltando a um tempo de 30 anos, o filme se constrói com perturbadores acontecimentos registrados em cidades da Itália e da França, dando espaço a personagens com poderes psíquicos, outros detentores de poderes sobrenaturais, que aos poucos são perseguidos por mortos-vivos que brotam de locais improváveis.
Acaba de ser lançado em DVD no Brasil, pela Versátil Home Video, no box “Zumbis no cinema – Vol. 4”, que traz ainda “Os mortos-vivos” (1981), “Zumbis do mal” (1974) e “Ondas do pavor” (1977 – conhecido como “Horror em alto-mar”).

Zeder (Idem). Itália, 1983, 98 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por Pupi Avati. Distribuição em DVD: Versatil Home Video

sábado, 16 de novembro de 2019

Resenha Especial



A inocente face do terror

Em 1935, no interior dos EUA, os irmãos gêmeos Niles (Chris Udvarnoky) e Holland (Martin Udvarnoky) mantêm uma estranha relação que se complica quando acontecimentos macabros tomam conta da fazenda onde eles moram com a família.

Terror psicológico ímpar no gênero, que influenciou uma leva de filmes nas décadas seguintes, cujo desfecho segue assombroso. Foi o único filme de horror do prestigiado cineasta de fitas românticas Robert Mulligan (1925-2008), de “Verão de 42” (1971), “O preço do prazer” (1963) e, claro, do poderoso drama e obra-prima mundial “O sol é para todos” (1962), em que concorreu ao único Oscar da carreira, de melhor direção.
Criativo e denso, envolve uma série de eventos sinistros numa fazenda em Connecticut, na década de 30, em pleno calor do verão. Lá vivem dois garotos, os gêmeos idênticos Niles e Holland, com a família. O primeiro leva a vida normalmente, brincando, correndo, enquanto o segundo é tímido e sombrio, sempre escondido num galpão. A relação entre os dois meninos de 10 anos entra em colapso quando mortes na comunidade ocorrem de forma misteriosa, colocando sob suspeita Niles e Holland. Será um deles o culpado?
Veja com atenção para não confundir os personagens, pois na vida real eram gêmeos idênticos, e na tela um parece virar o outro - Chris, que interpreta Niles, o que mais aparece em cena, morreu em 2010, aos 49 anos, de doença renal; fez só esse filme, estudou teatro, mas abandonou a carreira para trabalhar em um hospital em Nova Jersey. O irmão, Martin, seguiu o mesmo rumo, apenas participou desse longa, dedicando-se ainda hoje à área de massoterapia. Pela atuação aqui percebe-se que eram bons atores, tinham potencial, infelizmente, pelos rumos que a vida dá, sucumbiram ao mundo da fama, do estrelato, da pressão. Falando em ator, tem uma participação formidável que auxilia nos ganchos da trama, a da excelente atriz alemã Uta Hagen (1919-2004), que rouba as cenas no papel da avó fielmente ligada ao garoto Niles. Não deixem que te contem o final-surpresa, que é de arrebatar!
“A inocente face do terror” é baseado no romance de Tom Tryon, um ator hoje esquecido, que fez séries e filmes, dentre eles “O cardeal” (1963), pelo qual recebeu indicação ao Globo de Ouro, e que ocasionalmente escreveu livros – além desse romance “The other”, escreveu a história de “Fedora” (1978), que virou filme de Billy Wilder, uma espécie de continuação de “Crepúsculo dos deuses”.


Prepare-se para uma experiência única no cinema de horror, que deu super certo graças à direção magistral de Mulligan, ao elenco, a uma fotografia que provoca tensão e à memorável trilha sonora de Jerry Goldsmith.
Existem duas versões em DVD no Brasil: saiu esse mês pela Classicline, e há também uma pela distribuidora Versátil, inclusa no box “Obras-primas do terror – volume 3”. Ambas têm duração de 100 minutos, a única disponível no mercado, com oito minutos a menos que a exibida nos cinemas americanos na época. Mesmo assim vale cada segundo!

A inocente face do terror (The other). EUA, 1972, 100 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por Robert Mulligan. Distribuição: Classicline (2019) e Versátil (em box, 2015)

* Publicado na coluna Middia Cinema (Middia Magazine), edição de novembro/dezembro de 2019.

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Resenha Especial


Outro lançamento em DVD da CPC-Umes Filmes do mês de outubro/novembro!


A prisioneira do Cáucaso

Em viagem ao Cáucaso para pesquisar lendas regionais, o estudante Shurik (Aleksandr Demyanenko) se apaixona por Nina (Natalya Varley), uma charmosa atleta interessada por política. De maneira abrupta, é sequestrada por um homem poderoso, que planeja um casamento arranjado com ela. Shurik então corre contra o tempo para resgatá-la.

Uma comédia tresloucada, nonsense e com números musicais do cineasta mais popular da União Soviética, Leonid Gayday, cujos filmes quebraram recordes de público – este, assim como o que viria em seguida, “Braço de diamante” (1969), seguem intactos na lista daqueles com maior audiência, atingindo a marca de 76 milhões de pessoas. Números altíssimos, e se convertermos em dinheiro, daria uma média de um bilhão de rublos soviéticos!
O diretor e roteirista Gayday foi considerado o mestre da comédia acelerada. Seus filmes, que incluem também “As 12 cadeiras” (1971) tinham um ritmo avançado na velocidade, semelhante a desenhos animados e às fitas de comédia do cinema mudo, com gags, peripécias, aventuras malucas e reviravoltas absurdas. O nonsense está presente mais do que nunca em “A prisioneira do Cáucaso” e faz com que a trama aconteça, do sequestro no início da história até o desfecho antirromântico. Atores consagrados, amigos do diretor, retornam meio que repetindo papéis, como Yuriy Nikulin, Georgiy Vitsin e a própria garota-título, Natalya Varley.

Tudo é movimentado, rítmico e engraçado, para quem curte o humor pastelão. Sem dizer que é uma raridade, recém-descoberta pela CPC-Umes Filmes, que o lançou em DVD mês passado, numa cópia excelente da Mosfilm.
Marcante também é a trilha sonora, de Aleksandr Zatsepin, que estabeleceu longa parceria com o diretor Gayday; ele é um músico grandioso, compôs mais de 300 canções e cerca de 120 trilhas para cinema e TV (são dele “As 12 cadeiras” e “Braço de diamante”, por exemplo). Zatsepin está vivo, com 93 anos.
“A prisioneira do Cáucaso”, também conhecido como “Sequestro no Cáucaso”, está disponível em DVD. Assistam sem pestanejar, é um barato!

A prisioneira do Cáucaso (Kavkazskaya plennitsa, ili Novye priklyucheniya Shurika). URSS, 1966, 76 minutos. Aventura/Comédia. Colorido. Dirigido por Leonid Gayday. Distribuição: CPC-Umes Filmes

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Resenha Especial



Comédia de Karen Shakhnazarov acaba de sair em DVD no Brasil pela CPC-Umes Filmes!


Cidade Zero

Chefe de inspeção industrial, Aleksei Varakin (Leonid Filatov) sai em viagem de negócios partindo de Moscou, onde mora e trabalha, para uma cidadezinha no interior da Rússia. O lugar é tomado por habitantes de comportamentos bizarros. A cada hora do dia ele se envolve em uma série de acontecimentos que fogem da ordem natural, até descobrir que nunca poderá sair da cidade.

Mais uma comédia dramática de ar político de Karen Shakhnazarov, um dos mais profícuos cineastas da Rússia e que desde 1998 dirige o Mosfilm, o mais antigo estúdio de cinema do país. É uma nítida sátira sobre as transformações que a URSS passou com a derrocada do Socialismo (o filme foi rodado em 1988). A história ocorre em um dia inteiro na vida de um cidadão comum preso numa cidadezinha russa onde, sem querer, participa de situações inusitadas e absurdas, que beiram o caos. O coitado do homem, nesta viagem a negócios, vive um pesadelo real, nada pelo caminho tem nexo. Chega até a entrar num looping, em que os eventos se repetem.
Nesse diálogo direto com o cinema nonsense, meio Buñuelesco, meio Kafkiano, o diretor utiliza um humor sério e refinado (por isso para público restrito), para gerar uma reflexão acerca da reestruturação da Rússia durante a abertura econômica e política nos anos 80 (chamada de Perestroika e Glasnost), quando para os cidadãos nada parecia fazer sentido – ele aproveita também para criticar a burocracia na repartição pública que até hoje, em qualquer lugar do mundo, trava o sistema.



Shakhnazarov escreveu o brilhante roteiro com seu velho parceiro de cinema Aleksandr Borodyanskiy, onde recorrem a sequências que lembram outro filme da dupla, “Sonhos” (1993). Há passagens incrivelmente bem montadas, como o encontro do protagonista com uma secretária nua e a mais famosa delas, a visita a um museu de cera, onde o personagem central, andante e errante, não compreende o novo mundo à sua volta.
Ponto de destaque também é a trilha sonora, de Eduard Artemev, realizador de inúmeras trilhas de filmes e que assinou vários longas de Andrei Tarkovski, como “Solaris”, “O espelho” e “Stalker”.
“Cidade Zero” é o sétimo filme de Karen Shakhnazarov lançado em DVD pela CPC-Umes Filmes – a distribuidora, especializada em cinema soviético e russo, já brindou o público com raridades feitas por cineastas renomados, dentre elas “Vá e veja”, “Braço de diamante”, “O velho e o novo”, “Solaris” etc. Conheça o catálogo da CPC-Umes!

Cidade Zero (Zerograd). URSS, 1988, 101 minutos. Comédia/Drama. Colorido. Dirigido por Karen Shakhnazarov. Distribuição: CPC-Umes Filmes

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Cine Lançamento


Homem-Aranha: Longe de casa


Numa excursão da escola, Peter Parker (Tom Holland) junta-se aos colegas de classe para viajar pela Europa. Mal chega no continente é contatado por Nick Fury (Samuel L. Jackson) para desvendar estranhas destruições ao redor do mundo. Ele topa a missão. Pelo caminho irá conhecer Mysterio (Jake Gyllenhaal) e os seres elementares.

Este segundo Spider-Man protagonizado por Tom Holland sob a direção de Jon Watts integra uma nova trilogia, startada com “Homem-Aranha: De volta ao lar” (2017) e que deve ter o último filme lançado em 2021. Consegue ser melhor que o primeiro, para mim a mais empolgante das aventuras do super-herói já produzidas em Hollywood. O roteiro é cheio de complicadores e personagens que enganam, para compor um entretenimento de primeira linha, com efeitos visuais fora do comum. A história dá sequência aos eventos de “Vingadores: Ultimato” (2019), quando lá morre um personagem fundamental do universo Marvel, e que era amigo pessoal de Spider-Man. Este segue para uma viagem à Europa, interrompida para que possa salvar a humanidade depois que acontecimentos caóticos colocam o mundo em alerta. Surge a figura enigmática de Mysterio, que não sabemos se é inimigo ou não, e assim a aventura toma rumos incertos e imprevisíveis.
É a quinta vez que o jovem Tom Holland encarna Homem-Aranha – estreou em “Capitão América: Guerra civil” (2016), depois “Homem-Aranha: De volta ao lar” (2017), “Vingadores: Guerra infinita” (2018), “Vingadores: Ultimato” (2019) e agora em “Homem-Aranha: Longe de casa”. Ele é um rapaz franzino que colou bem no papel. É um poço de simpatia, sabe usar um humor discreto nos momentos certos, faz jus ao Spider Man (para mim o melhor intérprete até agora). Torna possível um filme de aventura sem limites abrilhantada pela comédia em torno de brincadeiras juvenis, reafirmando a identidade do herói, que está mais humanizado, com dilemas e crises típicas da adolescência.
Rodado em várias partes do mundo, como República Tcheca, Alemanha e Itália, onde presenciamos uma série de calamidades causadas pelos seres elementares – os efeitos são de cair o queixo, um festival de explosões bem realizadas; há uma cena especial, quando Spider Man cai num labirinto de ilusão criado por Mysterio, e no lugar o mundo é duplicado. Ideia deslumbrante!
Sai um pouco do universo Marvel para se adequar aos estúdios da Sony, que é responsável em distribuir os filmes de Homem-Aranha desde o anterior, “Homem-Aranha: De volta ao lar” (2017). Mas nada que desagrade os fãs ou fique em falta! A diversão é certeira!
Conta com aparições ilustres, de Samuel L. Jackson (novamente como Nick Fury), Marisa Tomei (como a mãe de Peter Parker), Jon Favreu, Zendaya e Jake Gyllenhaal.

Teve praticamente o mesmo custo de “De volta ao lar” (por volta de U$ 170 mi) e uma bilheteria estrondosa, atingindo o recorde de U$ 1,13 bilhão, ou seja, encabeça o pequenino grupo de filmes com arrecadação bilionária.
É o lançamento do mês em DVD e Bluray pela Sony Pictures. No disco há extras como cenas deletadas, um curta-metragem e erros de gravação.

Homem-Aranha: Longe de casa (Spider-Man: Far from home). EUA, 2019, 129 minutos. Ação. Colorido. Dirigido por Jon Watts. Distribuição: Sony Pictures

Cine Lançamento



Fratura

Durante uma viagem com a família, Ray (Sam Worthington) estaciona o carro no acostamento de uma rodovia. A filha pequena, ao sair do veículo, desequilibra-se e cai num fosso, quebrando o braço. Desesperado, o pai a leva com a esposa para o hospital mais próximo. Ao chegar lá, a menina segue para o pronto-socorro. Minutos depois Ray descobre que a mulher e a filha desapareceram misteriosamente, dando início a um pesadelo sem fim.

O diretor Brad Anderson, dos caprichados thrillers “O operário” (2004), “Expresso Transiberiano” (2008), “Chamada de emergência” (2013) e “Refúgio do medo” (2014), juntou-se ao roteirista Alan B. McElroy, de “Halloween 4: O retorno de Michael Myers” (1988), para elaborar esse suspense moderno e angustiante, produzido pela Netflix, sobre um pai desesperado em busca da esposa e da filha que somem de dentro de um hospital. A história intriga, nos deixa presos no sofá vidrados nos acontecimentos, que beiram a loucura e o macabro. É um filme difícil de ficar discorrendo sobre, pois podemos cair na tentação de contar detalhes-surpresa. Como não quero tirar o prazer de quem vai assistir, vou aguçar a curiosidade citando que há reviravoltas bem boladas, muito suspense e um desfecho que divide opinião – eu não achei tão previsível como alguns colegas comentaram, e o final condiz com a estrutura da história sem forçar a barra.


O ator inglês Sam Worthington segura o papel do protagonista até os momentos decisivos. Acompanho a carreira dele desde que ascendeu a partir de “Avatar” (2009), hoje aparece em diversas produções americanas e melhora a cada ano; “Fratura” é um de seus trabalhos mais firmes, demonstrando maturidade. Infelizmente tem aparição pequena de Lily Rabe, uma atriz de TV que eu adoro, lembrada pelas temporadas de “American Horror Story” (porém pouco aproveitada no cinema) – ela interpreta a esposa do protagonista, que desaparece com a filha pequena.
Ponto positivo para a Netflix, que investiu bem num suspense de qualidade. E tudo é tão rápido que nem vemos o tempo passar...

Fratura (Fractured). EUA, 2019, 99 minutos. Suspense. Colorido. Dirigido por Brad Anderson. Distribuição: Netflix

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Nota do Blogueiro


De olhos nos lançamentos em DVD da Obras-primas do Cinema. Estas são as amostras de setembro e outubro!
Tem a comédia musical "Febre de juventude" (1978, estreia do diretor Robert Zemeckis) e quatro boxes superespeciais: "Henri-Georges Clouzot", com quatro obras do cineasta francês - O salário do medo (1953), O assassino mora no 21 (1942), Sombra do pavor (1943) e O mistério de Picasso (1956); "Harold Lloyd", com nove curtas e quatro longas do famoso ator da comédia muda - estes são O homem mosca (1923), O calouro (1925), O caçula (1927) e Speedy (ou Harold veloz, de 1928); "Sessão anos 80 - volume 7", com quatro ótimos filmes que marcaram a década de 80 - Loverboy: Garoto de programa (1989), Willow: Na terra da magia (1988), Sobre ontem à noite (1986) e Trânsito muito louco (1985); e por último, "As pioneiras do cinema", uma caixa com 40 curtas e médias-metragens dirigidos por cineastas mulheres nos primórdios do cinema, como Alice Guy-Blaché, Cleo Madison e Lois Weber. Em todos há extras e cards colecionáveis. Uma preciosidade aos cinéfilos!
Obrigado, Obras-primas, pelo envio dos exemplares.








sábado, 2 de novembro de 2019

Resenhas Especiais


A jovem rainha

No século XVII, a rainha Cristina da Suécia (Malin Buska) investe pesado na modernização do seu país. De educação luterana, fielmente ligada aos princípios cristãos, enfrenta resistência para colocar fim à Guerra dos 30 Anos, um conflito entre protestantes e católicos na Europa que tem como saldo milhares de mortos. Em meio a uma série de mudanças drásticas tanto em sua vida como na política da Suécia, Cristina inicia um relacionamento conturbado com sua dama de companhia.

Há poucas biografias da rainha Cristina no cinema. A mais conhecida é “Rainha Christina” (1933), com Greta Garbo no papel-título. Houve também versões europeias sobre a vida dela, nem lançadas no Brasil. Este “A jovem rainha” (2015) faz um recorte polêmico (e discutível) sobre a juventude da rainha, acaba sendo uma fita de arte correta e uma ótima descoberta.
Cristina (1626-1689) governou a Suécia por 22 anos - assumiu o trono aos seis após a morte do pai, o rei Gustavo Adolfo II, e abdicou aos 28, além de ter sido princesa da Finlândia e duquesa da Estônia. Sua abdicação causou escândalo, motivada por religião: ela se converteu ao Catolicismo (era protestante), na época da Guerra dos Trinta Anos; lutou ao lado dos católicos, depois viveu isolada em Roma, atuando na área artística, como canto e teatro, considerada patrona das artes. Era uma mulher inteligente, provocou grande revolução para transformar a Suécia num país pensante e rico culturalmente. Com o tempo virou ícone do feminismo.
Este é um resumo da vida da rainha para podermos entrar no filme (alguns apontamentos do que escrevi aparecem na obra, mas a maioria não). Este drama especula um tema delicado na biografia da personagem: o relacionamento gay que Cristina teve com a condessa Ebba Sparre, uma antiga paixão juvenil, quando Ebba tornou-se dama de companhia e amiga íntima da rainha. Ela é mostrada no filme como uma figura forte, uma mulher de ferro, por vezes tirana, porém com sentimentos como qualquer outra pessoa. E teve de se resguardar com o relacionamento ambíguo com sua dama de companhia (primeiro por ser mulher, segundo pela jovem ser sua criada). O roteiro privilegia situações de conflitos pessoais, complicadores políticos e o amor proibido. O destaque é para a atuação das duas atrizes, a sueca Malin Buska, no papel da rainha, e a canadense Sarah Gadon como a condessa Ebba.


Exibido no Festival de Montreal, tem direção de finlandês Mika Kaurismäki, que tem fortes laços com o Brasil. Ele mora no Rio de Janeiro há 15 anos, é casado e pai de filhos brasileiros. Realizou os premiados dramas “Rosso” (1985) e “Três homens e uma noite fria” (2008), além de documentários. É irmão mais velho do maior cineasta da Finlândia (e um de meus preferidos), Aki Kaurismäki, de “A garota da fábrica de caixas de fósforos” (1990), “O porto” (2011) e “O homem sem passado” (2002 - indicado ao Oscar de filme estrangeiro). Em DVD pela Mares Filmes.

A jovem rainha (The girl king). Finlândia/ Alemanha/ França/ Canadá/ Suécia, 2015, 105 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Mika Kaurismäki. Distribuição: Mares Filmes


Eli

Eli (Charlie Shotwell) é um garoto com sérios problemas de saúde. Ele vive com os pais e passa por um duro tratamento para curar sua rara doença de autoimunidade. Instalado em uma nova clínica médica, é aterrorizado por estranhas manifestações, que colocam em risco a sua vida, a de seus pais e de toda a equipe médica.

Os produtores da aterrorizante série “A maldição da Residência Hill” (2018) acabam de lançar no Netflix este bom terror sobrenatural, escrito pela dupla de roteiristas Ian Goldberg e Richard Naing, de “A autópsia” (2016, um dos filmes mais perturbadores que vi nos últimos anos). É uma produção modesta, regular, com momentos de tensão, sustos e muitas chamas!
Os investimentos do Netflix em fitas de terror crescem numa ordem descomunal. Se repararmos no catálogo há umas 60 produções próprias do gênero, no entanto, raríssimos são os exemplos dignos; a maioria é filme fajuto, mal realizado, com desfecho boboca. “Eli” está bem acima do esperado, vale uma espiadinha para quem curte terror com clima sobrenatural.
No elenco há o garoto Charlie Shotwell (de “Capitão Fantástico” e “Todo o dinheiro do mundo”), Kelly Reilly (de “O voo” e “Orgulho & preconceito”), e participação especial de Lili Taylor (de filmes de horror como “A casa amaldiçoada” e “Invocação do mal”). Dirige Ciarán Fox, realizador de obras de terror como “Citadel” (2012) e “A entidade 2” (2015).

Eli (Idem). EUA, 2019, 98 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por Ciarán Fox. Distribuição: Netflix

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Resenhas Especiais



Distribuidoras relançam no mercado brasileiro dois ótimos filmes antigos

* Textos reeditados

Um lugar ao sol

George Eastman (Montgomery Clift) é um jovem ambicioso que vai para a cidade grande para trabalhar na fábrica do tio rico. Fora da empresa, inicia um relacionamento passageiro com Alice Tripp (Shelley Winters), colega de trabalho, de origem simples. Quando descobre que a garota está grávida, Eastman afasta-se dela e logo começa um namoro com Ângela (Elizabeth Taylor), uma menina rica. Quando Alice passa a ameaçá-lo para reatarem o relacionamento, o jovem elabora um desmedido plano de assassinato.

Obra-prima máxima de George Stevens, vencedor de seis prêmios da Academia, merecidos – melhor diretor, roteiro, trilha sonora (do famoso Franz Waxman), figurino, edição e fotografia; ainda recebeu indicações ao Oscar de ator (M. Clift), atriz (Shelley Winters) e filme, além do cineasta Stevens ter concorrido ao Grande Prêmio de Cannes e ao Globo de Ouro.
O drama divide-se em duas partes: no início, a saga de um rapaz humilde (o galã Clift, que morreu prematuro), ambicioso pelo poder, que chega à cidade grande em busca de um lugar ao sol. Enamora-se com uma garota pobre (Shelley Winters, em papel correto, de moça rejeitada, sofredora), funcionária da fábrica onde ambos trabalham. Ao mesmo tempo apaixona-se por uma jovem de família rica (papel de Liz Taylor, então com 17 anos, no início de carreira – nesse filme firmou o estrelato projetando-se rapidamente no mundo do cinema). Ele abandona a namorada grávida para ficar com a segunda. A partir daí tem início o segundo bloco da história, do rapaz que, para ficar com a pessoa que tanto ama, é movido pelos instintos mais desesperadores a ponto de cometer um crime, que mudará para sempre a sua rotina.


Sob a ótica peculiar do notório George Stevens, criador de clássicos memoráveis como “Assim caminha a humanidade” e “Os brutos também amam”, “Um lugar ao sol” encabeça a lista dos grandes filmes da Sétima Arte. Um drama romântico um tanto quanto pesado, trágico, sem desfecho feliz, adaptado do livro “Uma tragédia americana”, de 1925, escrito por Theodore Dreiser, que pelo título podemos entender a essência da obra.
Universaliza temas comuns do cotidiano, como crime passional, ambição e busca pelo poder, e mexe com tabus, como a jovem abandonada grávida, que será mãe solteira, em uma época em que isto era visto com maus olhos pela sociedade.
O filme foi relançado esse mês pela Classicline, em DVD – a primeira vez que saiu em DVD foi em 2011, pela Paramount, numa cópia limitada com bons extras. Obrigatório para os cinéfilos.

Um lugar ao sol (A place in the sun). EUA, 1951, 121 min. Romance/Drama. Dirigido por George Stevens. Distribuição: Classicline (DVD de 2019) e Paramount Pictures (DVD de 2011)


O segundo rosto

Vice-presidente de um importante banco, Arthur Hamilton (John Randolph) é um homem de meia-idade, casado e infeliz com sua vida pessoal e profissional. Certo dia contrata uma empresa especializada em "renascimento" com o intuito de se transformar em outra pessoa. A organização forja sua morte em um incêndio. Hamilton então passa por uma série de cirurgias plásticas, que o faz renascer na figura do pintor Antiochus Wilson (Rock Hudson). Renovado por fora, Hamilton (ou Wilson) é acometido por uma crise de identidade, tendo de lidar com os fantasmas do passado.

A distribuidora brasileira Versátil relançou recentemente no mercado brasileiro esse desafiador drama scifi de 1966, dirigido pelo notório cineasta John Frankenheimer em sua fase de ouro, na mesma década em que realizou os clássicos “O homem de Alcatraz”, “Sob o domínio do mal”, “O homem de Kiev”, “O trem” e “Grand Prix” - o filme encontra-se no box “Clássicos Sci-fi – Volume 6”, com cinco outros: “Vampiros de almas” (1956), “O homem do terno branco” (1951), “Odisseia para além do sol” (1969), “Terra tranquila” (1985) e “Viagem ao fim do universo” (1963), e acompanha cards e muitos extras nos discos.
Indicado ao Oscar de melhor fotografia (em preto-e-branco), “O segundo rosto” registra a transformação radical de um homem rico, infeliz com a vida, em um outro aparentemente bem sucedido. Tudo graças a uma misteriosa empresa, responsável em forjar mortes com o objetivo de “apagar” tal pessoa da sociedade. E como consequência devolve a mesma pessoa com aspectos físicos modificados por cirurgias (rosto, mãos etc). Hamilton “morre” ressurgindo na pele do pintor Antiochus Wilson que, em pouco tempo, sofrerá as mesmas angústias e tormentos daquele primeiro. Por fora há nova roupagem, mas por dentro o sentimento continua sem alterações.


Misturando drama com teor existencial e ficção científica, “O segundo rosto” permanece original, intenso, auxiliado pela direção de arte que lembra pesadelos, com imagens retorcidas gravadas em grande ocular, que deforma o enquadramento, provocando um ar de tormento em torno do protagonista, sem contar a coerência com o clima sombrio.
A abertura traz os letreiros inovadores do famoso designer Saul Bass, que criou os famosos créditos de “Psicose” e de outros filmes de Hitchcock, aliado a cenas de um rosto humano retorcido por efeitos de câmera.
Recebeu ainda indicação à Palma de Ouro em Cannes. Assustador, com final indigesto e frio o bastante para incomodar. Conheça. Também disponível em DVD pela Lume, que o distribuiu no Brasil em 2011.

O segundo rosto (Seconds). EUA, 1966, 107 min. Drama/Ficção científica. Dirigido por John Frankenheimer. Distribuição: Versátil (DVD/Box, de 2019) e Lume Filmes (DVD, em 2011)