sábado, 17 de agosto de 2019

Resenhas Especiais



Primeiro ano

Antoine (Vincent Lacoste) matricula-se pela terceira vez no primeiro ano de faculdade de Medicina em Paris. Fica amigo de Benjamin (William Lebghil), um estudante que saiu direto do Ensino Médio para a universidade, considerado um garoto prodígio. Num ambiente marcado pela competição e por altas horas de estudos, Antoine e Benjamin precisarão abrir mão de velhos hábitos para encarar a longa jornada em busca de conhecimento para se tornar médicos.

Terceira parte da trilogia sobre o mundo da Medicina iniciada em “Hipócrates” (2014), seguida de “Insubstituível” (2016), criada pelo diretor francês Thomas Lilti, que na verdade é um médico, que atua como “médico de família” nas províncias. Nos três filmes de drama ele discute a dedicação incessante do médico, os dilemas da profissão e a ética, em tom leve, contemplativo. Em “Primeiro ano” (2018) trouxe de volta o jovem ator de “Hipócrates”, Vincent Lacoste, que aparece em quase todos os filmes franceses atuais (ele tem 26 anos, começou a carreira aos 16 e já estrelou 35 produções). Agora ele não é mais um residente e sim um estudante que desistiu duas vezes da faculdade de Medicina e resolveu retornar aos estudos. Com problemas de relacionamento, aceitação e foco, torna-se amigo de um rapaz oposto a ele, que gosta de estudar e ensinar os outros (logicamente este também tem suas dificuldades, em outras áreas). Juntos terão de encontrar equilíbrio emocional para não desistirem.
A dupla Vincent Lacoste e William Lebghil compõem o retrato fiel dos adolescentes angustiados no sacrificante mundo da universidade (ainda mais do campo médico, exigente ao extremo). Eles estão bem, alternando emoções, condizem com o papel encenado.


O diretor Thomas Lilti insere em seus roteiros traços biográficos, do que viu e viveu na Medicina. Tem propriedade para discursar sobre o tema, optando pela discrição, sem apelos ou exageros. Em “Primeiro ano” obteve autorização para gravar dentro do Instituto de Medicina da renomada Universidade Paris-Descartes (ou Paris V, do Grupo Sorbonne), legitimando o cenário, as convenções, os personagens, e assim encerra adequadamente a trilogia – ela fez tanto sucesso nos cinemas da França que o cineasta criou uma série para a TV chamada “Hippocrate” (2018), o mesmo título do primeiro filme, uma espécie de “Plantão Médico”, retornando ao dia a dia dos estudantes de Medicina num hospital.

Primeiro ano (Première année). França, 2018, 92 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Thomas Lilti. Distribuição: Focus Filmes


Estás me matando, Susana

Numa manhã Eligio (Gael García Bernal) acorda e percebe que a esposa Susana (Verónica Echegui) desapareceu sem deixar vestígios. Desesperado, procura pistas com amigos, sem sucesso. Ao desconfiar que ela viajou para Iowa, nos Estados Unidos, parte da Cidade do México, onde moravam, em busca da mulher. Nessa ampla jornada Eligio ficará frente a frente com seus velhos demônios.

Comédia dramática coproduzida entre Estados Unidos, Canadá e México, com diálogos a mil, de narrativa lenta e com ar cult, estrelada pelo ator mais popular do México, Gael García Bernal (já ganhador do Globo de Ouro, de prêmios especiais em Cannes, Veneza etc). Ele é a alma do filme, bem fotografado nos variados planos abertos e fechados – o ator usufrui ampla carreira internacional, inclusive virá ao Brasil em outubro para a abertura da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, onde lançará junto com Wagner Moura o thriller “Wasp network” (2019).
“Estás me matando, Susana” retrata a jornada interminável de um homem carente na tentativa de reconciliação com a esposa, que o deixou sem motivo aparente. Com diálogos sinceros, uns bem doloridos, tem uma ou outra reviravolta marcante, sempre em torno do protagonista Eligio, prestes a enlouquecer. “Se amas, deixa-a livre. Se ela não voltar, vá atrás” é a tagline do pôster, que ajuda a compreender as idas e vindas do casal em crise, quando tudo parece já ter chegado ao fim.


Trabalho autoral do mexicano Roberto Sneider, produtor de “Frida” (2002) e diretor de “Arranca-me a vida” (2008), com roteiro e produção dele, baseado no romance “Ciudades desiertas” (1982), de José Agustín.
Vale pelo trabalho do ator principal e pela bonita fotografia, com locações na neve (o filme se passa nos Estados Unidos, mas foi gravado no inverno do Canadá). Para público específico, acostumado a um tipo de cinema mais dialogado, reflexivo, com pouca ação. Em DVD pela Focus.

Estás me matando, Susana (Me estás matando Susana). México/EUA/Canadá, 2016, 100 minutos. Comédia dramática. Colorido. Dirigido por Roberto Sneider. Distribuição: Focus Filmes

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