sábado, 3 de agosto de 2019

Resenhas Especiais



A garota na névoa

O investigador Vogel (Toni Servillo) dá início a uma incessante busca por uma garota de 16 anos desaparecida nos Alpes italianos.

Fez grande sucesso nos cinemas da Itália esse thriller de investigação baseado no best seller de mesmo título do escritor e jornalista Donato Carrisi, que adaptou o roteiro para cinema e ainda por cima dirigiu (é a estreia dele como diretor). Ocupou várias funções para fidelizar ao extremo o argumento criado por ele.
O trunfo consiste no enredo engenhoso sob forte clima de tensão, que segura o público até os segundos finais, num desfecho surpreendente. Deve-se prestar atenção nos diálogos cheio de pistas e nos detalhes das ações dos personagens para que se compreenda melhor o final.
Tudo gira ao redor de uma jovem que some quando sai de casa, num dia de muita névoa, na cidade montanhosa de Avechot, cravada nos Alpes congelados. Um detetive com métodos nada convencionais é convocado para decifrar o enigma, passando a interrogar uma série de pessoas da comunidade. Ele vasculha por pistas, percebe fatos obscuros por trás do sumiço até que um suspeito é preso despertando o frisson da mídia.


Quem se destaca é o ator Toni Servillo, como o detetive solitário em busca de respostas para o difícil caso de desaparecimento; ele é um dos atores italianos mais famosos da atualidade, trabalhou em vários filmes de Paolo Sorrentino, como “Um homem a mais” (2001), “As consequências do amor” (2004), “A grande beleza” (2013) e do novo “Loro” (2018) – também se destacou em “Gomorra” (2008), “Viva a liberdade” (2013) e “As confissões” (2016). Ele é 100% do filme, aparecem pouquíssimos coadjuvantes, dentre eles Jean Reno, como o psiquiatra do protagonista, e a atriz Greta Scacchi, no papel de uma jornalista na cadeira de rodas. Curiosidade legal: em duas cenas toca a música “Dança da solidão”, na voz de Beth Carvalho!
Se você curte suspense com final surpresa irá aprovar “A garota na névoa”. A fita ganhou o David di Donatello de melhor direção e concorreu a três prêmios lá (roteiro, design de produção e edição) – é a premiação de cinema mais importante da Itália, entregue pela Academia de Cinema do país e considerado o “Oscar italiano”.

A garota na névoa (La ragazza nella nebbia). Itália/Alemanha/França, 2017, 128 minutos. Suspense. Colorido. Dirigido por Donato Carrisi. Distribuição: Focus Filmes



Em busca da liberdade

Primeiro medalhista de ouro da China e também um dos maiores nomes da corrida da Escócia, o atleta Eric Liddell (Joseph Fiennes) regressa às pressas a Tianjin, sua cidade natal, localizada na China, ocupada pelos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial. Ele é preso e levado para o campo de concentração, iniciando sua derradeira jornada espiritual.

Delicado (e pouco visto) drama independente baseado na biografia do atleta medalhista de Ouro Eric Liddell (1902-1945), com Joseph Fiennes, lembrado pelo público por “Shakespeare apaixonado” (1998) e “Círculo de fogo” (2001), que interpreta com seriedade e realismo o papel do protagonista torturado no campo de concentração, numa história comovente que fala ao coração, sobre fé, sobre a monstruosidade da guerra e de como o esporte pode implodir os obstáculos da vida.
Descendente de escoceses, mas nascido e radicado na China, Eric Liddell era filho de um reverendo, que voltou ao Reino Unido para estudar Ciências na Universidade de Edimburgo. No ambiente acadêmico envolveu-se com o esporte representando a faculdade em competições de atletismo até ser convocado para os Jogos Olímpicos de 1924, em Paris (um fato que o marcou para sempre e ficou mundialmente conhecido foi sua recusa em correr num dos dias por ser domingo, data reservada para honrar a Deus) – todos esses fatos estão registrados no filme “Carruagens de fogo”, de 1981, que ganhou quatro Oscars, como o de melhor filme. “Em busca da liberdade” trata de outro momento da vida do personagem, posterior à juventude destinada ao esporte, de quando retornou à China para atuar como missionário, causa que seus pais também se dedicaram. O filme é dramático, triste e foca na guerra, de quando Liddell foi preso pelos japoneses e conduzido à força ao campo de concentração onde viu de perto os horrores e atrocidades do ser humano. Mesmo assim não perdeu a humanidade; com fé e esperança tentou se salvar e ajudar vítimas como ele.


Rodado na verdadeira Tianjin, cidade portuária da China, o drama estreou em 2016 e foi escrito e dirigido pelo cineasta de Hong Kong Stephen Shin, produtor de cinema de ação dos anos 80 e 90, de filmes como “Perseguição explosiva” (1989), “Porto da morte” (1991) e do indicado ao Bafta “A assassina” (2015). Saiu em DVD no Brasil pela Flashstar e vale ser conhecido.

Em busca da liberdade (On wings of eagles). EUA/China/Hong Kong, 2016, 96 minutos. Drama/Guerra. Colorido. Dirigido por Stephen Shin. Distribuição: Flashstar

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