"Toda essa sociedade tomou-a Míchkin como moeda de lei, ouro puro, sem liga. Toda essa gente se achava, essa noite, como que por privilégio, no mais feliz estado de espírito e muito contente de si. Todos, sem exceção, sabiam que estavam, com a sua visita, prestando uma grande honra aos Epantchín. Mas pobre dele, Míchkin! Não suspeitava existirem tais sutilezas. Não suspeitava, por exemplo, que, conquanto os Epantchín estivessem considerando um passo tão importante para decisão do futuro de sua filha, ousariam deixar de exibi-lo, a ele, Príncipe Liév Nikoláievitch, ao velho dignatário que era reconhecidamente o patrono da família".
Trecho de "O idiota", um dos maiores clássicos da literatura russa, escrito por Fiódor Dostoiévski e publicado originalmente em 1869. Neste romance de base humanista, conhecemos a trágica história do príncipe Liév Nikoláievitch Míchkin, um idealista cristão, internado em um sanatório por sofrer de epilepsia. Quando sai de lá, tenta se readaptar em uma sociedade corrompida e preconceituosa, que o considera inútil, "um idiota".
O livro tem traços autobiográficos, pois Dostoiévski, na época, sofria de epilepsia, estava endividado e sentia rejeição da sociedade. O autor, segundo consta, inspirou-se na literatura de Miguel de Cervantes e Charles Dickens para escrever o livro, que demorou dois anos para ficar pronto. Em 1951 o diretor Akira Kurosawa adaptou a história para o cinema, passando-se agora no Japão, num de seus filmes mais importantes da década de 50.
"O idiota" acaba de sair no Brasil em uma edição de luxo, com capa dura, pela editora Martin Claret (2019, 712 páginas, tradução de José Geraldo Vieira). Já disponível nas livrarias!
Obrigado, equipe da M. Claret, pelo envio do exemplar :)
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