Moonrise
Kingdom
Verão de 1965. Em uma
ilha na costa da Nova Inglaterra, Sam (Jared Gilman) e Suzy (Kara Hayward), duas
crianças de 12 anos, apaixonam-se e resolvem fugir para o campo após um pacto
secreto. Os pais da garota (Bill Murray e Frances McDormand) mobilizam a
comunidade para encontrar os fujões. A polícia entra na busca, e os escoteiros
ajudam sensibilizados. Enquanto isso, uma tempestade devastadora está prestes a
atingir a ilha.
Indicado ao Oscar de
melhor roteiro original em 2013, “Moonrise Kingdom” é uma curiosa produção
independente da Focus Features e da Indian Paintbrush, distribuída no mercado
brasileiro em DVD e Blu-Ray pela Universal. Pena que não traduziram o título, de
pronúncia complicada, o que dificulta o acesso ao público – “Moonrise Kingdom”
significa “Reino da lua nascente”, algo simbólico que, diretamente, não tem
nada a ver com a história.
A obra escapa da
estrutura convencional das produções de Hollywood. O motivo é fácil descobrir: o
diretor, produtor e roteirista Wes Anderson, um dos mais criativos em atividade.
Ele injeta ar cult ao desconstruir a narrativa, com fragmentação da trama,
concebe cenários e figurinos próprios, com cores não usuais, de tons fortes e
vibrantes, e recorre a posições inusitadas de câmera, gerando ângulos
esquisitos, fora do comum. Anderson imprime com vigor sua marca nos trabalhos –
fez comédias tristonhas com teor anárquico, como “Os excêntricos Tenembaums”, e
sempre incursa por uma linha mágica de viagem ao desconhecido, que pode ser visto
em “A vida marinha com Steve Zissou” e nos dois de seus melhores filmes,
“Viagem a Darjeeling” e este “Moonrise Kingdom”, a jornada de dois pequenos
amantes em uma fuga mirabolante para viverem juntos. Sam e Suzy são duas
crianças sonhadoras e rejeitadas por serem weirdo (estranhas, vistas como
‘retardadas’, de poucos amigos); ele, um menino perspicaz, de óculos grossos, que
na calada da noite sai escondido do acampamento de escoteiros para se encontrar
com a garota que conhecera um ano antes e por quem está apaixonado; ela, a
pequena estranha, fechada, foge de casa e segue até o local marcado para
iniciar o romance com o garoto. Fogem juntos para o campo, adentrando por
esplêndidas paisagens costeiras de Nova Inglaterra, para viver a dois como
adultos, porém ainda com as ingenuidades pueris, no estilo primeiro amor de
infância.
Do outro lado da
ilha, os pais de Suzy, desesperados, buscam pelo paradeiro dela, com apoio da
polícia e dos escoteiros, enquanto uma tempestade dá sinais de uma futura devastação.
Com elementos
pictóricos inusitados, vários deles bizarros (o brinco de besouros, a flechada
no olho do escoteiro rival), impactados pelas cores intensas e os
enquadramentos que rompem o padrão, Wes Anderson cria um retrato fantástico
sobre as descobertas no mundo da criança seguidas das experiências fundamentais
para o ritual de passagem para a adolescência.
O brilhantismo da abertura
do filme com a fantasmagórica trilha crescente de Alexander Desplat dá a dimensão
do que vem pela frente. Uma aventura original, de visual marcante, e que, das
obras de Wes Anderson, torna-se a mais acessível ao grande público. Mas, é
claro, quem conhece o cinema autoral de Anderson estará mais à vontade para
apreciar o resultado.
Como de praxe, o
diretor escala o elenco com famosos em papéis pequenos; dentre os coadjuvantes
destacam-se Edward Norton (o chefe dos escoteiros), Bruce Willis (o xerife),
Frances McDormand e Bill Murray (os pais da menina), Tilda Swinton (a assistente
social), Bob Balaban (o apresentador da história), Jason Schwartzman (parceiro
de outros filmes do cineasta, aqui na pele de outro escoteiro-líder) e Harvey
Keitel (o comandante geral responsável pelos escoteiros). Não perca. Por Felipe Brida
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