sábado, 23 de março de 2013

Cine Lançamento



Moonrise Kingdom

Verão de 1965. Em uma ilha na costa da Nova Inglaterra, Sam (Jared Gilman) e Suzy (Kara Hayward), duas crianças de 12 anos, apaixonam-se e resolvem fugir para o campo após um pacto secreto. Os pais da garota (Bill Murray e Frances McDormand) mobilizam a comunidade para encontrar os fujões. A polícia entra na busca, e os escoteiros ajudam sensibilizados. Enquanto isso, uma tempestade devastadora está prestes a atingir a ilha.

Indicado ao Oscar de melhor roteiro original em 2013, “Moonrise Kingdom” é uma curiosa produção independente da Focus Features e da Indian Paintbrush, distribuída no mercado brasileiro em DVD e Blu-Ray pela Universal. Pena que não traduziram o título, de pronúncia complicada, o que dificulta o acesso ao público – “Moonrise Kingdom” significa “Reino da lua nascente”, algo simbólico que, diretamente, não tem nada a ver com a história.
A obra escapa da estrutura convencional das produções de Hollywood. O motivo é fácil descobrir: o diretor, produtor e roteirista Wes Anderson, um dos mais criativos em atividade. Ele injeta ar cult ao desconstruir a narrativa, com fragmentação da trama, concebe cenários e figurinos próprios, com cores não usuais, de tons fortes e vibrantes, e recorre a posições inusitadas de câmera, gerando ângulos esquisitos, fora do comum. Anderson imprime com vigor sua marca nos trabalhos – fez comédias tristonhas com teor anárquico, como “Os excêntricos Tenembaums”, e sempre incursa por uma linha mágica de viagem ao desconhecido, que pode ser visto em “A vida marinha com Steve Zissou” e nos dois de seus melhores filmes, “Viagem a Darjeeling” e este “Moonrise Kingdom”, a jornada de dois pequenos amantes em uma fuga mirabolante para viverem juntos. Sam e Suzy são duas crianças sonhadoras e rejeitadas por serem weirdo (estranhas, vistas como ‘retardadas’, de poucos amigos); ele, um menino perspicaz, de óculos grossos, que na calada da noite sai escondido do acampamento de escoteiros para se encontrar com a garota que conhecera um ano antes e por quem está apaixonado; ela, a pequena estranha, fechada, foge de casa e segue até o local marcado para iniciar o romance com o garoto. Fogem juntos para o campo, adentrando por esplêndidas paisagens costeiras de Nova Inglaterra, para viver a dois como adultos, porém ainda com as ingenuidades pueris, no estilo primeiro amor de infância.
Do outro lado da ilha, os pais de Suzy, desesperados, buscam pelo paradeiro dela, com apoio da polícia e dos escoteiros, enquanto uma tempestade dá sinais de uma futura devastação.
Com elementos pictóricos inusitados, vários deles bizarros (o brinco de besouros, a flechada no olho do escoteiro rival), impactados pelas cores intensas e os enquadramentos que rompem o padrão, Wes Anderson cria um retrato fantástico sobre as descobertas no mundo da criança seguidas das experiências fundamentais para o ritual de passagem para a adolescência.
O brilhantismo da abertura do filme com a fantasmagórica trilha crescente de Alexander Desplat dá a dimensão do que vem pela frente. Uma aventura original, de visual marcante, e que, das obras de Wes Anderson, torna-se a mais acessível ao grande público. Mas, é claro, quem conhece o cinema autoral de Anderson estará mais à vontade para apreciar o resultado.
Como de praxe, o diretor escala o elenco com famosos em papéis pequenos; dentre os coadjuvantes destacam-se Edward Norton (o chefe dos escoteiros), Bruce Willis (o xerife), Frances McDormand e Bill Murray (os pais da menina), Tilda Swinton (a assistente social), Bob Balaban (o apresentador da história), Jason Schwartzman (parceiro de outros filmes do cineasta, aqui na pele de outro escoteiro-líder) e Harvey Keitel (o comandante geral responsável pelos escoteiros). Não perca. Por Felipe Brida

Moonrise Kingdom (Idem). EUA, 2012, 93 min. Aventura/ Comédia. Dirigido por Wes Anderson. Distribuição: Universal

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