segunda-feira, 18 de março de 2013

Cine Lançamento



Selvagens

Em Laguna Beach, no sul da Califórnia, os amigos Ben (Aaron Taylor-Johnson) e Chon (Taylor Kitsch) trabalham juntos coordenando um centro de distribuição de maconha. O negócio é lucrativo, e eles vivem seus melhores dias, dividindo inclusive a mesma mulher, a charmosa Ophelia (Blake Lively). Certo dia, a chefe do cartel mexicano, Elena (Salma Hayek), e seu braço direito, o agente Lado (Benicio Del Toro), tentam montar sociedade com Ben e Chon. Eles não aceitam a proposta, o que faz com que Ophelia seja seqüestrada pelos aliados de Elena. Os dois organizam um plano para resgatar a jovem, enfrentando policiais corruptos e assassinos sanguinários com armas potentes.

Já premiado com três Oscars (como roteirista em “O expresso da meia-noite” e duas como diretor, pelos dramas de guerra “Platoon” e “Nascido em 4 de Julho”), Oliver Stone anda numa fase bagunçada da carreira. Usuário de drogas diversas e criador de escândalos e vexames diante da mídia, perdeu o prestígio há um bom tempo. Vira e mexe tenta se recuperar rodando fitas cada vez mais descartáveis e de gosto duvidoso, que leva uma surra da crítica americana e também da estrangeira (repare só, de uma década para cá, fez o sofrível “Alexandre”, o fraco “As torres gêmeas”, o já esquecido “W.”, sobre o presidente George W. Bush, o documentário parcial sobre o Socialismo “Ao sul da fronteira”, que muita gente detestou, e o melhor até agora, “Wall Street: O dinheiro nunca dorme”, uma continuação feliz do seu “Wall Street” dos anos 80). E no ano passado dirigiu uma produção bem pessoal, escrevendo também o roteiro baseado no livro de Don Winslow, “Selvagens”. No final das contas, um filme desconexo, confuso e arrastado. No Brasil, passou despercebido nos cinemas e saiu em DVD em versão estendida (10 minutos a mais que a de cinema, totalizando 141 cansativos minutos).
Inicia com uma cena esquisita de Blake Lively na praia, numa aparente viagem interior, uma possível alucinação que gera toda a trama de amor e vingança em Laguna Beach. Logo conhecemos um número exorbitante de personagens mal desenvolvidos, desde os empresários do ramo de maconha muy amigos (Aaron Taylor-Johnson e Taylor Kitsch) à gente corrupta, de má reputação, loucos por dinheiro e por sangue (John Travolta, Salma Hayek, Benicio Del Toro etc).
Há um triângulo amoroso que não dá para engolir – os três vivem numa vibe de sexo e drogas o filme inteiro, situações inverossímeis com táticas de guerrilha urbana, resoluções infelizes e sem amarração, citações de Buda deslocadas do contexto (sublima-se a violência sem perdão, e pouco a pouco o diretor apazigua os ânimos com pensamentos de paz interior, o que não dá liga à índole dos personagens, que são inescrupulosos). A fita é tão irregular e desastrosa que nem o elenco tenta se salvar; é o pior momento na carreira de quase todos eles, em especial Del Toro e Hayek – até porque nem temos como defender Kitsch e Travolta, certo?
Enfim, mais um trabalho em que Oliver Stone erra a mão bruscamente, reafirmando a ausência de bom senso na hora de dirigir. Triste fim para um cineasta aclamado, que assinou obras talentosas que explora a angústia das guerras (“Salvador – O martírio de um povo”, “Platoon”, “Nascido em 4 de Julho” e “Entre o céu e a terra”), deu vida a duras biografias de personagens lendários (“JFK – A pergunta que não quer calar”, “The Doors” e “Nixon”) e fuçou em temas de impacto na sociedade (“Wall Street” e “Verdades que matam”).  Em “Selvagens” tudo caminha mal, tudo está feio e perdido. Vamos portanto nos salvar desse delírio inoportuno. Por Felipe Brida

Selvagens (Savages). EUA, 2012, 141 min. Policial/Drama. Dirigido por Oliver Stone. Distribuição: Universal

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