Em Laguna Beach, no
sul da Califórnia, os amigos Ben (Aaron Taylor-Johnson) e Chon (Taylor Kitsch) trabalham
juntos coordenando um centro de distribuição de maconha. O negócio é lucrativo,
e eles vivem seus melhores dias, dividindo inclusive a mesma mulher, a charmosa
Ophelia (Blake Lively). Certo dia, a chefe do cartel mexicano, Elena (Salma
Hayek), e seu braço direito, o agente Lado (Benicio Del Toro), tentam montar sociedade
com Ben e Chon. Eles não aceitam a proposta, o que faz com que Ophelia seja
seqüestrada pelos aliados de Elena. Os dois organizam um plano para resgatar a
jovem, enfrentando policiais corruptos e assassinos sanguinários com armas
potentes.
Já premiado com três
Oscars (como roteirista em “O expresso da meia-noite” e duas como diretor,
pelos dramas de guerra “Platoon” e “Nascido em 4 de Julho”), Oliver Stone anda
numa fase bagunçada da carreira. Usuário de drogas diversas e criador de escândalos
e vexames diante da mídia, perdeu o prestígio há um bom tempo. Vira e mexe
tenta se recuperar rodando fitas cada vez mais descartáveis e de gosto
duvidoso, que leva uma surra da crítica americana e também da estrangeira
(repare só, de uma década para cá, fez o sofrível “Alexandre”, o fraco “As
torres gêmeas”, o já esquecido “W.”, sobre o presidente George W. Bush, o
documentário parcial sobre o Socialismo “Ao sul da fronteira”, que muita gente
detestou, e o melhor até agora, “Wall Street: O dinheiro nunca dorme”, uma
continuação feliz do seu “Wall Street” dos anos 80). E no ano passado dirigiu
uma produção bem pessoal, escrevendo também o roteiro baseado no livro de Don
Winslow, “Selvagens”. No final das contas, um filme desconexo, confuso e
arrastado. No Brasil, passou despercebido nos cinemas e saiu em DVD em versão
estendida (10 minutos a mais que a de cinema, totalizando 141 cansativos
minutos).
Inicia com uma cena
esquisita de Blake Lively na praia, numa aparente viagem interior, uma possível
alucinação que gera toda a trama de amor e vingança em Laguna Beach. Logo conhecemos
um número exorbitante de personagens mal desenvolvidos, desde os empresários do
ramo de maconha muy amigos (Aaron Taylor-Johnson e Taylor Kitsch) à gente
corrupta, de má reputação, loucos por dinheiro e por sangue (John Travolta,
Salma Hayek, Benicio Del Toro etc).
Há um triângulo
amoroso que não dá para engolir – os três vivem numa vibe de sexo e drogas o
filme inteiro, situações inverossímeis com táticas de guerrilha urbana,
resoluções infelizes e sem amarração, citações de Buda deslocadas do contexto
(sublima-se a violência sem perdão, e pouco a pouco o diretor apazigua os
ânimos com pensamentos de paz interior, o que não dá liga à índole dos personagens,
que são inescrupulosos). A fita é tão irregular e desastrosa que nem o elenco
tenta se salvar; é o pior momento na carreira de quase todos eles, em especial
Del Toro e Hayek – até porque nem temos como defender Kitsch e Travolta, certo?
Enfim, mais um
trabalho em que Oliver Stone erra a mão bruscamente, reafirmando a ausência de
bom senso na hora de dirigir. Triste fim para um cineasta aclamado, que assinou
obras talentosas que explora a angústia das guerras (“Salvador – O martírio de
um povo”, “Platoon”, “Nascido em 4 de Julho” e “Entre o céu e a terra”), deu
vida a duras biografias de personagens lendários (“JFK – A pergunta que não
quer calar”, “The Doors” e “Nixon”) e fuçou em temas de impacto na sociedade
(“Wall Street” e “Verdades que matam”). Em “Selvagens” tudo caminha mal, tudo está
feio e perdido. Vamos portanto nos salvar desse delírio inoportuno. Por Felipe Brida
Nenhum comentário:
Postar um comentário