Dublê do diabo
Biografia de Latif Yahia, jovem iraquiano forçado a ser sósia do sádico dirigente político Uday Hussein (1964-2003), filho mais velho do ditador Saddam Hussein.
História real chocante baseada no livro autobiográfico “The devil’s double”, de Latif Yahia, ainda inédito no Brasil. Levado para as telas, o filme causa impacto pungente, por ser um retrato fiel de uma figura atroz, ensandecida, sem limites, que foi Uday Hussein.
O drama, diga-se de passagem bem violento, com cenas de tortura explícitas e imagens reais da época, situa uma história peculiar de inversão de papéis e de dilemas pessoais: Yahia, pelas semelhanças físicas com Hussein, é raptado da família e sob ameaças de morte submete-se ao intransigente trabalho de ser dublê do “diabo”. Tudo porque Uday, descontrolado pelo abuso de drogas e álcool, em muitas ocasiões não comparecia a compromissos políticos. Então era necessária a presença de um sósia (o filme deixa a questão no ar). E outra, o Iraque, na passagem dos anos 80 para os 90, saíra de um conflito com o Kuwait, pelo domínio de petróleo, e iniciava confronto com os EUA, no famoso episódio chamado de “Guerra do Golfo” – assim, Saddam Hussein queria garantir seu legado enviando o filho para o exterior (o que chegou a fazer anos mais tarde, quando o mandou para a Suíça).
Voltando ao filme, quando do lançamento na Europa, Yahia afirmou que a personalidade cruel de Uday havia sido retratada com precisão cirúrgica. Nada estava exagerado no excelente ator Dominic Cooper (que interpreta Latif e Uday, em composições bem destoantes, um jogo intercalado por maneirismos). E os fatos eram verídicos, por mais que fiquemos em dúvida.
Uday pode ser adjetivado como um monstro repugnante. Como hobby, gravava torturas contra pessoas, algumas delas com a temível “dama de ferro” (objeto de aprisionar partes ou o corpo todo da vítima), e depois as assistia como um programa de entretenimento na TV; passeava de carro importado sequestrando meninas virgens nas ruas para depois estuprá-las em casa (quando não, as matava e desovava os corpos no deserto). Outra mania de castigar pessoas (muitas inocentes, apenas por diversão) era arrastá-las em pedras e cascalho e depois mergulhá-las em água contaminada de esgoto para que os ferimentos infeccionassem.
Uday feria os direitos humanos, os de ir e vir, e não respeitava nenhuma classe. Matava amigos do pai para provocar a ira do ditador, por exemplo. Em julho de 2003 foi assassinado em um tiroteio junto com o irmão, Qusay, por tropas americanas; eram os únicos filhos de Saddam, que logo depois também morreu nas mãos dos americanos. Ou seja, o legado de terror deixado naquele pobre país massacrado pela guerra civil e pela tirania de três décadas teve uma pseudo-trégua.
Dominic Cooper, ator de “Mamma Mia – O filme”, condensa a mentalidade doentia do verdadeiro Uday, em uma atuação digna de elogios.
Conheça. “Dublê do diabo” é um trabalho sério, obrigatório para estudantes, historiadores e público interessado no tema, dirigido pelo neozelandês Lee Tamahori, um cineasta de altos e baixos (este é seu melhor filme, já que desde 2002 só rodou produtos descartáveis).
Tremendo fracasso de bilheteria (custou 15 milhões de euros e rendeu pouco mais de U$ 1 milhão nos cinemas americanos), o filme obteve também repercussão mínima, inclusive nos festivais de cinema. Agora, felizmente, ganha espaço em DVD. Procure já. Por Felipe Brida
Dublê do diabo (The devil’s double). Bélgica/Holanda, 2011, 109 min. Drama. Dirigido por Lee Tamahori. Distribuição: California Filmes
Biografia de Latif Yahia, jovem iraquiano forçado a ser sósia do sádico dirigente político Uday Hussein (1964-2003), filho mais velho do ditador Saddam Hussein.
História real chocante baseada no livro autobiográfico “The devil’s double”, de Latif Yahia, ainda inédito no Brasil. Levado para as telas, o filme causa impacto pungente, por ser um retrato fiel de uma figura atroz, ensandecida, sem limites, que foi Uday Hussein.
O drama, diga-se de passagem bem violento, com cenas de tortura explícitas e imagens reais da época, situa uma história peculiar de inversão de papéis e de dilemas pessoais: Yahia, pelas semelhanças físicas com Hussein, é raptado da família e sob ameaças de morte submete-se ao intransigente trabalho de ser dublê do “diabo”. Tudo porque Uday, descontrolado pelo abuso de drogas e álcool, em muitas ocasiões não comparecia a compromissos políticos. Então era necessária a presença de um sósia (o filme deixa a questão no ar). E outra, o Iraque, na passagem dos anos 80 para os 90, saíra de um conflito com o Kuwait, pelo domínio de petróleo, e iniciava confronto com os EUA, no famoso episódio chamado de “Guerra do Golfo” – assim, Saddam Hussein queria garantir seu legado enviando o filho para o exterior (o que chegou a fazer anos mais tarde, quando o mandou para a Suíça).
Voltando ao filme, quando do lançamento na Europa, Yahia afirmou que a personalidade cruel de Uday havia sido retratada com precisão cirúrgica. Nada estava exagerado no excelente ator Dominic Cooper (que interpreta Latif e Uday, em composições bem destoantes, um jogo intercalado por maneirismos). E os fatos eram verídicos, por mais que fiquemos em dúvida.
Uday pode ser adjetivado como um monstro repugnante. Como hobby, gravava torturas contra pessoas, algumas delas com a temível “dama de ferro” (objeto de aprisionar partes ou o corpo todo da vítima), e depois as assistia como um programa de entretenimento na TV; passeava de carro importado sequestrando meninas virgens nas ruas para depois estuprá-las em casa (quando não, as matava e desovava os corpos no deserto). Outra mania de castigar pessoas (muitas inocentes, apenas por diversão) era arrastá-las em pedras e cascalho e depois mergulhá-las em água contaminada de esgoto para que os ferimentos infeccionassem.
Uday feria os direitos humanos, os de ir e vir, e não respeitava nenhuma classe. Matava amigos do pai para provocar a ira do ditador, por exemplo. Em julho de 2003 foi assassinado em um tiroteio junto com o irmão, Qusay, por tropas americanas; eram os únicos filhos de Saddam, que logo depois também morreu nas mãos dos americanos. Ou seja, o legado de terror deixado naquele pobre país massacrado pela guerra civil e pela tirania de três décadas teve uma pseudo-trégua.
Dominic Cooper, ator de “Mamma Mia – O filme”, condensa a mentalidade doentia do verdadeiro Uday, em uma atuação digna de elogios.
Conheça. “Dublê do diabo” é um trabalho sério, obrigatório para estudantes, historiadores e público interessado no tema, dirigido pelo neozelandês Lee Tamahori, um cineasta de altos e baixos (este é seu melhor filme, já que desde 2002 só rodou produtos descartáveis).
Tremendo fracasso de bilheteria (custou 15 milhões de euros e rendeu pouco mais de U$ 1 milhão nos cinemas americanos), o filme obteve também repercussão mínima, inclusive nos festivais de cinema. Agora, felizmente, ganha espaço em DVD. Procure já. Por Felipe Brida
Dublê do diabo (The devil’s double). Bélgica/Holanda, 2011, 109 min. Drama. Dirigido por Lee Tamahori. Distribuição: California Filmes
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