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Michael (Ewan McGregor) é um experiente chefe de cozinha que inicia um romance com a médica infectologista Susan (Eva Green). Cada qual vive à sua maneira, sozinhos, mas felizes com o trabalho. Até que uma epidemia não explicada espalha-se pelo mundo, atacando os sentidos das pessoas; aos poucos, as vítimas ficam sem paladar, surdas e cegas - e posteriormente alucinadas. Enquanto o caos reina, Michael e Susan, que não foram contaminados, abrigam-se em uma casa, escondidos, até a epidemia cessar.
Pouca gente ouviu falar dessa fita de arte européia provocadora, inédita nos cinemas brasileiros. Não perca a oportunidade de conhecer um dos trabalhos cinematográficos mais criativos da safra recente. Um pouco estranho para o público comum, porque percorre gêneros até então não-fundíveis, sendo difícil de classificar o filme em si. Seria um thriller psicológico poético, com drama e romance reforçados pela criatividade do cineasta inglês David Mackenzie, que filmou na Dinamarca o texto original de um roteirista de lá, chamado Kim Fupz Aakeson. O resultado impressiona, tanto pela qualidade do enredo quanto pelo belíssimo conjunto visual.
Falar em praga devastadora que faz a população perder os sentidos lembra, obviamente, “Ensaio sobre a cegueira”. Sim, “Sentidos do amor” traz semelhanças, porém o que sobressai é a aproximação íntima, corpo, alma e mente, de duas pessoas comuns (o chefe de cozinha e a médica) diante da epidemia. Sem estarem infectados, eles se isolam para entender aquele mal e passam a questionar a própria existência, o porquê de haver vida. Em último plano fica o terror em torno da doença inexplicável que vem tomando proporções gigantescas (há poucas cenas das destruições causadas pela contaminação, e no lugar disso entra o romance do casal e a respectiva crise).
Há uma carga emotiva profunda, de lirismo arrebatador, muito bonito de se ver na tela. Para ser realmente sentido na pele. Trata do desespero do ser humano diante do desconhecido, de se ver aprisionado dentro do próprio corpo quando este não responde mais a estímulos triviais – ficar cego ou surdo de uma hora para outra, sem explicação, sem o poder da cura. Por isso a obra deve ser assistida para reflexão, servindo como um estudo perfeito sobre os sentidos.
O título ambíguo realça a complexidade deste que venceu o prêmio de melhor filme no festival de Edinburg. Além do excelente par central (Ewan McGregor e Eva Green, ambos talvez no melhor momento da carreira), a atriz Connie Nielsen reforça o elenco.
O diretor Mackenzie vem de uma trajetória feliz no cinema; rodou antes duas fitas curiosas, “O jovem Adam” (2003) e “Olhar do desejo” (2007), e agora realiza o projeto mais pessoal, de indescritível harmonia e beleza plástica. Por Felipe Brida
Sentidos do amor (Perfect sense). Inglaterra/Dinamarca/Suécia/Irlanda, 2011, 92 min. Drama/Suspense. Dirigido por David Mackenzie. Distribuição: California Filmes
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