quarta-feira, 28 de março de 2012

Cine Lançamento

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A casa dos sonhos

O renomado editor de livros Will Atenton (Daniel Craig) muda-se para uma nova casa, na idílica cidade de New England, acompanhado da esposa, Libby (Rachel Weisz), e das duas filhas pequenas. O local guarda segredos assustadores, que vão sendo revelados pouco a pouco àquela família.

Desastre completo e sem desculpas. Tinha tudo para dar errado. Durante as gravações, houve atrito entre os produtores e o elenco; uns hesitaram em manter o roteiro como havia sido escrito, outros pediram para modificar o desfecho absurdo. Ninguém se entendeu. Sobrou para o coitado do público assistir a uma fitinha desprezível de suspense com terror, variação de histórias sobre casas mal-assombradas, que lembra produções inglesas dos anos 60, com a inclusão de reviravoltas confusas que nunca convencem.
O pior de tudo é ler o nome do diretor irlandês Jim Sheridan nos créditos. Um homem de cinema que nunca erra. São dele dois filmes importantíssimos, “Em nome do pai” e “Meu pé esquerdo”, mas, sabe-se lá o motivo, entrou de cara nesse projeto mal-sucedido e sem motivo maior para interessar o público. Recebeu duras críticas, com razão, já que “A casa dos sonhos” é uma futilidade sem tamanho. Um dos piores filmes do ano.
Conta a história de um publicitário (Daniel Craig, com cara de desinteressado) que compra a casa dos seus sonhos, localizada no interior dos EUA. Ao lado da esposa (Rachel Weisz, que durante as filmagens largou do marido para se casar com Craig!) e das filhas menores, sofrerá horrores com as assombrações na residência, além de outros empecilhos que encontra no caminho (vizinhos rancorosos, vândalos que invadem a garagem etc). Na metade da fita aparece em cena a premiada atriz Naomi Watts como uma vizinha misteriosa, em papel desperdiçado – a participação dela é maior no final, mas mesmo assim está deslocada por completo. Aliás, chegando na conclusão, a história cai em clichês homéricos, bem impossíveis de acontecer.
Ou seja, um trabalho infeliz, sem chances. Não perca tempo. Por Felipe Brida

A casa dos sonhos
(Dream house) EUA, 2011, 92 min. Suspense. Dirigido por Jim Sheridan. Distribuição: Warner Bros.

domingo, 25 de março de 2012

Cine Lançamento

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Toda forma de amor

Oliver Fields (Ewan McGregor) é um solitário ilustrador que tenta seguir de bem com a vida. Certo dia, fica abalado quando recebe duas notícias sobre seu distanciado pai, Hal (Christopher Plummer): aos 75 anos assume que é gay e está se relacionando com um homem bem mais novo; a segunda é de que o velho está com câncer terminal. Oliver muda a forma de pensar e vai até o pai para uma reconciliação.

Criativa comédia dramática autoral do desconhecido cineasta americano Mike Mills, que assina como diretor e roteirista. Pelo trabalho Christopher Plummer ganhou, merecidamente, o Oscar de melhor ator coadjuvante esse ano. Aos 82 anos, alcançou Jessica Tandy e George Burns, os mais velhos a receber o prêmio da Academia (Jessica tinha 81 anos, por “Conduzindo Miss Daisy”, em 1990; e Burns, por “Uma dupla desajustada”, de 1975, havia completado 80). Plummer também conquistou público e crítica pela notória atuação, e além do Oscar, recebeu o Globo de Ouro, o Bafta, o Independent Spirit Awards e o SAG. Um mestre em cena, em papel absoluto de uma carreira de cinco décadas e mais de 100 filmes.
Ele interpreta Hal, um senhor sério, que, logo após ficar viúvo, aos 75 anos, revela ser homossexual. Passa a curtir a vida de maneira enérgica, como um adolescente: arruma um namorado no mínimo 40 anos mais jovem (o croata Goran Visnjic), promove festas coloridas com amigos gays e daí por diante. Em pouco tempo é diagnosticado com câncer, estágio avançado, situação que faz seu único filho (Ewan McGregor) ir ao seu reencontro. Um perto do outro, aprenderão a enfrentar os percalços do dia a dia, retomar o contato, entender o passado.
Com a morte do pai (o filme é contado em flashbacks a partir da abertura, ou seja, não estou revelando surpresas), o filho aprende a amar, no caso apaixona-se por uma bonita jovem (Mélanie Laurent, atriz principal de “Bastardos inglórios”), além de enxergar com perspectiva amadurecida o mundo que o cerca.
Belíssima fita que podemos classificar de “arte” – não é uma comédia engraçada tipicamente norte-americana, tem um quê de fita europeia, com fotografia de contrastes coloridos. Na medida certa, o diretor insere sensibilidade com resultado bastante humano, sobre como nós podemos ser transformadores mesmo em situações críticas.
Outro fato de destaque é que foi bem recebido de bilheteria – custou pouco, cerca de U$ 3 milhões, arrecadando quase cinco vezes mais nas salas de cinema em todo o mundo. E algo positivo para a carreira do diretor, especializado em curtas e documentários para a TV – em 2005 rodou o único longa, uma fita Cult chamada “Impulsividade” (2005).
Procure já esse bom filme, premiado e muito preciso! Por Felipe Brida

Toda forma de amor (Beginners). EUA, 2010, 105 min. Comédia dramática. Dirigido por Mike Mills. Distribuição: Universal

sábado, 17 de março de 2012

Viva Nostalgia!

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Top Secret! - Superconfidencial

O cantor de rock Nick Rivers (Val Kilmer) viaja à Alemanha Oriental para apresentar um projeto musical. Mal chega às terras germânicas e se envolve em um plano ultrassecreto para resgatar o famoso cientista Paul Flammond (Michael Gough), logo depois de se relacionar com a filha dele, Hillary (Lucy Gutteridge).

Paródia bem manjada de filmes de espionagem situados na Segunda Guerra Mundial. Fracasso de bilheteria em 1984, é a menos conhecida fita de humor de Jim Abrahams em parceria com os irmãos Jerry e Davi Zucker, o trio criador de “Apertem os cintos... o piloto sumiu!” (1980) e “Corra que a polícia vem aí!” (1988).
Há infinitas referências espalhadas, muitas sem coesão, por isso o resultado irregular e certamente datado. Fica a observação prévia: o público conhecedor de cinema entenderá melhor as piadas.
Esqueça a história sobre conspirações e atente-se às sacadas, muitas delas divertidas. Val Kilmer, em início de carreira, interpreta um rock star em ascensão, com visual e cabelo de Elvis Presley (ele imita a voz e as danças do lendário cantor). Quando pousa na Alemanha, enfrenta grupos fascistas, nazistas e outros ‘istas’ a fim de salvar um cientista que está encerrando o projeto de uma arma poderosa, a Polaris Mine (papel do falecido ator inglês Michael Gough).
No decorrer das tramas paralelas (são inúmeras!) momentos cômicos invadem a narrativa, em especial as com coadjuvantes famosos do cinema, que brincam em cena, como Omar Sharif na pele de um agente (a abertura é com ele, em uma perseguição no trem, e depois retorna em uma das sequências mais engraçadas, de puro pastelão, quando vai colher informações confidenciais de um espião disfarçado de ambulante). Até o inglês Peter Cushing faz rápida aparição.
Como paródia homenageia clássicos, dentre eles “E o vento levou”, “Tubarão”, “O mágico de Oz”, “A lagoa azul” e “Fugindo do inferno” (com direito à motocicleta).
Rodado em estúdio em Londres, “Top Secret!” resulta em uma brincadeira descontraída, sempre inteligente, que vale um aluguel. Pela primeira vez em DVD, distribuído no mercado pela Paramount Pictures. Por FelipeBrida

Top Secret! - Superconfidencial (Top Secret!). EUA/Alemanha, 1984, 90 min. Comédia. Dirigido por Jim Abrahams/Jerry Zucker/David Zucker. Distribuição: Paramount Pictures

sexta-feira, 16 de março de 2012

Cine Lançamento

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Dublê do diabo

Biografia de Latif Yahia, jovem iraquiano forçado a ser sósia do sádico dirigente político Uday Hussein (1964-2003), filho mais velho do ditador Saddam Hussein.

História real chocante baseada no livro autobiográfico “The devil’s double”, de Latif Yahia, ainda inédito no Brasil. Levado para as telas, o filme causa impacto pungente, por ser um retrato fiel de uma figura atroz, ensandecida, sem limites, que foi Uday Hussein.
O drama, diga-se de passagem bem violento, com cenas de tortura explícitas e imagens reais da época, situa uma história peculiar de inversão de papéis e de dilemas pessoais: Yahia, pelas semelhanças físicas com Hussein, é raptado da família e sob ameaças de morte submete-se ao intransigente trabalho de ser dublê do “diabo”. Tudo porque Uday, descontrolado pelo abuso de drogas e álcool, em muitas ocasiões não comparecia a compromissos políticos. Então era necessária a presença de um sósia (o filme deixa a questão no ar). E outra, o Iraque, na passagem dos anos 80 para os 90, saíra de um conflito com o Kuwait, pelo domínio de petróleo, e iniciava confronto com os EUA, no famoso episódio chamado de “Guerra do Golfo” – assim, Saddam Hussein queria garantir seu legado enviando o filho para o exterior (o que chegou a fazer anos mais tarde, quando o mandou para a Suíça).
Voltando ao filme, quando do lançamento na Europa, Yahia afirmou que a personalidade cruel de Uday havia sido retratada com precisão cirúrgica. Nada estava exagerado no excelente ator Dominic Cooper (que interpreta Latif e Uday, em composições bem destoantes, um jogo intercalado por maneirismos). E os fatos eram verídicos, por mais que fiquemos em dúvida.
Uday pode ser adjetivado como um monstro repugnante. Como hobby, gravava torturas contra pessoas, algumas delas com a temível “dama de ferro” (objeto de aprisionar partes ou o corpo todo da vítima), e depois as assistia como um programa de entretenimento na TV; passeava de carro importado sequestrando meninas virgens nas ruas para depois estuprá-las em casa (quando não, as matava e desovava os corpos no deserto). Outra mania de castigar pessoas (muitas inocentes, apenas por diversão) era arrastá-las em pedras e cascalho e depois mergulhá-las em água contaminada de esgoto para que os ferimentos infeccionassem.
Uday feria os direitos humanos, os de ir e vir, e não respeitava nenhuma classe. Matava amigos do pai para provocar a ira do ditador, por exemplo. Em julho de 2003 foi assassinado em um tiroteio junto com o irmão, Qusay, por tropas americanas; eram os únicos filhos de Saddam, que logo depois também morreu nas mãos dos americanos. Ou seja, o legado de terror deixado naquele pobre país massacrado pela guerra civil e pela tirania de três décadas teve uma pseudo-trégua.
Dominic Cooper, ator de “Mamma Mia – O filme”, condensa a mentalidade doentia do verdadeiro Uday, em uma atuação digna de elogios.
Conheça. “Dublê do diabo” é um trabalho sério, obrigatório para estudantes, historiadores e público interessado no tema, dirigido pelo neozelandês Lee Tamahori, um cineasta de altos e baixos (este é seu melhor filme, já que desde 2002 só rodou produtos descartáveis).
Tremendo fracasso de bilheteria (custou 15 milhões de euros e rendeu pouco mais de U$ 1 milhão nos cinemas americanos), o filme obteve também repercussão mínima, inclusive nos festivais de cinema. Agora, felizmente, ganha espaço em DVD. Procure já. Por Felipe Brida

Dublê do diabo
(The devil’s double). Bélgica/Holanda, 2011, 109 min. Drama. Dirigido por Lee Tamahori. Distribuição: California Filmes

quarta-feira, 14 de março de 2012

Cine Lançamento

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Jogos suicidas

Seis pessoas que não se conhecem são trancadas em um galpão, em celas de vidro. Elas acordam naquelas “jaulas” sem saber o que aconteceu. Enquanto tentam descobrir o motivo de estarem aprisionadas, surge um misterioso homem, Jacob Odessa (John Pyper-Ferguson), que obriga cada um deles a participar de um jogo de vida e morte. Apenas com um dado vermelho, os participantes terão de encarar verdades perturbadoras sobre eles mesmos.

Totalmente rodado em Quebec, Canadá, por uma produtora independente, chega diretamente em home video no Brasil, pela Paramount, esse suspense psicológico baseado em fatos reais. A história lembra “Jogos mortais”, até o título faz referência, só que é menos grosseiro e investe em pouca violência gratuita (algo positivo para a maior parte do público).
Arrastado, o filme acompanha a angustiante jornada de seis personagens presos em celas de vidro submetendo-se a um jogo suicida. Um a um morre quando omitem fatos da vida pessoal, que deveriam ser lançados na mesa. Por trás está um assassino maluco, responsável por levantar questionamentos que conectam todos eles, por isso, no final das contas, os aprisionados mantêm laços distantes, só revelados no desfecho.
A partir da narrativa lenta, revive-se o passado das pessoas do jogo, para que o público entenda melhor a história – mesmo assim o filme chega a ser confuso, com diversos detalhes sem explicação.
Feito com baixo orçamento e elenco desconhecido (exceto Elias Koteas, no papel de um dos participantes do jogo, e John Pyper-Ferguson, o assassino), a produção carece de recursos, mas sua história inegavelmente é intrigante, prende a atenção. Pelo menos isso.
Estréia do diretor Dominic James, que rodou o projeto em sua terra natal. Já em DVD. Por Felipe Brida

Jogos suicidas (Die). Canadá/Itália, 2010, 91 min. Suspense. Dirigido por Dominic James. Distribuição: Paramount Pictures

sexta-feira, 9 de março de 2012

Cine Lançamento

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Cowboys & Aliens

Em 1873, espaçonave aterrissa no estado do Arizona. A poucos metros dali, no mesmo dia, Jake Lonergan (Daniel Craig), um criminoso procurado, acorda sem memória, abandonado no oeste americano, portando apenas um estranho bracelete no pulso. Ele caminha até o vilarejo mais próximo, Absolution, que é comandado a ferro e fogo pelo coronel Dolarhyde (Harrison Ford). Lonergan une-se a este homem, juntamente a um grupo de cowboys e de nativos, para destruir seres espaciais poderosos que, para resgatarem a espaçonave perdida, iniciam uma batalha interminável em Absolution.

Divertida aventura com ficção científica com produção timbrada pelo mago Steven Spielberg, repleta de ação, correria e efeitos visuais bem bolados. Na verdade, “Cowboys & Aliens” é uma livre adaptação de uma história em quadrinhos homônima, criada por Scott Mitchell Rosenberg e lançada pela primeira vez em 2006. Em Hollywood, investiram pesado (cerca de U$ 165 milhões) para aproximar ao máximo o projeto cinematográfico da graffic novel, pouquíssimo conhecida no Brasil. Para a direção, convidaram Jon Favreau, ator norte-americano já expert atrás das câmeras, responsável por dirigir fitas de aventura e ação como “Zathura” e os dois “Homem de ferro”. E para o elenco, o James Bond atual, Daniel Craig (bastante magro e com a cara amarrada, o que atrapalha a esperada simpatia de um protagonista) e o veterano Harrison Ford, na pele de um coronel carrancudo – as vestes, incluindo o chapéu, lembram Indiana Jones. O circo, armado, promete uma explosão de adrenalina. E cumpre o papel, de entretenimento, se desconsiderarmos os furos e clichês da história.
Craig interpreta um cidadão meio Jason Bourne no oeste, em vez das águas; ele acorda sem memória, com um bracelete de ferro, que depois descobre ser uma potente arma para eliminar as naves alienígenas que em breve pousarão nos arredores. Na cidade onde chega, descobre estar sendo procurado, com a cabeça em jogo. Mas logo a pequena população daquela vilinha vê ali a esperança de proteção contra os bandidos locais e, depois, contra os seres extraterrestres. Ele une forças com o coronel e seu bando, a nativos, e se apaixona por uma jovem do local (papel da belíssima e promissora Olivia Wilde). E por aí sabemos a toada...
Visualmente o filme é escuro, com ritmo ágil, efeitos aos montes, e criaturas asquerosas, que babam verde. “Cowboys & Aliens” percorre ainda o gênero faroeste, pois se desenrola todo no Arizona, com saloons, pistoleiros e fenos rolando no chão desértico. Realmente soa esquisita essa mistura torta de ficção com western, o que, no fim, não impede a originalidade dos criadores.
As gravações foram realizadas em estúdio no México e nos EUA, e o elenco conta com coadjuvantes de peso, em papéis bem menores, como Sam Rockwell, Paul Dano, Clancy Brown e Keith Carradine (irreconhecível como um xerife caladão).
Inventivo, “Cowboys & Aliens” vira um entretenimento bacana, que vale pela curiosidade e pela estranheza dos gêneros misturados. Por Felipe Brida

Cowboys & Aliens
(Idem). EUA, 2011, 118 min. Ficção científica/Faroeste. Dirigido por Jon Favreau. Distribuição: Paramount Pictures

quarta-feira, 7 de março de 2012

Cine Lançamento

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Blitz

Em Londres, o sargento Brant (Jason Statham) lidera um esquadrão de força tática para capturar um perigoso serial killer, apelidado pela mídia de “The Blitz”, especializado em matar agentes policiais. Enquanto o grupo cerca a cidade, o assassino provoca uma onda de terror e medo.

Modesto thriller inglês baseado no livro homônimo de Ken Bruen, o mesmo autor de "London Boulevard". A fita policial não tem segredos, com enredo tantas vezes explorado no cinema (gente no encalço de um psicopata).
Aqui, um matador de policiais deixa um rastro de sangue em Londres. Ninguém desconfia quem seja. Até que um sargento com problemas pessoais, interpretado pelo astro de fitas de ação Jason Statham, entra em jogo para prender o criminoso. Para isso contará com a mão de policiais treinados. Todos passam a ser suspeitos, pois filmes desse tema deixam o suspense no ar, até a revelação previsível. Ou seja, não espere grandes resultados.
Atrapalha por exagerar nas cenas de violência, fato este que afasta certo tipo de público, resultando em uma produção menor, com cara de fita B.
Dirigido por um certo Elliott Lester, responsável pela produção de clipes da cantora Jessica Simpson, “Blitz” saiu direto em home video no Brasil.
Apenas um passatempo sem crise, mesmo assim sem gosto. Por Felipe Brida

Blitz (Idem). EUA/França/Inglaterra, 2011, 97 min. Policial. Dirigido por Elliott Lester. Distribuição: Imagem Filmes

terça-feira, 6 de março de 2012

Cine Lançamento

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Sentidos do amor

Michael (Ewan McGregor) é um experiente chefe de cozinha que inicia um romance com a médica infectologista Susan (Eva Green). Cada qual vive à sua maneira, sozinhos, mas felizes com o trabalho. Até que uma epidemia não explicada espalha-se pelo mundo, atacando os sentidos das pessoas; aos poucos, as vítimas ficam sem paladar, surdas e cegas - e posteriormente alucinadas. Enquanto o caos reina, Michael e Susan, que não foram contaminados, abrigam-se em uma casa, escondidos, até a epidemia cessar.

Pouca gente ouviu falar dessa fita de arte européia provocadora, inédita nos cinemas brasileiros. Não perca a oportunidade de conhecer um dos trabalhos cinematográficos mais criativos da safra recente. Um pouco estranho para o público comum, porque percorre gêneros até então não-fundíveis, sendo difícil de classificar o filme em si. Seria um thriller psicológico poético, com drama e romance reforçados pela criatividade do cineasta inglês David Mackenzie, que filmou na Dinamarca o texto original de um roteirista de lá, chamado Kim Fupz Aakeson. O resultado impressiona, tanto pela qualidade do enredo quanto pelo belíssimo conjunto visual.
Falar em praga devastadora que faz a população perder os sentidos lembra, obviamente, “Ensaio sobre a cegueira”. Sim, “Sentidos do amor” traz semelhanças, porém o que sobressai é a aproximação íntima, corpo, alma e mente, de duas pessoas comuns (o chefe de cozinha e a médica) diante da epidemia. Sem estarem infectados, eles se isolam para entender aquele mal e passam a questionar a própria existência, o porquê de haver vida. Em último plano fica o terror em torno da doença inexplicável que vem tomando proporções gigantescas (há poucas cenas das destruições causadas pela contaminação, e no lugar disso entra o romance do casal e a respectiva crise).
Há uma carga emotiva profunda, de lirismo arrebatador, muito bonito de se ver na tela. Para ser realmente sentido na pele. Trata do desespero do ser humano diante do desconhecido, de se ver aprisionado dentro do próprio corpo quando este não responde mais a estímulos triviais – ficar cego ou surdo de uma hora para outra, sem explicação, sem o poder da cura. Por isso a obra deve ser assistida para reflexão, servindo como um estudo perfeito sobre os sentidos.
O título ambíguo realça a complexidade deste que venceu o prêmio de melhor filme no festival de Edinburg. Além do excelente par central (Ewan McGregor e Eva Green, ambos talvez no melhor momento da carreira), a atriz Connie Nielsen reforça o elenco.
O diretor Mackenzie vem de uma trajetória feliz no cinema; rodou antes duas fitas curiosas, “O jovem Adam” (2003) e “Olhar do desejo” (2007), e agora realiza o projeto mais pessoal, de indescritível harmonia e beleza plástica. Por Felipe Brida

Sentidos do amor (Perfect sense). Inglaterra/Dinamarca/Suécia/Irlanda, 2011, 92 min. Drama/Suspense. Dirigido por David Mackenzie. Distribuição: California Filmes

domingo, 4 de março de 2012

Viva Nostalgia!

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No caminho dos elefantes

Recém-casada, a jovem Ruth (Elizabeth Taylor) viaja da Inglaterra ao Ceilão (atual Sri Lanka) para viver com o marido, o fazendeiro John (Peter Finch). Naquele exótico país, instala-se em um bangalô de luxo localizado dentro de uma fazenda de chá. Ruth acaba se apaixonando pelo administrador daquelas terras, Dick (Dana Andrews), e inicia um relacionamento secreto. Até o dia em que uma epidemia de cólera e a seca disseminam-se ameaçando a vida dos habitantes locais, inclusive de Ruth, John e Dick.

Aventura classe 'A' da Paramount baseada no romance de Robert Standish e dirigida por William Dieterle, o mesmo dos clássicos premiados “A vida de Emile Zola” (1937), “O corcunda de Notre Dame” (1939) e “Retrato de Jeannie” (1948).
A história é conduzida por um conturbado triângulo amoroso entre um fazendeiro rico, sua esposa e seu capataz, interpretados respectivamente por Peter Finch, Liz Taylor e Dana Andrews. Os três estão em bom momento da carreira, como personagens isolados em um país misterioso. O casal vive em uma mansão que fica bem no meio do “caminho dos elefantes”, trilha que os animais têm de percorrer para beber água, no riacho próximo.
Com o desenrolar da trama, inicialmente um romance, o filme adota novos rumos. A aventura toma conta a partir do clímax, quando o caos se instaura naquela região: cólera, seca e o estouro da manada de elefantes, que devastam tudo o que veem pela frente – a cena final é memorável, muito bem produzida, de causar impacto.
À medida que o triângulo amoroso causa rumores e ameaça os envolvidos, as tragédias sociais eclodem, desestabilizando o ambiente, que até então era pacífico.
Visual, figurino e fotografia requintados ajudam na sustentação da obra, relançada recentemente em dvd na coleção “Clássicos Paramount”. Pena que não venha com extras nenhuns.
Uma curiosidade: A atriz principal de “No caminho dos elefantes” seria Vivien Leigh, que, após adoecer de graves perturbações mentais, foi rapidamente substituída por Liz Taylor, em seu primeiro papel dramático no cinema. Por Felipe Brida

No caminho dos elefantes (Elephant walk). EUA, 1954, 103 min. Aventura/ Romance. Dirigido por William Dieterle. Distribuição: Paramount Pictures

sexta-feira, 2 de março de 2012

Cine Lançamento

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O homem do futuro

O cientista Zero (Wagner Moura) dedica-se dia e noite em seu laboratório criando novos experimentos. Em busca de uma fonte de energia alternativa, bola uma máquina cuja finalidade é viajar no tempo. Ele vira cobaia do próprio plano mirabolante conseguindo retornar ao ano de 1991, quando era um estudante nerd e apaixonado pela bela Helena (Alinne Moraes). Resolve então mudar fatos daquela época para, quem sabe, dar um final feliz à sua vida.

Novo trabalho inventivo do talentoso diretor Cláudio Torres, que se supera a cada projeto – são deles os bons “Redentor” e “A mulher invisível”. Filho de Fernanda Montenegro com o ator Fernando Torres e irmão da atriz Fernanda Torres, Cláudio vem de uma linhagem de monstros sagrados, e não por acaso trilha uma carreira brilhante atrás das câmeras.
Nessa comédia meio aventura inspirada em histórias de cientistas malucos, ou seja, com toques de ficção científica, o ator Wagner Moura atua como o protagonista em três momentos, ou seja, três vezes Wagner Moura – uma como o personagem no tempo atual (hoje) e duas no passado. Ele é Zero, um cientista workaholic que viaja no tempo após criar uma máquina fabulosa (isto cheira “De volta para o futuro”, não?). E vai direto ao passado, na época de adolescente. Revive o período de transformação de sua personalidade, tentando modificar peças que irão influenciar no futuro, como o amor, as amizades, os estudos. Alinne Moraes (belíssima e boa atriz) interpreta o interesse romântico, uma menina por quem Zero morre de amores.
Ao longo do filme reviravoltas e surpresas colocarão em cheque a rotina do personagem central. A mensagem é sempre positiva, sobre como enfrentar os percalços da vida, a aceitação das situações e como lidar com o amor.
“O homem do futuro” aborda um tema pouquíssimo explorado na nossa produção de cinema (viagem no tempo), recorrendo a efeitos visuais ágeis e bem curiosos. Ajuda muito a trilha sonora, como não poderia faltar, que relembra sucessos dos primeiros anos da década de 90. Uma delas é “Tempo perdido”, do Legião Urbana, com Moura e Alinne cantando no palco de uma festa; a sequência romântica foi bem aproveitada.
O elenco de feras traz participação de Maria Luísa Mendonça (esposa do diretor, no papel de uma agitada colega de trabalho de Zero) e Gabriel Braga Nunes, além do francês Jean Pierre Noher e ponta do falecido ator Rodolfo Bottino, já bem acometido pela doença.
Um entretenimento divertido, para todos os públicos, que pode virar uma gostosa brincadeira nostálgica. Por Felipe Brida

O homem do futuro (Idem). Brasil, 2011, 105 min. Comédia/ Romance/ Ficção científica. Dirigido por Cláudio Torres. Distribuição: Paramount Pictures