sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Estreias da semana – Nos cinemas e no streaming - Parte 1

 

 

Trilha sonora para um golpe de Estado (2024)

 

Com uma fusão impressionante entre música e política, ‘Trilha sonora para um golpe de Estado’ recebeu indicação ao Oscar de melhor documentário esse ano e estreou na última semana em várias salas de cinema do Brasil, principalmente das capitais. Com direção do belga Johan Grimonprez, o mesmo de ‘Shadow world’ (2016), o filme é uma obra erudita, para público específico, tamanha a complexidade dos desdobramentos de sua história. Fala-se do jazz americano, relacionando-o ao colonialismo na África e à Guerra Fria, e de como a CIA orquestrou, às escondidas, um golpe de Estado no Congo. Não é um fácil palatável, fácil de compreender, há muitos personagens apresentados e discutidos e uma duração acima da média – 151 minutos. Conta com um vasto material de arquivo e há apenas uma entrevista atual para o filme; o restante são arquivos de áudio, reportagens, bastidores de shows e velhos depoimentos gravados. A figura central do documentário é o ex-primeiro ministro da República Democrática do Congo Patrice Lumumba, líder anti-imperialista que lutou contra a dominação colonial em seu país e foi assassinado aos 35 anos em 1961.
O filme denuncia a participação política dos Estados Unidos na morte de Lumumba, e enquanto isso é traçado, mostra como a música, especialmente o jazz e o soul, viraram ferramenta estratégica no xadrez político da época. Estados Unidos tentaram usar figuras notórias de cantor/cantora negro como propaganda na Guerra Fria, como Miles Davis, John Coltrane, Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, Abbey Lincoln, Nina Simone, Dizzy Gillespie – boa parte deles fez resistência contra essa manipulação e acabaram execrados. Num dos momentos de destaque do filme, e assustador, enviam Louis Armstrong para uma pequena turnê na África, como um entretenimento para desviar o olhar da população enquanto a CIA tramava um golpe de Estado no Congo. O ativista dos Direitos Humanos Malcolm X e o líder da URSS Nikita Khrushchov também são peça-chave nesse enigmático e esplendoroso documentário-cabeça. Exibido nos Festivais de San Sebastián e Toronto, venceu prêmio especial do Júri no Festival de Sundance 2024. Tem tudo para ganhar o Oscar de doc em março. Nos cinemas pela Pandora Filmes.

 


 

Alma do deserto (2024)

 

Recém-lançada no mercado audiovisual brasileiro, a distribuidora Retrato Filmes traz aos cinemas esse ótimo documentário sobre identidade e resistência, uma coprodução Brasil e Colômbia ganhadora do Queer Lion no Festival de Veneza. Exibido ano passado no Festival do Rio e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o filme conta a trajetória de Georgina Epiayú, mulher trans da etnia Wayúu que vive numa comunidade isolada em La Guajira, entre a Colômbia e a Venezuela. Dedica seus dias para obter um novo documento de identidade, pois o antigo foi queimado num incêndio criminoso e nele constava o nome de nascimento (ou seja, masculino). Entre idas e vindas ao cartório, a recusa é constante, demonstrando a intolerância com a população transsexual. Georgina precisa de um novo registro para exercer o direito de votar, já que as eleições na Colômbia se aproximam. Enquanto conversa com a câmera, sobre hoje e sobre seu passado, sabemos de quando foi expulsa da vizinhança e teve os documentos pessoais queimados por motivo de ódio. É a jornada pessoal de uma mulher em busca de reconhecimento e respeito. Georgina é uma força da natureza, com seu jeito resiliente, calmo e com falas pontuais e questionadoras. Seu olhar profundo também traz a história de dor de seu antepassado ameríndio – a comunidade Wayúu foi praticamente dizimada pelos colonizadores espanhóis nos últimos 500 anos de existência na região, e atualmente o povoado sofre com o descaso das autoridades – crianças Wayúu passam fome, jovens e adultos são assassinados etc
Quem dirige com delicadeza e muita precisão é a cineasta colombiana Mónica Taboada-Tapia, em sua estreia em longa-metragem. É a primeira vez que um filme brasileiro – aqui em coprodução com a Colômbia, vence o Queer Lion, prêmio especial do Festival de Veneza destinado a obras cinematográficas com temática LGBTQIA+. Também foi premiado no Festival de Havana, com o Prêmio Especial do Júri da Competição de Documentários e o Prêmio Arrecife, entregue ao melhor filme com temática Queer. Nos cinemas pela Retrato Filmes.

 


 

Blindado (2024)

 

Aos 78 anos, Sylvester Stallone continua firme na telona. Entre 2024 e 2025, lançou dois filmes nos cinemas americanos, mais uma temporada da série ‘Tulsa King’ e está rodando seis novos longas-metragens que deverão entrar no circuito até 2026, dentre eles ‘Samaritano 2’. A fita policial ‘Blindado’ é a primeira parceria dele com o diretor Justin Routt, que realizou poucos filmes, e juntos engrenaram mais um longa de ação que sairá no próximo mês nos cinemas, ‘Código Alarum’, esse com participação da brasileira Isis Valverde – tanto ‘Blindado’ quanto ‘Código Alarum’ tem a distribuição no Brasil pela Imagem Filmes.
‘Blindado’ serve apenas para ou fãs de Stallone, que não perdem nada dele, ou para quem curte fitas corriqueiras de ação ‘mais do mesmo’. Não há exatamente nada de novo em ‘Blindado’, um genérico filme de ação que se passa durante um assalto malsucedido a um caminhão que transporta dinheiro. Dessa vez Stallone interpreta um vilão, fugindo dos papéis tradicionais de herói. A trama acompanha James Brody (Jason Patric), segurança de um caminhão blindado que está com o filho, Casey (Josh Wiggins), numa missão de transportar milhões de dólares entre bancos. Entra em cena Rook (Stallone), um perigoso líder criminoso, que com o seu grupo planeja roubar a grana. Eles cercam o caminhão numa ponte, mas James e Casey ficam presos dentro, e tentam uma longa negociação.
Stallone deu uma guinada na carreira nos últimos anos com a série advinda de ‘Rocky’, ‘Creed’, até recebeu indicação ao Oscar de ator coadjuvante no primeiro da franquia em 2016, mas aqui está canastrão e desajeitado. Figura lembrada de filmes policiais dos anos 80 e 90, Jason Patric é outro que não está nos melhores dias, e vem trabalhando em tudo quanto é produção, como filmes B de terror e ação, produções chinfrins de suspense etc. Uma pena ver Stallone e Patric desperdiçados num filme repetido e sem maiores chances.

 


 

O empregado do mês (2022)

 

Fita francesa de comédia para quem gosta de um entretenimento bem humorado e com momentos românticos, para ver sem compromisso. É a estreia do ator Jérôme Commandeur na direção – ele atuou em muitos filmes populares, como ‘A Riviera não é aqui’ (2008) e recentemente em ‘Asterix e Obelix no Reino do Meio’ (2023). Ele aqui também trabalha como roteirista e é o protagonista da história, Vincent, um homem rico que perde tudo e para voltar ao trabalho aceita um emprego no Polo Norte. Lá, irá se apaixonar, porém terá seus dias ameaçados com esse romance. Ele está super bem no filme, ao lado da boa atriz Laetitia Dosch, de ‘Jovem mulher’ (2017) – que se lançou diretora no ano passado, quando dirigiu um longa premiado com o Palm Dog em Cannes, ‘O julgamento do cachorro’ (2024). Na verdade, o roteiro não é original de Commandeur: ele o adaptou de uma comédia homônima italiana de 2016, escrita e protagonizada pelo cantor, ator e humorista Checco Zalone. A versão francesa está boa e diverte. Participa numa cena como ele mesmo Gérard Depardieu, e tem aparições dos veteranos Gérard Darmon, Christian Clavier e Valérie Lemercier. Na trilha sonora, a famosa música italiana dos anos 80 ‘Felicitá’, de Al Bano & Romina Power. Disponível em streamings brasileiros, distribuído pela A2 Filmes.

 


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