Trilha sonora para um
golpe de Estado (2024)
Com uma fusão
impressionante entre música e política, ‘Trilha sonora para um golpe de Estado’
recebeu indicação ao Oscar de melhor documentário esse ano e estreou na última
semana em várias salas de cinema do Brasil, principalmente das capitais. Com
direção do belga Johan Grimonprez, o mesmo de ‘Shadow world’ (2016), o filme é
uma obra erudita, para público específico, tamanha a complexidade dos
desdobramentos de sua história. Fala-se do jazz americano, relacionando-o ao
colonialismo na África e à Guerra Fria, e de como a CIA orquestrou, às escondidas,
um golpe de Estado no Congo. Não é um fácil palatável, fácil de compreender, há
muitos personagens apresentados e discutidos e uma duração acima da média – 151
minutos. Conta com um vasto material de arquivo e há apenas uma entrevista
atual para o filme; o restante são arquivos de áudio, reportagens, bastidores
de shows e velhos depoimentos gravados. A figura central do documentário é o
ex-primeiro ministro da República Democrática do Congo Patrice Lumumba, líder
anti-imperialista que lutou contra a dominação colonial em seu país e foi
assassinado aos 35 anos em 1961.
O filme denuncia a participação política dos
Estados Unidos na morte de Lumumba, e enquanto isso é traçado, mostra como a
música, especialmente o jazz e o soul, viraram ferramenta estratégica no xadrez
político da época. Estados Unidos tentaram usar figuras notórias de
cantor/cantora negro como propaganda na Guerra Fria, como Miles Davis, John
Coltrane, Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, Abbey Lincoln, Nina Simone, Dizzy
Gillespie – boa parte deles fez resistência contra essa manipulação e acabaram
execrados. Num dos momentos de destaque do filme, e assustador, enviam Louis
Armstrong para uma pequena turnê na África, como um entretenimento para desviar
o olhar da população enquanto a CIA tramava um golpe de Estado no Congo. O
ativista dos Direitos Humanos Malcolm X e o líder da URSS Nikita Khrushchov
também são peça-chave nesse enigmático e esplendoroso documentário-cabeça.
Exibido nos Festivais de San Sebastián e Toronto, venceu prêmio especial do
Júri no Festival de Sundance 2024. Tem tudo para ganhar o Oscar de doc em
março. Nos cinemas pela Pandora Filmes.
Alma do deserto
(2024)
Recém-lançada no mercado
audiovisual brasileiro, a distribuidora Retrato Filmes traz aos cinemas esse ótimo
documentário sobre identidade e resistência, uma coprodução Brasil e Colômbia
ganhadora do Queer Lion no Festival de Veneza. Exibido ano passado no Festival
do Rio e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o filme conta a
trajetória de Georgina Epiayú, mulher trans da etnia Wayúu que vive numa
comunidade isolada em La Guajira, entre a Colômbia e a Venezuela. Dedica seus
dias para obter um novo documento de identidade, pois o antigo foi queimado num
incêndio criminoso e nele constava o nome de nascimento (ou seja, masculino).
Entre idas e vindas ao cartório, a recusa é constante, demonstrando a
intolerância com a população transsexual. Georgina precisa de um novo registro
para exercer o direito de votar, já que as eleições na Colômbia se aproximam. Enquanto
conversa com a câmera, sobre hoje e sobre seu passado, sabemos de quando foi
expulsa da vizinhança e teve os documentos pessoais queimados por motivo de
ódio. É a jornada pessoal de uma mulher em busca de reconhecimento e respeito.
Georgina é uma força da natureza, com seu jeito resiliente, calmo e com falas
pontuais e questionadoras. Seu olhar profundo também traz a história de dor de
seu antepassado ameríndio – a comunidade Wayúu foi praticamente dizimada pelos
colonizadores espanhóis nos últimos 500 anos de existência na região, e
atualmente o povoado sofre com o descaso das autoridades – crianças Wayúu
passam fome, jovens e adultos são assassinados etc
Quem dirige com
delicadeza e muita precisão é a cineasta colombiana Mónica Taboada-Tapia, em
sua estreia em longa-metragem. É a primeira vez que um filme brasileiro – aqui
em coprodução com a Colômbia, vence o Queer Lion, prêmio especial do Festival
de Veneza destinado a obras cinematográficas com temática LGBTQIA+. Também foi
premiado no Festival de Havana, com o Prêmio Especial do Júri da Competição de
Documentários e o Prêmio Arrecife, entregue ao melhor filme com temática Queer.
Nos cinemas pela Retrato Filmes.
Blindado (2024)
Aos 78 anos, Sylvester
Stallone continua firme na telona. Entre 2024 e 2025, lançou dois filmes nos
cinemas americanos, mais uma temporada da série ‘Tulsa King’ e está rodando
seis novos longas-metragens que deverão entrar no circuito até 2026, dentre
eles ‘Samaritano 2’. A fita policial ‘Blindado’ é a primeira parceria dele com
o diretor Justin Routt, que realizou poucos filmes, e juntos engrenaram mais um
longa de ação que sairá no próximo mês nos cinemas, ‘Código Alarum’, esse com
participação da brasileira Isis Valverde – tanto ‘Blindado’ quanto ‘Código
Alarum’ tem a distribuição no Brasil pela Imagem Filmes.
‘Blindado’ serve apenas
para ou fãs de Stallone, que não perdem nada dele, ou para quem curte fitas
corriqueiras de ação ‘mais do mesmo’. Não há exatamente nada de novo em
‘Blindado’, um genérico filme de ação que se passa durante um assalto malsucedido
a um caminhão que transporta dinheiro. Dessa vez Stallone interpreta um vilão,
fugindo dos papéis tradicionais de herói. A trama acompanha James Brody (Jason
Patric), segurança de um caminhão blindado que está com o filho, Casey (Josh
Wiggins), numa missão de transportar milhões de dólares entre bancos. Entra em
cena Rook (Stallone), um perigoso líder criminoso, que com o seu grupo planeja roubar
a grana. Eles cercam o caminhão numa ponte, mas James e Casey ficam presos
dentro, e tentam uma longa negociação.
Stallone deu uma guinada
na carreira nos últimos anos com a série advinda de ‘Rocky’, ‘Creed’, até
recebeu indicação ao Oscar de ator coadjuvante no primeiro da franquia em 2016,
mas aqui está canastrão e desajeitado. Figura lembrada de filmes policiais dos
anos 80 e 90, Jason Patric é outro que não está nos melhores dias, e vem
trabalhando em tudo quanto é produção, como filmes B de terror e ação,
produções chinfrins de suspense etc. Uma pena ver Stallone e Patric
desperdiçados num filme repetido e sem maiores chances.
O empregado do mês
(2022)
Fita francesa de comédia
para quem gosta de um entretenimento bem humorado e com momentos românticos, para
ver sem compromisso. É a estreia do ator Jérôme Commandeur na direção – ele atuou
em muitos filmes populares, como ‘A Riviera não é aqui’ (2008) e recentemente em
‘Asterix e Obelix no Reino do Meio’ (2023). Ele aqui também trabalha como
roteirista e é o protagonista da história, Vincent, um homem rico que perde
tudo e para voltar ao trabalho aceita um emprego no Polo Norte. Lá, irá se
apaixonar, porém terá seus dias ameaçados com esse romance. Ele está super bem
no filme, ao lado da boa atriz Laetitia Dosch, de ‘Jovem mulher’ (2017) – que
se lançou diretora no ano passado, quando dirigiu um longa premiado com o Palm
Dog em Cannes, ‘O julgamento do cachorro’ (2024). Na verdade, o roteiro não é
original de Commandeur: ele o adaptou de uma comédia homônima italiana de 2016,
escrita e protagonizada pelo cantor, ator e humorista Checco Zalone. A versão francesa
está boa e diverte. Participa numa cena como ele mesmo Gérard Depardieu, e tem
aparições dos veteranos Gérard Darmon, Christian Clavier e Valérie Lemercier. Na
trilha sonora, a famosa música italiana dos anos 80 ‘Felicitá’, de Al Bano
& Romina Power. Disponível em streamings brasileiros, distribuído pela A2
Filmes.
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