Novo documentário do cineasta Jorge Bodanzky
(pai da diretora e roteirista Laís Bodanzky), sobre a artista plástica alemã
radicada no Brasil Eleonore Koch (1926-2018), conhecida por Lore. Nas últimas
duas décadas, o diretor de ‘Iracema – Uma transa amazônica’ (1975) e ‘Os Mucker’
(1978) se dedica a documentários autorais, muitos de temática ambiental, e
agora se volta ao mundo das artes para traçar a trajetória de uma pintora pouquíssimo
lembrada, num filme feito a partir de vários encontros de Bodanzky com ela.
Pupila de Alfredo Volpi, Lore usava a técnica de têmpera de ovo, aprendida com
seu mestre, fazendo composições geométricas únicas. Lore conta sobre seus
amores, a vinda ao Brasil quando tinha 10 anos durante a perseguição nazista na
Europa (ela é filha da psicanalista judia Adelheid Koch e do advogado Ernst
Koch), o ingresso no Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro para estudar, a ida
para a França, onde terminou os estudos, as idas para Londres, onde morou, e
sua dedicação às artes a partir dos anos 50. O doc retrata os últimos anos
dela, já idosa, reclusa em sua casa, onde faz profundas reflexões sobre uma
vida inteira dedicada à pintura. Não deixa de tocar em pontos como os diversos
relacionamentos amorosos que teve, sobre sexualidade e solidão. Enquanto Lore comenta,
vemos na tela anotações de seus cadernos pessoais, suas telas, exposições em
que participou, fotos e cartas. Faleceu no final das gravações em 2018, e Bodanzky
terminou o filme no ano passado, quando foi lançado no Festival Internacional
de Documentários ‘É tudo verdade’. É um filme singelo, bonito de se assistir e com
bels histórias dessa mulher importante nas artes visuais brasileiras, porém
esquecida do grande público. Está em exibição nos principais cinemas do país, distribuído
pela Embaúba Filmes.
Homens de barro (2025)
Coprodução Argentina-Brasil rodada no
Rio Grande do Sul, ‘Homens de barro’ é um tenso romance gay sobre dois jovens
que rompem com o passado para viver um amor proibido. A família de Ângelo
Miranda (João Pedro Prates) tem rivalidade com a de Pássaro Tamai (Gui Mallmann).
Os dois, que antes eram amigos, são separados, e crescem ouvindo que não devem
nunca mais se aproximar. Hoje, já maiores de idade, se cruzam num clube
noturno, trocam olhares e se apaixonam, iniciando um relacionamento escondido. Eles
temem os pais e a sociedade, enquanto tentam se curar um ao lado do outro,
entre passeios de moto e em lugares isolados. O filme carrega forte teor dramático,
é um ‘Romeu e Julieta’ gay – pois traz a rivalidade das duas famílias, que se
odeiam, misturando um clima de tensão constante e que supõe a todo instante um
final trágico. Os diálogos têm um ritmo musicado, a fotografia é muito
caprichada, que alterna claro/escuro, jogo de luzes e muito azul. Preste atenção
nos detalhes, pois passado e presente se mesclam de forma interessante nesse
longa-metragem independente. Produção da Valkyria Filmes, Dar a Luz Cine e da
produtora associada Panda Filmes, com distribuição nos cinemas pela O2 Play.
Charlie - Um cachorro especial (2022)
Os filmes indianos carregam uma
narrativa própria, com sua longa duração, números musicais (independente do gênero),
histórias grandiosas com heróis do povo e ares melodramáticos. Antes do boom do
streaming, era impossível encontrar cinema indiano, já que sua distribuição
ficava na Ásia; hoje, só na Netflix temos mais de 50 produções de 2002 a 2025.
O streaming colaborou na democratização ao acesso e popularização não só do
cinema indiano, mas de outros países. O bonito e emocionante ‘Charlie - Um
cachorro especial’ (2022) exemplifica a presença da Índia na cultura do
streaming, disponível em diversos canais para aluguel, como Prime Video, Google
Play e Apple TV, com distribuição no Brasil pela A2 Filmes. Se você curte histórias
românticas com animal de estimação, irá adorar.
No filme, um rapaz solitário chamado
Dharma (Rakshit Shetty), que não tem amigos e vive preso na rotina de sempre, encontra
um cãozinho pelas ruas, Charlie, e o adota. Os dois formam um par inseparável, e
a tristeza de Dharma será substituída pela presença do adorável animalzinho.
O diretor Kiranraj K., de ‘Kaavala’ (2011),
injeta todas as doses de drama e romance possíveis para um filme desse naipe e constrói
bem a relação do protagonista com o cachorro e os desdobramentos (como os laços
afetivos, a superação de problemas pessoais etc). Sabe usar câmera lenta para
fins dramáticos, numa trama envolvente e inspiradora, que faz nos entregarmos
facilmente. Como todo cinema indiano, tem melodrama, emoções, reviravoltas e
pitadas de fantasia. A fotografia é um deleite, com belas paisagens de uma Índia
que pouco vemos na tela.
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