A voz que resta (2024)
Adaptação para os cinemas do monólogo de
Vadim Nikitin, que fez sucesso nos palcos entre os anos de 2017 e 2022, com o
versátil ator Gustavo Machado. Agora, ao lado de Roberta Ribas, Machado faz sua
boa estreia na direção voltando ao papel que o consagrou no teatro. Ele é um jornalista
desalentado, Paulo, numa profunda crise. Envolto em bebidas alcoólicas, cigarro
e vinis antigos, tem um romance com a vizinha casada, Marina (Roberta Ribas). Certa
noite, embriagado, com bloqueio criativo e cansado da rotina, faz gravações
reveladoras em uma fita cassete, para a mulher que ama. O filme é um ‘teatro filmado’,
um monólogo com falas grandiloquentes, pesadas, amarguradas, que reflete o
estado de espírito em constante inquietude do personagem, como se estivesse se entregando
à morte. Ele vara a noite falando para o vídeo, gravando depoimentos fortes,
para entregar para a amante. Enquanto as falas são ditas e as memórias surgem, a
direção de arte e a fotografia alternando tons escuros com azul e vermelho
conduzem o visual desse drama íntimo e adulto. É um filme independente e
pessoal em tom confessional, inspirado em uma história verdadeira, todo gravado
na casa do ator Gustavo Machado. Gostei e recomendo. Nos cinemas brasileiros
pela distribuidora Pandora Filmes.
Madeleine à Paris (2024)
Está em exibição em alguns cinemas
brasileiros o excelente documentário ‘Madeleine à Paris’, um ‘road movie
afro-queer’ que se passa entre Paris e a Bahia. Dirigido pela cineasta Liliane
Mutti, o filme, exibido na Mostra Internacional de Cinema de SP de 2024,
acompanha a trajetória do dançarino, cantor e compositor Robertinho Chaves, que
há 33 anos deixou sua terra natal, Santo Amaro da Purificação, na Bahia, para viver
na capital francesa, onde trabalha nos cabarés latinos. Na noite interpreta um arlequim
negro, e seu esplêndido visual recorre a figurinos brasileiros e africanos, que
resgatam seus antepassados, construindo memória e resistência nas performances descontraídas.
Filho de santo no candomblé, Chaves criou em 2002 um festival cultural movimentado
em Paris, e desde essa época organiza anualmente as edições, o ‘Le Lavage de La
Madeleine’ – a lavagem das escadarias da Igreja da Madalena, próxima da Praça da
Concórdia, por baianas. É considerada a maior festa brasileira da Europa, que
reúne mais de 60 mil pessoas e faz parte do calendário cultural de Paris, envolvendo
música, dança e gastronomia. O doc mostra seis anos na vida de Chaves, em sua casa,
visitando os amigos no Brasil, e em Paris focando na dualidade do artista,
entre os cabarés como arlequim e organizando a ‘Lavage’, onde desfila como
orixá. Mistura depoimentos atuais dele e de amigos, e vídeos e fotos de arquivo,
compondo um retrato multifacetado desse brilhante artista baiano. Nos cinemas
pela Bretz Filmes e Toca Filmes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário