domingo, 9 de fevereiro de 2025

Estreias da semana – Nos cinemas - Parte 2

  

A voz que resta (2024)

 

Adaptação para os cinemas do monólogo de Vadim Nikitin, que fez sucesso nos palcos entre os anos de 2017 e 2022, com o versátil ator Gustavo Machado. Agora, ao lado de Roberta Ribas, Machado faz sua boa estreia na direção voltando ao papel que o consagrou no teatro. Ele é um jornalista desalentado, Paulo, numa profunda crise. Envolto em bebidas alcoólicas, cigarro e vinis antigos, tem um romance com a vizinha casada, Marina (Roberta Ribas). Certa noite, embriagado, com bloqueio criativo e cansado da rotina, faz gravações reveladoras em uma fita cassete, para a mulher que ama. O filme é um ‘teatro filmado’, um monólogo com falas grandiloquentes, pesadas, amarguradas, que reflete o estado de espírito em constante inquietude do personagem, como se estivesse se entregando à morte. Ele vara a noite falando para o vídeo, gravando depoimentos fortes, para entregar para a amante. Enquanto as falas são ditas e as memórias surgem, a direção de arte e a fotografia alternando tons escuros com azul e vermelho conduzem o visual desse drama íntimo e adulto. É um filme independente e pessoal em tom confessional, inspirado em uma história verdadeira, todo gravado na casa do ator Gustavo Machado. Gostei e recomendo. Nos cinemas brasileiros pela distribuidora Pandora Filmes.

 


 

Madeleine à Paris (2024)

 

Está em exibição em alguns cinemas brasileiros o excelente documentário ‘Madeleine à Paris’, um ‘road movie afro-queer’ que se passa entre Paris e a Bahia. Dirigido pela cineasta Liliane Mutti, o filme, exibido na Mostra Internacional de Cinema de SP de 2024, acompanha a trajetória do dançarino, cantor e compositor Robertinho Chaves, que há 33 anos deixou sua terra natal, Santo Amaro da Purificação, na Bahia, para viver na capital francesa, onde trabalha nos cabarés latinos. Na noite interpreta um arlequim negro, e seu esplêndido visual recorre a figurinos brasileiros e africanos, que resgatam seus antepassados, construindo memória e resistência nas performances descontraídas. Filho de santo no candomblé, Chaves criou em 2002 um festival cultural movimentado em Paris, e desde essa época organiza anualmente as edições, o ‘Le Lavage de La Madeleine’ – a lavagem das escadarias da Igreja da Madalena, próxima da Praça da Concórdia, por baianas. É considerada a maior festa brasileira da Europa, que reúne mais de 60 mil pessoas e faz parte do calendário cultural de Paris, envolvendo música, dança e gastronomia. O doc mostra seis anos na vida de Chaves, em sua casa, visitando os amigos no Brasil, e em Paris focando na dualidade do artista, entre os cabarés como arlequim e organizando a ‘Lavage’, onde desfila como orixá. Mistura depoimentos atuais dele e de amigos, e vídeos e fotos de arquivo, compondo um retrato multifacetado desse brilhante artista baiano. Nos cinemas pela Bretz Filmes e Toca Filmes.



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