quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Cine Especial


Halloween – A noite do terror

* Texto especial publicado na coluna 'Middia Magazine', da revista Middia, de Catanduva/SP, edição de outubro/novembro de 2024.

Michael Myers é um psicopata que está num hospital psiquiátrico desde a infância após assassinar a irmã. Na véspera do Halloween, ele foge de lá e retorna para Haddonfield, uma pacata cidade de Illinois, onde morava. No Dia das Bruxas passa a atacar babás com uma faca de cozinha, iniciando uma matança que coloca os moradores em alerta, incluindo seu médico psiquiatra, Dr. Loomis (Donald Pleasence), e o xerife Brackett (Charles Cyphers).

Com um orçamento discreto de U$ 320 mil, ‘Halloween’ virou fenômeno de bilheteria no ano de seu lançamento, em 1978, quando arrecadou mais de U$ 40 milhões, agradando crítica e público e abrindo o caminho para o que seria o slasher movie. Distribuído em poucas salas americanas, ao longo das semanas o filme foi sendo injetado no circuito de cinema, com crescente burburinho, pois o feito era praticamente inédito naquele período – um filme de terror com clima tenso, de um psicopata mascarado que matou a própria irmã a facadas quando criança e agora, 15 anos depois, foge do sanatório para atacar no Dia das Bruxas. Também era algo inédito para uma fita de terror (gênero desprezado pela crítica) e ainda mais de uma produtora independente que acabou fazendo milagre, a Compass.
‘Halloween’ virou um ícone pop do entretenimento e ganhou uma infinidade de continuações e reboot, além de imitações. John Carpenter, o diretor, havia feito apenas dois longas antes, os cultuados ‘Dark star’ (1974), uma paródia de ficção científica no espaço, e o policial com muito tiroteio ‘Assalto a 13ª. DP’ (1976) – ambas fitas autorais que apresentam algo diferenciado na estrutura e na parte técnica. Carpenter foi então convidado pelo diretor da Compass a fazer ‘Halloween’ – ele escreveu com Debra Hill o roteiro, que se passa na cidade natal de Debra, Haddonfield – a verdadeira Haddonfield é em New Jersey, mas no filme se passa em Illinois, ou seja, uma cidade fictícia e bem pacata.
Trouxe para o elenco a novata Jamie Lee Curtis, filha de dois famosos, Tony Curtis e Janet Leigh, que aqui ganhou o apelido de ‘Scream queen’, a ‘Rainha do grito’, pois passou a atuar em diversos filmes de terror em que a plateia vibrava de medo. Ela voltaria outras vezes no papel principal, de Laurie Strode, uma universitária que trabalha como babá e vira alvo de Michael Myers. Também foi um up na carreira do veterano ator inglês Donald Pleasence, conhecido por fitas de ação e guerra nos anos 60 - papel anteriormente cotado para Peter Cushing e Christopher Lee, e Pleasence voltaria nas próximas quatro continuações.
O roteiro tenso da dupla Carpenter/Debra, o bom trabalho de Jamie e Donald e a trilha assustadora e marcante, feita no piano pelo próprio Carpenter (que era músico e arranjador), fizeram do filme um exemplar memorável que atravessaria gerações. Isso tudo aliado a cenas marcantes – o plano-sequência inicial, bem longo, do menino colocando a máscara, em primeira pessoa, e matando a irmã a facadas; a abertura com a sinistra abóbora do Halloween; as aparições repentinas de Myers com máscara branca no canto da tela; a perseguição a Laurie Strode pelos cômodos da antiga casa e dentro do armário; e o desfecho perturbador depois dos tiros contra Myers no piso superior do sobrado.
Sinistra também é a máscara de Myers, que surgiu dois anos antes de outro psicopata mascarado famoso, Jason - a máscara dele é inspirada no rosto do ator William Shatner, o capitão Kirk de ‘Star Trek’, pintada de branco, pálida e sem emoção.





Foi a primeira parceria, de um longo período, de Carpenter com o fotógrafo Dean Cundey – juntos fizeram quatro longas, como ‘A bruma assassina’ (1980) e ‘O enigma de outro mundo’ (1982), e depois Cundey faria sucessos como a trilogia ‘De volta para o futuro’ (1985, 1989 e 1990), ‘Jurassic Park’ (1993) e seria indicado ao Oscar por ‘Uma cilada para Roger Rabbit’ (1989).
Sou fã de ‘Halloween’ e não canso de rever. E quem quiser reassistir, o filme foi lançado em bluray pela Obras-primas do Cinema em 2020 numa caixa especial em três discos, com ótima qualidade de som e imagem; no primeiro disco em BD vem ‘Halloween’; no segundo, também em BD, vem a boa continuação, ‘Halloween II – O pesadelo continua!’ (1981), cuja história se passa na mesma noite do primeiro e tem Jamie Lee Curtis e Donald Pleasence no elenco; e no terceiro disco, um DVD, vem os dois filmes nas versões estendidas para a TV americana, no formato de tela para TV, em fullscreen, tendo ‘Halloween’ 10 minutos a mais (101 minutos), e a continuação, com segundos a menos, onde cortaram as cenas de violência explícita, como a morte do guarda com o martelo na cabeça, que não aparece, e a da mulher na banheira hidroterápica, cujo assassinato demorava quase um minuto. Nos extras da caixa, quatro horas de materiais especiais, tudo em digipack com luva, cards, livreto de 30 páginas e pôsteres de cada filme. Foram produzidos apenas dois mil exemplares do box, devidamente numerados, e hoje esgotado no mercado.



Halloween – A noite do terror (Halloween). EUA, 1978, 91 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por John Carpenter. Distribuição: Obras-primas do Cinema



Halloween II – O pesadelo continua!

O psicopata mascarado Michael Myers continua à solta, mesmo baleado pelo seu médico psiquiatra que estava em seu encalço, Dr. Loomis (Donald Pleasence). Pela madrugada afora, durante o Halloween em Haddonfield, a polícia se mobiliza para encontrar Myers, enquanto Laurie Strode (Jamie Lee Curtis), a única sobrevivente de uma matança horas antes, é internada no hospital local. Myers deixará um rastro de sangue pelo caminho.

Estonteante continuação do clássico inimitável de John Carpenter que fez escola abrindo o subgênero slasher no cinema americano. Desse icônico e assustador filme com o famoso assassino mascarado Michael Myers veio uma franquia que se consolidou e ainda hoje fazem filmes dele – são ao todo 13 filmes, se minha memória não falha. No anterior, Myers foi baleado pelo seu médico psiquiatra na noite de Halloween; só que o assassino escapa e passa a perseguir novas vítimas pela madrugada afora, incluindo Laurie, que está ferida e em estado de choque no hospital – e que nesse capítulo descobrimos que ela é irmã de Myers. Essa parte 2 é tão arrepiante quanto o filme original, ainda com mais violência, sangue e mortes brutais. A história segue a mesma noite e a madrugada do primeiro filme, e aqui, mesmo sem a direção de Carpenter, a tensão cresce e há todo um clima diabólico no ar - Carpenter ajudou o diretor Rick Rosenthal a dirigir, o veterano produtor Dino De Laurentiis assumiu o controle da produção e passou para a Universal distribuir nos cinemas, fazendo certo sucesso nas salas.
Tudo ocorre no hospital, com puro clima de tensão e medo, enquanto o primeiro se passava na antiga casa de Myers. Retornam as figuras centrais do elenco original, Donald Pleasence, como o médico, Jamie Lee Curtis, como a irmã de Myers, e o recém-falecido Charles Cyphers, o policial Brackett – na franquia, os três alternariam os filmes e voltariam em outros capítulos da cinessérie.
Feito no ano-chave dos slasher movies, 1981, quando saíram do forno cerca de 30 filmes de terror e consolidaria o subgênero – alguns deles foram “Sexta-feira 13 - Parte 2” (de Steve Miner), “Chamas da morte” (de Tony Maylam – também conhecido como “A vingança de Cropsy”), “Feliz aniversário para mim” (de J. Lee Thompson), “Noite infernal” (de Tom DeSimone), “Aniversário sangrento” (de Ed Hunt), “A hora das sombras” (de Jimmy Huston), “Pouco antes do amanhecer” (de Jeff Lieberman), “Escola noturna” (de Ken Hughes), “Olhos assassinos” (de Ken Wiederhorn) e “Dia dos Namorados macabro” (de George Mihalka).
Sempre considerei ‘Halloween 2’ uma das melhores continuações de filme de terror, e por mim a franquia poderia ter parado aqui – no ano seguinte veio ‘Halloween III: A noite das bruxas’ (1982), que não tinha nada a ver com a série – um caso estranho e até hoje incompreendido; em seguida Myers voltaria em ‘Halloween 4: O retorno de Michael Myers’ (1988), ainda um filme ok, depois ‘Halloween 5: A vingança de Michael Myers’ (1989) e não pararia mais... Isso porque a série de filmes foi várias vezes ‘restartada’, como em ‘Halloween H20: Vinte Anos Depois’ (1998), quando a proposta foi ‘cancelar todos os anteriores’ e o novo filme seria a continuação direta do original de 1978. Recentemente o diretor norte-americano David Gordon Green fez uma trilogia, que começa bem e vai ficando agressivo, perverso e com extrema violência gratuita, ‘Halloween’ (2018), ‘Halloween Kills: O terror continua’ (2021) e ‘Halloween ends’ (2022), que marcaria o retorno de Jamie Lee Curtis e Charles Cyphers.




A memorável trilha sonora principal escrita por John Carpenter permanece, e na abertura, agora, a abóbora de Halloween racha e dela surge uma sinistra caveira, como na capa original do filme. Por falar em música, no desfecho, nos créditos, tem a canção-tema que muita gente acha que é do primeiro filme, ‘Mr. Sandman’, gravada nos anos 50 pelo quarteto feminino The Chordettes.
Sou fã de ‘Halloween’ e não canso de assistir de novo. E quem quiser reassistir, os filme 1 e 2 foram lançados em bluray pela Obras-primas do Cinema em 2020 numa caixa especial em três discos, com ótima qualidade de som e imagem. Disponível para aluguel em streamings como Prime e AppleTV.

Halloween II – O pesadelo continua! (Halloween II). EUA, 1981, 92 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por Rick Rosenthal. Distribuição: Obras-primas do Cinema

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Nota do blogueiro


E acaba de ser publicado meu último artigo na Revista Científica da Infância, Adolescência e Juventude 'Desidades', publicação do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa para a Infância e Adolescência Contemporâneas (NIPIAC), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Intitulada 'A infância maltratada no cinema de Sandra Kogut: análise fílmica de 'Mutum' e 'Campo Grande', a pesquisa é baseada na minha dissertação de mestrado da PUC-Campinas, defendida em 2022. O artigo saiu na edição de número 40 da revista e está disponível no link abaixo. Agradeço demais minha querida orientadora Juliana Doretto por toda a ajuda e orientação nesse processo.

https://revistas.ufrj.br/index.php/desidades/article/view/56277



domingo, 23 de fevereiro de 2025

Estreia da semana – Nos cinemas (20/02)


Flow (2024)

Um gatinho preto perdido durante uma gigantesca inundação é o mote desse incrível e original filme de animação da Letônia, um país no extremo norte da Europa, que pouco faz cinema. Com coprodução da Bélgica e França, o filme, já na minha lista dos melhores do ano, assim como de muita gente, foi escrito e dirigido pelo jovem cineasta letão Gints Zilbalodis, que o escreveu e produziu com dois parceiros, Matiss Kaza e Ron Dyens.
‘Flow’, em inglês, ‘fluxo’ e também ‘inundação’, substituindo o termo ‘Flood’, é uma animação sem diálogos, somente com trilha sonora e sons da natureza e de bichos, como bolhas de água, miados, chuva e latidos (gravados de animais verdadeiros). Na cativante história, um solitário gato, ao ver sua casa ser destruída por uma terrível inundação, sai numa fuga desesperada para se salvar. A água cobre casas e florestas, tornando a cidade puro oceano. O gato, que não tem nome, refugia-se num velho barco que cruza o local. Quando ele entra na embarcação, descobre ser habitado por uma capivara. Os dois se estranham, mas logo se suportam. Em constante movimento, o barco ruma por estranhos lugares, e aos poucos três outros animais se abrigam nele – um cachorro amigável, um lêmure que rouba objetos e um misterioso pássaro branco grandalhão. O quinteto terá de deixar as diferenças de lado para sobreviver àquela interminável viagem marcada por ameaças e situações desafiadoras.
O filme segue um fluxo ininterrupto, assim como o fluxo da água leva os personagens a labirintos inimagináveis. Como espectadores, nunca sabemos o próximo passo, aonde eles vão parar e se irão sobreviver. O gato é o meigo protagonista, só que os bichos coadjuvantes, assim que surgem na tela, tomam a rédea e até roubam a cena. E sentados na frente da tela vibramos por todos eles. Tanto ‘Flow’ quanto o longa anterior do diretor, ‘Longe’ (2019), sobre um menino e um pássaro que precisam retornam para casa, tratam de uma jornada ao desconhecido, de amizade e sobrevivência.







O diretor desenhou a mão personagens e cenários, e depois os lançou a um software chamado Blender. O resultado é uma animação de aventura contínua, com cores vibrantes e uma textura impecável, que lembra pintura a óleo.
É a animação do momento, que vem fazendo sucesso pelo mundo e chega agora aos cinemas brasileiros distribuído pela Mares Filmes e Alpha Filmes. E que vem levando todos os prêmios por onde passa; até agora venceu 45, como o Globo de Ouro de melhor animação, o Annecy – principal prêmio de animação da Europa, de melhor animação do Júri e do Público, e o Film Independent Spirit Awards de filme estrangeiro. Está indicado ao Oscar e ao Critics' Choice nas categorias de melhor animação e melhor filme estrangeiro, ao Bafta de filme de animação e filme infantil, ao Cesar de animação, e ao Annie de animação independente, direção e roteiro.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Resenhas especiais


O homem da Lua

Um homem que mora na Lua visita a Terra montado em um cometa. Chamado apenas de ‘O Homem da Lua’, ele fica admirado com as novidades terrestres. Com o passar dos dias vira alvo de desprezo pelos moradores da Terra por ser um invasor.

Único trabalho dirigido por Stephan Schesch, produtor de filmes independentes na Alemanha, essa coprodução França/Alemanha/Irlanda é uma animação com traços psicodélicos, diferente de tudo o que você já assistiu. É a história de um homem em preto-e-branco que mora na lua e ocupa todo o espaço daquele satélite natural. Certa vez, se segura na cauda de um cometa e cai na Terra. Aqui é desprezado pela maior parte dos humanos. O presidente, um homem autoritário, tem medo de que ele traga alienígenas para destruir tudo, e os cientistas desconfiam de seus propósitos. O Homem da Lua se encanta com a diversidade de flores e animais do planeta Terra, e acaba acolhido por uma coruja e um alce. Quando o presidente do país coloca a polícia em sua cola, o inofensivo homem se abriga no laboratório de um velho cientista, que o ajudará a se salvar. Ele também contará com a amizade de um grupo de crianças para voltar ao seu território, situado a milhares de anos-luz.



Um filme tocante, original, sobre diversidade, amizade e preservação do planeta. No filme, as crianças têm o poder de salvar o mundo dos dissabores de um regime autoritário, que persegue e aprisiona o outro só por ser diferente. Exibido no Festival de Cinema de Animação de Annecy, na França, um dos mais importantes do mundo na categoria, é inspirado no livro infanto-juvenil do falecido escritor e ilustrador francês Tomi Ungerer, publicado nos anos 60 – Ungerer escreveu livros famosos, como ‘Os três ladrões’, lembrado pelas fábulas provocadoras e sátiras sociais inteligentes. Quem faz a voz do Homem da Lua é a atriz Katharina Thalbach, de ‘O tambor’ (1979), e a do presidente é de Ulrich Tukur, de ‘A vida dos outros’ (2006), ambos alemães.
Disponível em DVD pela Imovision e na plataforma Reserva Imovision, que conta com um catálogo impressionante de centenas de filmes cult da Imovision em parceria com o cinema Reserva Cultural - https://reservaimovision.com.br/

O homem da Lua (Der mondmann). França/Alemanha/Irlanda, 2012, 95 minutos. Animação. Colorido. Dirigido por Stephan Schesch. Distribuição: Imovision



Garota sombria caminha pela noite

É noite na cidade iraniana de Bad City, e pelas ruas caminha uma garota, sem nome (Sheila Vand), coberta por um véu preto. Ela, uma vampira solitária, caça moribundos em busca de sangue. Até se apaixonar por uma de suas prováveis vítimas, Arash (Arash Marandi).

Bem recebido no circuito independente de cinema, o filme de título poético é um drama de terror vampiresco estilizado, feito todo em preto-e-branco, resultando numa estética potente. Em Bad City, cidade fantasma (e fictícia) numa Irã sombria, moradia de prostitutas, viciados em drogas e gangues, uma jovem vampira perambula solitariamente com seu longo hijab preto. Ela persegue os habitantes desalmados, leva-os para casa e suga o sangue das vítimas. Essa é sua rotina voraz. Só que tudo se transforma quando conhece um rapaz bondoso, e entre eles nasce uma história de amor diferente.
Com uma atmosfera fúnebre, de caos anunciado, enquadramentos que focam e desfocam o fundo, com primeiro e segundo planos mesclados, repleto de pormenores de mãos e olhares, o estranho filme é um prato cheio para quem busca obras alternativas. Não espere susto e terror explícito, há muito de subentendido na trama, sem violência gráfica que fomos acostumados em filme de vampiro. E que mostra um Irã sem vida, apagado, tomado por marginais e pelo submundo, em que as mulheres vivem sozinhas e escondidas.



Premiado nos festivais mais reconhecidos de terror e cinema fantástico, como Sitges, na Catalunha, e indicado nos independentes, como Gotham e Sundance. É uma produção norte-americana, rodada na Califórnia, mas falado em persa – a roteirista e diretora Ana Lily Amirpour é britânica, descendente de iranianos, e seus dois filmes seguintes foram fantasia com toques de horror e violência, ‘Amores canibais’ (2016) e ‘Monalisa e a lua de sangue’ (2021). Gosto muito desse trabalho dela, já assisti três vezes e recomendo. Em DVD pela Imovision e disponível na plataforma Reserva Imovision.

Garota sombria caminha pela noite (A girl walks home alone at night). EUA, 2014, 101 minutos. Drama/Terror. Preto-e-branco. Dirigido por Ana Lily Amirpour. Distribuição: Imovision

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Estreias da semana – Nos cinemas e no streaming

 

As cores e amores de Lore (2024)

 

Novo documentário do cineasta Jorge Bodanzky (pai da diretora e roteirista Laís Bodanzky), sobre a artista plástica alemã radicada no Brasil Eleonore Koch (1926-2018), conhecida por Lore. Nas últimas duas décadas, o diretor de ‘Iracema – Uma transa amazônica’ (1975) e ‘Os Mucker’ (1978) se dedica a documentários autorais, muitos de temática ambiental, e agora se volta ao mundo das artes para traçar a trajetória de uma pintora pouquíssimo lembrada, num filme feito a partir de vários encontros de Bodanzky com ela. Pupila de Alfredo Volpi, Lore usava a técnica de têmpera de ovo, aprendida com seu mestre, fazendo composições geométricas únicas. Lore conta sobre seus amores, a vinda ao Brasil quando tinha 10 anos durante a perseguição nazista na Europa (ela é filha da psicanalista judia Adelheid Koch e do advogado Ernst Koch), o ingresso no Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro para estudar, a ida para a França, onde terminou os estudos, as idas para Londres, onde morou, e sua dedicação às artes a partir dos anos 50. O doc retrata os últimos anos dela, já idosa, reclusa em sua casa, onde faz profundas reflexões sobre uma vida inteira dedicada à pintura. Não deixa de tocar em pontos como os diversos relacionamentos amorosos que teve, sobre sexualidade e solidão. Enquanto Lore comenta, vemos na tela anotações de seus cadernos pessoais, suas telas, exposições em que participou, fotos e cartas. Faleceu no final das gravações em 2018, e Bodanzky terminou o filme no ano passado, quando foi lançado no Festival Internacional de Documentários ‘É tudo verdade’. É um filme singelo, bonito de se assistir e com bels histórias dessa mulher importante nas artes visuais brasileiras, porém esquecida do grande público. Está em exibição nos principais cinemas do país, distribuído pela Embaúba Filmes.

 


 

Homens de barro (2025)

 

Coprodução Argentina-Brasil rodada no Rio Grande do Sul, ‘Homens de barro’ é um tenso romance gay sobre dois jovens que rompem com o passado para viver um amor proibido. A família de Ângelo Miranda (João Pedro Prates) tem rivalidade com a de Pássaro Tamai (Gui Mallmann). Os dois, que antes eram amigos, são separados, e crescem ouvindo que não devem nunca mais se aproximar. Hoje, já maiores de idade, se cruzam num clube noturno, trocam olhares e se apaixonam, iniciando um relacionamento escondido. Eles temem os pais e a sociedade, enquanto tentam se curar um ao lado do outro, entre passeios de moto e em lugares isolados. O filme carrega forte teor dramático, é um ‘Romeu e Julieta’ gay – pois traz a rivalidade das duas famílias, que se odeiam, misturando um clima de tensão constante e que supõe a todo instante um final trágico. Os diálogos têm um ritmo musicado, a fotografia é muito caprichada, que alterna claro/escuro, jogo de luzes e muito azul. Preste atenção nos detalhes, pois passado e presente se mesclam de forma interessante nesse longa-metragem independente. Produção da Valkyria Filmes, Dar a Luz Cine e da produtora associada Panda Filmes, com distribuição nos cinemas pela O2 Play.

 


 

Charlie - Um cachorro especial (2022)

 

Os filmes indianos carregam uma narrativa própria, com sua longa duração, números musicais (independente do gênero), histórias grandiosas com heróis do povo e ares melodramáticos. Antes do boom do streaming, era impossível encontrar cinema indiano, já que sua distribuição ficava na Ásia; hoje, só na Netflix temos mais de 50 produções de 2002 a 2025. O streaming colaborou na democratização ao acesso e popularização não só do cinema indiano, mas de outros países. O bonito e emocionante ‘Charlie - Um cachorro especial’ (2022) exemplifica a presença da Índia na cultura do streaming, disponível em diversos canais para aluguel, como Prime Video, Google Play e Apple TV, com distribuição no Brasil pela A2 Filmes. Se você curte histórias românticas com animal de estimação, irá adorar.
No filme, um rapaz solitário chamado Dharma (Rakshit Shetty), que não tem amigos e vive preso na rotina de sempre, encontra um cãozinho pelas ruas, Charlie, e o adota. Os dois formam um par inseparável, e a tristeza de Dharma será substituída pela presença do adorável animalzinho.
O diretor Kiranraj K., de ‘Kaavala’ (2011), injeta todas as doses de drama e romance possíveis para um filme desse naipe e constrói bem a relação do protagonista com o cachorro e os desdobramentos (como os laços afetivos, a superação de problemas pessoais etc). Sabe usar câmera lenta para fins dramáticos, numa trama envolvente e inspiradora, que faz nos entregarmos facilmente. Como todo cinema indiano, tem melodrama, emoções, reviravoltas e pitadas de fantasia. A fotografia é um deleite, com belas paisagens de uma Índia que pouco vemos na tela.



quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Nota do Blogueiro

 

Cine Debate neste sábado traz novo curta-metragem de diretor riopretense

 

O Cine Debate do Imes Catanduva promove neste sábado, dia 15/02, a partir das 14h, mais uma sessão de cinema. Dessa vez será exibido, no Sesc Catanduva, o curta-metragem ‘Espelho meu’ (2024), o novo trabalho do cineasta Alexandre Estevanato, nascido em Marília e residente em São José do Rio Preto. É a terceira vez que Estevanato participa do Cine Debate, trazendo seus filmes e conduzindo um bate-papo sobre seus trabalhos. No dia 15/02 ele retornará ao Sesc CAT para falar sobre a obra, que contará com a mediação do idealizador do Cine Debate, o jornalista, professor do Imes e do Senac e crítico de cinema Felipe Brida. A sessão é gratuita e aberta a todos.

 

Sinopse: Clarice, em meio à batalha contra o câncer de mama, enfrenta a dor de um corpo que muda e o vazio deixado pela partida de quem deveria estar ao seu lado. Mas, nas sombras desse percurso, ela descobre uma força inesperada no amor incondicional de sua filha.

 



Cine Debate

 

O Cine Debate é um projeto de extensão do curso de Psicologia do Imes Catanduva em parceria o Sesc e o Senac Catanduva. Completa 13 anos em 2025 trazendo filmes cult de maneira gratuita a toda a população. Conheça mais o projeto em https://www.facebook.com/cinedebateimes

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Cine Especial

 


Solaris

*Reedição

O psicólogo Kris Kelvin (Donatas Banionis) é enviado a uma estação espacial na órbita de Solaris, um planeta distante, desconhecido dos humanos. Ele tem como missão investigar as causas que levaram a tripulação de uma nave à insanidade. Ao chegar encontra antigos cientistas em estado de transe, além de sua esposa, que se suicidou anos atrás, e passa a ter contato diário com o oceano de Solaris, que tem vida própria e pode promover estranhos fenômenos.

O cineasta Andrei Tarkovski dirigiu a segunda versão para o cinema (e a melhor de todas) de um romance hipnótico de ficção científica do polonês Stanslaw Lem (o livro está disponível no Brasil pela editora Aleph, li há alguns anos essa versão e recomendo a leitura). A essência da história, assim como a enorme complexidade de seus detalhes, permanece no filme, que é tão enigmático e estranho quanto o da literatura original. Tarkovski soube trazer a dimensão dos personagens narrados nas páginas de Lem para escrever o roteiro ao lado de Fridrikh Gorenshteyn, em particular na composição de Kris Kelvin, o psicólogo da missão crucial de resgate, enviado ao planeta Solaris, lugar temido e desconhecido, que possui um oceano dotado de inteligência, que pode entrar no íntimo das pessoas e materializar suas memórias, tornando-as reais. Além da história curiosa, esse cult movie soviético, que é para alguns indecifrável, prima por elementos técnicos invejáveis, como a direção de arte meio futurista meio atual (com elementos de “2001 – Uma odisseia no espaço”, realizado quatro anos antes), truques de montagem, uma trilha sonora marcante, do compositor Eduard Artemev, que compôs para mais de 160 filmes, dentre eles “O espelho” (1975) e “Stalker” (1979), do próprio Tarkovski, e a fotografia com luzes e cores alternantes, de Vadim Yusov, que havia trabalhado com o diretor em “A infância de Ivan” (1962) e “Andrei Rublev” (1966). Sem contar a narrativa lenta e íntima, típicas do diretor, com longas passagens sem diálogos, só com imagens oníricas.
Ganhou o Fipresci (Prêmio da Crítica) e o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes, em 1972, onde concorreu à Palma de Ouro.
Disponível em DVD pela CPC-Umes Filmes, em disco duplo (com filme e extras, dentre eles entrevistas especiais, making of e cenas excluídas); saiu também em Bluray pela CPC-Umes em parceria com a Versátil, numa edição de colecionador – as últimas cópias do BD estão disponíveis no site da CPC-Umes. Ambas as cópias estão excelentes, saindo da matriz restaurada em 2015 pela Mosfilm, com a metragem original de cinema (de 167 minutos) – opte por esta, pois há em circulação uma edição não autorizada do diretor, de 115 min. Depois de ver “Solaris” de Tarkovski, procure, para comparar, as duas outras versões para cinema do livro de Lem, ambas de mesmo título - tem o telefilme de 1968, feito na URSS, e o longa de 2002 de Steven Soderbergh, com George Clooney, indicado ao Urso de Ouro em Berlim.






Solaris (Solyaris). URSS, 1972, 166 minutos. Drama/Ficção científica. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Andrei Tarkovski. Distribuição: CPC-Umes Filmes (DVD) e Versátil/CPC-Umes Filmes (Blu-ray)

domingo, 9 de fevereiro de 2025

Estreias da semana – Nos cinemas - Parte 2

  

A voz que resta (2024)

 

Adaptação para os cinemas do monólogo de Vadim Nikitin, que fez sucesso nos palcos entre os anos de 2017 e 2022, com o versátil ator Gustavo Machado. Agora, ao lado de Roberta Ribas, Machado faz sua boa estreia na direção voltando ao papel que o consagrou no teatro. Ele é um jornalista desalentado, Paulo, numa profunda crise. Envolto em bebidas alcoólicas, cigarro e vinis antigos, tem um romance com a vizinha casada, Marina (Roberta Ribas). Certa noite, embriagado, com bloqueio criativo e cansado da rotina, faz gravações reveladoras em uma fita cassete, para a mulher que ama. O filme é um ‘teatro filmado’, um monólogo com falas grandiloquentes, pesadas, amarguradas, que reflete o estado de espírito em constante inquietude do personagem, como se estivesse se entregando à morte. Ele vara a noite falando para o vídeo, gravando depoimentos fortes, para entregar para a amante. Enquanto as falas são ditas e as memórias surgem, a direção de arte e a fotografia alternando tons escuros com azul e vermelho conduzem o visual desse drama íntimo e adulto. É um filme independente e pessoal em tom confessional, inspirado em uma história verdadeira, todo gravado na casa do ator Gustavo Machado. Gostei e recomendo. Nos cinemas brasileiros pela distribuidora Pandora Filmes.

 


 

Madeleine à Paris (2024)

 

Está em exibição em alguns cinemas brasileiros o excelente documentário ‘Madeleine à Paris’, um ‘road movie afro-queer’ que se passa entre Paris e a Bahia. Dirigido pela cineasta Liliane Mutti, o filme, exibido na Mostra Internacional de Cinema de SP de 2024, acompanha a trajetória do dançarino, cantor e compositor Robertinho Chaves, que há 33 anos deixou sua terra natal, Santo Amaro da Purificação, na Bahia, para viver na capital francesa, onde trabalha nos cabarés latinos. Na noite interpreta um arlequim negro, e seu esplêndido visual recorre a figurinos brasileiros e africanos, que resgatam seus antepassados, construindo memória e resistência nas performances descontraídas. Filho de santo no candomblé, Chaves criou em 2002 um festival cultural movimentado em Paris, e desde essa época organiza anualmente as edições, o ‘Le Lavage de La Madeleine’ – a lavagem das escadarias da Igreja da Madalena, próxima da Praça da Concórdia, por baianas. É considerada a maior festa brasileira da Europa, que reúne mais de 60 mil pessoas e faz parte do calendário cultural de Paris, envolvendo música, dança e gastronomia. O doc mostra seis anos na vida de Chaves, em sua casa, visitando os amigos no Brasil, e em Paris focando na dualidade do artista, entre os cabarés como arlequim e organizando a ‘Lavage’, onde desfila como orixá. Mistura depoimentos atuais dele e de amigos, e vídeos e fotos de arquivo, compondo um retrato multifacetado desse brilhante artista baiano. Nos cinemas pela Bretz Filmes e Toca Filmes.



sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Estreias da semana – Nos cinemas e no streaming - Parte 1

 

 

Trilha sonora para um golpe de Estado (2024)

 

Com uma fusão impressionante entre música e política, ‘Trilha sonora para um golpe de Estado’ recebeu indicação ao Oscar de melhor documentário esse ano e estreou na última semana em várias salas de cinema do Brasil, principalmente das capitais. Com direção do belga Johan Grimonprez, o mesmo de ‘Shadow world’ (2016), o filme é uma obra erudita, para público específico, tamanha a complexidade dos desdobramentos de sua história. Fala-se do jazz americano, relacionando-o ao colonialismo na África e à Guerra Fria, e de como a CIA orquestrou, às escondidas, um golpe de Estado no Congo. Não é um fácil palatável, fácil de compreender, há muitos personagens apresentados e discutidos e uma duração acima da média – 151 minutos. Conta com um vasto material de arquivo e há apenas uma entrevista atual para o filme; o restante são arquivos de áudio, reportagens, bastidores de shows e velhos depoimentos gravados. A figura central do documentário é o ex-primeiro ministro da República Democrática do Congo Patrice Lumumba, líder anti-imperialista que lutou contra a dominação colonial em seu país e foi assassinado aos 35 anos em 1961.
O filme denuncia a participação política dos Estados Unidos na morte de Lumumba, e enquanto isso é traçado, mostra como a música, especialmente o jazz e o soul, viraram ferramenta estratégica no xadrez político da época. Estados Unidos tentaram usar figuras notórias de cantor/cantora negro como propaganda na Guerra Fria, como Miles Davis, John Coltrane, Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, Abbey Lincoln, Nina Simone, Dizzy Gillespie – boa parte deles fez resistência contra essa manipulação e acabaram execrados. Num dos momentos de destaque do filme, e assustador, enviam Louis Armstrong para uma pequena turnê na África, como um entretenimento para desviar o olhar da população enquanto a CIA tramava um golpe de Estado no Congo. O ativista dos Direitos Humanos Malcolm X e o líder da URSS Nikita Khrushchov também são peça-chave nesse enigmático e esplendoroso documentário-cabeça. Exibido nos Festivais de San Sebastián e Toronto, venceu prêmio especial do Júri no Festival de Sundance 2024. Tem tudo para ganhar o Oscar de doc em março. Nos cinemas pela Pandora Filmes.

 


 

Alma do deserto (2024)

 

Recém-lançada no mercado audiovisual brasileiro, a distribuidora Retrato Filmes traz aos cinemas esse ótimo documentário sobre identidade e resistência, uma coprodução Brasil e Colômbia ganhadora do Queer Lion no Festival de Veneza. Exibido ano passado no Festival do Rio e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o filme conta a trajetória de Georgina Epiayú, mulher trans da etnia Wayúu que vive numa comunidade isolada em La Guajira, entre a Colômbia e a Venezuela. Dedica seus dias para obter um novo documento de identidade, pois o antigo foi queimado num incêndio criminoso e nele constava o nome de nascimento (ou seja, masculino). Entre idas e vindas ao cartório, a recusa é constante, demonstrando a intolerância com a população transsexual. Georgina precisa de um novo registro para exercer o direito de votar, já que as eleições na Colômbia se aproximam. Enquanto conversa com a câmera, sobre hoje e sobre seu passado, sabemos de quando foi expulsa da vizinhança e teve os documentos pessoais queimados por motivo de ódio. É a jornada pessoal de uma mulher em busca de reconhecimento e respeito. Georgina é uma força da natureza, com seu jeito resiliente, calmo e com falas pontuais e questionadoras. Seu olhar profundo também traz a história de dor de seu antepassado ameríndio – a comunidade Wayúu foi praticamente dizimada pelos colonizadores espanhóis nos últimos 500 anos de existência na região, e atualmente o povoado sofre com o descaso das autoridades – crianças Wayúu passam fome, jovens e adultos são assassinados etc
Quem dirige com delicadeza e muita precisão é a cineasta colombiana Mónica Taboada-Tapia, em sua estreia em longa-metragem. É a primeira vez que um filme brasileiro – aqui em coprodução com a Colômbia, vence o Queer Lion, prêmio especial do Festival de Veneza destinado a obras cinematográficas com temática LGBTQIA+. Também foi premiado no Festival de Havana, com o Prêmio Especial do Júri da Competição de Documentários e o Prêmio Arrecife, entregue ao melhor filme com temática Queer. Nos cinemas pela Retrato Filmes.

 


 

Blindado (2024)

 

Aos 78 anos, Sylvester Stallone continua firme na telona. Entre 2024 e 2025, lançou dois filmes nos cinemas americanos, mais uma temporada da série ‘Tulsa King’ e está rodando seis novos longas-metragens que deverão entrar no circuito até 2026, dentre eles ‘Samaritano 2’. A fita policial ‘Blindado’ é a primeira parceria dele com o diretor Justin Routt, que realizou poucos filmes, e juntos engrenaram mais um longa de ação que sairá no próximo mês nos cinemas, ‘Código Alarum’, esse com participação da brasileira Isis Valverde – tanto ‘Blindado’ quanto ‘Código Alarum’ tem a distribuição no Brasil pela Imagem Filmes.
‘Blindado’ serve apenas para ou fãs de Stallone, que não perdem nada dele, ou para quem curte fitas corriqueiras de ação ‘mais do mesmo’. Não há exatamente nada de novo em ‘Blindado’, um genérico filme de ação que se passa durante um assalto malsucedido a um caminhão que transporta dinheiro. Dessa vez Stallone interpreta um vilão, fugindo dos papéis tradicionais de herói. A trama acompanha James Brody (Jason Patric), segurança de um caminhão blindado que está com o filho, Casey (Josh Wiggins), numa missão de transportar milhões de dólares entre bancos. Entra em cena Rook (Stallone), um perigoso líder criminoso, que com o seu grupo planeja roubar a grana. Eles cercam o caminhão numa ponte, mas James e Casey ficam presos dentro, e tentam uma longa negociação.
Stallone deu uma guinada na carreira nos últimos anos com a série advinda de ‘Rocky’, ‘Creed’, até recebeu indicação ao Oscar de ator coadjuvante no primeiro da franquia em 2016, mas aqui está canastrão e desajeitado. Figura lembrada de filmes policiais dos anos 80 e 90, Jason Patric é outro que não está nos melhores dias, e vem trabalhando em tudo quanto é produção, como filmes B de terror e ação, produções chinfrins de suspense etc. Uma pena ver Stallone e Patric desperdiçados num filme repetido e sem maiores chances.

 


 

O empregado do mês (2022)

 

Fita francesa de comédia para quem gosta de um entretenimento bem humorado e com momentos românticos, para ver sem compromisso. É a estreia do ator Jérôme Commandeur na direção – ele atuou em muitos filmes populares, como ‘A Riviera não é aqui’ (2008) e recentemente em ‘Asterix e Obelix no Reino do Meio’ (2023). Ele aqui também trabalha como roteirista e é o protagonista da história, Vincent, um homem rico que perde tudo e para voltar ao trabalho aceita um emprego no Polo Norte. Lá, irá se apaixonar, porém terá seus dias ameaçados com esse romance. Ele está super bem no filme, ao lado da boa atriz Laetitia Dosch, de ‘Jovem mulher’ (2017) – que se lançou diretora no ano passado, quando dirigiu um longa premiado com o Palm Dog em Cannes, ‘O julgamento do cachorro’ (2024). Na verdade, o roteiro não é original de Commandeur: ele o adaptou de uma comédia homônima italiana de 2016, escrita e protagonizada pelo cantor, ator e humorista Checco Zalone. A versão francesa está boa e diverte. Participa numa cena como ele mesmo Gérard Depardieu, e tem aparições dos veteranos Gérard Darmon, Christian Clavier e Valérie Lemercier. Na trilha sonora, a famosa música italiana dos anos 80 ‘Felicitá’, de Al Bano & Romina Power. Disponível em streamings brasileiros, distribuído pela A2 Filmes.

 


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Estreias da semana - No streaming e nos cinemas - Parte 2

 

O maravilhoso mágico de Oz – Parte 1 (2025)

 

O cinema russo desponta nas salas do Brasil há alguns anos com filmes de animação e fantasia adaptados da literatura clássica. Outrora, quem realizava com maestria as adaptações era Hollywood. O maior investimento do cinema russo recente é ‘O maravilhoso mágico de Oz – Parte 1’ (2025), uma fantasia ágil, terna e bem humorada, inspirada no livro ‘The wizard of Emerald City’, do russo Aleksandr Volkov (1891-1977), publicado pela primeira vez em 1939 e que por sua vez tinha pura inspiração no clássico romance ‘O mágico de Oz’ (1900), do norte-americano L. Frank Baum. Com o sucesso do primeiro livro, Volkov lançou uma série de romances com os personagens, que se tornaram populares na antiga URSS. A trama segue os mesmos passos de ‘O mágico de Oz’ que conhecemos, por exemplo, da obra-prima do cinema de Victor Fleming; uma garotinha é magicamente transportada por um furacão a uma terra desconhecida. Ela se chama Ellie, e ao lado do cãozinho Totó embarca numa jornada repleta de aventuras. Ela é orientada a seguir por uma estrada de tijolos amarelos até o alto de uma montanha, onde chegará na mística Cidade das Esmeraldas. No caminho fica próxima de três personagens – um espantalho que quer um cérebro para pensar melhor, um homem de lata que procura um coração para ser mais sensível e um leão em busca de coragem para deixar de ser medroso. O destino dela é encontrar-se com um mágico astuto, Oz, porém o principal obstáculo será uma bruxa má, que irá amaldiçoar os passos da garota.
Há algumas novidades no filme que vem do livro de Volkov, diferente de Baum, como o ambiente mais atual, Ellie no lugar de Dorothy, os pais divorciados da menina e o cachorro Totó que fala como humano. Funciona se você estiver disposto a acreditar em magia e esquecer as outras versões. É cinema puro, com efeitos visuais caprichados, cenários coloridos e extravagantes. O resultado não decepciona e confesso que embarquei na proposta. Um filme para toda a família, distribuído nos cinemas pela Imagem Filmes. Prepare-se porque a parte 2 chega em breve aos cinemas.
PS – Há outras adaptações na Rússia da obra literária de Aleksandr Volkov, como uma série televisiva de animação em stop-motion de 1974 e um filme infantil de 1994.

 


Kasa Branca (2024)

 

Após breve temporada em festivais de cinema no Brasil e no exterior, como o Festival do Rio, onde ganhou os prêmios de melhor diretor, trilha sonora, fotografia e ator coadjuvante (Diego Francisco), o drama ‘Kasa Branca’ chega aos cinemas. Leve, sincero e espirituoso, o novo trabalho de Luciano Vidigal, escrito e dirigido por ele, é inspirado em um caso real. Acompanha a vida de Dé (Big Jaum), um jovem morador da periferia de Chatuba, no Rio de Janeiro, que cuida da avó com Alzheimer, Almerinda (Teca Pereira). Ela está debilitada na cadeira de rodas e quase não conversa, portanto Dé resolver morar com ela. Os dois amigos de infância dele, Adrianim (Diego Francisco) e Martins (Ramon Francisco), visitam Almerinda todos os dias, e juntos com Dé a levam para passear pelo bairro e até fazer trilha numa mata próxima. O grupo se une cada vez mais enquanto a morte se aproxima da idosa. ‘Kasa Branca’ é um relato emotivo sobre os fortes vínculos de uma amizade que se estreita até entre outros entes da família e toca em temas delicados como aceitação e morte sem cair no ‘modo piegas’. Não é um filme triste sobre doentes em estado terminal, nem melodramático, e sim uma fita jovem, pra frente, com momentos divertidos. Bem realizado, com ritmo, uma montagem coesa e bons diálogos, o filme se constrói em torno dos quatro personagens – o jovem protagonista, a avó e os dois amigos. O elenco é de pretos da periferia, que estão em estado de graça, conforme desejo do próprio cineasta, que era dar espaço para atores menos conhecidos e que são de comunidades do Rio. Conta com pequenas participações de rostos conhecidos, como Gi Fernandes, Babu Santana e Otavio Muller. Nos cinemas pela Vitrine Filmes, tem produção da Sobretudo Produção, TvZero, Tacacá Filmes, Cavideo e Dualto, em coprodução com a Prefeitura do Rio, por meio da Riofilme, Canal Brasil, Telecine e Globo Filmes.

 


 

Mar em chamas (2021)

 

Chega à plataforma de streaming Adrenalina Pura ‘Mar em chamas’ (2021), uma eficiente fita de ação norueguesa dentro do subgênero ‘Disaster movie’. Movimentado, com cenas de ação estupendas, é um prato cheio para quem curte filmes de corrida contra o tempo. O diretor John Andreas Andersen, natural da Noruega, é craque em filmes de desastres, já havia feito outro eletrizante trabalho, ‘Terremoto’ (2021), sobre um terrível terremoto em Oslo que acaba com a cidade. Agora, ele sai da terra e vai para o mar – para dentro de uma plataforma de petróleo que afunda no oceano. Cientistas e investigadores descobrem um perigo maior que a destruição da plataforma: o que causou aquilo foi uma fenda na parte mais profunda do mar, que engolirá as cidades da costa norueguesa em poucos dias. É uma fita que vem com tudo e nos deixa apreensivos. Tudo funciona bem: o roteiro é sério, provoca agonia e queremos saber o que irá acontecer à medida que o desastre natural se instala, o elenco é ágil, com destaque para a protagonista, Kristine Kujath Thorp, que recentemente fez o drama com horror cult ‘Doente de mim mesma’ (2022), e os efeitos visuais convencem – confesso que fiquei boquiaberto pela qualidade técnica, que não perde nada para Hollywood. Com coprodução Suécia e Dinamarca, o filme entrou essa semana no Adrenalina Pura, serviço de streaming com mais de 350 filmes de ação, terror e suspense, disponível no Prime Video Channels, Apple TV e Claro TV+.




sábado, 1 de fevereiro de 2025

Estreias da semana - No streaming e nos cinemas - Parte 1

  

Fúria da natureza (2023)

 

Produção indiana de 2023 que fez carreira nos cinemas de lá e chega agora nos streamings brasileiros. É um disaster movie inspirado em uma tragédia real, as enchentes de Kerala, que mataram 500 pessoas no sul da Índia, no verão de 2018. As chuvas causaram inundações avassaladoras, afetando cinco milhões de moradores da populosa cidade de Kerala. O filme resgata histórias diferentes de sobrevivência em meio ao desastre – um militar que ajuda um lojista cego, uma jornalista que se arrisca para cobrir as enchentes, uma família de pescadores diretamente atingidos pelas águas, um casal em busca de um novo lar, um motorista de táxi com seus passageiros estrangeiros, dentre outras. Os personagens são tratados como heróis comuns, cidadãos que levavam uma vida normal até serem surpreendidos pelo dilúvio e tentam encontrar formas de se salvar. Há romance, drama – quase um melodrama, e, claro, como em todos os filmes indianos, muita música e trilha sonora constante, que perpassa todos os momentos da trama. É um filme-mosaico, com uma gama de personagens e seus desafios antes e depois das enchentes.
Bem realizado, o longa indiano é intenso, com uma fotografia primorosa, principalmente nas cenas dos resgates na enchente, difíceis de serem gravadas. Mesmo tratando de uma tragédia, traz personagens carismáticos e afetivos. No elenco, rostos do novo cinema indiano, atores e atrizes que fazem sucesso no país, como Kunchacko Boban, Tovino Thomas, Asif Ali e Aparna Balamurali. Distribuído no Brasil pela A2 Filmes, está disponível para aluguel nas principais plataformas online, como Prime Video, Amazon Video e Apple TV.

 

Fúria da natureza (2018). Índia, 2023, 148 minutos. Ação/Drama. Colorido. Dirigido por Jude Anthany Joseph. Distribuição: A2 Filmes (nos cinemas e no streaming)

 


 

Aposentados e curiosos (2023)

 

Não tinha ouvido falar desse filme independente norte-americano, uma comédia original em uma trama policialesca. Engraçado e perspicaz, conta a história de um protagonista em dois tempos, o detetive Wilbert Moser (bom trabalho de Basil Hoffman) - em 1972 ele investigou um caso que ficou sem solução, o roubo de um banco cometido por quatro bandidos mascarados; passados 50 anos, ele, agora aposentado, mas curioso para solucionar o antigo crime, resolve reabri-lo e investigar por conta própria. Para dar conta do recado, convoca uma psicóloga forense, um amigo que é dono de um restaurante e ex-presidiários que prendeu no passado e hoje estão em reabilitação, e que participam de estudos bíblicos com ele. Esse grupo improvável se une aos moradores da minúscula comunidade de Lehigh Valley, e juntos correm contra o tempo para a resolução do caso.
Tem um roteiro original, rápido, com participação de coadjuvantes como Daniel Roebuck (ator de ‘O fugitivo’, de 1993, e diretor, que dirigiu o filme com a filha, Grace), Duane Whitaker, de ‘Pulp Fiction: Tempo de violência’ (1994), Stephanie Zimbalist (filha do famoso ator Efrem Zimbalist Jr.), da série ‘Jogo duplo’ (1982-1987), Willard E. Pugh, de ‘A cor púrpura’ (1985), e Timothy E. Goodwin, de ‘Bela vingança’ (2020). Foi o último trabalho do multipremiado ator veterano Basil Hoffman, de ‘A caixa’ (2009) e ‘O artista’ (2011), falecido meses antes do término das gravações, em 2021. Distribuído no Brasil pela A2 Filmes, disponível para aluguel nas principais plataformas online, como Prime Video, Amazon Video e Apple TV.

 

Aposentados e curiosos (Lucky Louie). EUA, 2023, 109 minutos. Comédia/Policial. Colorido. Dirigido por Daniel Roebuck e Grace Roebuck. Distribuição: A2 Filmes (no streaming)

 


 

Anhangabaú (2023)

 

Premiado no Festival de Gramado como melhor documentário e exibido na Mostra Ecofalante de Cinema de 2024, 'Anhangabaú', de Lufe Bollini, foi exibido pela primeira vez em sessão pública no aniversário de 471 anos de São Paulo, nos dias 24/01, com uma masterclass, e 25/01, na Caixa Cultural (localizado na Praça da Sé), ambas gratuitas. Vi em cabine digital para jornalistas naquela semana e gostei muito. O filme foca num embate cultural em torno das transformações da cidade de São Paulo que, ao expandir como metrópole, ‘apagou’ as histórias indígenas do território. Daí o longa procura resgatar memórias dos povos originários da capital, sucumbidos durante a evolução da maior cidade do país. Uma comunidade indígena que ainda resiste em SP, a Guarani Mbya, junta-se a uma das maiores ocupações culturais da América Latina, a ‘Ocupação Ouvidor 63’, e ao notório ‘Teatro Oficina’ para discutir território, colonização e barbárie. A obra acompanha uma longa jornada de protestos e manifestações desses três grupos que, por meio de seus corpos e vozes, pedem socorro contra a ocupação de bairros tradicionais como o Bixiga, ameaçado pela especulação imobiliária que pode pôr fim aos centros culturais e históricos que lá existem. Enquanto ouvimos os guaranis, membros da ocupação e artistas do Oficina, eles performam nas ruas, fazem discursos contundentes para chamar a atenção à causa social que defendem. Um dos destaques do filme, que acabou tomando conta de pautas jornalísticas recentes, é a luta pela construção do Parque do Rio Bixiga, uma disputa territorial e cultural que existe no entorno do Teatro Oficina Uzyna Uzona desde a década de 1980, que voltou a ser ameaçado pelo grupo Silvio Santos, que possui terrenos próximos e pretende construir arranha-ceús, demolindo assim o espaço que abriga o Oficina desde 1958. E vale lembrar a região destacada anteriormente é o marco zero da capital.
O diretor Lufe Bollini também fez a montagem e a trilha sonora, bem criativas por sinal. Rodado entre 2014 e 2020 na capital paulista, tem inspiração no livro ‘A cidade polifônica" (1993), do antropólogo e arquiteto italiano Massimo Canevacci. É uma produção da Elixir Entretenimento, Kino-Cobra Filmes e Fogo no Olho Filmes e em breve entra em cartaz nos cinemas.

 

Anhangabaú (Idem). Brasil, 2023, 96 minutos. Documentário. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Lufe Bollini. Distribuição: Elixir Entretenimento, Kino-Cobra Filmes e Fogo no Olho Filmes (nos cinemas)

 



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