Halloween II – O pesadelo continua!
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025
Cine Especial
Halloween II – O pesadelo continua!
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025
Nota do blogueiro
domingo, 23 de fevereiro de 2025
Estreia da semana – Nos cinemas (20/02)
terça-feira, 18 de fevereiro de 2025
Resenhas especiais
Garota sombria caminha pela noite
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025
Estreias da semana – Nos cinemas e no streaming
Novo documentário do cineasta Jorge Bodanzky
(pai da diretora e roteirista Laís Bodanzky), sobre a artista plástica alemã
radicada no Brasil Eleonore Koch (1926-2018), conhecida por Lore. Nas últimas
duas décadas, o diretor de ‘Iracema – Uma transa amazônica’ (1975) e ‘Os Mucker’
(1978) se dedica a documentários autorais, muitos de temática ambiental, e
agora se volta ao mundo das artes para traçar a trajetória de uma pintora pouquíssimo
lembrada, num filme feito a partir de vários encontros de Bodanzky com ela.
Pupila de Alfredo Volpi, Lore usava a técnica de têmpera de ovo, aprendida com
seu mestre, fazendo composições geométricas únicas. Lore conta sobre seus
amores, a vinda ao Brasil quando tinha 10 anos durante a perseguição nazista na
Europa (ela é filha da psicanalista judia Adelheid Koch e do advogado Ernst
Koch), o ingresso no Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro para estudar, a ida
para a França, onde terminou os estudos, as idas para Londres, onde morou, e
sua dedicação às artes a partir dos anos 50. O doc retrata os últimos anos
dela, já idosa, reclusa em sua casa, onde faz profundas reflexões sobre uma
vida inteira dedicada à pintura. Não deixa de tocar em pontos como os diversos
relacionamentos amorosos que teve, sobre sexualidade e solidão. Enquanto Lore comenta,
vemos na tela anotações de seus cadernos pessoais, suas telas, exposições em
que participou, fotos e cartas. Faleceu no final das gravações em 2018, e Bodanzky
terminou o filme no ano passado, quando foi lançado no Festival Internacional
de Documentários ‘É tudo verdade’. É um filme singelo, bonito de se assistir e com
bels histórias dessa mulher importante nas artes visuais brasileiras, porém
esquecida do grande público. Está em exibição nos principais cinemas do país, distribuído
pela Embaúba Filmes.
Homens de barro (2025)
Coprodução Argentina-Brasil rodada no
Rio Grande do Sul, ‘Homens de barro’ é um tenso romance gay sobre dois jovens
que rompem com o passado para viver um amor proibido. A família de Ângelo
Miranda (João Pedro Prates) tem rivalidade com a de Pássaro Tamai (Gui Mallmann).
Os dois, que antes eram amigos, são separados, e crescem ouvindo que não devem
nunca mais se aproximar. Hoje, já maiores de idade, se cruzam num clube
noturno, trocam olhares e se apaixonam, iniciando um relacionamento escondido. Eles
temem os pais e a sociedade, enquanto tentam se curar um ao lado do outro,
entre passeios de moto e em lugares isolados. O filme carrega forte teor dramático,
é um ‘Romeu e Julieta’ gay – pois traz a rivalidade das duas famílias, que se
odeiam, misturando um clima de tensão constante e que supõe a todo instante um
final trágico. Os diálogos têm um ritmo musicado, a fotografia é muito
caprichada, que alterna claro/escuro, jogo de luzes e muito azul. Preste atenção
nos detalhes, pois passado e presente se mesclam de forma interessante nesse
longa-metragem independente. Produção da Valkyria Filmes, Dar a Luz Cine e da
produtora associada Panda Filmes, com distribuição nos cinemas pela O2 Play.
Charlie - Um cachorro especial (2022)
Os filmes indianos carregam uma
narrativa própria, com sua longa duração, números musicais (independente do gênero),
histórias grandiosas com heróis do povo e ares melodramáticos. Antes do boom do
streaming, era impossível encontrar cinema indiano, já que sua distribuição
ficava na Ásia; hoje, só na Netflix temos mais de 50 produções de 2002 a 2025.
O streaming colaborou na democratização ao acesso e popularização não só do
cinema indiano, mas de outros países. O bonito e emocionante ‘Charlie - Um
cachorro especial’ (2022) exemplifica a presença da Índia na cultura do
streaming, disponível em diversos canais para aluguel, como Prime Video, Google
Play e Apple TV, com distribuição no Brasil pela A2 Filmes. Se você curte histórias
românticas com animal de estimação, irá adorar.
No filme, um rapaz solitário chamado
Dharma (Rakshit Shetty), que não tem amigos e vive preso na rotina de sempre, encontra
um cãozinho pelas ruas, Charlie, e o adota. Os dois formam um par inseparável, e
a tristeza de Dharma será substituída pela presença do adorável animalzinho.
O diretor Kiranraj K., de ‘Kaavala’ (2011),
injeta todas as doses de drama e romance possíveis para um filme desse naipe e constrói
bem a relação do protagonista com o cachorro e os desdobramentos (como os laços
afetivos, a superação de problemas pessoais etc). Sabe usar câmera lenta para
fins dramáticos, numa trama envolvente e inspiradora, que faz nos entregarmos
facilmente. Como todo cinema indiano, tem melodrama, emoções, reviravoltas e
pitadas de fantasia. A fotografia é um deleite, com belas paisagens de uma Índia
que pouco vemos na tela.
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025
Nota do Blogueiro
Cine Debate neste
sábado traz novo curta-metragem de diretor riopretense
O Cine Debate do Imes
Catanduva promove neste sábado, dia 15/02, a partir das 14h, mais uma sessão de
cinema. Dessa vez será exibido, no Sesc Catanduva, o curta-metragem ‘Espelho meu’
(2024), o novo trabalho do cineasta Alexandre Estevanato, nascido em Marília e
residente em São José do Rio Preto. É a terceira vez que Estevanato participa
do Cine Debate, trazendo seus filmes e conduzindo um bate-papo sobre seus
trabalhos. No dia 15/02 ele retornará ao Sesc CAT para falar sobre a obra, que
contará com a mediação do idealizador do Cine Debate, o jornalista, professor
do Imes e do Senac e crítico de cinema Felipe Brida. A sessão é gratuita e
aberta a todos.
Sinopse: Clarice, em meio à batalha contra o
câncer de mama, enfrenta a dor de um corpo que muda e o vazio deixado pela
partida de quem deveria estar ao seu lado. Mas, nas sombras desse percurso, ela
descobre uma força inesperada no amor incondicional de sua filha.
Cine Debate
O Cine Debate é um projeto
de extensão do curso de Psicologia do Imes Catanduva em parceria o Sesc e o
Senac Catanduva. Completa 13 anos em 2025 trazendo filmes cult de maneira
gratuita a toda a população. Conheça mais o projeto em https://www.facebook.com/cinedebateimes
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025
Cine Especial
Solaris
*Reedição
O psicólogo Kris Kelvin
(Donatas Banionis) é enviado a uma estação espacial na órbita de Solaris, um
planeta distante, desconhecido dos humanos. Ele tem como missão investigar as
causas que levaram a tripulação de uma nave à insanidade. Ao chegar encontra
antigos cientistas em estado de transe, além de sua esposa, que se suicidou
anos atrás, e passa a ter contato diário com o oceano de Solaris, que tem vida
própria e pode promover estranhos fenômenos.
O cineasta Andrei
Tarkovski dirigiu a segunda versão para o cinema (e a melhor de todas) de um
romance hipnótico de ficção científica do polonês Stanslaw Lem (o livro está
disponível no Brasil pela editora Aleph, li há alguns anos essa versão e
recomendo a leitura). A essência da história, assim como a enorme complexidade
de seus detalhes, permanece no filme, que é tão enigmático e estranho quanto o da
literatura original. Tarkovski soube trazer a dimensão dos personagens narrados
nas páginas de Lem para escrever o roteiro ao lado de Fridrikh Gorenshteyn, em
particular na composição de Kris Kelvin, o psicólogo da missão crucial de
resgate, enviado ao planeta Solaris, lugar temido e desconhecido, que possui um
oceano dotado de inteligência, que pode entrar no íntimo das pessoas e
materializar suas memórias, tornando-as reais. Além da história curiosa, esse
cult movie soviético, que é para alguns indecifrável, prima por elementos
técnicos invejáveis, como a direção de arte meio futurista meio atual (com
elementos de “2001 – Uma odisseia no espaço”, realizado quatro anos antes),
truques de montagem, uma trilha sonora marcante, do compositor Eduard Artemev,
que compôs para mais de 160 filmes, dentre eles “O espelho” (1975) e “Stalker”
(1979), do próprio Tarkovski, e a fotografia com luzes e cores alternantes, de
Vadim Yusov, que havia trabalhado com o diretor em “A infância de Ivan” (1962)
e “Andrei Rublev” (1966). Sem contar a narrativa lenta e íntima, típicas do
diretor, com longas passagens sem diálogos, só com imagens oníricas.
Ganhou o Fipresci
(Prêmio da Crítica) e o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes, em 1972,
onde concorreu à Palma de Ouro.
Disponível em DVD pela CPC-Umes Filmes, em
disco duplo (com filme e extras, dentre eles entrevistas especiais, making of e
cenas excluídas); saiu também em Bluray pela CPC-Umes em parceria com a
Versátil, numa edição de colecionador – as últimas cópias do BD estão
disponíveis no site da CPC-Umes. Ambas as cópias estão excelentes, saindo da
matriz restaurada em 2015 pela Mosfilm, com a metragem original de cinema (de
167 minutos) – opte por esta, pois há em circulação uma edição não autorizada
do diretor, de 115 min. Depois de ver “Solaris” de Tarkovski, procure, para
comparar, as duas outras versões para cinema do livro de Lem, ambas de mesmo
título - tem o telefilme de 1968, feito na URSS, e o longa de 2002 de Steven
Soderbergh, com George Clooney, indicado ao Urso de Ouro em Berlim.
domingo, 9 de fevereiro de 2025
Estreias da semana – Nos cinemas - Parte 2
A voz que resta (2024)
Adaptação para os cinemas do monólogo de
Vadim Nikitin, que fez sucesso nos palcos entre os anos de 2017 e 2022, com o
versátil ator Gustavo Machado. Agora, ao lado de Roberta Ribas, Machado faz sua
boa estreia na direção voltando ao papel que o consagrou no teatro. Ele é um jornalista
desalentado, Paulo, numa profunda crise. Envolto em bebidas alcoólicas, cigarro
e vinis antigos, tem um romance com a vizinha casada, Marina (Roberta Ribas). Certa
noite, embriagado, com bloqueio criativo e cansado da rotina, faz gravações
reveladoras em uma fita cassete, para a mulher que ama. O filme é um ‘teatro filmado’,
um monólogo com falas grandiloquentes, pesadas, amarguradas, que reflete o
estado de espírito em constante inquietude do personagem, como se estivesse se entregando
à morte. Ele vara a noite falando para o vídeo, gravando depoimentos fortes,
para entregar para a amante. Enquanto as falas são ditas e as memórias surgem, a
direção de arte e a fotografia alternando tons escuros com azul e vermelho
conduzem o visual desse drama íntimo e adulto. É um filme independente e
pessoal em tom confessional, inspirado em uma história verdadeira, todo gravado
na casa do ator Gustavo Machado. Gostei e recomendo. Nos cinemas brasileiros
pela distribuidora Pandora Filmes.
Madeleine à Paris (2024)
Está em exibição em alguns cinemas
brasileiros o excelente documentário ‘Madeleine à Paris’, um ‘road movie
afro-queer’ que se passa entre Paris e a Bahia. Dirigido pela cineasta Liliane
Mutti, o filme, exibido na Mostra Internacional de Cinema de SP de 2024,
acompanha a trajetória do dançarino, cantor e compositor Robertinho Chaves, que
há 33 anos deixou sua terra natal, Santo Amaro da Purificação, na Bahia, para viver
na capital francesa, onde trabalha nos cabarés latinos. Na noite interpreta um arlequim
negro, e seu esplêndido visual recorre a figurinos brasileiros e africanos, que
resgatam seus antepassados, construindo memória e resistência nas performances descontraídas.
Filho de santo no candomblé, Chaves criou em 2002 um festival cultural movimentado
em Paris, e desde essa época organiza anualmente as edições, o ‘Le Lavage de La
Madeleine’ – a lavagem das escadarias da Igreja da Madalena, próxima da Praça da
Concórdia, por baianas. É considerada a maior festa brasileira da Europa, que
reúne mais de 60 mil pessoas e faz parte do calendário cultural de Paris, envolvendo
música, dança e gastronomia. O doc mostra seis anos na vida de Chaves, em sua casa,
visitando os amigos no Brasil, e em Paris focando na dualidade do artista,
entre os cabarés como arlequim e organizando a ‘Lavage’, onde desfila como
orixá. Mistura depoimentos atuais dele e de amigos, e vídeos e fotos de arquivo,
compondo um retrato multifacetado desse brilhante artista baiano. Nos cinemas
pela Bretz Filmes e Toca Filmes.
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025
Estreias da semana – Nos cinemas e no streaming - Parte 1
Trilha sonora para um
golpe de Estado (2024)
Com uma fusão
impressionante entre música e política, ‘Trilha sonora para um golpe de Estado’
recebeu indicação ao Oscar de melhor documentário esse ano e estreou na última
semana em várias salas de cinema do Brasil, principalmente das capitais. Com
direção do belga Johan Grimonprez, o mesmo de ‘Shadow world’ (2016), o filme é
uma obra erudita, para público específico, tamanha a complexidade dos
desdobramentos de sua história. Fala-se do jazz americano, relacionando-o ao
colonialismo na África e à Guerra Fria, e de como a CIA orquestrou, às escondidas,
um golpe de Estado no Congo. Não é um fácil palatável, fácil de compreender, há
muitos personagens apresentados e discutidos e uma duração acima da média – 151
minutos. Conta com um vasto material de arquivo e há apenas uma entrevista
atual para o filme; o restante são arquivos de áudio, reportagens, bastidores
de shows e velhos depoimentos gravados. A figura central do documentário é o
ex-primeiro ministro da República Democrática do Congo Patrice Lumumba, líder
anti-imperialista que lutou contra a dominação colonial em seu país e foi
assassinado aos 35 anos em 1961.
O filme denuncia a participação política dos
Estados Unidos na morte de Lumumba, e enquanto isso é traçado, mostra como a
música, especialmente o jazz e o soul, viraram ferramenta estratégica no xadrez
político da época. Estados Unidos tentaram usar figuras notórias de
cantor/cantora negro como propaganda na Guerra Fria, como Miles Davis, John
Coltrane, Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, Abbey Lincoln, Nina Simone, Dizzy
Gillespie – boa parte deles fez resistência contra essa manipulação e acabaram
execrados. Num dos momentos de destaque do filme, e assustador, enviam Louis
Armstrong para uma pequena turnê na África, como um entretenimento para desviar
o olhar da população enquanto a CIA tramava um golpe de Estado no Congo. O
ativista dos Direitos Humanos Malcolm X e o líder da URSS Nikita Khrushchov
também são peça-chave nesse enigmático e esplendoroso documentário-cabeça.
Exibido nos Festivais de San Sebastián e Toronto, venceu prêmio especial do
Júri no Festival de Sundance 2024. Tem tudo para ganhar o Oscar de doc em
março. Nos cinemas pela Pandora Filmes.
Alma do deserto
(2024)
Recém-lançada no mercado
audiovisual brasileiro, a distribuidora Retrato Filmes traz aos cinemas esse ótimo
documentário sobre identidade e resistência, uma coprodução Brasil e Colômbia
ganhadora do Queer Lion no Festival de Veneza. Exibido ano passado no Festival
do Rio e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o filme conta a
trajetória de Georgina Epiayú, mulher trans da etnia Wayúu que vive numa
comunidade isolada em La Guajira, entre a Colômbia e a Venezuela. Dedica seus
dias para obter um novo documento de identidade, pois o antigo foi queimado num
incêndio criminoso e nele constava o nome de nascimento (ou seja, masculino).
Entre idas e vindas ao cartório, a recusa é constante, demonstrando a
intolerância com a população transsexual. Georgina precisa de um novo registro
para exercer o direito de votar, já que as eleições na Colômbia se aproximam. Enquanto
conversa com a câmera, sobre hoje e sobre seu passado, sabemos de quando foi
expulsa da vizinhança e teve os documentos pessoais queimados por motivo de
ódio. É a jornada pessoal de uma mulher em busca de reconhecimento e respeito.
Georgina é uma força da natureza, com seu jeito resiliente, calmo e com falas
pontuais e questionadoras. Seu olhar profundo também traz a história de dor de
seu antepassado ameríndio – a comunidade Wayúu foi praticamente dizimada pelos
colonizadores espanhóis nos últimos 500 anos de existência na região, e
atualmente o povoado sofre com o descaso das autoridades – crianças Wayúu
passam fome, jovens e adultos são assassinados etc
Quem dirige com
delicadeza e muita precisão é a cineasta colombiana Mónica Taboada-Tapia, em
sua estreia em longa-metragem. É a primeira vez que um filme brasileiro – aqui
em coprodução com a Colômbia, vence o Queer Lion, prêmio especial do Festival
de Veneza destinado a obras cinematográficas com temática LGBTQIA+. Também foi
premiado no Festival de Havana, com o Prêmio Especial do Júri da Competição de
Documentários e o Prêmio Arrecife, entregue ao melhor filme com temática Queer.
Nos cinemas pela Retrato Filmes.
Blindado (2024)
Aos 78 anos, Sylvester
Stallone continua firme na telona. Entre 2024 e 2025, lançou dois filmes nos
cinemas americanos, mais uma temporada da série ‘Tulsa King’ e está rodando
seis novos longas-metragens que deverão entrar no circuito até 2026, dentre
eles ‘Samaritano 2’. A fita policial ‘Blindado’ é a primeira parceria dele com
o diretor Justin Routt, que realizou poucos filmes, e juntos engrenaram mais um
longa de ação que sairá no próximo mês nos cinemas, ‘Código Alarum’, esse com
participação da brasileira Isis Valverde – tanto ‘Blindado’ quanto ‘Código
Alarum’ tem a distribuição no Brasil pela Imagem Filmes.
‘Blindado’ serve apenas
para ou fãs de Stallone, que não perdem nada dele, ou para quem curte fitas
corriqueiras de ação ‘mais do mesmo’. Não há exatamente nada de novo em
‘Blindado’, um genérico filme de ação que se passa durante um assalto malsucedido
a um caminhão que transporta dinheiro. Dessa vez Stallone interpreta um vilão,
fugindo dos papéis tradicionais de herói. A trama acompanha James Brody (Jason
Patric), segurança de um caminhão blindado que está com o filho, Casey (Josh
Wiggins), numa missão de transportar milhões de dólares entre bancos. Entra em
cena Rook (Stallone), um perigoso líder criminoso, que com o seu grupo planeja roubar
a grana. Eles cercam o caminhão numa ponte, mas James e Casey ficam presos
dentro, e tentam uma longa negociação.
Stallone deu uma guinada
na carreira nos últimos anos com a série advinda de ‘Rocky’, ‘Creed’, até
recebeu indicação ao Oscar de ator coadjuvante no primeiro da franquia em 2016,
mas aqui está canastrão e desajeitado. Figura lembrada de filmes policiais dos
anos 80 e 90, Jason Patric é outro que não está nos melhores dias, e vem
trabalhando em tudo quanto é produção, como filmes B de terror e ação,
produções chinfrins de suspense etc. Uma pena ver Stallone e Patric
desperdiçados num filme repetido e sem maiores chances.
O empregado do mês
(2022)
Fita francesa de comédia
para quem gosta de um entretenimento bem humorado e com momentos românticos, para
ver sem compromisso. É a estreia do ator Jérôme Commandeur na direção – ele atuou
em muitos filmes populares, como ‘A Riviera não é aqui’ (2008) e recentemente em
‘Asterix e Obelix no Reino do Meio’ (2023). Ele aqui também trabalha como
roteirista e é o protagonista da história, Vincent, um homem rico que perde
tudo e para voltar ao trabalho aceita um emprego no Polo Norte. Lá, irá se
apaixonar, porém terá seus dias ameaçados com esse romance. Ele está super bem
no filme, ao lado da boa atriz Laetitia Dosch, de ‘Jovem mulher’ (2017) – que
se lançou diretora no ano passado, quando dirigiu um longa premiado com o Palm
Dog em Cannes, ‘O julgamento do cachorro’ (2024). Na verdade, o roteiro não é
original de Commandeur: ele o adaptou de uma comédia homônima italiana de 2016,
escrita e protagonizada pelo cantor, ator e humorista Checco Zalone. A versão francesa
está boa e diverte. Participa numa cena como ele mesmo Gérard Depardieu, e tem
aparições dos veteranos Gérard Darmon, Christian Clavier e Valérie Lemercier. Na
trilha sonora, a famosa música italiana dos anos 80 ‘Felicitá’, de Al Bano
& Romina Power. Disponível em streamings brasileiros, distribuído pela A2
Filmes.
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025
Estreias da semana - No streaming e nos cinemas - Parte 2
O maravilhoso mágico de Oz – Parte 1 (2025)
O cinema russo desponta nas salas do
Brasil há alguns anos com filmes de animação e fantasia adaptados da literatura
clássica. Outrora, quem realizava com maestria as adaptações era Hollywood. O
maior investimento do cinema russo recente é ‘O maravilhoso mágico de Oz –
Parte 1’ (2025), uma fantasia ágil, terna e bem humorada, inspirada no livro ‘The
wizard of Emerald City’, do russo Aleksandr Volkov (1891-1977), publicado pela
primeira vez em 1939 e que por sua vez tinha pura inspiração no clássico romance
‘O mágico de Oz’ (1900), do norte-americano L. Frank Baum. Com o sucesso do
primeiro livro, Volkov lançou uma série de romances com os personagens, que se
tornaram populares na antiga URSS. A trama segue os mesmos passos de ‘O mágico
de Oz’ que conhecemos, por exemplo, da obra-prima do cinema de Victor Fleming; uma
garotinha é magicamente transportada por um furacão a uma terra desconhecida.
Ela se chama Ellie, e ao lado do cãozinho Totó embarca numa jornada repleta de aventuras.
Ela é orientada a seguir por uma estrada de tijolos amarelos até o alto de uma
montanha, onde chegará na mística Cidade das Esmeraldas. No caminho fica próxima
de três personagens – um espantalho que quer um cérebro para pensar melhor, um
homem de lata que procura um coração para ser mais sensível e um leão em busca
de coragem para deixar de ser medroso. O destino dela é encontrar-se com um
mágico astuto, Oz, porém o principal obstáculo será uma bruxa má, que irá amaldiçoar
os passos da garota.
Há algumas novidades no filme que vem
do livro de Volkov, diferente de Baum, como o ambiente mais atual, Ellie no
lugar de Dorothy, os pais divorciados da menina e o cachorro Totó que fala como
humano. Funciona se você estiver disposto a acreditar em magia e esquecer as
outras versões. É cinema puro, com efeitos visuais caprichados, cenários
coloridos e extravagantes. O resultado não decepciona e confesso que embarquei
na proposta. Um filme para toda a família, distribuído nos cinemas pela Imagem
Filmes. Prepare-se porque a parte 2 chega em breve aos cinemas.
PS – Há outras adaptações na Rússia da
obra literária de Aleksandr Volkov, como uma série televisiva de animação em
stop-motion de 1974 e um filme infantil de 1994.
Kasa Branca (2024)
Após breve temporada em festivais de
cinema no Brasil e no exterior, como o Festival do Rio, onde ganhou os prêmios
de melhor diretor, trilha sonora, fotografia e ator coadjuvante (Diego
Francisco), o drama ‘Kasa Branca’ chega aos cinemas. Leve, sincero e
espirituoso, o novo trabalho de Luciano Vidigal, escrito e dirigido por ele, é inspirado
em um caso real. Acompanha a vida de Dé (Big Jaum), um jovem morador da
periferia de Chatuba, no Rio de Janeiro, que cuida da avó com Alzheimer,
Almerinda (Teca Pereira). Ela está debilitada na cadeira de rodas e quase não
conversa, portanto Dé resolver morar com ela. Os dois amigos de infância dele,
Adrianim (Diego Francisco) e Martins (Ramon Francisco), visitam Almerinda todos
os dias, e juntos com Dé a levam para passear pelo bairro e até fazer trilha
numa mata próxima. O grupo se une cada vez mais enquanto a morte se aproxima da
idosa. ‘Kasa Branca’ é um relato emotivo sobre os fortes vínculos de uma
amizade que se estreita até entre outros entes da família e toca em temas
delicados como aceitação e morte sem cair no ‘modo piegas’. Não é um filme triste
sobre doentes em estado terminal, nem melodramático, e sim uma fita jovem, pra
frente, com momentos divertidos. Bem realizado, com ritmo, uma montagem coesa e
bons diálogos, o filme se constrói em torno dos quatro personagens – o jovem
protagonista, a avó e os dois amigos. O elenco é de pretos da periferia, que
estão em estado de graça, conforme desejo do próprio cineasta, que era dar espaço
para atores menos conhecidos e que são de comunidades do Rio. Conta com pequenas
participações de rostos conhecidos, como Gi Fernandes, Babu Santana e Otavio
Muller. Nos cinemas pela Vitrine Filmes, tem produção da Sobretudo Produção,
TvZero, Tacacá Filmes, Cavideo e Dualto, em coprodução com a Prefeitura do Rio,
por meio da Riofilme, Canal Brasil, Telecine e Globo Filmes.
Mar em chamas (2021)
Chega à plataforma de streaming
Adrenalina Pura ‘Mar em chamas’ (2021), uma eficiente fita de ação norueguesa
dentro do subgênero ‘Disaster movie’. Movimentado, com cenas de ação
estupendas, é um prato cheio para quem curte filmes de corrida contra o tempo. O
diretor John Andreas Andersen, natural da Noruega, é craque em filmes de
desastres, já havia feito outro eletrizante trabalho, ‘Terremoto’ (2021), sobre
um terrível terremoto em Oslo que acaba com a cidade. Agora, ele sai da terra e
vai para o mar – para dentro de uma plataforma de petróleo que afunda no
oceano. Cientistas e investigadores descobrem um perigo maior que a destruição
da plataforma: o que causou aquilo foi uma fenda na parte mais profunda do mar,
que engolirá as cidades da costa norueguesa em poucos dias. É uma fita que vem
com tudo e nos deixa apreensivos. Tudo funciona bem: o roteiro é sério, provoca
agonia e queremos saber o que irá acontecer à medida que o desastre natural se
instala, o elenco é ágil, com destaque para a protagonista, Kristine Kujath
Thorp, que recentemente fez o drama com horror cult ‘Doente de mim mesma’ (2022),
e os efeitos visuais convencem – confesso que fiquei boquiaberto pela qualidade
técnica, que não perde nada para Hollywood. Com coprodução Suécia e Dinamarca,
o filme entrou essa semana no Adrenalina Pura, serviço de streaming com mais de
350 filmes de ação, terror e suspense, disponível no Prime Video Channels,
Apple TV e Claro TV+.
sábado, 1 de fevereiro de 2025
Estreias da semana - No streaming e nos cinemas - Parte 1
Fúria da natureza (2023)
Produção indiana de 2023 que fez carreira
nos cinemas de lá e chega agora nos streamings brasileiros. É um disaster movie
inspirado em uma tragédia real, as enchentes de Kerala, que mataram 500 pessoas
no sul da Índia, no verão de 2018. As chuvas causaram inundações avassaladoras,
afetando cinco milhões de moradores da populosa cidade de Kerala. O filme
resgata histórias diferentes de sobrevivência em meio ao desastre – um militar
que ajuda um lojista cego, uma jornalista que se arrisca para cobrir as
enchentes, uma família de pescadores diretamente atingidos pelas águas, um
casal em busca de um novo lar, um motorista de táxi com seus passageiros
estrangeiros, dentre outras. Os personagens são tratados como heróis comuns,
cidadãos que levavam uma vida normal até serem surpreendidos pelo dilúvio e
tentam encontrar formas de se salvar. Há romance, drama – quase um melodrama,
e, claro, como em todos os filmes indianos, muita música e trilha sonora constante,
que perpassa todos os momentos da trama. É um filme-mosaico, com uma gama de
personagens e seus desafios antes e depois das enchentes.
Bem realizado, o longa indiano é
intenso, com uma fotografia primorosa, principalmente nas cenas dos resgates na
enchente, difíceis de serem gravadas. Mesmo tratando de uma tragédia, traz
personagens carismáticos e afetivos. No elenco, rostos do novo cinema indiano,
atores e atrizes que fazem sucesso no país, como Kunchacko Boban, Tovino Thomas,
Asif Ali e Aparna Balamurali. Distribuído no Brasil pela A2 Filmes, está disponível
para aluguel nas principais plataformas online, como Prime Video, Amazon Video
e Apple TV.
Fúria da natureza (2018). Índia, 2023, 148 minutos.
Ação/Drama. Colorido. Dirigido por Jude Anthany Joseph. Distribuição: A2 Filmes
(nos cinemas e no streaming)
Aposentados e curiosos (2023)
Não tinha ouvido falar desse filme
independente norte-americano, uma comédia original em uma trama policialesca.
Engraçado e perspicaz, conta a história de um protagonista em dois tempos, o detetive
Wilbert Moser (bom trabalho de Basil Hoffman) - em 1972 ele investigou um caso
que ficou sem solução, o roubo de um banco cometido por quatro bandidos
mascarados; passados 50 anos, ele, agora aposentado, mas curioso para solucionar
o antigo crime, resolve reabri-lo e investigar por conta própria. Para dar
conta do recado, convoca uma psicóloga forense, um amigo que é dono de um
restaurante e ex-presidiários que prendeu no passado e hoje estão em
reabilitação, e que participam de estudos bíblicos com ele. Esse grupo improvável
se une aos moradores da minúscula comunidade de Lehigh Valley, e juntos correm
contra o tempo para a resolução do caso.
Tem um roteiro original, rápido, com
participação de coadjuvantes como Daniel Roebuck (ator de ‘O fugitivo’, de 1993,
e diretor, que dirigiu o filme com a filha, Grace), Duane Whitaker, de ‘Pulp
Fiction: Tempo de violência’ (1994), Stephanie Zimbalist (filha do famoso ator
Efrem Zimbalist Jr.), da série ‘Jogo duplo’ (1982-1987), Willard E. Pugh, de ‘A cor púrpura’ (1985),
e Timothy E. Goodwin, de ‘Bela vingança’ (2020). Foi o último trabalho do
multipremiado ator veterano Basil Hoffman, de ‘A caixa’ (2009) e ‘O artista’
(2011), falecido meses antes do término das gravações, em 2021. Distribuído no
Brasil pela A2 Filmes, disponível para aluguel nas principais plataformas
online, como Prime Video, Amazon Video e Apple TV.
Aposentados e curiosos (Lucky Louie). EUA, 2023, 109 minutos.
Comédia/Policial. Colorido. Dirigido por Daniel Roebuck e Grace Roebuck.
Distribuição: A2 Filmes (no streaming)
Anhangabaú (2023)
Premiado no Festival de Gramado como
melhor documentário e exibido na Mostra Ecofalante de Cinema de 2024, 'Anhangabaú',
de Lufe Bollini, foi exibido pela primeira vez em sessão pública no aniversário
de 471 anos de São Paulo, nos dias 24/01, com uma masterclass, e 25/01, na
Caixa Cultural (localizado na Praça da Sé), ambas gratuitas. Vi em cabine
digital para jornalistas naquela semana e gostei muito. O filme foca num embate
cultural em torno das transformações da cidade de São Paulo que, ao expandir
como metrópole, ‘apagou’ as histórias indígenas do território. Daí o longa
procura resgatar memórias dos povos originários da capital, sucumbidos durante
a evolução da maior cidade do país. Uma comunidade indígena que ainda resiste
em SP, a Guarani Mbya, junta-se a uma das maiores ocupações culturais da
América Latina, a ‘Ocupação Ouvidor 63’, e ao notório ‘Teatro Oficina’ para
discutir território, colonização e barbárie. A obra acompanha uma longa jornada
de protestos e manifestações desses três grupos que, por meio de seus corpos e
vozes, pedem socorro contra a ocupação de bairros tradicionais como o Bixiga,
ameaçado pela especulação imobiliária que pode pôr fim aos centros culturais e
históricos que lá existem. Enquanto ouvimos os guaranis, membros da ocupação e artistas
do Oficina, eles performam nas ruas, fazem discursos contundentes para chamar a
atenção à causa social que defendem. Um dos destaques do filme, que acabou
tomando conta de pautas jornalísticas recentes, é a luta pela construção do
Parque do Rio Bixiga, uma disputa territorial e cultural que existe no entorno
do Teatro Oficina Uzyna Uzona desde a década de 1980, que voltou a ser ameaçado
pelo grupo Silvio Santos, que possui terrenos próximos e pretende construir
arranha-ceús, demolindo assim o espaço que abriga o Oficina desde 1958. E vale
lembrar a região destacada anteriormente é o marco zero da capital.
O diretor Lufe Bollini também fez a
montagem e a trilha sonora, bem criativas por sinal. Rodado entre 2014 e 2020
na capital paulista, tem inspiração no livro ‘A cidade polifônica" (1993),
do antropólogo e arquiteto italiano Massimo Canevacci. É uma produção da Elixir
Entretenimento, Kino-Cobra Filmes e Fogo no Olho Filmes e em breve entra em
cartaz nos cinemas.
Anhangabaú (Idem). Brasil, 2023, 96 minutos.
Documentário. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Lufe Bollini. Distribuição:
Elixir Entretenimento, Kino-Cobra Filmes e Fogo no Olho Filmes (nos cinemas)
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