Fotofobia (Eslováquia/República Tcheca/Ucrânia,
2023, de Ivan Ostrochovský)
Em Kharkiv, numa das
maiores cidades ucranianas, o garoto Niki, de 12 anos, vive com a família numa
estação de metrô, para se esconder da guerra que se arrasta acima deles. Ele nunca
sai de lá, pois é grande o risco de morrer. No subsolo, ouve diariamente tiros
e bombas. Um dia, conhece Vika, uma menina de 11 anos, e juntos vão explorar a
estação de metrô, e tentar subir para a superfície. É um dos bons documentários
da Mostra de 2023, que se assemelha a um filme ficcional, pela forma como se
narra a história. Mostra como uma criança encara uma guerra e como ela lida com
seus pares para escapar dessa dura realidade. A guerra Ucrânia e Rússia segue há
um ano e meio e virou tema de diversos filmes da Mostra desse ano. Ganhou prêmio
especial na Jornada dos Autores do Festival de Veneza e foi exibido no Festival
de Varsóvia. Exibição presencial ainda nos dias 30 e 31/10.
Aguardado pelo público que
acompanha a Mostra, por ter sido o ganhador da Palma de Ouro desse ano, o novo
trabalho da diretora Justine Triet é um ótimo exemplar do novo cinema da
França, um filme de 151 minutos dividido em duas partes; na primeira,
acompanhamos uma escritora alemã que encontra o marido morto no quintal de casa,
situada nos Alpes. Foi o filho de 11 anos, que possui problemas de visão, quem
encontrou o corpo estirado no chão com um ferimento na cabeça e gritou pela mãe.
Na segunda parte do filme, temos um autêntico drama de tribunal – a mulher é
acusada de ter matado o marido, mesmo existindo hipótese de uma queda do
telhado. Ela matou mesmo? O marido caiu? Alguém o jogou de lá? Ao longo de uma
trama complexa, cheia de pecinhas soltas, acompanhamos o relacionamento
tumultuado do casal e o que levou o filho a perder parte da visão, ou seja,
investiga-se profundamente o histórico daquela família. É um dos melhores
filmes do ano e deve ser finalista do Oscar, acredito que de filme estrangeiro
e de melhor atriz para Sandra Hüller, que atua de maneira versátil e faz uma
entrega de personagem impressionante. Exibição na Mostra ainda nos dias 31/10 e
01/11.
Ganhador de quatro prêmios
em Cannes, incluindo o do júri e o da crítica, esse é um grande filme e o
retorno de Jonathan Glazer, que não filmava desde ‘Sob a pele’, ou seja, há 10
anos. E voltou com tudo em novo trabalho autoral, alegórico e que trata da
ideia da ‘banalidade do mal’, de Hannah Arendt. Uma família alemã leva uma vida
perfeita durante os horrores da Segunda Guerra; são eles um comandante e sua
esposa, que moram a poucos metros do campo de Auschwitz, e para não encarar
diariamente as atrocidades ao fundo, o casal ergue na casa um muro alto com
flores, cercado por hortas. Ela, interpretado por Sandra Hüller, cuida dos
filhos pequenos, faz festas na piscina, cantam e dançam, enquanto ao lado a
fumaça de corpos de judeus queimados sobe pelos ares. Eu achei aterrador mesmo
não mostrando um pingo de violência; tudo é subentendido, nos olhares e nas
cenas de fundo. Glazer filma tudo distanciado, sem close, com o elenco afastado,
e com enquadramentos geométricos, para comparar a arquitetura da casa com a
arquitetura dos campos de concentração, ou seja, evidenciar a alienação e a arquitetura
do mal. Baseado no livro de Martin Amis. Exibição presencial ainda nos dias 30
e 31/10.
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