terça-feira, 24 de outubro de 2023

Cine Lançamento


A baleia


Charlie (Brendan Fraser), um professor de redação obeso, recluso após uma tragédia pessoal, tenta se reconectar com a filha adolescente e distante, Ellie (Sadie Sink), que o maltrata pelos seus erros do passado.

Aclamado nos festivais por onde passou, “A baleia” é um contundente drama pessoal do diretor Darren Aronofsky, que não costuma fazer filmes fáceis de serem digeridos. Dele vimos os controversos e complexos “Pi” (1998), “Réquiem para um sonho” (2000), “Cisne negro” (2010) e “Mãe!” (2017), e “A baleia” (2022) entra sem sombra de dúvida nesse rol de obras impactantes do diretor que também é roteirista e produtor de seus trabalhos. Aronofsky resgatou o ex-astro de Hollywood Brendan Fraser, que nos anos 90 fez fitas simpáticas de comédia e depois caiu nas drogas, e extraiu dele uma performance humana, íntima e delicada, de um professor de redação gay, recluso pela obesidade mórbida e que hoje mora numa casinha simples dando aulas online sempre com a câmera desligada (por causa de seu peso). No passado, uma tragédia o impediu de se socializar, afastou-se da família e tem apenas uma amiga que frequenta sua casa, a enfermeira que o auxilia nos afazeres domésticos e verifica sua pressão arterial constantemente, Liz (um soberbo trabalho da tailandesa Hong Chau). Um dia sua filha adolescente, que é rebelde e agressiva, Ellie (trabalho também forte de Sadie Sink) chega para passar uns dias com ele, o que será uma verdadeira tempestade de emoções. Ela não o aceita pelo que fez anos atrás, e esse reencontro será a última tentativa de redenção do professor, pois sua saúde está debilitada.
Com uma trama cheia de revelações, em que tudo ocorre em três ou quatro ambientes da mesma casa (dois quartos, cozinha, sala e varanda), o filme se constrói e reconstrói a cada momento. Tudo é muito pontuado, com detalhes nos diálogos, no drama sólido que nos faz ficar com um nó na garganta, na dúbia referência à baleia (ao mesmo tempo é a baleia Moby Dick, de uma redação que o professor guarda consigo, e também uma forma pejorativa a ele, pelo seu porte) e no trabalho extraordinário de Fraser (que mal o reconhecemos, pois está sob uma maquiagem desgastante, com enchimentos de borracha, que o fez parecer um homem de mais de 250 quilos) e dos coadjuvantes, com destaque para Chau, Sink e uma rápida e eloquente participação de Samantha Morton, como a ex-mulher do professor. A câmera intimista do diretor capta olhares únicos dos atores, em especial de Fraser, quando nos momentos mais dramáticos e altos da história (um trabalho de maestria de Aronofsky).




Baseado na peça de Samuel D. Hunter, o filme ganhou prêmios importantes: o Oscar de melhor ator para Fraser e melhor maquiagem, quatro troféus especiais no Festival de Veneza, sem contar as inúmeras indicações de Fraser, ao Globo de Ouro, Bafta etc. Prepare-se para o final simbólico (como costumam ser os desfechos das obras do diretor), que arrancam suspiros e lágrimas.
Foi um dos meus filmes preferidos de 2022, que passou nos cinemas brasileiros esse ano e saiu recentemente em DVD e Bluray pela Obras-primas do Cinema (ambos com mais de 1h de extras no disco), em parceria com a California Filmes e a A24 Filmes. Disponível para aluguel em plataformas de streaming, como Youtube Filmes, Apple TV, GooglePlay Filmes e Amazon Prime Video.

A baleia (The whale). EUA, 2022, 117 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Darren Aronofsky. Distribuição: Obras-primas do Cinema e California Filmes

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