A baleia
Charlie (Brendan
Fraser), um professor de redação obeso, recluso após uma tragédia pessoal,
tenta se reconectar com a filha adolescente e distante, Ellie (Sadie Sink), que
o maltrata pelos seus erros do passado.
Aclamado nos festivais
por onde passou, “A baleia” é um contundente drama pessoal do diretor Darren Aronofsky,
que não costuma fazer filmes fáceis de serem digeridos. Dele vimos os
controversos e complexos “Pi” (1998), “Réquiem para um sonho” (2000), “Cisne
negro” (2010) e “Mãe!” (2017), e “A baleia” (2022) entra sem sombra de dúvida
nesse rol de obras impactantes do diretor que também é roteirista e produtor de
seus trabalhos. Aronofsky resgatou o ex-astro de Hollywood Brendan Fraser, que
nos anos 90 fez fitas simpáticas de comédia e depois caiu nas drogas, e extraiu
dele uma performance humana, íntima e delicada, de um professor de redação gay,
recluso pela obesidade mórbida e que hoje mora numa casinha simples dando aulas
online sempre com a câmera desligada (por causa de seu peso). No passado, uma
tragédia o impediu de se socializar, afastou-se da família e tem apenas uma
amiga que frequenta sua casa, a enfermeira que o auxilia nos afazeres
domésticos e verifica sua pressão arterial constantemente, Liz (um soberbo
trabalho da tailandesa Hong Chau). Um dia sua filha adolescente, que é rebelde
e agressiva, Ellie (trabalho também forte de Sadie Sink) chega para passar uns
dias com ele, o que será uma verdadeira tempestade de emoções. Ela não o aceita
pelo que fez anos atrás, e esse reencontro será a última tentativa de redenção do
professor, pois sua saúde está debilitada.
Com uma trama cheia de
revelações, em que tudo ocorre em três ou quatro ambientes da mesma casa (dois
quartos, cozinha, sala e varanda), o filme se constrói e reconstrói a cada
momento. Tudo é muito pontuado, com detalhes nos diálogos, no drama sólido que
nos faz ficar com um nó na garganta, na dúbia referência à baleia (ao mesmo
tempo é a baleia Moby Dick, de uma redação que o professor guarda consigo, e
também uma forma pejorativa a ele, pelo seu porte) e no trabalho extraordinário
de Fraser (que mal o reconhecemos, pois está sob uma maquiagem desgastante, com
enchimentos de borracha, que o fez parecer um homem de mais de 250 quilos) e
dos coadjuvantes, com destaque para Chau, Sink e uma rápida e eloquente
participação de Samantha Morton, como a ex-mulher do professor. A câmera
intimista do diretor capta olhares únicos dos atores, em especial de Fraser,
quando nos momentos mais dramáticos e altos da história (um trabalho de
maestria de Aronofsky).
Baseado na peça de
Samuel D. Hunter, o filme ganhou prêmios importantes: o Oscar de melhor ator
para Fraser e melhor maquiagem, quatro troféus especiais no Festival de Veneza,
sem contar as inúmeras indicações de Fraser, ao Globo de Ouro, Bafta etc. Prepare-se
para o final simbólico (como costumam ser os desfechos das obras do diretor),
que arrancam suspiros e lágrimas.
Foi um dos meus filmes
preferidos de 2022, que passou nos cinemas brasileiros esse ano e saiu
recentemente em DVD e Bluray pela
Obras-primas do Cinema (ambos com mais de 1h de extras no disco), em parceria
com a California Filmes e a A24 Filmes. Disponível para aluguel em plataformas
de streaming, como Youtube Filmes, Apple TV, GooglePlay Filmes e Amazon Prime
Video.
A baleia (The whale). EUA, 2022, 117 minutos. Drama.
Colorido. Dirigido por Darren Aronofsky. Distribuição: Obras-primas do Cinema e
California Filmes
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