domingo, 29 de outubro de 2023

Especial de cinema


Os bons filmes da 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Parte 4

A 47ª Mostra Intl. de Cinema de SP começou no dia 19/10 e segue até dia 01/11, com sessões presenciais em diversas salas de cinema da capital e também em três plataformas online (com sessões gratuitas), que são o Sesc Digital (https://sesc.digital/home), Itaú Cultural Play (https://assista.itauculturalplay.com.br/Home) e SPCine Play (https://www.spcineplay.com.br), com limite de views. Confira drops com rápidos comentários dos bons filmes desse ano da Mostra que conferi nos últimos dias. 

 

Limbo (Austrália, 2023, de Ivan Sen)

 

Um dos melhores filmes da Mostra desse ano, um thriller profundamente existencialista, protagonizado por um bom Simon Baker, que ficou conhecido pela série ‘The mentalist’. Ele interpreta um detetive viciado em heroína que vai sozinho a um vilarejo isolado no Outback australiano tentar desvendar um caso antigo, o desaparecimento de uma garota aborígene ocorrido 20 anos atrás. O que verá por lá: cavernas, insolação e gente amargurada, com uma crescente tensão no ar. Sua angústia retorna, e aos poucos percebe que não é mais bem-vindo na região. A fotografia em preto-e-branco é um assombro. Passou nos festivais de Berlim e Toronto. Exibição presencial ainda no dia 29/10.

 


 

Folhas de outono (Finlândia/Alemanha, 2023, de Aki Kaurismäki)

 

O finlandês Aki Kaurismäki, que já teve longa indicado ao Oscar de filme estrangeiro – no caso, ‘O homem sem passado’, e sempre tem filme exibido na Mostra de SP, realizou uma fita rápida e bacaninha, com aquele estilo próprio de filmar - poucos atores em cena, com poucas expressões e movimentos, câmera estática neles, fotografia envelhecida e direção de arte de interiores saídos de filme alemão dos anos 70. ‘Folhas de outono’ teve as sessões mais disputadas pelo público na Mostra – na que vi, hoje, a sala ficou lotada, esgotaram-se os ingressos. É a história de um homem e uma mulher que se encontram numa noite em Helsinque. Conversam pouco, tentam marcar um reencontro, mas algo dá errado. Ele perde o telefone da garota, e é viciado em álcool. Um dia, sofre um acidente na fábrica onde trabalha, e sem contato da mulher, perde para um amigo procurá-la. No meio disso tudo, o humor é leve, com piadinhas nos diálogos e uma reviravolta decisiva quase no fim. O resultado é um estudo a la Kaurismäki sobre comportamentos humanos. Gostei, porém não me entusiasmei como o restante da plateia, que ria à beça. Do Kaurismäki prefiro ‘A garota da fábrica de caixas de fósforos’, ‘O porto’ e ‘O outro lado da esperança’ – não sou um inserido em seu cinema, vi uns seis dos seus 25 filmes. Vencedor do prêmio do Júri em Cannes. Exibição presencial ainda no dia 29/10.

 


 

Peréio, eu te odeio (Brasil, 2023, de Allan Sieber e Tasso Dourado)

 

Documentário – ou ‘seria um antidocumentário?’, como uma das produtoras disse na abertura da sessão hoje - sobre vida e carreira do ator Paulo César Peréio, uma das figuras mais controversas do cinema brasileiro. O ilustrador e animador Allan Sieber demorou 23 anos para terminar esse doc, que começou com o curta em animação ‘Deus é pai’, no fim dos anos 90, e depois com outra animação, ‘Os idiotas mesmo’, ambos premiados em festivais independentes. Como Peréio é uma pessoa difícil de lidar, o filme também foi difícil de se fazer. É um passeio não só pela trajetória do ator, mas pelo cinema brasileiro dos últimos 50 anos, com Peréio aparecendo em fitas importantes do nosso cinema, como ‘Os fuzis’, ‘Toda nudez será castigada’, ‘Eu te amo’, ‘A lira do delírio’ etc. Atores, atrizes, diretores, familiares e amigos depõem sobre e contra Peréio num filme curioso e criativo, que traz muita animação no meio. Arrancou gargalhadas do público o tempo todo. Exibido no Festival do Rio e, conforme o pôster destaca, ‘recusado em mais de 30 editais de cinema’ – kkkkk. Definitivamente é hilário! Exibição presencial ainda no dia 29/10.

 


 

Mambar Pierrete (Camarões/Bélgica, 2023, de Rosine M. Mbakam)

 

Em Doula, no Camarões, uma costureira chamada Mambar trabalha incansavelmente para se sustentar. Ela tem um pequeno ateliê na casa simples onde mora, frequentado pelos moradores do bairro inteiro. Até que uma série de incidentes ocorrem no mesmo dia: sua máquina de costura quebra, em seguida ela é assaltada e por fim uma chuva torrencial inunda sua casa. Mesmo assim, ela não perde a esperança e tenta se reerguer com a ajuda de vizinhos e da família. Um filme apaixonante e belíssimo, de garra e independência, que comprova a força do cinema africano. Tem uma personagem das mais carismáticas que vi na tela recentemente, feita pela atriz Pierrette Aboheu Njeuthat. O tema central, em especial os incidentes com a personagem, parece ter saído do cinema iraniano. Exibido na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes e no Festival de Toronto. Exibição presencial ainda nos dias 29/10 e 01/11.

 


 

Caminhadas noturnas (Canadá, 2023, de Ryan McKenna)

 

Curto, com apenas 70 minutos de duração, é uma fita independente canadense em língua francesa, com a veterana atriz Marie Brassard no papel de uma viúva com Alzheimer que toda noite sai para fazer caminhadas em volta dos jardins de sua casa. Enquanto faz o percurso, sua mente viaja. Recorrendo à estética de imperfeição, com enquadramentos estranhos, imagens escurecidas, interferências de cores e sons, com rajadas luminosas, o filme é um bom trabalho experimental de um diretor em início de carreira. Ganhou prêmio especial no festival de Montreal. Exibição presencial ainda nos dias 30/10 e 01/11.

 


 

Paisagens radicais (Suíça/Itália, 2023, de Elettra Fiumi)

 

Nesse documentário íntimo e confessional, a diretora Elettra Fiumi revira o acervo fotográfico e material do pai falecido, Fabrizio Fiumi, um arquiteto conceituado, que contém a história completa de um importante coletivo que radicalizou o mundo da arquitetura a partir dos anos 60, o Gruppo 9999. Ela tenta então organizar o acervo material do pai enquanto entrevista pessoas que conviveram com ele. Para quem gosta do tema de artes e arquitetura, é um filme caprichado, que não vemos a hora passar. Exibição presencial terminou, mas pode ser assistido online, gratuitamente, na plataforma do Itaú Cultural Play até hoje às 23h59.

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