Parte 4
Limbo (Austrália, 2023, de Ivan Sen)
Um dos melhores filmes
da Mostra desse ano, um thriller profundamente existencialista, protagonizado por
um bom Simon Baker, que ficou conhecido pela série ‘The mentalist’. Ele interpreta
um detetive viciado em heroína que vai sozinho a um vilarejo isolado no Outback
australiano tentar desvendar um caso antigo, o desaparecimento de uma garota aborígene
ocorrido 20 anos atrás. O que verá por lá: cavernas, insolação e gente
amargurada, com uma crescente tensão no ar. Sua angústia retorna, e aos poucos
percebe que não é mais bem-vindo na região. A fotografia em preto-e-branco é um
assombro. Passou nos festivais de Berlim e Toronto. Exibição presencial ainda
no dia 29/10.
Folhas de outono (Finlândia/Alemanha, 2023, de Aki
Kaurismäki)
O finlandês Aki Kaurismäki,
que já teve longa indicado ao Oscar de filme estrangeiro – no caso, ‘O homem
sem passado’, e sempre tem filme exibido na Mostra de SP, realizou uma fita rápida
e bacaninha, com aquele estilo próprio de filmar - poucos atores em cena, com
poucas expressões e movimentos, câmera estática neles, fotografia envelhecida e
direção de arte de interiores saídos de filme alemão dos anos 70. ‘Folhas de
outono’ teve as sessões mais disputadas pelo público na Mostra – na que vi,
hoje, a sala ficou lotada, esgotaram-se os ingressos. É a história de um homem
e uma mulher que se encontram numa noite em Helsinque. Conversam pouco, tentam
marcar um reencontro, mas algo dá errado. Ele perde o telefone da garota, e é
viciado em álcool. Um dia, sofre um acidente na fábrica onde trabalha, e sem
contato da mulher, perde para um amigo procurá-la. No meio disso tudo, o humor
é leve, com piadinhas nos diálogos e uma reviravolta decisiva quase no fim. O resultado
é um estudo a la Kaurismäki sobre comportamentos humanos. Gostei, porém não me entusiasmei
como o restante da plateia, que ria à beça. Do Kaurismäki prefiro ‘A garota da
fábrica de caixas de fósforos’, ‘O porto’ e ‘O outro lado da esperança’ – não sou
um inserido em seu cinema, vi uns seis dos seus 25 filmes. Vencedor do prêmio
do Júri em Cannes. Exibição presencial ainda no dia 29/10.
Peréio, eu te odeio (Brasil, 2023, de Allan Sieber e Tasso
Dourado)
Documentário – ou ‘seria
um antidocumentário?’, como uma das produtoras disse na abertura da sessão hoje
- sobre vida e carreira do ator Paulo César Peréio, uma das figuras mais
controversas do cinema brasileiro. O ilustrador e animador Allan Sieber demorou
23 anos para terminar esse doc, que começou com o curta em animação ‘Deus é pai’,
no fim dos anos 90, e depois com outra animação, ‘Os idiotas mesmo’, ambos
premiados em festivais independentes. Como Peréio é uma pessoa difícil de
lidar, o filme também foi difícil de se fazer. É um passeio não só pela trajetória
do ator, mas pelo cinema brasileiro dos últimos 50 anos, com Peréio aparecendo
em fitas importantes do nosso cinema, como ‘Os fuzis’, ‘Toda nudez será
castigada’, ‘Eu te amo’, ‘A lira do delírio’ etc. Atores, atrizes, diretores,
familiares e amigos depõem sobre e contra Peréio num filme curioso e criativo,
que traz muita animação no meio. Arrancou gargalhadas do público o tempo todo.
Exibido no Festival do Rio e, conforme o pôster destaca, ‘recusado em mais de 30
editais de cinema’ – kkkkk. Definitivamente é hilário! Exibição presencial
ainda no dia 29/10.
Mambar Pierrete (Camarões/Bélgica, 2023, de Rosine M.
Mbakam)
Em Doula, no Camarões,
uma costureira chamada Mambar trabalha incansavelmente para se sustentar. Ela
tem um pequeno ateliê na casa simples onde mora, frequentado pelos moradores do
bairro inteiro. Até que uma série de incidentes ocorrem no mesmo dia: sua
máquina de costura quebra, em seguida ela é assaltada e por fim uma chuva
torrencial inunda sua casa. Mesmo assim, ela não perde a esperança e tenta se reerguer
com a ajuda de vizinhos e da família. Um filme apaixonante e belíssimo, de
garra e independência, que comprova a força do cinema africano. Tem uma
personagem das mais carismáticas que vi na tela recentemente, feita pela atriz Pierrette
Aboheu Njeuthat. O tema central, em especial os incidentes com a personagem, parece
ter saído do cinema iraniano. Exibido na Quinzena dos Realizadores do Festival
de Cannes e no Festival de Toronto. Exibição presencial ainda nos dias 29/10 e
01/11.
Caminhadas noturnas (Canadá, 2023, de Ryan McKenna)
Curto, com apenas 70
minutos de duração, é uma fita independente canadense em língua francesa, com a
veterana atriz Marie Brassard no papel de uma viúva com Alzheimer que toda
noite sai para fazer caminhadas em volta dos jardins de sua casa. Enquanto faz
o percurso, sua mente viaja. Recorrendo à estética de imperfeição, com
enquadramentos estranhos, imagens escurecidas, interferências de cores e sons,
com rajadas luminosas, o filme é um bom trabalho experimental de um diretor em
início de carreira. Ganhou prêmio especial no festival de Montreal. Exibição
presencial ainda nos dias 30/10 e 01/11.
Paisagens radicais (Suíça/Itália, 2023, de Elettra Fiumi)
Nesse documentário íntimo
e confessional, a diretora Elettra Fiumi revira o acervo fotográfico e material
do pai falecido, Fabrizio Fiumi, um arquiteto conceituado, que contém a história
completa de um importante coletivo que radicalizou o mundo da arquitetura a
partir dos anos 60, o Gruppo 9999. Ela tenta então organizar o acervo material
do pai enquanto entrevista pessoas que conviveram com ele. Para quem gosta do
tema de artes e arquitetura, é um filme caprichado, que não vemos a hora
passar. Exibição presencial terminou, mas pode ser assistido online,
gratuitamente, na plataforma do Itaú Cultural Play até hoje às 23h59.
Nenhum comentário:
Postar um comentário