quinta-feira, 11 de maio de 2023

Cine Especial



A lenda de Candyman

Anthony McCoy (Yahya Abdul-Mateen II) é um reconhecido artista visual que se muda com a namorada para a região de Cabini Green. Três décadas atrás, o lugar foi assombrado pelo espírito de Candyman, um escravo torturado que aparecia para matar aqueles que pronunciassem seu nome cinco vezes. Hoje Cabini Green é um bairro periférico de Chicago que passou pelo processo de gentrificação, recém-habitado por cidadãos de alta classe. McCoy está se acostumando ao novo lugar, até que Candyman retorna para um encontro derradeiro com o artista.

Uma das melhores revisões de filme de terror dos últimos anos, “A lenda de Candyman” (2021) se encaixa tanto como uma continuação quanto um remake do original, “O mistério de Candyman” (1992), que me assombrou muito quando pequeno. Agora a jovem diretora Nia DaCosta, que fez antes o drama/policial “Passando dos limites” (2018, com Tessa Thompson e Lily James), dá um novo tom e novas críticas sociais para contar a história de um artista visual que nasceu pobre e ficou rico e vai morar numa região gentrificada de Chicago, palco dos assassinatos pelo espírito de Candyman tempos atrás, um escravo com um gancho na mão. O ator Yahya Abdul-Mateen II, de “Aquaman” (2018) e “Nós” (2019), acerta em cheio com sua interpretação dupla do protagonista, que vai enlouquecendo ao longo da história, enquanto uma série de crimes brutais ocorre.
O visual do filme (um terror psicológico com forte crítica social) incomoda com suas cores fortes (ótima fotografia de John Guleserian, de “Questão de tempo”, aliada a uma boa direção de arte – destaque para a cena da galeria toda neon, com banhos de sangue), e há uma série de enquadramentos diferenciados, com inversão de imagem, plongée, jogo de espelho etc
É terror, mas é acima de tudo um drama social triste e impactante, que discute uma sociedade racista e ameaçadora – o tema central é a gentrificação em Chicago e suas complicações urbanas e sociais, com a expulsão forçada da população periférica para que o local sirva de espaços modernos e receba população da alta classe. Também se fala de lendas urbanas no gueto, com diálogo abrangente sobre racismo, escravidão e violência policial (é um filme mais profundo que o primeiro, de 1992).





Na abertura vemos a logo ao contrário da Universal ao som da música “Candyman”, cantada por Sammy Davis Jr – que integrou a trilha sonora de “A fantástica fábrica de chocolates” (1971 – lá cantada por Aubrey Woods).
Escrito e produzido por Jordan Peele, de “Corra!” (2017 – em que venceu o Oscar de melhor roteiro original), “Nós” (2019) e “Não! Não olhe!” (2022), hoje um mestre do cinema de horror contemporâneo. Com a colaboração da diretora Nia DaCosta no roteiro, Peele baseou-se no conto “Candyman”, de Clive Barker (originalmente intitulado “The forbidden”, de 1978) e reutilizou ideias do filme “O mistério de Candyman” (1992).
Assisti ao filme duas vezes e pretendo uma terceira revisão.

A lenda de Candyman (Candyman). EUA/Canadá, 2021, 91 minutos. Terror/Drama. Colorido. Dirigido por Nia DaCosta. Distribuição: Universal Pictures

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