sexta-feira, 5 de maio de 2023

Cine Clássico


Dois filmes com efeitos visuais do mago do cinema Ray Harryhausen, para ver em DVD, distribuídos pela Classicline.



O monstro do mar revolto

O comandante da Marinha Pete Mathews (Kenneth Tobey) mais dois cientistas procuram pistas de um animal marinho que vem atacando embarcações. Eles se deparam com um polvo gigantesco, que agora se desloca rumo a São Francisco ameaçando toda a cidade.

Para a época, 1955 (período frutífero do cinema scifi americano com filmes com criaturas gigantes ameaçadoras), “O monstro do mar revolto” foi vendido como terror, invadindo as salas pelo mundo afora, empolgando uma legião de fãs. Esse aqui fez tanto burburinho que chegou a influenciar outros futuros longas-metragens com polvos assassinos, como as duas versões de “Tentáculos” (1977 e 1998). A trama desse e de muitas fitas do cinema scifi do período carregava um ar de aventura, porém aos poucos assumia um outro lado, com elementos absurdos do universo da ficção científica literária (típicos de H.G. Wells e Julio Verne), com seres estranhos em mundos desconhecidos, que habitavam oceanos, florestas e o espaço sideral – e quase sempre esses “monstros” eram frutos de experimentos genéticos malsucedidos. Aqui, a Marinha investiga um ser subaquático que ataca navios, e descobrem que ele é um polvo contaminado com elementos radioativos. O animal abandona o fundo do mar e vem para a superfície atacar barcos e pessoas na praia. O principal alvo será a cidade de São Francisco – numa das cenas antológicas, ele chega a escalar o maior cartão-postal de lá, a ponte de São Francisco, destruindo tudo pela frente. Como cinemão, diverte e chama a atenção pela criatividade e pelos efeitos visuais, do mestre Ray Harryhausen, famoso por criar truques visuais com stop-motion (como aqui, que foi seu segundo trabalho – anteriormente fez os efeitos de “O monstro do mar”, de 1953, sobre um Godzilla americano); Harryhausen deixou um legado importante na área técnica com duas dezenas de obras, como “Simbad e a princesa” (1958) e a primeira versão de “Fúria de titãs” (1981).



O ator Kenneth Tobey, protagonista do filme, foi o capitão Hendry de “O monstro do Ártico” (1951), outro clássico do cinema scifi (com terror), que inspirou um de meus filmes de terror preferidos, “O enigma de outro mundo” (1982), de John Carpenter.
Saiu em DVD recentemente pela Classicline, em disco duplo: no primeiro disco, o filme com a versão original, em preto-e-branco, e a versão colorizada, e no disco dois, extras com mais de 1h40 de making of, bastidores, entrevistas etc

O monstro do mar revolto (It came from beneath the sea). EUA, 1955, 79 minutos. Ficção científica/Terror. Preto-e-branco. Dirigido por Robert Gordon. Distribuição: Classicline



A 20 milhões de léguas da Terra

Uma espaçonave americana cai na Sicília ao retornar de uma viagem a Vênus. A tripulação não sabe, mas traz consigo uma estranha forma de vida que, aos poucos, cresce e se transforma num réptil feroz. Ele fica grande e sai atacando tudo o que vê pela frente em várias cidades da Itália.

Ray Harryhausen (1920-2013) abriu novos horizontes para os efeitos visuais do cinema americano a partir dos anos de 1950, responsável em criar efeitos em stop-motion que até hoje inspiram diretores – o stop-motion, também chamado de “quadro-a-quadro”, já existia desde a década de 1910, no entanto era trabalhoso de ser feito, e Harryhausen o projetou com intensidade no cinema de entretenimento tornando a técnica mundialmente famosa. Harryhausen começou no departamento de efeitos especiais de um filme em que nem foi creditado, “Monstro de um mundo perdido” (1949), a primeira versão de “Poderoso Joe”, que por sua vez vem do universo do gorila King Kong. Em seguida assinou pela primeira vez os efeitos de um filme, “O monstro do mar” (1953), sobre um Godzilla mortal, e mais tarde, “O monstro do mar revolto” (1955), com um polvo gigante atacando São Francisco. Depois vieram “Invasão dos discos voadores” (1956), um filme sobre ataque de alienígenas à Terra, até chegar esse aqui, “A 20 milhões de léguas da Terra” (1957), sobre um réptil que vem de Vênus e cresce a ponto de se tornar um monstro terrível. Fez ainda três fitas de “Simbad” para o cinema, “Jasão e o velo de ouro” (1963), o icônico “Fúria de titãs” (1981) e outros.
O filme é puro entretenimento no aspecto “Sessão da Tarde”: descompromissado, ágil, curtinho, fácil de se apreciar (e ainda por cima, nostálgico – fica na memória a saudade de um cinema artesanal de outrora e também fica a pergunta, “Como eles faziam esses efeitos”?).
Quem dirige é Nathan Juran (1907-2002), cineasta austro-húngaro que começou como diretor de arte (de clássicos dos anos 40 e 50 como “Como era verde o meu vale” e “Meu amigo Harvey”), e que nos anos de 1950 partiu ser diretor de filmes de terror (como “O castelo do pavor”), de faroeste (“Com a lei e a ordem” e “A morte tem seu preço”), além, claro, de aventuras com ficção científica com criaturas fantasiosas, como “Fúria de uma região perdida” (1957), com um gafanhoto enorme e assassino, esse “A 20 milhões de léguas da Terra”, “O ataque da mulher de 15 metros” (1958), com uma mulher gigante, e “Simbad e a princesa”  (1958), o primeiro de uma série de filmes de aventura com monstros míticos e animais ferozes (também com efeitos de Harryhausen).



Curioso que rodaram parte em Los Angeles e sequências na Itália, em Roma (vê-se o Coliseu, onde conseguiram gravar dentro dele).
Lançado em DVD pela Classicline em disco duplo: no primeiro disco, a versão original, em preto-e-branco, juntamente com a colorizada, e mais um disco de bônus, com mais de duas horas de making of, bastidores e entrevistas.
Para se ter na coleção.

A 20 milhões de léguas da Terra (20 million miles to Earth). EUA, 1957, 82 minutos. Ficção científica/Aventura. Preto-e-branco. Dirigido por Nathan Juran. Distribuição: Classicline

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