A casa que Jack construiu
O engenheiro Jack (Matt
Dillon) é na realidade um serial killer que ataca mulheres e sofre de TOC. Ele
tem um método próprio: após assassinar as vítimas, guarda seus corpos em um
frigorífico desativado para um projeto futuro.
Causou indignação com
direito a vaias no Festival de Cannes em 2018 o filme mais perverso e polêmico
do cineasta dinamarquês Lars von Trier, o mesmo de “Dançando no escuro” (2000),
“Dogville” (2003), “Melancolia” (2011) e “Ninfomaníaca – partes 1 e 2” (2013).
E é o seu segundo longa na linha de terror psicológico, depois do também
controverso “Anticristo” (2009). Na exibição em Cannes, parte da plateia
abandonou a sessão, reclamando da violência explícita (exatamente numa das
cenas mais chocantes, a caçada em que o protagonista mata crianças com um rifle).
O diretor fez esse seu projeto ultrapessoal em resposta às acusações sofridas
no festival, de que ele era misógino e nazista. A vingança veio dura, numa fita
de arte perturbadora, macabra, indigesta e para público restrito.
Matt Dillon
está maduro e super bem no papel difícil do serial killer Jack, um engenheiro
que mata mulheres de inúmeras maneiras. O
psicopata narra todos seus crimes em cinco capítulos (chamados de “incidentes”)
para um interlocutor de nome Virgílio (papel de Bruno Ganz, num de seus últimos
trabalhos - ele morreria em 2019 aos 77 anos). Virgílio faz referência ao maior
poeta romano, autor de ‘Eneida’, que passa a ouvir as falas e evocações do protagonista,
chega a dar conselhos e tramar com ele - Virgílio também teria outras
simbologias, como o diabo e até a própria mente de Jack em suas indagações.
Virgílio (com uma voz
gutural de amedrontar) e Jack filosofam acerca de obras-primas da História da
Arte, falam de momentos históricos (como o Nazismo), onde se discute a
grandiosidade e a beleza da arquitetura e das pinturas, e num dado momento até
há uma menção ao próprio cinema de Trier, com cenas de seus filmes. E numa
belíssima sequência alegórica em slow-motion eles imitam ‘A divina comédia’, de
Dante Alighieri, navegando numa barca quando seguem para visitar o inferno.
Enquanto a conversa se
desenrola com Virgílio, Jack comete crimes bárbaros, tortura as vítimas,
esconde seus corpos em um frigorífico desativado, e até registra fotos dos
mortos. Só que ele não é um assassino comum: ele tem TOC, precisa voltar à cena
do crime várias vezes para checar se ficou tudo limpo, se nada vai incriminá-lo.
E tudo prepara Jack para um objetivo maior: um projeto de engenharia referente
à construção de uma casa com materiais únicos (e no desfecho você ficará aturdido
com a escolha dele).
Com um humor macabro que
chega a ser agressivo, o filme descontrói paradigmas e cria situações incômodas
para exibir com sordidez a mente de um psicopata e fazer uma analogia à
banalidade da violência no mundo contemporâneo.
Repito que é um filme
para poucos, tachado até de doentio, com cenas de mortes brutais (em uma delas
ele mutila o seio de uma mulher). Longo em seus 154 minutos e complexo, traz
rápidas participações de atores e atrizes em momentos marcantes, como Uma
Thurman, Riley Keough, Siobhan Fallon Hogan, David Bailie e Jeremy Davies.
Novamente colabora no
roteiro com Trier Jenle Hallund, que haviam feito “Melancolia” e “Ninfomaníaca
– volume 1”.
A pedido dos
colecionadores, a Versátil lançou o filme em bluray em parceria com a
California Filmes; acaba de sair no Brasil em edição especial em disco duplo,
contendo, além do filme em BD, um disco em DBD com duas horas de extras, com dois
cards, pôster e livreto.
A
casa que Jack construiu (The house that Jack built). Dinamarca/ Suécia/ França,
2018, 153 minutos. Drama/Horror. Colorido. Dirigido por Lars Von Trier.
Distribuição: Versátil
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