Documentário
sobre o movimento tropicalista (1967-1968), que alcançou a música, o teatro, o
cinemas e as artes plásticas no Brasil, influenciado pelo Antropofagismo, pela
cultura pop e pelo Concretismo.
Com
roteiro didático e direção precisa do cineasta araraquarense Marcelo Machado,
“Tropicália” pode ser classificado como um importante estudo sobre o movimento
que inovou a cultura brasileira do fim dos anos 60. Um documentário criativo,
que acompanha o difícil percurso de jovens artistas idealistas, barrados pelo Regime
Militar por lançarem novas formas de pensar e conceber uma arte despojada,
crítica, caótica, considerada hermética por parte do público e “subversiva”
pela censura. Alguns, como Caetano Veloso e Gilberto Gil, até foram exilados.
Influenciou
a música, o cinema e as artes plásticas, mas teve o teatro como mola propulsora
do movimento, a partir da primeira encenação do espetáculo “O rei da vela”, em
1967, comandada pelo revolucionário José Celso Martinez Correa e seu teatro
Oficina, que ressuscitou a peça original de Oswald de Andrade, um dos pais do
Modernismo. Paralelamente acontecia o Festival de Música Popular Brasileira,
promovida pela TV Record, que ajudou a amarrar os futuros tropicalistas. Tudo
isto está no filme “Tropicália”, que de maneira explicativa, para leigos mesmo
(quem tiver referências do Tropicalismo melhor), documenta passo a passo esse
momento da história cultural do nosso país.
A
estrutura da narrativa faz um jogo curioso: começa com a narração dos criadores
do Tropicalismo, acompanhada apenas de imagens de arquivo e vídeos antigos, e
termina com todos eles aparecendo no tempo atual, em depoimentos recentes, como
os músicos Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Rogério Duarte e os irmãos
Arnaldo e Sérgio Baptista (ex-Mutantes).
E
ao longo do documentário, uma série de personalidades já falecidas enriquece a
obra com suas aparições emblemáticas, como Nara Leão, Hélio Oiticica, Torquato
Neto, Rogério Duprat e Glauber Rocha, misturada por trechos de produções
cinematográficas rodadas na época, dentre elas “Terra em Transe”, “Câncer”, “O
demiurgo”, “Opinião pública”, “Os herdeiros”, “Hitler III Mundo”, “As
amorosas”, “O desafio”, “O bandido da luz vermelha”, “Ver e ouvir”, “Meteorango
Kid” e “Nosferatu do Brasil”, além de cenas dos festivais de música da Record.
Os
que viveram a época sairão com um semblante saudosista; já as novas gerações, eis
aqui uma oportunidade e tanto para conhecer o movimento tropicalista. Merece
ser visto e prestigiado esse trabalho de mestre de Marcelo Machado, companheiro
de faculdade e depois de trabalho do cineasta Fernando Meirelles, que produziu
o documentário.
Observação:
“Tropicália” saiu na mesma época de outro documentário sobre o movimento
tropicalista. Este segundo, intitulado “Futuro do pretérito: Tropicalismo
now!”, de Ninho Moraes, foi exibido em mostras e festivais, e ainda não saiu no
mercado brasileiro. Por Felipe Brida
Tropicália
(Idem). Brasil/EUA/Inglaterra, 2012, 88 min. Documentário. Dirigido por Marcelo
Machado. Distribuição: Imagem Filmes