terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Cine Lançamento

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Melancolia

A jovem Justine (Kirsten Dunst) acaba de se casar. Os convidados a esperam na mansão de sua irmã, Claire (Charlotte Gainsbourg), localizada em um descampado. Durante a celebração, Justine tem fortes crises emocionais. Ao mesmo tempo em que a festa ocorre, a milhões de quilômetros dali o planeta Melancolia aproxima-se da Terra, o que poderá, em poucas horas, causar uma catástrofe.

Novo drama psicológico escrito e dirigido pelo dinamarquês Lars Von Trier, menos impactante que a polêmica fita anterior, que dividiu a opinião da crítica, “Anticristo” (2009), mas que incomoda por mexer com temas que desconcertam os valores individuais. Em “Melancolia”, ele justapõe dois filmes distintos; a primeira parte se concentra em um casamento supostamente arranjado, que não dará certo. A noiva, interpretada pela atriz Kirsten Dunst (vencedora em Cannes como melhor atriz), está em crise, chora escondida no quarto, sofre da tal melancolia. Para piorar, os pais são distantes – papéis pequenos de John Hurt, como o patriarca alcoólatra, e Charlotte Rampling, na pele da mãe que exala arrogância. A única pessoa ao seu lado é a irmã (Charlotte Gainsbourg – revelação em ‘Anticristo’), que cede a deslumbrante mansão para a festa de casamento. Tudo anda mal, sem motivos para comemorar. Na segunda parte a trama se verte para um disaster movie, quando um estranho planeta azul chamado Melancolia vem em direção à Terra. É quando o filme muda o tom, fica estranho e perturbador, com clima de tragédia anunciada. As irmãs sentem a proximidade do fim do mundo, mesmo sabendo que os cientistas afastam tais possibilidades. Justine, a recém-casada, cala-se, passiva, não quer mais viver, enquanto a irmã sofre desesperada, com esperança de dias melhores.
As fitas de Trier, anticomerciais, anticonvencionais, antimodelos, não são fáceis de serem digeridas pelo público. Não há nada de poético em seus personagens tristes. Melancolia é o sentimento da personagem central, infeliz com o casamento, com a vida. E também o nome do planeta azul, outra referência à tristeza – o adjetivo ‘blue’, em inglês, significa triste, deprimido.
As marcas do cineasta permanecem: sequências estáticas, com personagens ‘congelados’ e leves vibrações (um efeito curioso típico dele, sempre com música instrumental ao fundo); filme dividido em capítulos – neste há duas partes, chamados “Justine” e “Claire”; o título riscado com uma espécie de grafite, a mão; e a técnica que aprendera com o movimento Dogma 95, que é a câmera nos ombros, sem tripé (por isso a obra apresenta trepidações).
Na vida real, Trier sofre de depressão, questiona a morte com intensidade e é niilista, sem crenças, transmitindo essas ideias com eloquência em seus filmes. Por isso é um artista tão autoral.
Com “Melancolia”, concorreu à Palma de Ouro e diversos outros prêmios menores independentes. Em Cannes criou alvoroço, no ano passado, pois no festival defendeu abertamente o Nazismo, desferindo críticas severas aos judeus. Mostrou-se preconceituoso, depois tentou se defender afirmando que tudo não passava de uma brincadeira. O contra-ataque veio imediato com o público europeu rejeitando-o desde então. Não é por menos.
Atenção para o final, muito discutível, que pode causar impacto.
Como resultado temos uma experiência diferente, num trabalho difícil, com elenco sério. Kirsten Dunst está perfeita como a protagonista (só lembrada pela trilogia “Homem Aranha”) ao lado de Charlotte, Kiefer Sutherland (em momento especial da carreira em crise), Stelan Skasgaard e o filho Alexander Skasgaard.
Distanciará muita gente, mas os que realmente seguem as preciosidades da Sétima Arte devem procurar. Por Felipe Brida

Melancolia
(Melancholia). Dinamarca/ Suécia/ França/ Alemanha, 2011, 136 min. Drama/ Ficção científica. Dirigido por Lars Von Trier. Distribuição: Califórnia Filmes

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